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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Dunga foi coerente, mas podia ter sido ousado

“Coerência e comprometimento” – Foram essas as principais justificativas do técnico Dunga para a lista dos 23 convocados para defender a seleção brasileira na Copa da África do Sul, em junho.
Assim como a maioria dos jornalistas e torcedores, assisti à coletiva do treinador, que estava visivelmente tenso, pensando nos nomes que certamente EU levaria para o mundial, mas, ao mesmo tempo, tentei analisar a convocação sob a perspectiva do Dunga. Voltei no tempo e lembrei de quando ele anunciado como treinador da seleção, surpreendendo a todos que esperavam pelas voltas de Felipão ou Luxemburgo, ou ainda a indicação de Muricy Ramalho.
O cara, que nunca havia treinado nem time de escola, assumia uma baita responsabilidade, e era obrigado a reverter a péssima imagem deixada pelo time na Copa da Alemanha, em 2006. Naquele momento, duas situações eram cogitadas: ou ele vai mal e reedita a “era Dunga, de 90’; ou ele vai bem e cala os críticos, como na “era Dunga, de 94”. Pois bem, Dunga, muito bem assessorado por Jorginho, conseguiu bons resultados em campo logo de cara, mas todos cobravam do novo treinador um título de expressão. O trabalho continuou (ainda não vou entrar na questão técnica do time) e os títulos vieram. Copa América, Copa das Confederações, primeiro lugar nas Eliminatórias. O futebol de resultado que consagrou o volante Dunga, capitão do Tetra, consagrava agora o treinador que sonhava com o Hexa.
Dentro da linha de raciocínio de dunga, aqueles que sofreram e “roeram o osso” a seu lado deveriam ser premiados com a possibilidade de “comer a carne”. Muitas apostas foram frustradas (alguém lembra do Afonso? Só para citar um caso de convocação equivocada), e outras vingaram. A lealdade do comandante com seus comandados é digna de elogios, não há dúvidas. As críticas à seleção devem ser sustentadas com argumentos esportivos, e não julgamento de caráter do treinador.
Esportivamente, o time é pragmático, bem montado defensivamente, muitas vezes previsível, e dependente de lampejos individuais para armar jogadas ofensivas. Kaká é o ÚNICO meia de criação entre os 23 convocados, e não está em plenas condições físicas. Luís Fabiano vive a melhor fase da carreira e Robinho aposta em um sucesso na África para voltar ao Velho Continente consagrado, depois das traumáticas passagens por Real Madri e Manchester City. Ao lado dos três, os laterais Maicon e Daniel Alves são os principais jogadores pensantes do time. No esquema montado pelo técnico, perfeito. O problema é a reposição. Não temos no banco de reservas substitutos à altura, como se espera de uma seleção brasileira. Enquanto eu pensaria em Ronaldinho Gaúcho, Ganso, Neymar, Alex (ex-Palmeiras) e Diego como alternativas para a criação, Dunga pensa em Júlio Batista, Kleberson, Elano e Ramires. Dunga foi coerete, sim, mas poderia ter sido mais ousado.
Um amigo me disse hoje “o time joga feio, mas tá ganhando, não dá para contestar”. Verdade. Mas imaginem em uma fase eliminatória se o Brasil precisar reverter um placar e agredir o adversário para não morrer na praia... Melhor nem pensar. Vamos torcer para que o Dunga e seus fiéis escudeiros repitam o sucesso de 94, quando Romário e Bebeto, apoiados pelos bons laterais Jorginho e Branco, e tragam mais uma taça para casa.

A lista do Dunga:
Goleiros: Julio César, da Inter de Milão; Gomes, do Totthenham; e Doni, da Roma.
Zagueiros: Lucio, da Inter de Milão; Juan, da Roma; Thiago Silva, do Milan; e Luisão, do Benfica.
Laterais: Maicon, da Inter de Milão; Daniel Alves, do Barcelona; Gilberto, do Cruzeiro; e Michel Bastos, do Lyon.
Meias: Felipe Melo, da Juventus; Ramires, do Benfica; Gilberto Silva, do Panatinaikos; Elano, do Galatasaray; Josué, do Wolfsburg; Kleberson, do Flamengo; Julio Baptista, da Roma; e Kaká, do Real Madrid.
Atacantes: Luis Fabiano, do Sevilha; Nilmar, do Villareal; Robinho, do Santos; e Grafite, do Wolfsburg.
Na "lista de espera" da seleção estão 7 nomes: Paulo Henrique Ganso, Ronaldinho Gaúcho, Sandro, Marcelo, Alex, Carlos Eduardo e Diego Tardelli.

Thiago Barbieri
é jornalista; autor do livro sobre o Corinthians "23 anos em 7 segundos", editor do jornal Primeira Hora da Rádio Bandeirandes e colunista do Nota de Rodapé.

2 comentários:

Moriti disse...

Não vejo tanta coerência assim no Dunga. Se fosse dessa forma, porque levar o Grafite, que fez só uma partida pela seleção, aliás, na verdade, só jogou 15 minutos, contra a Irlanda, num amistoso.

Se ele fala que jogador tem que ser testado para jogar na seleção como justificar o Grafite?

Parece que coerência e tempo de seleção só servem de argumentos para preterir talentos como Ganso e Neymar.

Moriti disse...

Não vejo tanta coerência assim no Dunga. Se fosse dessa forma, porque levar o Grafite, que fez só uma partida pela seleção, aliás, na verdade, só jogou 15 minutos, contra a Irlanda, num amistoso.

Se ele fala que jogador tem que ser testado para jogar na seleção como justificar o Grafite?

Parece que coerência e tempo de seleção só servem de argumentos para preterir talentos como Ganso e Neymar.

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