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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A questão Tiririca, não sejamos injustos com o palhaço

Se o caro leitor consultar os dicionários Houassis e Aurélio e procurar pelo verbete Tiririca, lá encontrará mais significados do que os conhecidos e tradicionais, aqueles que identificam o termo genericamente como sendo erva daninha, embora elas sejam várias. E, uma vez adjetivado, o termo tem também o significado de raivoso, de “fulo da vida”. Surpreendi-me com outros significados, como o de determinado tipo de onda que se faz num rio do Estado do Pará, ou da designação dada a um determinado tipo de canivete. Ou ainda, vejam só, o de punguista, batedor de carteira.
Fora dos dicionários, contudo, o verbete se metamorfoseou um dia em nome artístico do cidadão brasileiro Francisco Everaldo Oliveira Silva, nascido em Itapipoca, Ceará, e que se transformou também para milhões de espectadores em humorista e palhaço simplório, além de cantor irreverente. O apelido, depois transformado em nome artístico, foi colocado pela própria mãe, por considerá-lo um menino nervoso.

 Leia também:
- Tem um palhaço puxando o circo, por Diogo Ruic
- Ô abestado, por Thiago Domenici

De razoável a grande sucesso entre crianças e as camadas mais populares da sociedade brasileira, sua carreira foi projetada e alimentada pela mídia, em particular por canais de televisão e seus produtores e diretores, cujos programas são muitas vezes patrocinados por alguns de nossos grandes anunciantes. Ao povo, pão e circo, principalmente o circo, quando o pão escasseia. O sucesso mediático encobre interesses comerciais e absolve as várias celebridades de algumas mazelas e pecadilhos. A história da indústria do entretenimento está cheia de exemplos iguais aos de Tiririca.
Pois bem, o cidadão Francisco Everaldo, sabendo da sua popularidade, pensou que poderia se candidatar a deputado federal e, dentro dos seus critérios e avaliações políticas, carrear sua popularidade para a conquista de votos, pensamento razoável para quem já vira florescer outros exemplos do gênero à sua volta. Se for ou não analfabeto, como se pretende provar agora, talvez tenha levado em conta na sua avaliação pessoal o fato de que analfabeto pode votar. Portanto, se pode votar, pode ser votado também. Ou não? Ou para analfabetos só existem deveres e não direitos?
Ah! Mas para ser deputado ou senador é preciso saber ler, escrever... É preciso interpretar leis e até redigi-las, quem sabe? É preciso ter compostura, ética, boa apresentação pessoal. Será mesmo? Já não passaram pelo Congresso Nacional outras ervas daninhas? Outros homens raivosos? E até punguistas de dedos leves contra o patrimônio nacional? Quantos Tiriricas já foram eleitos no Brasil?
O caso de Francisco Everaldo Oliveira Silva, é mais um daqueles casos que trazem à tona o preconceito que guardamos escondidinho lá no fundo da nossa consciência, mesmo quando a razão nos exige a possibilidade de buscar um país com mais dignidade em sua vida política. Não sejamos tão injustos com o palhaço Tiririca. Ele não seria o primeiro a frequentar o Congresso Nacional.

Izaías Almada é escritor, dramaturgo, colunista do Nota de Rodapé e do site ESCREVINHADOR.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bomba: Video de José Serra dando entrevista em um site chamado “Anti-Religião” - (vejam o logotipo atras)
O video foi removido daqui http://www.youtube.com/watch?v=iqnEm_z3OvU http://www.youtube.com/user/AntiReligiaoBR mas pode ser visto aqui http://www.4shared.com/video/FwNfQ0Ze/Serra__ANTI-RELIGIO.html - Vejam antes que retirem

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