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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Fito, e a canção que ele não queria ter feito

"Há canções que às vezes era preferível não fazê-las. Esta sempre foi uma canção incômoda para mim”, diz Fito Paez antes de começar a tocar, no Salão Branco da Casa Rosada, “La Casa Desaparecida”. Em seguida, durante mais de dez minutos e em 854 palavras, Fito traça um retrato cru e visceral da Argentina; do passado próximo e do presente sem esperança dessa gente distante e distinta, nossos vizinhos da rua de baixo. 


A música é de 1999. O concerto na Casa Rosada, de 2006. Mas tudo é extremamente atual e explica muito sobre a “argentinidade”.

Mãe, coloque as medalhas na minha jaqueta

Os sapatos eu já não posso colocar

Minhas duas pernas ficaram nas Malvinas

E o mal vinho não me deixa levantar



Argentinos, argentinos

Que destino meu amigo, argentinos

Ninguém sabe responder



Argentina, Argentina

O que aconteceu na Argentina

Na casa desaparecida

Argentina, Argentina

Bem-vindos à casa argentina,

À desaparecida


E é possível que os filhos possam mudar o que fizemos

e a casa nunca mais desapareça
São trechos da canção que, quando lançada, gerou polêmica na Argentina. “Qual o direito de expor assim a este país?”, bradavam os nacionalistas. A resposta de Fito foi: “Eu queria ter dito algo diferente, mas esta é a época que me calhou viver e tenho que dizer. Tomara que em 300 milhões de gerações alguém escreva uma canção diferente sobre este país. Eu ficaria encantado”.

Fito é um dos músicos latino-americanos mais conhecidos no Brasil, em parte por suas parcerias com alguns brasileiros (Paralamas, Milton Nascimento e Caetano são alguns deles). Na Argentina é quase o Maradona do rock. Amado, admirado e – às vezes ao mesmo tempo - odiado.

Fato é que Rodolfo Páez Avalos, esse argentino quase cinquentão nascido em Rosário, é um dos músicos mais importantes da América Latina. Em 1992, com o álbum El amor despúes del amor, vendeu 750 mil cópias (maior tiragem de um disco de rock no país). Além de extensa e diversa, sua produção de mais de três décadas é quase um guia da música do continente – é mais fácil citar com qual músico contemporâneo de peso Fito não fez parceria.

Com versos de amor (“Há lembranças que não vou apagar, pessoas que não vou esquecer, aromas que quero levar, silêncios que prefiro calar”), de dor (“Bom dia Lexotan, bom dia senhora, bom dia doutor, maldito seja teu amor [...] não me verão de joelhos, dizem que eu não sou eu, que estou mais louco que ontem e matam a pobres corações”), de esperança (“Quem disse que tudo está perdido? Eu venho a oferecer meu coração”) e de ternura (“Santo Deus, que belo abril. Santo Deus, que belo abril sos vós; acontecem tantas coisas na vida, que se aparece o sol há que deixá-lo passar”), Fito foi companheiro de gerações latinas nas angústias, nos fracassos, nas alegrias, nos amores, nas festas, na solidão... Quantos namoros, amizades, encontros e desencontros não nasceram tendo como trilha sonora Fito Paez? E quantos ainda não estão por acontecer?



Pra quem não conhece esse argentino, vale a pena descobri-lo. Pra quem já sabe quem é, vale aprofundar-se. Pra quem já tem Fito na discoteca sentimental, bom momento para recordar.

Deixo com vocês três vídeos de três Fitos distintos:

La casa desaparecida



Al lado del camino (ao vivo, em Madri)



Bello Abril





Mais um, para quem ainda estiver por aí (Pétalo de Sal, com a bela e grande cantora e atriz Leonor Watling). Nos vemos em ConexSom Latina.

Ricardo Viel é jornalista e colunista do Nota de Rodapé

6 comentários:

gerardo lazzari disse...

Belo post, parabéns!

Fabiana Cardoso | Canción Comunicação disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fabiana Cardoso | Canción Comunicação disse...

Bom, eu costumo brincar e dizer que o Fito é o homem da minha vida.
Quando ouvi sua música e entendi sua forma de escrever, sabia que minha maneira de ouvir havia mudado.
Que todos tenham a dádiva de ouvir e entender a música do Fito Paez.

Espero que venha algo sobre gustavo cerati!

Beijos da companheira de blog.
Fabiana Cardoso

Unknown disse...

Muito massa sua coluna! Gostei muito!

Vc não sabe com eu fico feliz e motivado quando leio algo sobre nosotros! Latinoamericanos!

Esta reportagem me fez lembrar da banda Bersuit Vergarabat com a sua música La argentinidad al palo!

Excelente iniciativa!



Leandro St.

Gabriel disse...

Eu confesso que por ser fã da música brasileira e considera-la muito rica, não me importava muito em conhecer a boa música que temos aqui ao nosso redor...o seu blog está me fazendo ver o que tenho perdido... parabéns e abraço!

Moriti disse...

Grande coluna sobre esse monstro da música latina e que não é tão lembrado como devia no Brasil, apesar das citadas parcerias. Bairrismo talvez? Ou olhos voltados para o próprio umbigo?

Enfim, depois de ler o texto fiquei com muita vontade de escutar Fito Páez.

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