Não teve dúvidas. Apontou o dedo na cara do sujeito e gritou:
– Você roubou! Devolve!
O centro apinhado de gente e o calor dava àquela cena um ar cinematográfico. Ao meio-dia a rua 7 de abril é um corredor congestionado. Não se pode vacilar. É São Paulo, centrão, no universo chamado Praça da República.
– Devolve agora.
– Não peguei nada, não, dona!
A amiga agitada olhava no entorno a procura de alguma ajuda. A roda viva de curiosos se formou em segundos.
– Devolve essa porra logo seu filho da puta! – acusou um desconhecido.
O circo estava armado. Um senhor de cabelos brancos falou com o suspeito algo incompreensível. Ele concordou com a cabeça nervosamente. Estava rodeado. Se tentasse correr, toparia com um muro de gente. A situação não era confortável.
– Você já ligou para você mesma? – gritou um sujeito risonho.
A mulher pronunciou impropérios. A amiga – que desistira da polícia – sacou o telefone do bolso. “Será?", pensei comigo. A acusadora revirou a bolsa.
– Não foge, não! – gritou a plenos pulmões para o suspeito imóvel.
O sujeito não iria fugir. Ele deu de ombros e esperou. Um telefone tocou longe. Claramente é música sertaneja. O celular era de capa rosa com penduricalhos de bichinhos. E estava no bolso interno do casaco.
Na mesma hora a turma entoou uma vaia avassaladora e a mulher, sem chão, sem desculpas, mas com o celular, saiu apressada com a amiga em direção ao metrô.
– Vai à merda sua vaca maluca – disse o suspeito indignado que ficou a berrar que deveria processá-la.
Testemunhas não iriam faltar. Meia dúzia a toa ria da bizarra situação. A confusão deve ter animado os papos na hora do almoço. Em segundos tudo voltou ao normal.
* * * * * * *
Thiago Domenici, jornalista, editor e coordenador do NR
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ofensas e a falta de identificação do leitor serão excluídos.