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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

domingo, 18 de março de 2012

Aborto na Argentina: dêem-me direitos, eles não murcham

Foto: Giuliano Maiolini, SP.
Ao assistir o documentário “Aborto Clandestino: Crucificação Democrática”, no Cine do Caco, em Bauru, São Paulo, lembrei de três rosas pisoteadas e esquecidas que vi ao caminhar sob o sol escaldante no último 8 de março, dia Internacional da Mulher.

A liberdade da mulher, como aquelas rosas, me derão a mesma impressão ao término do filme, uma produção argentina do Coletivo Elza Torres que retrata o aborto naquele país do ponto de vista social e contextualiza a luta pela sua descriminalização.

O Cine do Caco, um clube de cinema do Centro Acadêmico de Comunicação Florestan Fernandes (Cacoff), da Unesp de Bauru, exibiu o documentário em parceria com o Centro Acadêmico XVII de Maio e com o apoio do Coletivo Movimenta Bauru.

Um por minuto

Na Argentina, a estimativa é de um aborto a cada minuto. Num ano, são 500 mil abortos frente a 700 mil nascimentos. E muitas mulheres também se tornam vítimas: 3 mil morrem em sua decorrência.

Com números tão expressivos, diversos grupos no país se organizam para garantir o direito a liberdade da mulher de escolher ter ou não o filho. Extremamente crítico, o documentário mostra a influência da Igreja na criminalização de mulheres que optam pelo aborto.

O documentário aponta que o aborto não é uma prática somente das classes mais baixas. Em geral, a maioria das mortes por complicações do aborto clandestino ocorrem nas periferias, mas a situação está presente em todas as camadas sociais.

As classes mais altas, por consequencia, tem mais condições de fazer um abordo em clínicas com mais “segurança”, diferentemente dos mais pobres.

“Se o Papa fosse mulher, aborto seria lei”, gritavam feministas num protesto exibido no filme. Essa frase dá o tom do embate religioso presente no país vizinho – avançados no debate e com muitos grupos mobilizados.

Enquanto lá o problema é a supremacia da Igreja Católica, no Brasil é a Bancada dos Evangélicos, por exemplo, que cada vez mais toma forma no Congresso, fazendo força junto a Igreja Católica.

Apesar do Brasil ser um país laico, as instituições religiosas ainda exercem grande influência nos poderes do país. Camila Sousa, integrante do Centro Acadêmico XVII de Maio, comenta que há muito para avançar no Brasil. “Essa não é uma luta só das mulheres, quando todo mundo entender que é uma causa de todos, as mulheres terão seus direitos garantidos”, argumenta.

A pesquisa Magnitude do Aborto no Brasil revela alguns aspectos epidemológicos e socioculturais do problema. Realizada pelo Ipas Brasil, em parceria com o Instituto de Medicina Social da UERJ, a pesquisa estima que sejam realizados anualmente mais de 1 milhão de abortamentos com cerca de 250 mil internações por ano para tratamento de complicações ao custo de 35 milhões de reais para o Estado.

Camila e todas as meninas presentes não ganharam flores nesse dia, mas preferiram plantar algumas sementes para que no futuro possam colher rosas suficientes para montar um buquê de direitos garantidos.



PANO RÁPIDO: Segundo a Folha de S. Paulo de quarta-feira, 14 de março, "a Corte Suprema Argentina determinou que abortos feitos por mulheres que tenham sido estupradas não são crime. A lei já liberava abortos no caso de violações e se havia perigo à vida da mulher. Mas, em geral, a Justiça apenas autorizada pessoas com deficiência".

Aline Ramos, estudante de jornalismo,entusiasta da Cobertura Colaborativa, especial para o Nota de Rodapé

Um comentário:

Fernanda Pompeu disse...

Bem-vinda, Aline!

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