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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Na terra da baleia, o peixe morre pela boca

O dito popular “o peixe morre pela boca” pode ser entendido de duas formas: literalmente e metaforicamente. De maneira literal, o peixe morre porque cai na armadilha e abocanha a isca que está no anzol; metaforicamente, palavras mal colocadas podem provocar algum desconforto tanto ao emissor quanto ao receptor da mensagem, dependendo da situação. Na imprensa, chamamos de "barriga" (notícia falsa ou errônea lançada por um jornal, tevê etc).
Durante a semana que passou, uma repórter da rádio Jovem Pan, em São Paulo, reproduziu o que foi escrito em um falso perfil criado no twitter (cujo símbolo é uma baleia) em nome da apresentadora do SBT, Hebe Camargo, fato que levantou uma série de discussões sobre o uso do microblog como fonte de informação. Na reportagem, a jornalista contou, entre outras coisas, que Hebe se divertia correndo pelo hospital de cadeira de rodas.
Estava trabalhando na redação do Portal Terra no momento em que a informação foi veiculada pela rádio Jovem Pan o que casou entreolhares silenciosos. Imediatamente a jornalista do Terra que cobria o ‘caso Hebe’ quebrou o silêncio e disparou: “isso não pode ser real, eu não vou dar”. E ela estava certa.
É preciso lembrar que os ‘erros da imprensa’ já existiam antes da Internet, como o caso Escola Base, em 1994, por exemplo. O twitter continuará sendo importante fonte de informação para todos os comunicadores. Foi assim com o blecaute em grande parte do País em novembro de 2009 e assim é em relação ao recente terremoto no Haiti. Além do jornalismo, empresas têm feito uso do microblog para se relacionar com clientes e obter algum tipo de feedback.
Já em 2003, segundo pesquisa do Guia do Webjornalista, realizada com seus utilizadores, cerca de 41% dos participantes apontaram que a instantaneidade é o que mais caracteriza o webjornalismo. A interatividade apareceu em segundo lugar, com 28,11%. Assim é o twitter, instantâneo e interativo. Em 2006, a pesquisadora Lúcia Lemos lembrou a todos que os usuários do twitter ‘furaram’ veículos como a “BBC” e o “The New York Times”, quando o terremoto da China ainda estava acontecendo. Quem seguia estes utilizadores ficou sabendo em tempo (mais do que real).
O jornalista pode e deve ter algum tipo de contato com o twitter e manter com uma relação amigável. Uma pesquisa realizada pela S2 Comunicação Integrada, entre julho e setembro de 2009, apontou que 48,77% dos jornalistas usam o Twitter como rede social preferida. No entanto, checagem, apuração e investigação não devem ser palavras de ordem, mas pratica diária da imprensa. Na terra da baleia, o peixe também morre pela boca.

Paulo Rodrigo Ranieri é mestre em jornalismo, pesquisador da comunicação no contexto digital, membro do grupo Atopos - ligado a USP - e colunista do Nota de Rodapé; mantém também o espaço Do Analógico ao Digital.

Um comentário:

Moriti disse...

As redes sociais podem ser boas ferramentas de comunicação, mas, na minha opinião, há dois problemas crônicos: se transformam mais em "centrais de boatarias e fofocas" e menos de informações, e, por vezes, aumentam a crescente preguiça mental de muitos jornalistas, que não são lá muito chegados a um bom processo de apuração. E, se os filtros são ruins, não são os Twitters e Orkuts da vida que vão melhorá-los.

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