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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Aquele homem, Néstor Kirchner

No final da década de 70 os dois eram recém formados em direito, ele, Néstor, vinha do sul do país, ela, Cristina, de La Plata, Província de Buenos Aires. Ambos decidem ir para Santa Cruz, terra natal dele. E seria por lá que começariam seu pequeno império político-econômico dentro do Partido Justicialista. Sempre juntos, ombro a ombro, com ele aparecendo mais, foram conquistando a prefeitura de Río Gallegos, capital de Santa Cruz, logo governador da província varias vezes; e ela senadora por vários mandatos. Somaram-se uma fortuna considerável junto a práticas políticas conservadoras, autoritárias e personalistas. Foram
consequentes a cada período histórico, na ditadura se fez o dinheiro, na democracia o poder.
Na época neoliberal de Carlos Menem, foram neoliberais, apoiando leis que desmantelaram o estado argentino. Que homem chega a governador e não quer ser presidente?
Em 2001, a Argentina desaba em pedaços. Tanto o sistema político como o econômico se desfazem frente a uma população cansada de tudo e de todos. Entre tropeços e uma luta feroz dentro do peronismo chegam as eleição de 2003. Néstor Kirchner chega como um candidato desconhecido e consegue com poucos votos (apenas
23 por cento) ganhar as eleições.
Começa então a aparecer um líder político que ninguém esperava. Trocou os juízes da Suprema Corte de Justiça dando a esta um novo perfil necessário para uma nova etapa de país. Revogou o indulto dado aos militares mais sanguinários da America latina e deu um novo impulso para os direitos humanos no país. Tanto as Mães como as Avós da Praça de Maio receberam pela primeira vez um tratamento merecido por parte do estado. O fortalecimento do MERCOSUL, alianças estratégicas com os países do continente Latino-americano e uma política independente dos Estados Unidos. Elevou os impostos ao setor agroexportador, o que lhe custou o ódio das classes poderosas.
Criou a política de renda universal por filho, parecido ao bolsa família, e a estatizou o sistema de aposentadorias causando uma distribuição dos ingressos. A lei de mídia audiovisual, com a qual ganhou o ódio do maior grupo de
comunicações, Clarín, foi o último embate antes de partir.
Muitos viram nestas atitudes um oportunismo político já que Néstor nunca teve em 30 anos de vida pública ações semelhantes. Mas, o que importa? O importante não era no que ele realmente acreditava, e sim no que fez e o que fez ao povo para acreditar novamente que outro país era possível. Formou junto a sua mulher um governo de centro esquerda disposto a melhorar a vida das classes menos favorecidas. Deu esperança para uma nova geração que já não acreditava em mais nada. Colocou a Argentina novamente como protagonista na política sul-americana.
Um estrategista político como poucos. Algo indispensável numa Argentina cada vez mais polarizada. Estava tudo pronto; alianças políticas acertadas e pesquisas que o colocavam como vencedor das próximas eleições presidenciais. Sua morte repentina não só deixará um vazio, senão que também exigirá de sua viúva uma enorme força de comando.
O projeto político por ele forjado não é só indispensável para a Argentina, mas também é peça chave no continente. Apesar das diferenças e críticas, tenho o maior respeito a uma grande figura que mudou o rumo das coisas do país no qual vive muitos anos.

Rodrigo Menitto, jornalista hermano-brasileño, especial para o Nota de Rodapé

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