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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Tent City: um ensaio fotográfico

Há cerca de um mês centenas de jovens ocuparam Wall Street, Nova York, em protesto contra a situação econômica no planeta. Após, várias outras cidades ao redor do globo tomaram a mesma iniciativa, e Londres não poderia ser diferente.

Aqui o local escolhido foi o entorno da St. Pauls Cathedral – na verdade não exatamente ali, a ideia inicial era uma espécie de praça ao lado, Paternoster Square, onde fica a bolsa de valores. Todavia, apesar de aberto, o local é privado, portanto não passível de ser ocupado.

A solução encontrada foi, então, acampar na Catedral – a autoridade eclesiástica responsável não viu problemas, desde que os novos inquilinos não obstruíssem as portas da igreja nem fizessem barulho no momento das missas.

Imbróglio resolvido, lá estão desde então, em barracas coloridas que formam a Tent City. Em torno de 150 pessoas fizeram do EC4M 8AD seu novo postcode, entre os que precisam sair para trabalhar, os que passam apenas uma noite ou que batem ponto regularmente.

De fato, é quase uma “vila”. Banheiros públicos foram instalados, a cozinha coletiva serve refeições para qualquer um que precise comer: acampados, sem teto ou apenas passantes – não raro vejo fotógrafos filando um misto-frio.

Doações abastecem a dispensa, e há muita comida. Seja massa, molho de tomate ou apenas uma fatia de torta como volta e meia presencio algumas senhoras entregando.

Neste caso, o alimento é imediatamente aberto e posto na mesa à disposição de quem tenha fome. Diariamente acontecem oficinas sobre economia, política, discussões sobre a situação na qual nos encontramos. Há também a tenda do chá e café, normalmente com alguém tocando violão; tenda do piano, massagem, biblioteca, templo...


Muitos usam máscaras de Guy Fawkes, tal qual V, personagem que ficou famoso após a película “V de Vingança”. Aspas, Fawkes era o responsável por pôr em prática um plano de explodir a House of Lords, parte do parlamento britânico, em 1605. O plano fracassou, mas até hoje os ingleses comemoram a noite do dia 5 de novembro soltando fogos de artifício. Quando passou por lá, Julian Assange usou uma. Fecha aspas.

Policiais passeiam entre as barracas, conversam com os acampados. Não há muitos, contudo as entradas de Paternoster Square são vigiadas 24h, além de bloqueadas por grades. Outra ocupação aconteceu em Finbury Square, mas bem menor.

Como os moradores locais não viram problema, lá estão acampados até hoje. Há imprensa de diversas línguas, vários canais britânicos, atentos a qual será o próximo ato.

E, uma coisa não muda de cá para o Brasil, boa parte dos manifestantes não tem uma boa opinião sobre muito do que é publicado – embora eu ache que deve ser menos distorcido do que as cobertura da RBS durante as revoltas da catraca em Florianópolis.

Não há data definida para saírem de lá, se depender de alguns deles o réveillon será numa área bastante nobre da capital inglesa. Qualquer que seja o desfecho, que os ideais da Tent City ajudem algumas outras cidades, bem servidas de dinheiro mas carentes de ideias.

Pedro Mox, fotógrafo. De Londres especial para o Nota de Rodapé

2 comentários:

Brandão disse...

Pedro, faltou dizer que a galera da imprensa oficial do Brasil ignora ou esconde o atentado contra a tão falada democracia. Pois os novos governos da Grécia e Itália foram indicados pelo FMI.

Marcelo disse...

Tem uma turma dessas acampada aquina Cinelândia, no Centro do Rio. Abração do primo carioca. Mas o Avaí...

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