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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Os idiotas e as baratas são imbatíveis: Sobreviverão ao próprio planeta

Peço licença aos leitores para reproduzir um artigo que li no blog do Azenha, por sua vez reproduzido também do Diário Gauche e escrito por Cristóvão Feil. É assim que se vai fazendo o novo jornalismo brasileiro, através da verdadeira liberdade de opinião e de informação livre: a internet. Uma contrafação ao jornalismo venal e mentiroso que se pratica no dia a dia dos nossos jornalões, telejornais e revistas semanais, com raríssimas exceções, como se sabe.

“Há um visível recrudescimento na idiotização das pessoas. A mídia é a principal usina de produção em série de idiotas e tolos de todos os calibres. O nivelamento por baixo e o achatamento geral do imaginário médio é a principal contribuição dos modernos meios de comunicação de massas. Hoje, é muito fácil encontrar o que eu chamo de idiota triunfante, aqueles sujeitos que se orgulham da própria ignorância e pobreza de espírito. O tolinho jactancioso tira prazer onanista da sua condição, e se basta. O espírito de nossa época - o Zeitgeist, como diz apropriadamente o alemão - flutua numa emulsão formada por dois elementos: a ciência (as tecnologias) e a idiotice. Os idiotas de nosso tempo se projetam nos gadgets que encontram pelo caminho. Observem: todo o tolo que se preza porta pelo menos um artefato mecânico ou eletrônico. Não vive sem essas muletas. É a sua forma de se referenciar com o mundo, de comunicar a sua estupidez relativa ("afinal, estou conectado ao futuro!"). Mas o fenômeno não é original. Gustave Flaubert, o corrosivo crítico da burguesia, ainda no século 19 já havia detectado o fenômeno da tolice social. Para tanto, começou a colecionar os ditos correntes do senso comum e reuniu-os no famoso Dictionnaire des idées reçues ("Dicionário das ideias feitas", numa tradução livre). O escritor francês comentou - e publicou nesta pequena obra de pouco mais de cem páginas - todas as bobagens ditas pelas pessoas que queriam parecer inteligentes e atualizadas. Aliás, Flaubert seria o descobridor da tolice. Quem garante é Milan Kundera, para quem a tolice é a maior descoberta de um século - o 19 - tão orgulhoso de sua razão científica. Antes de Flaubert não se duvidava da existência da tolice, embora esta fosse compreendida de um modo diferente. A tolice era considerada como uma simples falha do conhecimento, um vazio provisório, passível de ser preenchido pela instrução. Mas Flaubert insiste, e praticamente sustenta a sua obra baseada no tema da tolice e da idiotia. Ema Bovary é uma tola que aspirava ser amada por todos os homens. Bouvard e Pécuchet são dois pequenos idiotas que aspiram conhecimentos enciclopédicos acerca de tudo. Leio agora na Wikipédia que Barthes considerou "Bouvard e Pécuchet" como "uma obra de vanguarda". A considerar a idiotia galopante de nossos dias, pode ser. Kundera brinca afirmando que "a descoberta flaubertiana é mais importante para o futuro da humanidade que as ideias mais perturbadoras de Marx ou de Freud". Pois podemos imaginar o futuro do mundo - prossegue Kundera - sem a luta de classes ou sem a psicanálise, mas não a invasão irresistível das ideias feitas, estandardizadas, pasteurizadas, que, "inscritas nos computadores, propagadas pela mídia, ameaçam tornar-se em breve uma força que esmagará todo o pensamento original e individual e sufocará assim a própria essência da cultura européia dos Tempos Modernos". O mais chocante - constatado pelos geniais romances de Flaubert - é que a tolice não se apaga diante da ciência, das altas tecnologias, da pósmodernidade (seja lá o que isso signifique). Milan Kundera ousa afirmar que "ao contrário, com o progresso, ela também progride!" Arrisco a dizer que os bobalhões e as baratas sobreviverão ao próprio planeta. ‘Coisas da vida’ - como diria Kurt Vonnegut, outro escritor especialista em tolos e idiotas”.

E aqui vai o meu arremate como colunista do Nota de Rodapé: se algum ou vários dos leitores discordam das assertivas acima, particularmente os paulistanos, dêem uma caminhada num sábado de bom tempo pela Rua Oscar Freire, entre as ruas Melo Alves e Padre João Manuel. É a mais pura materialização das ideias de Flaubert.

Izaías Almada é escritor, dramaturgo e colunista do Nota de Rodapé. Escreveu, entre outros, o livro “Teatro de Arena: uma estética de resistência”, Ed. Boitempo

- Participe da Promoção Nota de Rodapé e Izaías Almada que sorteará três exemplares autografádos do livro do autor, Teatro de Arena - Uma estética da Resistência, Ed. Boitempo.

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