Quem disse que
umbigo não serve
prá nada?
Entra a mamãe com o bebê de colo, 40 dias de vida, com um quadro intenso de conjuntivite:
- Dr., meu menino tá com esse pus nos olhos faz umas duas semanas.
- E a sra. não o trouxe antes por que?
- Ah Dr... tava tratando em casa com “água de umbigo”!
- “Água de umbigo”?
- Tá aqui o pote, Dr.!
Eis que a mamãe saca da bolsa um pode de azeitona com uma água amarelada e um pedaço de algo indecifrável boiando:
- Então Dr., é essa aqui! É o cordão umbilical dele que a gente deixa na água prá curtir desde que ele nasceu por uns 10 dias, e depois pinga essa água nos olhos de manhã e de noite... Mas pelo jeito não tá funcionando, né?! Por que será?
Óleozinho morno
esquentado com um
dente de alho
Como médico otorrinolaringologista, trato diariamente de muitos pacientes que vêm ao consultório com dor de ouvido, de crianças a idosos. E ainda não vi um sintoma que é mais tratado de forma caseira do que esse que vou contar. O tradicional “óleozinho morno esquentado com um dente de alho” que as titias e vovós fazem e pingam há décadas em nossos ouvidos ganhou adaptações e incrementos, sendo esse o mais inusitado que já ouvi:
- Dr., o Gabrielzinho tá de novo com dor de ouvido e febre, já é a quarta vez em 3 meses...
Foi a deixa para que eu já perguntasse automaticamente:
- E a senhora pingou algo nos ouvidos dele?
- Sim Dr., coloquei um azeitezinho morno, em que fritei os tatuzinhos.
- O que???
- Aqueles tatuzinhos Dr... sabe tatuzinho de tijolo? Que se enrolam quando a gente encosta neles?
- Tatu- bola?
- Isso! Mas o melhor mesmo é ninho de beija-flor! Esquenta no azeite e pinga! Uma benção!
Sim dona Maria... uma benção.
Bife à rolê
(não leia se você
enjoa fácil)
Esse caso não se refere a um tratamento caseiro, mas como crendice popular é dos mais curiosos e nojentos que presenciei. Dona Fátima, 33 anos, vem ao consultório com um andar esquisito, as pernas meio abertas e aparentando dificuldades para caminhar. Um odor muito ruim a acompanhou ao entrar na sala.
- Dr., tô com um “escorrimento” muito fedido “lá embaixo”!
- Desde quando?
- Uns dias, não me lembro. E tá doendo o pé da barriga também... Tive até febre ontem.
- Vamos ver.
Posicionada na mesa ginecológica, tive a visão de algo bem estranho. Uma massa protruindo da vagina, de aspecto carnoso, com uma secreção amarelo-esverdeada de odor intensamente putrefato. Seria um tumor? Ao palpá-la, vi que se movia facilmente e consegui tracioná-la, saindo em minha mão algo como um pedaço de carne podre amarrado com barbantes. Pergunto, obviamente:
- Dona Fátima, como isso veio parar aqui?
Envergonhada, responde:
- Aiii Dr., tinha me esquecido, foi da “amarração do amor” que fiz... Era prá atrair um marido prá mim...
- Desenrolo o que parecia ser um bife e, dentro, um papelzinho em que, apesar de borrado, se conseguia ler: “Claudemir Ribeiro”.
Pois é seu Claudemir, me deve uma, hein?!
Dr. Rino não é contra fitoterapia ou medicinas alternativas, até pelo fato de grande parte das medicações sintéticas serem fabricadas a partir de extratos naturais (como o anticoagulante Ancrod®, derivado de veneno de víboras da Malásia e que diariamente salva a vida de milhares de pessoas do derrame cerebral; ou a própria Aspirina®, analgésico e antitérmico, extraída da casca do salgueiro). Entretanto, absurdos como os acima, além de não possuírem nenhum efeito benéfico cientificamente comprovado, podem trazer consequências piores que a própria doença, mesmo quando não tratada.
5 comentários:
Muito bom! Tava sentindo falta dessa coluna!! Que bom que voltou! (e que medo dessas histórias!)
É bife à rolê mesmo ou teve erro de digitação no final?
uahaujahuahauhauhauah dr rino!!! sou sua fã!!! "seria um tumor?" hauhauhauhauahauhauhauahauhauahauh
hoje percebi que sou mais forte do que imagina ao ler isso! rs
Gente, percebei que sou forte ao ler a historia do bife! jesus...rsrsrsr
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