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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Twittando preconceitos

Estou há tempos pensando o que poderia escrever numa coluna sobre mídias sociais. Não por não ter o que dizer, pelo contrário, porque quero dizer muitas coisas.As mídias sociais estão crescendo de uma maneira impressionante. O alcance está cada vez maior, o crescimento é muito rápido. Só no Brasil, por exemplo, mais de 70 milhões usam a Internet, sendo que 79% faz parte de alguma rede social, segundo o site Mídias Sociais.  O Facebook, por exemplo, cresceu 40% no curto período de maio a junho de 2009. Já o Twitter cresceu 1382% (isso mesmo!) só em 2008 - detalhe: o Twitter foi criado em 2006, como ferramenta para comunicação interna de uma equipe de 12 pessoas de uma empresa. São Paulo é a quarta cidade do mundo que mais usa o Twitter.
Com números como esses, costumo refletir sobre o alcance das mídias sociais. Principalmente em ano de eleição. Quem faz parte de alguma rede social, sabe o quanto de informação, desinformação, opinião etc podemos acompanhar - muitas vezes sem nem querermos. Esse ano teve de tudo, baixaria, boataria, informação importante, mentiras, verdades, correntes “do bem” e “do mal”, e até casos de discriminação.

O caso da vez
Exemplo de preconceito; como esse, vários outros casos
Domingo, 31 de outubro, após a notícia da vitória de Dilma Rousseff, muitos usuários doTwitter começaram a postar mensagens culpando os nordestinos pela vitória da petista. Além da desinformação (mesmo sem contar os votos do nordeste, Dilma venceria), o caso é de preconceito e discriminação, coisas muito sérias! Será que as pessoas acreditam que por estarem atrás da tela do computador isso é menos grave? Chamar o “povo nordestino” (como se fosse um só indivíduo) de ignorante, na minha opinião, só revela a própria ignorância. Usuários além de usarem termos extremamente baixos e preconceituosos para xingarem os nordestinos, ainda defendiam uma separação do nordeste do resto do Brasil.
Fiquei tão horrorizada, que não consegui selecionar exemplos, mas sugiro que vejam aqui nesse tumblr (espécie de blog), que foi criado para expor “qualquer manifestação de cunho discriminatório”
Como resposta, muito usuários começaram a postar mensagens com a hashtag (quando se coloca # antes de uma palavra ou expressão, para agregar mensagens e facilitar a busca de determinado assunto, como se fosse uma etiqueta de tweets) #orgulhodesernordestino. Infelizmente, alguns simplesmente inverteram o preconceito - também é possível ver no link sugerido acima.
Fato é que essa história tomou uma proporção tão grande, que a OAB - PE vai entrar na justiça contra uma das twitteiras que escreveu mensagem discrimatória. E já avisou: ela não será a única que pode ser processada por racismo. A usuária, Mayara Petruso, estudante de Direito (irônico, não?) escreveu em sua página pessoal do twitter (que foi deletada por conta desse episódio): “Nordestisto (sic) não é gente, faça um favor a Sp, mate um nordestino afogado!”. Ela será “alvo de duas ações: uma por racismo e outra por “incitação pública ao ato delituoso”. A primeira estipula pena de 2 a 5 anos de detenção, e a segunda, de 3 a 6 meses de reclusão ou multa.”, segundo o blog IDG Now!

O que as mídias sociais podem revelar

Com o uso de mídias sociais, muitas vezes, acabamos descobrindo um outro lado de algumas pessoas que conhecemos (ou achávamos que conhecíamos). Uma amiga acabou de comentar comigo: “Sabe o que andou me preocupando nos últimos dias? A quantidade de amigos reacionários que eu tenho, vi tudo pelo facebook”. Com certeza, ela não é a única.
Já no meu caso, fiquei preocupada quando descobri, com essa história, do que as pessoas são capazes.
Me senti na obrigação de compartilhar, todos devem saber desse absurdo, porque acho que esse tipo de coisa pode gerar importantes reflexões e discussões e para manifestar aqui a minha indignação e repúdio a todo e qualquer ato de preconceito e discriminação.

Natália Mendes é jornalista, formada em Letras - Francês, trabalha com mídias sociais. Paulistana, já morou na Bahia e teria muito orgulho se fosse nordestina. Estreia hoje no Nota de Rodapé.

6 comentários:

Diogo Ruic disse...

opa, natalia,

concordo contigo, apenas como paralelo, esse movimento de disfarce do indivíduo sob o pano da massa, desfigurando-se como "um", é também uma característica de algumas torcidas violentas de futebol. infelizmente, nesses momentos, conhecemos o lado reprimido de alguns.

que seja bem vida!

Anônimo disse...

Incrível como as pessoas se recusam a ver que o governo Lula, apesar dos pesares, foi marcante para a diminuição da miséria. Como um povo pode ser feliz, sabendo que alí do lado tem gente que não tem o que comer? Qualquer proposta de melhor distribuição de renda tem o meu total apoio...

natália mendes disse...

tem razão, diogo. infelizmente, podemos ver que esse cenário se repete de outra formas tb.

obrigada :)

ter críticas ao governo lula é uma coisa, falar absurdos de pessoas e ter um desconhecimento tão grande da situação é o que mais me chama a atenção, nesse caso...

Felipe Jordani disse...

Bacana o texto, Nê. Estreiou com tudo. Vergonha alheia do comportamento desse pessoal. Não vejo definição mais próxima da palavra mediocridade do que esse tipo de comportamento (nesse caso sim, facista e higienista), que não considera o outro e não consegue sair do senso comum na sua compreensão de mundo. Modos que se refletem bem no que o PSDB tem tentado fazer com o centro de São Paulo --expulsando os pobres-- e a subestimada que eles deram no PT na eleição.

Beijo!

natália mendes disse...

oh, felipe, muito obrigada pelo comentário! que bom que gostou :)

realmente, este é outro exemplo muito absurdo. é inacreditável o que vemos aqui em são paulo... e pior que nem precisamos olhar muito longe pra vermos outros exemplos de discriminação.

vanessa ferrer. disse...

eee!!! muito bom. a amiga sou eu? =)

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