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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

É preciso romper com o "Kakasismo" neoliberal

Acabo de ler Futebol ao sol e à sombra. Sem dúvida, um excelente acompanhamento para este Mundial que começa. Principalmente se levarmos em conta que encontrar poesia nas linhas de Eduardo Galeano é certo, é garantido. Nos campos da África do Sul, a tarefa é mais difícil, talvez fiquemos a pinçar bons momentos – tomara que não.
Galeano conta a história deste esporte em seu consagrado estilo: notas curtas, pequenos episódios que se somam para formar um todo inequivocamente bom. Os melhores jogadores, as melhores esquadras, os mais lindos mundiais, tudo isso o escritor uruguaio registra magistralmente. E, como não poderia deixar de ser, consciente que é, denuncia com ironia e um humor azedo os abusos e a corrupção fora das quatro linhas. Demonstra o velho amargor, também, ao notar o sumiço do futebol sul-americano autêntico, como no Brasil de 1994, burocrático e aborrecedor.
Crítico contumaz da Fifa, não poupa tabefes a João Havelange para, depois, dizer que o brasileiro ficou parecendo um carneirinho comparado a Joseph Blatter. Registre-se especialmente a fala de Blatter sobre a formação, no pós-Copa de 1994, de um sindicato internacional de jogadores. Questionado a respeito, Blatter afirmou que os atletas deveriam se contentar em serem funcionários dos clubes e que a Fifa não fala com os empregados.
Coincidentemente, vi numa manhã desta semana uma resposta do jogador Elano a um questionamento sobre o cronograma, a organização da Seleção Brasileira. Aborreceu-me:
Sou um empregado da CBF. Acordo às sete, tomo café às sete e meia, subo no ônibus e vou treinar. É esse meu trabalho – foi mais ou menos o que ele disse.
A fala de Elano não é um a toa. É de jogadores assim, cordatos, que Dunga gosta. É de jogadores assim, cordatos, que a CBF gosta. É de jogadores assim, cordatos, que a Fifa gosta. Sinto saudades do que falava Romário. E torço para que Marcos, o goleiro, jogue mais alguns anos, só pelo prazer de ver um jogador que não abre mão de pensar. Tenho esperança de que Ganso, Neymar, esse pessoal que está vindo, rompa com o “kakasismo” neoliberal que tomou conta do nosso futebol.   Galeano talvez ainda não saiba, mas odeia o dunguismo. Vai descobrir isso na terça-feira.

João Peres é jornalista e colunista do Nota de Rodapé

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