(Parte 4)
Ao finalizar “Do Amor e de Otros Demônios”, Gabo entregou o manuscrito do livro ao irmão Jaime e a cunhada Margarita. Eles já sabiam da história do livro, mas não conheciam o final. Margarita passou a noite lendo o manuscrito e, no dia seguinte, quando encontrou Gabo, lhe fez um comentário e um pedido: havia gostado muito da novela e nem um pouco do final. Tentou convencê-lo de que Sierva Maria não podia morrer. “Argumentou que em todos os seus livros, exceto ‘O Amor nos Tempos do Cólera’ (1985) tinham finais tristes e de que os personagens, desta vez, mereciam ser felizes”, conta Jaime.Solidário à dor da cunhada, García Márquez tentou convencê-la de que, no contexto da obra, Cayetano Delaura não tinha outro destino do que aquele, permanecer só. Fez Margarita entender que ele, apenas um escritor, não podia mudar o final daquela história, que já estava escrita havia séculos antes de publicada. Só pôde, ao lado da cunhada, lamentar a má sorte que tiveram Sierva Maria e Cayetano Delaura, reféns, não de um escritor e seus desejos, mas de um destino que sabe quem governa com uma força imutável há séculos.
E Margatina aceitou os argumentos de Gabo?
“Não. De modo algum”, responde, risonho, Jaime García.
Título do livro foi presente
O título do livro escrito por García Márquez em 1994 foi dado de presente a ele pelo cineasta brasileiro Ruy Guerra. Quem conta a história é Eric Nepomuceno. "Em 1991, o Ruy me chamou para escrever um roteiro de um filme com ele, que se chamaria 'Lua Negra'. No meio do trabalho, ele mudou o nome para 'Do Amor e de Outros Demônios', título que para mim não dizia nada. Então veio o Collor, o filme nunca foi rodado, e um dia o Ruy contou essa história para o Gabo. Ele ficou encantado com o título e disse que seria perfeito para uma novela que estava escrevendo. O Ruy, então, deu pra ele de presente esse título."
“Dou de presente para você os direitos. Faça”.
Em 2005, em uma oficina de cinema em Cuba, Gabriel García Márquez conheceu a cineasta costarriquense Hilda Hidalgo. Durante o curso, em uma conversa, ela comentou com o escritor que achava que de todas as suas novelas a que melhor poderia ser adaptada ao cinema era “Do Amor e de Outros Demônios”. Lamentou que ninguém nunca tivesse feito. Gabo então lhe disse: “Dou de presente para você os direitos. Faça”.
Hilda Hidalgo precisou de dois anos para escrever o roteiro e encontrar os atores. A colombiana Elisa Triana, de 13 anos, foi a escolhida para fazer Sierva Maria de Todos Los Ángeles. Cayetano Delaura será o espanhol Pablo Derqui, de 28 anos. O filme estreou na Colômbia e Costa Rica no mês de abril. Não há previsão da estreia no Brasil.
- (leia a parte 1: Dizem que uma mulher de vermelho anda pelos corredores)
- (leia a parte 2: É preciso pinçar o que ele escreve)
- (leia a parte 3: Verdades do coração)
- (leia a parte 4 (final): Escritor recebeu pedido para mudar o final do livro)
Ricardo Viel é jornalista e colunista do Nota de Rodapé.
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