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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Corporativa



por Júnia Puglia  ilustração Fernando Vianna*

Vivi muitos anos dentro de ambientes corporativos bastante variados, em empresas privadas e estatais, órgãos públicos e agências de cooperação internacional. Posso dizer que conheço bem a vida nos escritórios, gabinetes, reuniões e eventos. Inúmeros são os causos colecionados, exemplos de grandeza, mesquinharia, vexames e alegrias, as pastilhas do mosaico do nosso dia-a-dia na ralação.

No mundo moderno, urbano e globalizado, trabalhar em escritórios tornou-se quase inescapável. Não importa se você está num órgão de governo, numa empresa de alta tecnologia, ONG ou transnacional de produtos químicos, ou ainda num banco, os escritórios são todos muito parecidos. Lembro-me de ter encontrado em muitos locais a missão da empresa ou instituição exposta com destaque e certo orgulho. Quase sempre, falava em busca da excelência nos produtos ou serviços, ética, bem-estar do ser humano, respeito ao meio ambiente, satisfação do cliente e outras expressões grandes e edificantes. Nenhuma delas menciona lucro acima de tudo, acionistas ávidos, entraves burocráticos, corrupção, jogo político, disputas de poder e outras lindezas que efetivamente determinam as práticas e os resultados.

Tampouco a estratégica responsabilização de quem está embaixo na pirâmide hierárquica, quando a vaca vai pro brejo, aparece em qualquer manual de conduta ou de gestão, mas quem já esteve ou está nos andares inferiores sabe bem como é. E digo mais: burocratas aplicados e convictos sempre se dão bem, por maior que seja sua cara e recheio de nada. Nos ambientes burocráticos, conhecer as engrenagens e se apropriar delas é tudo. A pessoa alérgica a graxa nunca vai usufruir das benesses reservadas a quem lê os protocolos e manuais com a determinação de descobrir saborosas e suculentas justificativas e benefícios cifrados, que jamais serão divulgados.

A propósito, engana-se quem supuser que os setores de recursos humanos sejam dedicados às pessoas; eles são peças essenciais da engrenagem das conveniências, lucros e vantagens da empresa ou do executivo principal, a despeito da legislação, da “missão”, das políticas de humanização do trabalho blábláblá.

Dito isto, de forma um tanto atabalhoada, quero deixar registrado que trabalhar é muito bom, principalmente quando a gente consegue ver o resultado daquilo que faz, que com frequência pouco tem a ver com metas, planos e estratégias. Também, o quanto figuras carismáticas, inspiradoras e bem humoradas podem fazer a diferença no trampo, tornando o ambiente de trabalho mais equilibrado, leve, sensível e divertido, apesar do piano a ser carregado nas costas. Estas, que estão na pasta “inesquecíveis” do meu arquivo pessoal, e que, mesmo sem o saber, muitas vezes me impediram de desistir nos vários momentos de exasperação, melhoram tudo.


*Júnia Puglia, cronista, mantém a coluna semanal De um tudo. Ilustração de Fernando Vianna, artista gráfico e engenheiro, especial para o texto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Basta de empresas e organizações em geral que obrigam seus funcionários ao "grito de guerra" ao iniciar o dia de trabalho. A guerra tem de se dirigir aos bolsos e cuecas estofados de dinheiro
ganhos pelo labor da base da pirâmide.
Parabéns sonoros ao Fernando.
Bjs da Mummy Dircim

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