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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Fúlvio Abramo e Hermínio Sacchetta

Na próxima segunda-feira, 19 de outubro, a partir das 19h 30 no auditório Vladimir Herzog no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, na rua Rego Freitas, 530, sobreloja, haverá um ato-homenagem ao centenário dos militantes Fúlvio Abramo e Hermínio Sacchetta e também a celebração do 75º aniversário da Batalha da Praça da Sé. O evento é aberto ao público e foi organizado pelas netas dos homenageados, Paula Sacchetta e Paula Abramo. O mestre Antonio Candido estará presente junto com o historiador Dainis Karepovs, especialista na oposição de esquerda no Brasil, e que conviveu com Fúlvio Abramo.
O filho de Hermínio, o amigo Vladimir Sacchetta, explicou ao Blog Rodapé que esse ato-homenagem à memória e história de dedicação à luta revolucionária internacionalista é um resgate que faz pensar num “tempo de utopias”. “Eles deram o melhor de si, seja na política - e não era nada fácil ser militante de esquerda sob a ditadura do Estado Novo - seja no jornalismo, exercido com paixão”, conta Vladimir. “Fúlvio e Sacchetta foram companheiros fraternos e essa amizade transcendeu as gerações”, relembra.
Ambos jornalistas e militantes trotskistas, eles fazem parte da história do país, daí a importância de relembrar suas trajetórias para a juventude que pouco se interessa ou sabe sobre o período. Hermínio, que trabalhou com Cláudio Abramo, seu companheiro de redação no Jornal de São Paulo, disse: “Sacchetta foi durante muitos e muitos anos um dos melhores e mais importantes chefes de redação que o jornalismo de São Paulo produziu. Homem de princípios rígidos, (...) travou sempre com a profissão de jornalista uma batalha árdua e difícil, enfrentando ao mesmo tempo os empregadores e a redação, que ele tentou incansavelmente moldar e domar”.
Antonio Candido, explica Vladimir, traçará um painel sobre política e cultura nos anos 1930 e 1940. "Será um relato pessoal, nada acadêmico, com foco nos debates entre socialistas, trostskistas e stalinistas", finaliza.

Participantes da história
Hermínio Sacchetta (1909 – 1982) trabalhou na Folha da Manhã, na Folha da Noite, nos Diários Associados e no jornal O Tempo. Entrou na militância política em 1932, no Partido Comunista onde se tornou editor do Jornal A Classe Operária, secretário do Comitê Regional São Paulo e membro do Bureau Político. Articulou a greve dos Correios e Telégrafos em dezembro de 1934 o que o levou à clandestinidade. Em meio aos desentendimentos de linhas e ações partidárias é acusado de fracionismo trotskista e expulso do PCB. Constitui com o Comitê Regional de São Paulo a Dissidência Pró-Reagrupamento da Vanguarda Revolucionária. É delatado pelo stalinismo ao vivo pela rádio Moscou e preso e quase dois anos depois, quando sai da cadeia torna-se dirigente do recém-fundado Partido Socialista Revolucionário (PSR), então seção brasileira da 4ª Internacional junto com inúmeros camaradas como Febus Gikovate, Alberto da Rocha Barros, Vítor Azevedo, Patricia Galvão (Pagu), Florestan Fernandes, Maurício Tragtenberg entre outros.
Fúlvio Abramo (1909-1993) além de jornalista foi agrônomo. Antes de cumprir vinte anos (1928) conformou, com a irmã, Lélia, e Azis Simão, um grupo marxista independente do PCB. Pouco tempo depois, fundou, junto com Mário Pedrosa, Lívio Xavier, Aristides Lobo, Hilcar Leite, Rodoldo Coutinho, Rudolf Josip Lauff e João da Costa Pimenta, a Liga Comunista Internacionalista, seção brasileira da Oposição de Esquerda trotskista, chegando a formar parte da sua Comissão Executiva. Foi diretor do jornal O Homem Livre, porta-voz do antintegralismo, e, depois, foi eleito diretor da Coligação das Organizações Operárias que conformavam a base da Frente Única Antifascista, que conseguiu dispersar os integralistas na histórica "Batalha da Praça da Sé," contra-manifestação armada na Praça da Sé, em São Paulo, no dia 7 de outubro de 1934. Preso em duas ocasiões (1934 e 1935) pelo Estado Novo, exilou-se na Bolívia. Fundou o Partido Obrero Revolucionario na Bolívia e voltou em 1961 ao país quando liderou a greve do Sindicato dos Jornalistas, que conseguiu histórica vitória. Voltou ao jornalismo em 1965 como redator e repórter da revista Realidade com passagens pelo Diário do Commércio e Gazeta de Pinheiros. Em 1980 foi do movimento de construção do PT. Dedicou seus últimos anos de militância no trabalho de preservação da memória da classe operária como impulsionador do Centro de Documentação do Movimento Operário Mário Pedrosa (CEMAP), hoje sob guarda do CEDEM-Unesp.

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