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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A lei de Gérson pode decidir a eleição na Colômbia domingo

Nos anos 70, uma campanha de cigarro que tinha o ex-jogador Gérson como personagem talhou um termo que passou a fazer parte da cultura do nosso país. Com um sotaque de carioca marcado, o campeão mundial dizia que gostava de “levar vantagem em tudo” e por isso fumava o tal cigarro. Nascia a Lei de Gérson. Malandragem, corrupção, troca de favores, “jeitinho brasileiro”, tudo isso estava englobado na infeliz frase dita pelo meia, que depois, com a repercussão negativa do gesto, se disse arrependido de ter participado da publicidade. Tarde demais. Sua imagem já estava associada ao do “esperto” que não media esforços para se dar bem – e boa parte dos brasileiros se identificaram com sua postura.



O fenômeno da malandragem, tão discutido no Brasil, também é tema nacional na Colômbia, que neste domingo, dia 30, vai às urnas para eleger seu presidente. Um dos candidatos, o filósofo Antanas Mockus, do Partido Verde, tem como uma de suas principais plataformas o fim dessa cultura de se dar bem a qualquer preço.
Já escutei, mais de uma vez, amigos colombianos reclamando de que o grande problema do país era o descumprimento das leis, como subornar o guarda, não pagar impostos, encontrar meios de cancelar uma multa de trânsito. Se não fosse o fato de falarem em espanhol, acharia que conversava com brasileiros.
Mockus foi prefeito de Bogotá e conseguiu uma grande mudança na cidade. Grande parte de seu sucesso foi ter conseguido fazer com que as leis fossem respeitadas, não por medo de punição, mas por que assim se constrói uma cidade habitável. Conseguiu colocar isso na cabeça de uns quantos bogotanos.
Segundo as últimas pesquisas, o político do PV aparece empatado nas pesquisas com Juan Manuel Santos, Ministro da Defesa e candidato do atual presidente Uribe. Deve haver segundo turno, onde as pesquisas indicam vitória de Mockus por pequena margem.
Aproveitando o grande apoio de artistas, os mentores da campanha de Mockus apostaram em vídeos com depoimentos de personalidades falando da importância do fim do “jeitinho colombiano”. “Não podemos seguir aceitando, com cinismo, que na Colômbia todo mundo rouba”, diz uma das atrizes convidadas. “Recursos públicos. Recursos sagrados”, completa a outra.





Analistas políticos colombianos apontam que nas áreas econômica e até no trato com as guerrilhas colombianas (grande preocupação nacional) não haverá grandes diferenças se quem vencer for o candidato da oposição ou o da situação. O fato novo poderia se dar em um campo bem mais micro, na da cultura individual. A vitória de Mockus, se vingar, poderá revogar uma lei que os colombianos nem sabem que existe no país, a Lei de Gérson.

Ricardo Viel é jornalista e colunista do Nota de Rodapé

Um comentário:

Gabriel disse...

Máquina do Governo x Artistas e Intelectuais
vai ser uma briga boa...mas normalmente a vitória é dos primeiros...
No Brasil a classe artística não se envolve muito...a não ser quando podiam ser contratados e ganhavam cachê gordo para fazer mega-shows.
Parece que ninguém quer se arriscar, é mais cômodo ficar com o lado que ganhar.
A Lei de Gerson continua viva, e forte no Brasil. Vamos ver se permanece na Colômbia!
Ótima matéria!

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