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Nossa primeira visita depois da denúncia foi em 25 de abril, num domingo à tarde e os mesmos moradores que entrevistamos na páscoa nos receberam. Ficaram surpresos com o que os esperava no “abrigo provisório de madeira”. “Teve gente que levantou suspeita sobre as telhas serem de amianto, mas não sabíamos o que isso significava. Quando vimos a reportagem, soubemos que é proibido e que pode até matar”, diz uma senhora que prefere não se identificar.
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Nas casas, homens trabalhavam para colocação das novas coberturas como mostram as imagens de Paula Sacchetta. Agora, os dizeres, marcados nas telhas de outro fabricante, apontavam: “não contém amianto”. Tentamos contato com os trabalhadores que instalavam as peças sem nenhuma proteção. Nem luvas nem máscaras. Alguns se fecham, não falam. Outros são econômicos nas palavras. É clara a orientação para que evitem o assunto sobre o amianto. Somente um se estende, dialoga, mas o tom é de dúvida. “Este negócio de amianto faz mal mesmo? Mata de verdade?”, indaga. Esclarecido sobre a proibição, ele cala. Perguntamos se são orientados a utilizar equipamentos de proteção nas atividades diárias. Ninguém responde. Na saída do campo, dois moradores nos abordam. A conversa segue e eles comentam: “os trabalhadores não vão falar nada. Mesmo pra nós, moradores, veio gente pedir pra não comentar sobre o amianto, pra não falarmos com jornalistas sobre o assunto”. Mas, quem orientou? “Ah, foi alguém que estava fiscalizando a troca das telhas. Não sei se era da prefeitura ou da empreiteira”, conta uma mulher.
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Talvez a pergunta de F.S e de outros moradores seja respondida em poucas palavras: desinformação e negligência. Algo materializado quando é avistada uma grande placa colocada recentemente na entrada da obra. Ali está escrito “Construção de abrigos provisórios” e um dos slogans da prefeitura “Pela cidade, por você”. Também são observados os valores do projeto: R$ 407.946,54 (quatrocentos e sete mil novecentos e quarenta e seis reais e cinquenta e quatro centavos), nome e registro do engenheiro responsável e o prazo de entrega do “abrigo”, que seria de 60 dias. Fato que coloca mais dúvidas nas cabeças dos desalojados. “Afinal, quando será entregue?”, é o questionamento geral.
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Moriti Neto é jornalista e colunista do Nota de Rodapé
3 comentários:
Aqui no Brasil o tipo de amianto é o crisotila (que o corpo consegue eliminar rapidamente) e a forma de aplicação é como fibra de reforço amalgamdo ao fibrocimento de telhas e caixas dágua. Estando presas ao cimento, as fibras não se desprendem e o risco destes produtos de prejudicar a saude é praticamente zero. Além disso, conheçio algumas empresas que usam o miernal e todas elas possuem potentes sistemas de captação, filatragem e despoeiramento.
Sugiro a todos, dois sites que trazem muita informação ao assunto, é importante entendermos o conteúdo. A FALTA DE INFORMAÇÃO É REALMENTE UM PROBLEMA.
www.crisotilacomcerteza.com.br
www.orgulhosama.com.br.
Abraços a todos.
Thiago
Bem, se o amianto crisotila representa "tão infímo perigo", porque ele é proibido por lei no estado de São Paulo? E porque outros cinco estados brasileiros também caminham para bani-lo? E mais: por que as duas, e apenas duas, empresas que usam amianto em São Paulo, por meio de liminares, colocam em suas telhas avisos de que "contém amianto: se ocorrerem perfurações sua saúde pode ser GRAVEMENTE prejudicada" ou algum alerta assemelhado?
Também aconselho um site para informações sobre o tema: www.abrea.com.br
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