Sessenta e quatro anos após o trauma vivido no Maracanã, o Brasil volta a sediar uma copa mundial de futebol. E isso num momento em que por variados motivos vamos adquirindo ares de sermos mais do que um país apenas emergente.
O Brasil desperta no mundo atual uma nova admiração que ultrapassa o velho chavão do país do futebol. Políticas sociais mais acertadas, economia minimamente planificada e que consegue vencer a crise do capitalismo neoliberal que vaza água por muitos lados, política externa independente, ampliação e solidificação de seu mercado interno, proteção à indústria nacional, enfim, um conjunto de ações que têm despertado a curiosidade de políticos, economistas e jornais do mundo inteiro.
Curiosamente, onde estamos perdendo alguns pontos é exatamente na classificação mundial de futebol feito pela FIFA. Aquele velho e bobo orgulho da ‘pátria em chuteiras’. E parte desse declínio tem a ver com alguns inexpressivos resultados na nossa seleção canarinho.
Com a criação, ampliação e sofisticação do chamado mercado do futebol europeu há alguns anos, o Brasil tornou-se naturalmente um dos maiores fornecedores de bons jogadores para aquele continente. Mas isso virou a farra do boi. Hoje, as escolinhas de futebol espalhadas pelos quatro cantos do país preparam meninos para se tornarem os grandes astros de amanhã. E são preparados como mercadoria de luxo.
O principal modelo, embora existam muitos outros, é Neymar que, em apenas dois anos foi elevado à categoria de um dos principais jogadores brasileiros, com grandes verbas publicitárias ao redor do seu nome e desempenho, promessas de salários astronômicos e possibilidade de vendas para o exterior por preços estratosféricos. Um verdadeiro cisne ao lado de patos e gansos.
Contudo, o futebol apresentado por esse jogador tem deixado a desejar, seja no seu time, o tradicional Santos Futebol Clube da Vila Belmiro, e principalmente pela seleção nacional. Não só ele, mas os inúmeros talentos que jogam fora do Brasil e seus salários astronômicos. Todos transformados em celebridades nos países em que atuam e no Brasil, incensados e idolatrados além daquilo que realmente merecem.
Alguns, depois de algum tempo, já “bichados”, para usar a linguagem do futebol, voltam para cá, contratados por salários irreais por alguns de nossos grandes clubes. Não jogam, pois estão se recuperando fisicamente: gordos, fora de forma, desinteressados, cansados do futebol, velhos para o esporte aos trinta e poucos anos.
FIFA, CBF, diretores de clubes, empresários, técnicos, patrocinadores, imprensa esportiva, canais de televisão, armam uma ciranda onde o que menos importa é o futebol, o bom futebol, o esporte que sempre encantou milhões pelo mundo afora.
Feira de vaidades, mercado de transações comerciais lícitas e ilícitas, valhacouto de mafiosos, o futebol vai deixando de ser um esporte emocionante na sua prática dentro dos gramados, para se tornar uma atração das páginas policiais e das fofocas jornalísticas.
Por aqui, uno minha voz a de tantos outros que ainda gostam do futebol arte: FORA RICARDO TEIXEIRA!
Izaías Almada, escritor e dramaturgo, colunista do NR
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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)
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quarta-feira, 17 de agosto de 2011
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
CBF e AFA mantêm homenagem ao exterminador de indígenas

Ainda que se intitule oficialmente o encontro como Superclássico das Américas, cartolas e jornalistas têm adotado o nome de Copa Roca.Nada contra o torneio. Que seja prazeroso o futebol jogado. Tudo contra seu nome.
É de se assustar que em tempos democráticos, e superadas parcialmente duas sanguinárias ditaduras, Brasil e Argentina se coloquem a render homenagem a Julio Argentino Roca, o General Roca, como gostava de ser chamado, ministro da Guerra responsável pela “colonização” do interior argentino, particularmente da Patagônia, em uma campanha que deixou 1.300 mortos e mais de doze mil prisioneiros.
Foi ao longo de dois meses, em 1879, que Roca realizou a campanha-relâmpago destinada a povoar com argentinos – indígenas eram outra sorte de gente, na cabeça dele – as secas e frias regiões.
Estavam em jogo duas questões. A primeira, de uma nação europeizada, de acabar com a incômoda presença de nativos. A segunda, central, era a disputa territorial com o Chile pelo direito às terras patagônicas. Baseavam-se as duas nações no antigo princípio do uti possi detis – uso, logo possuo –, o que fazia premente ter habitantes pátrios nestas regiões (do lado chileno, as vítimas foram os mapuche).
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Grandona da AFA e Teixeira da CBF |
Obviamente, para o torcedor a Taça Roca nada tem a ver com o exterminador de indígenas, ligando-se à saudosa ideia de um futebol bem jogado e de uma rivalidade antiga. Tampouco seria de se esperar que os presidentes da CBF, Ricardo Teixeira, e da Associação de Futebol Argentino, Julio Humberto Grondona, tivessem qualquer cuidado histórico. Ainda que quisessem reconhecer a verdade sobre Roca, não é improvável que vissem com bons olhos uma atuação autoritária, haja visto as próprias gestões à frente das entidades que ocupam.
Mas as sociedades dos dois países deveriam estar preocupadas em garantir ao general o lugar que lhe cabe na história: o de genocida.
João Peres, jornalista, repórter da Rede Brasil Atual e colaborador do NR

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