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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Canções em prosa

Assim como tem a música erudita, os compositores de peças clássicas, longas e complexas, com vários movimentos, todos remetendo a um mesmo tema, a ser executadas por uma orquestra inteira, algumas incluindo coro em várias vozes, tudo isso exigindo uma harmonia super-complexa e muita competência de quem compõe, quem rege e quem toca, há também a música popular.

E eu adoro a música popular, especialmente a brasileira. Tem pra todos os gostos, ritmos e estados de espírito. Obras-primas em poucos versos, dirigidos diretamente a quem ouve. (Tem muita porcaria também, claro, mas vamos ficar só nas coisas boas).

Assim como temos os Bach e Beethoven da vida – e ainda bem que os temos – podemos nos deliciar com Noel Rosa, Dolores Duran, a unanimidade Chico, Adriana Calcanhoto, Gil, Caetano, Cartola, Sueli Costa e milhares de outras pessoas talentosas, que nos oferecem sua arte nas palavras e notas das canções que nos acompanham a vida toda. Isso sem falar em quem tem o dom de cantar pra nós o que essas cabeças iluminadas compõem.

Da mesma maneira, temos também os grandes escritores, que escrevem milhares de páginas, passam anos debruçados sobre temas complexos, romances, ciências, tratados, enciclopédias, bibliotecas inteiras sobre tudo que é assunto neste mundo. Sem falar nos poetas, contistas e cronistas, que nos oferecem textos mais breves sobre os quais rir, chorar, refletir e captar um mundo de sentimentos, sensações e enredos.

O que tenho conseguido escrever tem uma brevidade, uma espécie de urgência. Sou, na minha própria percepção, obcecada pela síntese, ela me seduz de forma irresistível. Encontrar palavras, poucas, ajeitá-las em frases, brincar com elas em uma só página, às vezes meia, podendo de alguma forma registrar o que me vai por dentro, é o que me dá prazer. Muito.

O texto curto, enxuto, é como uma canção popular. Enquanto os grandes mestres e mestras produzem suas grandes obras, longas ou curtas, a gente vai aqui, fazendo uns chorinhos, uns sambas de nenhuma nota, só algumas palavras, umas canções em prosa.

Tomara que alguém as leia e nelas veja seu reflexo. Sei como é bom quando isto acontece comigo sobre o texto dos outros.

Júnia Puglia, cronista, mantém a coluna semanal De um tudo no NR.

2 comentários:

Anônimo disse...

Síntese absoluta, sim, mas com charme de dansa das palavras. Assim como" não é por muito falar que sereis ouvidos, também não é por muito escrever que sereis lidos." Poucos conseguem brincar com as palavras, bailar com elas da maneira como você faz.
Pois, então,continue brindando-nos com seus bailados literários, sua música de letras.
Beijos da Mummy Dircim

Anônimo disse...

Para mim há dois tipos de música e texto: boa/bom e ruim. O estilo fica por conta do autor, compositor, poeta...Você faz parte do primeiro tipo de texto. Sem contar que a síntese é uma bênção entregue a poucas pessoas. Tenho dificuldades com ela, definitivamente não sou sintética. Normalmente as minhas "sínteses" são maiores que o texto ou a ideia originais. Márcia Ester

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