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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O pato, o ganso e o cisne

Sessenta e quatro anos após o trauma vivido no Maracanã, o Brasil volta a sediar uma copa mundial de futebol. E isso num momento em que por variados motivos vamos adquirindo ares de sermos mais do que um país apenas emergente.

O Brasil desperta no mundo atual uma nova admiração que ultrapassa o velho chavão do país do futebol. Políticas sociais mais acertadas, economia minimamente planificada e que consegue vencer a crise do capitalismo neoliberal que vaza água por muitos lados, política externa independente, ampliação e solidificação de seu mercado interno, proteção à indústria nacional, enfim, um conjunto de ações que têm despertado a curiosidade de políticos, economistas e jornais do mundo inteiro.

Curiosamente, onde estamos perdendo alguns pontos é exatamente na classificação mundial de futebol feito pela FIFA. Aquele velho e bobo orgulho da ‘pátria em chuteiras’. E parte desse declínio tem a ver com alguns inexpressivos resultados na nossa seleção canarinho.

Com a criação, ampliação e sofisticação do chamado mercado do futebol europeu há alguns anos, o Brasil tornou-se naturalmente um dos maiores fornecedores de bons jogadores para aquele continente. Mas isso virou a farra do boi. Hoje, as escolinhas de futebol espalhadas pelos quatro cantos do país preparam meninos para se tornarem os grandes astros de amanhã. E são preparados como mercadoria de luxo.

O principal modelo, embora existam muitos outros, é Neymar que, em apenas dois anos foi elevado à categoria de um dos principais jogadores brasileiros, com grandes verbas publicitárias ao redor do seu nome e desempenho, promessas de salários astronômicos e possibilidade de vendas para o exterior por preços estratosféricos. Um verdadeiro cisne ao lado de patos e gansos.

Contudo, o futebol apresentado por esse jogador tem deixado a desejar, seja no seu time, o tradicional Santos Futebol Clube da Vila Belmiro, e principalmente pela seleção nacional. Não só ele, mas os inúmeros talentos que jogam fora do Brasil e seus salários astronômicos. Todos transformados em celebridades nos países em que atuam e no Brasil, incensados e idolatrados além daquilo que realmente merecem.

Alguns, depois de algum tempo, já “bichados”, para usar a linguagem do futebol, voltam para cá, contratados por salários irreais por alguns de nossos grandes clubes. Não jogam, pois estão se recuperando fisicamente: gordos, fora de forma, desinteressados, cansados do futebol, velhos para o esporte aos trinta e poucos anos.

FIFA, CBF, diretores de clubes, empresários, técnicos, patrocinadores, imprensa esportiva, canais de televisão, armam uma ciranda onde o que menos importa é o futebol, o bom futebol, o esporte que sempre encantou milhões pelo mundo afora.

Feira de vaidades, mercado de transações comerciais lícitas e ilícitas, valhacouto de mafiosos, o futebol vai deixando de ser um esporte emocionante na sua prática dentro dos gramados, para se tornar uma atração das páginas policiais e das fofocas jornalísticas.

Por aqui, uno minha voz a de tantos outros que ainda gostam do futebol arte: FORA RICARDO TEIXEIRA!

Izaías Almada, escritor e dramaturgo, colunista do NR

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