
Ainda que se intitule oficialmente o encontro como Superclássico das Américas, cartolas e jornalistas têm adotado o nome de Copa Roca.Nada contra o torneio. Que seja prazeroso o futebol jogado. Tudo contra seu nome.
É de se assustar que em tempos democráticos, e superadas parcialmente duas sanguinárias ditaduras, Brasil e Argentina se coloquem a render homenagem a Julio Argentino Roca, o General Roca, como gostava de ser chamado, ministro da Guerra responsável pela “colonização” do interior argentino, particularmente da Patagônia, em uma campanha que deixou 1.300 mortos e mais de doze mil prisioneiros.
Foi ao longo de dois meses, em 1879, que Roca realizou a campanha-relâmpago destinada a povoar com argentinos – indígenas eram outra sorte de gente, na cabeça dele – as secas e frias regiões.
Estavam em jogo duas questões. A primeira, de uma nação europeizada, de acabar com a incômoda presença de nativos. A segunda, central, era a disputa territorial com o Chile pelo direito às terras patagônicas. Baseavam-se as duas nações no antigo princípio do uti possi detis – uso, logo possuo –, o que fazia premente ter habitantes pátrios nestas regiões (do lado chileno, as vítimas foram os mapuche).
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Grandona da AFA e Teixeira da CBF |
Obviamente, para o torcedor a Taça Roca nada tem a ver com o exterminador de indígenas, ligando-se à saudosa ideia de um futebol bem jogado e de uma rivalidade antiga. Tampouco seria de se esperar que os presidentes da CBF, Ricardo Teixeira, e da Associação de Futebol Argentino, Julio Humberto Grondona, tivessem qualquer cuidado histórico. Ainda que quisessem reconhecer a verdade sobre Roca, não é improvável que vissem com bons olhos uma atuação autoritária, haja visto as próprias gestões à frente das entidades que ocupam.
Mas as sociedades dos dois países deveriam estar preocupadas em garantir ao general o lugar que lhe cabe na história: o de genocida.
João Peres, jornalista, repórter da Rede Brasil Atual e colaborador do NR