.

.
30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Izaías Almada # 8


BRASIL: ANTES E DEPOIS DE LULA


Já não há como tapar o sol com a peneira. Tanto para os que são adeptos e correligionários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tanto para os que não o são (principalmente esses), o Brasil é um novo país interna e externamente.
Criticado pela esquerda mais radical (ou mesmo conservadora) e estigmatizado e enxovalhado pela oligarquia reacionária do país através de seus jornais, revistas e canais de televisão, em campanhas mentirosas e difamatórias sempre a serviço de interesses particulares, quando não impatrióticos, o presidente Lula vai chegando ao final dos seus oito anos de governo nadando de braçada.
Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, nos anos 50 do século 20, bem como o curto governo de João Goulart, no início dos anos 60, são períodos que se destacaram na mesma esperança e na mesma perspectiva do país poder construir o seu futuro, mas – tudo indica – é só agora nessa alvorada do século 21 que alguns vetores econômicos, políticos, sociais e ambientais se cruzaram e parecem proporcionar a um até então desconhecido e humilde operário nordestino a oportunidade de fazer do Brasil uma nação que começa a se respeitar (apesar dos descrentes, dos invejosos e das viúvas do neoliberalismo) e a ser respeitado pela comunidade internacional.
Nunca é demais lembrar que Getúlio se matou, João Goulart foi deposto por um golpe civil/militar com o apoio dos Estados Unidos da América e que Juscelino chegou ao final do seu mandato enfrentando tentativas de sedições militares e golpes de estado (Aragarças e Jacareacanga). Lula, forjado nas lutas sindicais, aprendeu – com certeza – a enfrentar patrões, geralmente testas de ferro das multinacionais e, ultimamente, as hienas da imprensa venal e mal intencionada.
Está certo que Lula nunca se disse socialista, longe disso. Foi um dos primeiros a saudar Lech Walesa, o líder polonês pró-ocidente, ainda no tempo da guerra fria. Selou um compromisso de governabilidade com a burguesia brasileira no início do seu governo, mas ainda assim tripula a nau brasileira com muita competência, não deixando nenhuma saudade dos anos FHC. Muito pelo contrário.
Com uma popularidade que ultrapassa os 60% de aceitação do seu governo, o presidente Lula tem se dedicado a aproximar o Brasil de seus vizinhos e irmãos sul-americanos, onde o Paraguai, Argentina, Bolívia, Cuba e a Venezuela se destacam nos acordos comerciais e perfila-se com independência e discernimento ao lado de nações emergentes como a China e a Índia, em busca de um mundo mais diversificado e menos concentrador. Aposta na riqueza do pré-sal como incentivo à melhor distribuição de renda dos brasileiros, em investimentos pesados nas áreas da educação, saúde, pesquisa científica e tecnológica, criando para o país uma infraestrutura capaz não só de elevar o patamar da nossa produtividade industrial e agropecuária, mas de nos tornar independentes e soberanos. E isso já não é pouco para quem governa um país como o Brasil no mundo contemporâneo.
Mas o Brasil mais conservador e atrasado não vê as coisas desta maneira, preferindo fazer tempestades em copo d’água como CPI’s impatrióticas, invenções de crises uma atrás da outra, factóides midiáticos de inegável aventureirismo eleitoral e irresponsabilidade com o país, onde o que há de pior e mais retrógrado é jogado sobre a mesa da ainda frágil (embora também consistente) democracia brasileira.
O teste de 2010 se aproxima. As armadilhas para o Brasil do futuro, de nossos filhos e netos, estão sendo armadas pelo Brasil mais atrasado, pelo Brasil que perdeu a noção de patriotismo, decência, soberania, nas redações de nossos dinossáuricos jornais, revistas e televisões e alguns recantos de São Paulo, Rio de Janeiro e alguns confins de Pará e Mato Grosso. O jogo, pelo que se viu até agora, será pesado, pois quando não se tem ideias para o debate sobre os caminhos mais progressistas, equânimes e solidários para a grande maioria do povo brasileiro, corremos o risco de ter que enfrentar o desespero, o despreparo, a mentira e a selvageria de grupos e pessoas que não perceberam que o país mudou. O Brasil AL e DL.
Uma eventual vitória PSDB/DEM/PPS em 2010 fará o Brasil retroceder na história. Quem viver, verá!

Izaías Almada, escritor, é autor – entre outros – do livro TEATRO DE ARENA: UMA ESTÉTICA DE RESISTÊNCIA, Editora Boitempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ofensas e a falta de identificação do leitor serão excluídos.

Web Analytics