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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A mofa é da política e não do CQC

A notícia de que o presidente interino da Câmara, Marco Maia, do PT do Rio Grande do Sul pediu à assessoria jurídica da Casa proteção para evitar “constrangimento” de parlamentares por jornalistas não me surpreendeu. Por mais que eu não concorde com o pedido de querer inibir o bom trabalho do CQC (Custe o Que Custar) não me parece adequado tergiversar sobre o fato real de que parlamentares assinam sem ler as Propostas de Emenda a Constituição (PEC).
Na edição de segunda-feira, 14, o programa da TV Bandeirantes foi à Câmara com uma atriz contratada para colher assinaturas para que uma suposta PEC pudesse tramitar. O documento trazia a inclusão de um litro de cachaça na cesta básica entregue pelo Programa Bolsa Família. Assisti ao quadro (veja no vídeo abaixo) e, se não me engano, apenas um parlamentar não assinou. Um deles, no entanto, perdeu a linha e agrediu a equipe do programa. Estava na pauta a repórter Monica Iozzi que foi empurrada pelo parlmentar Nelson Trad do PMDB do Mato Grosso do Sul. Advogado e professor, Trad foi um dos que subscrevera o tal abaixo-assinado sem ler. Além de um palavrão o político emendou um “tapa-soco” no cinegrafista da equipe.

Mediocridade exposta incomoda
Não é de hoje que o CQC expõe com bom humor a mediocridade e falta de preparo de muitos parlamentares brasileiros. Não estou generalizando, mas em linhas gerais o saldo do programa nas abordagens é de deixar boquiaberto o telespectador. Perguntas sem resposta ou com afirmações erradas e estapafúrdias são frenquentes. “Qual Coreia é a comunista?”, “O que é DNA?”, “O que significa PSDB?”, “O que é Reffis?” revelam nas respostas desinformação entre os políticos que “comandam” o país. Muitos deputados fogem e outros entram na brincadeira rindo de si mesmo. O CQC é um programa que faz um trabalho relevante e deveria continuar assim. Quanto aos outros humorísticos como Pânico e afins não opino porque não assisto.
Segundo Maia, as ações devem preservar a liberdade de imprensa, mas assegurar o direito dos deputados de não autorizarem o uso de imagens pelos programas de humor.
Digo, então, Marcos Maia, que quem fica constrangido sou eu ao saber que além de desinformação por parte dos seus colegas com questões óbvias, vocês consideram “ato comum” assinar uma PEC sem ler. Isso é irresponsabilidade e os jornalistas que cobrem Brasília deveriam, sim, como fez o CQC, denunciar essa excrescência cotidiana.
Nelson Trad aparece como vítima do episódio e não é! Falou ontem em pronunciamento na Câmara dos Deputados e recebeu apoio de vários deputados, entre eles, José Genoino (PT-SP). O deputado sul-mato-grossense disse esperar que essa possível medida de inibir o trabalho dos jornalistas-humoristas “sirva de lição e não faça novas vítimas de um programa inconsequente que coloca em dúvida a seriedade da TV brasileira”. E a seriedade dos deputados? E de que tevê brasileira estamos falando? Não se esqueça, caro deputado, que um colega de partido, Antônio Carlos Martins de Bulhões (PMDB-SP), é o político que detêm o maior número de veículos de comunicação em seu nome (sete), contrariando a Constituição Federal. Seria ele, portanto, um inconsequente?

Verborragia não resolve
Segundo o site Donos da Mídia, 271 políticos são sócios ou diretores de 324 veículos de comunicação no Brasil. No Mato Grosso do Sul, seu Estado, três políticos controlam 6 canais de comunicação. Antonio João Hugo, senador pelo PTB (3 veículos); Ilda Salgado Machado, prefeita pelo PL (1 veículo) e Londres Machado, deputado estadual pelo PL (2 veículos).
O senhor atribui uma agressão a “legitima defesa” e que, portanto, “não precisa pedir desculpas” já que defendeu sua “dignidade” e a “instituição” a que pertence há mais de 30 anos. Quer dizer que faz tempo que o senhor anda pelos corredores assinando documentos sem ler? Em vez de verborragia em plenário vamos discutir, de fato, a atuação da tevê como educadora e formadora e rever as concessões públicas, muitas delas, nas mãos de seus colegas?



Thiago Domenici é jornalista

Um comentário:

Juliane Oliveira disse...

Thiago...
mandou muito bem. 'Nossos' politicos se sentem no direito de serem vitimas de seus proprios atos irresponsaveis. E a população, a maior das vitimas do desrespeito e relaxamento dos parlamentares fica sentada em frente as suas TVs assistindo o que eles ( Donos da Mídia: 271 políticos são sócios ou diretores de 324 veículos de comunicação no Brasil)escolhem. Eu não acreditava em politica e nos derradeiros dias cheguei a conclusão de que sempre tive razão em não acreditar.

Juh

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