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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Como o Aterciopelados ajudou Bogotá a enfrentar o terror

Uma Colômbia mergulhada no caos e vítima da violência que aterrorizou (e ainda assusta) o país. Foi nesse ambiente de incerteza e desesperança que surgiu os Aterciopelados, um grupo de rock nascido em Bogotá nos anos 90. Tudo começou quando Andrea Echeverri, uma estudante de Belas Artes, conheceu Héctor Buitrago, baixista de uma banda punk. Desse encontro nasceu um namoro e uma banda. O namoro se transformou em casamento e a banda num dos grupos musicais mais importantes da história da Colômbia.
Aterciopelados (Aveludados, em espanhol) já vai pelo décimo álbum, com direito a parada para Andrea virar mãe e lançar um disco solo. A um som leve e livre, como a filosofia pregada pela hippie cantora, se somam letras críticas ao estilo de vida consumista (imagem no lugar do conteúdo), contra o machismo e que exalta a natureza. Tudo bem cuidado, honesto e original.
Em El Estuche (o estojo), o grupo flerta com sons regionais colombianos e fala da aparência e do conteúdo. Ou esse.
Não é um mandamento ser a diva do momento
Para que trabalhar por um corpo escultural

Por acaso você quer sentir em você todos os olhos

E desencadear assobios ao passar

Olha a essência, não as aparências

O corpo é só um estojo, e os olhos a janela

Da nossa alma aprisionada
Em Don Dinero, o assunto é o consumo


Ou:


Don Dinero
Dom Dinheiro, como te quero
Se queres ser rainha, te compro um castelo

Se estas enrolada, te compro um pente

Se queres casar, te compro um anel
Compro uma chave de fenda, se te falta um parafuso Dom Dinheiro, você é mero mero
Vou comprar se estou deprimida

Se estou muito gorda, programo uma cirurgia
[...]
Se não tenho dinheiro, roubarei um beijo

Com o carinho verdadeiro
O trabalho solo de Andrea, que é de 2006, segue o mesmo estilo de música, mas traz ainda mais latente o tema do amor. Mãe havia pouco tempo, a cantora colocou nas letras o carinho e a descoberta da nova experiência. Na música A Eme O, a filha recebe uma bonita homenagem.

A Eme O
Desde que você nasceu sou melhor amante
Como se você tivesse destapados meus dutos

Me cresceram os seios, o ventre e as cadeiras

Meu corpo expandido encontrou seu motivo

Você circulou por mim, fez o caminho divino

Abriu um túnel, destapou meu destino

Você me deu o sopro da criação
É energia, luz do sol

Você me soletrou a palavra AMOR
A eme o erre ce i te o [amorzinho]
Contam amigos de Bogotá que nos anos 90, em meio a atentados, bombas e muita violência, os moradores da cidade se negavam a ficar em casa. Não aceitavam o toque de recolher extraoficial que vigorava na capital. Mesmo com medo, saiam a noite, iam a bares, discotecas e shows. Aterciopelados transmitiu esperança e amor aos jovens naqueles duros anos.

Ricardo Viel é jornalista e colunista do Nota de Rodapé

Um comentário:

Anônimo disse...

Solo me gustó el nombre!

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