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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Em eleições nas redes sociais é preciso mostrar a cara

Já era esperado que nessas eleições as redes sociais tivessem um papel importante, muito embora quem faça parte de alguma comunidade virtual já percebeu que o marketing dos partidos aqui no Brasil não funcionou como nos EUA, com Obama. O pessoal já sabe também que perfil falso não funciona. Não importa se você é popular ou não, o melhor é ser você mesmo e interagir com pessoas que te conhecem a ter um monte de “amigos” e virar mais um spam na multidão.
Não tem jeito, quem tem acesso à internet nessas eleições precisa saber o que fazer com seu voto. Mesmo sem ler sites e sem participar de comunidades virtuais, com certeza todos que tem conta de e-mail já devem ter recebido mensagens relacionadas aos dois grandes personagens dessas eleições, a “bruxa” e o “vampiro”. A grande novidade, no entanto, é o que essas mensagens são capazes de despertar nas pessoas.

Kombi virtual
Na minha Kombi virtual, tem gente que reage de todo jeito. Aqueles que não dão bola para o inimigo e os que postam baixarias e piadas de mau gosto para denegrir determinado candidato. Tem gente que fica em cima do muro junto com Marina Silva (PV), ou é Plínio e diz que vai anular o voto. Tem gente que se revolta com a sacanagem e grita em caixa alta. Tem gente que tem medo de sair do armário e perder o emprego (como aconteceu com a psicanalista). E, finalmente, tem os que fazem o tipo blasé que ameaçam: “a partir de hoje vou dar um hide em quem postar comentários dessas eleições, quero ficar longe, parece que estamos na idade média!”.
Estamos na idade média? Jura? E o que esperar de uma sociedade que queima índio e espanca trabalhadora doméstica por achar que é prostituta? O que esperar de gente que se reúne em frente a um Fórum para linchar em praça pública um casal acusado de assassinato? E o quase estupro coletivo dentro de uma faculdade por causa de uma minissaia? Já vi posts na minha rede onde o elemento bípede diz que não paga 10% aos garçons que votam na adversária. Olhem bem como somos evoluídos! Nossos valores ainda são os mesmos daquela época e se omitir nessa hora significa concordar com toda essa modernidade. Queremos a pena de morte, queremos a justiça com as próprias mãos. Queremos matar o vizinho de infância por não ter a mesma opinião que a nossa.
O mais interessante é que nós, jovens internautas brasileiros, de repente, ficamos politizados. Nós, que nem sabemos direito o que o governo anterior fez ou deixou de fazer, agora enviamos mensagens do tipo “diga não à corrupção” com a foto da “bruxa”. Mas o lado bom de participar de uma eleição com internet é que agora podemos pesquisar rapidamente, coisa que antes tínhamos que estar com a lição de casa em dia ou nos restava acreditar na conversa da padaria que parecia ser verdade. Agora podemos colocar em xeque a credibilidade da imprensa, podemos compartilhar centenas de vídeos, matérias, posts de famosos e de anônimos, formadores de opinião, e ainda podemos trocar nossas mensagens. Depois de “assistir” alguns debates virtuais nas páginas de meus amigos, indignada e pressionada (por compartilhar do voto da minoria na minha Kombi de São Paulo), acabei me sentindo provocada e na obrigação de tomar uma atitude, e como era de se esperar, fui convocada ao debate político em meu perfil.

Sair da toca
Pouco a pouco, como eu, outros amigos começam a sair da toca, e vem mais gente por aí. Em dois dias, celebridades como Oscar Niemeyer, Gilberto Gil, Marilena Chauí e Hélio Bicudo se declararam em vídeos. E cresce o número de posts dos blogs, mais vídeos e mensagens disso e daquilo. A informação antes oprimida pela falta de recursos, agora ganha um belo espaço que é de direito, tudo funcionando perfeitamente e compartilhado a cada segundo no Twitter, Facebook, YouTube, Orkut etc.
Enfim, o Brasil se divide e na internet o jogo é rápido, há quem tente, mas é impossível ficar de fora. Para os meus amigos blasés vai um recado: prefiro mil vezes aguentar as bobagens do exército azul de José Serra do que gente como vocês que não mostram a cara! Queridos, não dá para só dizer que eles roubam, que política é uma merda mesmo, que simplesmente não gostam de um ou da outra, que o povo é burro, que o SWU foi legal e desorganizado, ou que não brinca mais! Afinal, o que vocês estão fazendo aqui mesmo?

Ligia Morresi é designer e vota em Dilma, especial para o NR

3 comentários:

sorte disse...

Adorei o texto. Parabéns!

Ana Paula disse...

Valeu pelo texto, Ligia. Eu não vejo nada de negativo em quem me envia e-mails "do mal", faço com eles o mesmo que faço com as correntes, "lixeira". Aliás, é pelos emails que as pessoas me enviam que eu avalio que tipo de pessoas elas são e nas tolices capazes de enganá-las.
E faço mais, reenvio tudo o que acho de válido, compartilho, distribuo, socializo, gasto o botão "share" de tanto clicar. Posso até passar por "chata", mas sou a chata que acha que ouvir as balelas do outro lado também ajuda na formação da nossa opinião.

Ligia disse...

Obrigada Ana Paula e o Estrela aí de cima. Agora virou moda falar que a militância é chata, engraçado, né? Só agora, depois que eles despejaram o ódio fascista e preconcentuoso em nossas páginas e nas ruas de SP... aliás, não sou militante, não sou de esquerda, não sou do PT, apenas procuro ter bom senso. Está evidente a falta de argumento da oposição, é por isso que apelam. Vambora deixar esses caras mais uma vez pra trás!!!

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