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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Quem escreve o Brasil?


por Fernanda Pompeu ilustração Fernando Carvall*

Não sou especialista em nada. Sou uma Pena de Aluguel. Passei os últimos trinta anos escrevendo roteiros, spots, slogans, textos para clientes variados. Aprendi a me apaixonar pela paixão dos outros.

Assim, já morri de amores por uma fábrica de parafusos, pontes estaiadas, bolos para festas, estatuto da criança e do adolescente, autoescola, biblioteca comunitária, casa de tintas, clube de campo, direitos humanos.

Também, é claro, escrevo crônicas dos meus temas. São as melhores de fazer, pois nelas tenho passe livre para escrevinhar o que penso e sinto. É o que hoje rabisco na coluna Mente Aberta do Yahoo e aqui neste delicioso Nota de Rodapé.

Mas mesmo não sendo doutora em nenhuma disciplina das humanas, quero dar alguns pitacos acerca do que andamos vivendo no mundo dos jornalistas e autores. Mundo em crise, acho que ninguém duvida.

O que eu mais vejo no meu Face são postagens, muitas delas desesperadas, alertando para a morte do jornalista profissional. Notícias de desrespeito social, demissões em massa, baixos salários, baixa autoestima.

No entanto, creio que não é a bonita, histórica, indispensável profissão de jornalista que está na UTI. Quem está terminal são os grandes veículos impressos de massa. Eles vão para a agonia por falência múltipla de visão.

Olha que não estou falando de modelo de negócio - esse papo não é de jornalista, é de dono de jornal. Estou falando de novos modelos de noticiar e ler notícias. Novos jeitos criados nas redes sociais e ignorados na maioria das redações.

Muitos seguem acreditando que o mundo é o mesmo do ano passado. Mas não é. Ele não é o mesmo nem da manhã de hoje. Pois tudo vai muito rápido. Corre na velocidade do curtir, comentar, compartilhar.

Mas a velocidade é uma das características da transformação. Existe outra mais acachapante: os leitores mudaram! São mais críticos e mais voláteis. Eles não cabem mais nas caixinhas de destinatários, público-alvo, consumidores.

Também são leitores sedentos de experiências e informações. Estão o tempo todo ligados. Usando seus notebooks, tablets, smartphones. Por ser tremenda a abundância de fontes e informações, são eles que escolhem o que, porque e quem ler.

Me parece que nesse ambiente, jornalistas e escribas em geral vão ter a oportunidade de florescer. Mais ainda, a oportunidade de brilhar com a matéria-prima do jornalismo - que faz algum tempo estava no limbo. Isto é, apuração correta e bom texto.

Não haverá mais a comodidade da mídia única. Nem o cargo, nem o título, nem o espaço da página, nem o compadrio darão ao jornalista a primazia de ser lido. Todo mundo vai ter que suar a caneta para conquistar o novo leitor.

*fernanda pompeu, webcronista do Yahoo e do Nota de Rodapé, escreve às quintas. Ilustração de Fernando Carvall, especial para o texto.

2 comentários:

celia.musilli disse...

Ótima análise Fernanda, tb acho que os meios de informação e comunicação mudaram e que o tempo é outro, da leitura e da duração da notícia. Como jornalista minha única dúvida é se os leitores têm discernimento quanto ao bom ou mau texto para que o o talento, a vocação, o profissionalismo brilhem. Já faz alguns anos, nos jornalões mesmo onde trabalhamos - hj estes dissonauros quase extintos - eu notava que com a crise do jornalismo e a perda de qualidade flagrante ninguém reclamava, não havia uma linha, uma reclamação, um e-mail questionando o tipo de informação, o texto, o título, as conveniências , os erros da notícia. Nas redes se nota um afã de postar e comentar de forma mais crítica mas acho que nelas se misturam o profissional e o amador, o escriba e o aventureiro. Não sei mesmo se o jornalismo tal como ainda o concebemos existe. Estamos numa nova era de informação que revoluciona tb lugares e papéis. E claro, vou continuar escrevendo, rs. Bjs!

Carlos Augusto Medeiros disse...

É isso aí, Fernanda. Trata-se da Web 2.0, na qual o usuário é autor, copartícipe da informação. O espectador morreu. E o usuário não pede licença: fala o que pensa. Os empréstimos às grandes máquinas de informação é que estão com os dias contados. A informação não necessita, aprendemos, de veículo próprio e, com ela, o conhecimento que se produz. Há contudo um temor a ser enfrentado que se refere à qualidade disso tudo. Isso realmente me incomoda. Obrigado, Carlos.

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