.

.
30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 6 de março de 2014

Celebridades

por Fernanda Pompeu*

Elas e eles são gente um pouco mais do que a gente. Não têm filhos, têm herdeiros. Suas casas são mais amplas, mais charmosas do que as nossas. Em geral, as mulheres são magras, os homens ricos. Ou mesmo magras e ricas, ricos e magros. São bonitos com seus dentes mais brancos do que a neve de Sochi - onde estão rolando os Jogos Olímpios de Inverno. O que dizem, mesmo quando um simplório Desejo um Brasil sem violência, merece ser publicado. Ninguém os acusa de perpetuarem obviedades.

Celebridades não sabem que eu existo, mas eu sei o que elas gostam de comer no café da manhã. Quando morrem são choradas como gente da família. É fato que sempre existiram celebridades. Mas até há pouco tempo, elas vinham associadas a um feito notável. Cruzar a nado o Canal da Mancha. Escalar a mais alta montanha do mundo. Ser mulher e ganhar um Prêmio Nobel. Ser negro e dirigir uma multinacional. Aterrissar um avião desgovernado, salvando todo mundo. Entre outros atos extraordinários.

Mas em tempos de mídias aceleradas e abundantes, na era de portais, facebook, twitter e similares, as celebridades saltam como salta meu Uno nos buracos das ruas de Sampa. Muitas vezes, a celebridade surge do planeta do nada. Alguém pergunta: mas o que mesmo essa pessoa fez ou faz? Um outro responde: sei lá, só sei que ela está bombando. Outras vezes, são celebridades por direito de sangue. Filho de um cantor sertanejo, filha de uma atriz de novela. Ou mesmo mãe de uma modelo, pai de um jogador de futebol.

Não sou ingênua. Imagino que na Idade das Cavernas houvesse também celebridades. Alguém capaz de conseguir mais comida do que a maioria. Um desenhista rupestre mais talentoso do que a média. Mesmo um sujeito que berrasse mais alto afastando os medos. Também entre as lavadeiras de rio, deve existir uma mais hábil do que as outras em molhar, enxaguar, torcer. Até entre blogueiros, há os famosos. Entre as formigas? Talvez tenha uma formiga com ares de cigarra.

Nada disso me intriga. O que me causa perplexidade é a celebridade feita de ar. A celebridade-bolha. Ou o bandido-celebridade, tão exposto pelas mídias que acabamos conhecendo detalhes de sua vida. Por exemplo, qual o último filme que ele viu. No entanto, também é fato que com a mesma velocidade que surge uma celebridade de ar, ela desaparece. O tédio acaba furando a bolha.

* * * * * * *

fernanda pompeu, webcronista do Yahoo e do Nota de Rodapé. *Texto publicado originalmente no Mente Aberta - Yahoo. Imagem: Régine Ferrandis sobre vestido original de Azzedine Alaïa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ofensas e a falta de identificação do leitor serão excluídos.

Web Analytics