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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Em Delhi me surpreendendo a cada segundo


Cylene Dworzak, especialmente da Índia para o Rodapé

Do quarto, no segundo andar do hotel, consigo ouvir as buzinas. Muitas delas. À primeira impressão tudo é esquisito por aqui. Já no desembarque, o controle de passaportes não tinha fila. Era um amontoado de gente em que não se sabia onde começava e onde terminava. O aeroporto de Delhi, na Índia, é pequeno para a quantidade de gente que transita por lá. Quando finalmente consegui chegar no guichê do controle, antes de carimbar meu passaporte o agente me pergunta: “In Brazil, are you christian?” Sem reação com a pergunta descabida, não consegui mentir, disse que não quase que imediatamente. Perguntou então se eu era muçulmana. Respondi que também não. O meu segundo não bastou pra que ele me olhasse com uma cara de “como-assim-minha-filha-?”. Me mediu, e então perguntou: “So, what your religion?” Fiquei sem saber o que dizer, de verdade.
Meu inglês escasso trava em situações de saia justa. A essas alturas, já com medo, não conseguia explicar que eu não tinha religião. Do outro lado da fila, meu padrasto viu minha cara de pastel gaguejando com o fiscal bigodudo e me perguntou o que estava acontecendo.
Me virei pra contar e ele me disse pra falar qualquer coisa pro cara. Mas já tinha sido sincera demais. Comecei uma discussão com meu padrasto e quando me virei de volta para o guichê pra tentar explicar novamente, o fiscal carimbava meu passaporte.
Provavelmente desistiu de saber a minha resposta. Deve ter me achado esquisita, pensei. Mas depois me toquei que a pergunta dele também não foi das mais normais. Nenhum fiscal de alfândega pergunta do nada qual a sua religião. Com certeza não queria bater papo enquanto conferia meu passaporte, mas também não tenho ideia de qual foi a intenção da pergunta.
Aos poucos, estou me habituando as esquisitices e aos excessos de buzinas, a quantidade de carros e o caos no trânsito, as roupas coloridas, muita gente nas ruas, muita pimenta nas comidas. Realmente outro mundo. Mas assim como nós achamos que estamos em outro mundo, eles também acham que viemos de outro planeta. Ocidentais aqui, principalmente mulheres, viram atração turística para os indianos.
Em um minuto, você está tirando foto de um monumento e quando vê, está cercada de indianos, todos observando curiosos, perguntando coisas e querendo tirar fotos com você. É assédio suficiente pra se sentir atriz de Bollywood. E no fim, acabamos percebendo que o esquisito por aqui, na verdade, somos nós.

Cylene Dworzak é jornalista e está na Índia atrás de uma bebida chamada Bhang, que é produzida através da folha da canabis. Enquanto não encontrar o tal do chá não volta pro Brasil. Durante sua busca, descobriu que, apesar de muito pobres, os indianos são muito felizes e acreditam piamente que o amor é capaz de mudar o mundo

2 comentários:

Jéssica Santos disse...

Pergunta realmente descabida para um fiscal, mas acho que ai na Índia a religião é muito importante. Deve ser uma país muito interessante de se visitar e observar. Reclamamos tanto do trânsito de São Paulo, ai deve ser uma loucura total. Jura que as roupas são tão coloridas, de todos? Sempre achei que isso era mais pra inglês ver do que verdade.

mari disse...

vacylou na alfândega!

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