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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Pensamentos incomuns

Abaixo, você lê três abordagens de uma mesma história. Uma brincadeira que surgiu por acaso entre três amigos em outubro do ano passado. A versão original é de Thiago Domenici, a segunda de Fernando Evangelista e a terceira de Ricardo Viel, todos colunistas deste NR. E você, caro leitor e leitora, que tal fazer a sua versão nos comentários dessa postagem?

1.
Subiu no telhado pela escada lateral.
O Sol, sem esforço, iluminava seu rosto, deitada, suave, respiração compassada.
Nada era mais importante do que aqueles pensamentos incomuns.
Ninguém, absolutamente, poderia sentir, imaginar, o que era só de Nina.
Ninguém nasce sabendo que o amor é uma lei da vida.
"Quando ele chega queima como o sol a bater no rosto".
Então era assim.
A descoberta transbordou num poema de olhar, de sentir.
Desceu do telhado pela escada lateral.
Agora a Lua, sem esforço, iluminava seu rosto corado, em pé, suave, respiração descompassada.
Ah, pensou ela, benditos pensamentos incomuns.
(Thiago Domenici)

2.
Chegou ao telhado por uma escada lateral.
O sol iluminava seu rosto. Deitou. Nenhum barulho, nenhuma buzina.
Do terraço de um prédio de 14 andares, ela ouvia, apenas, sua própria respiração, calma, compassada.
Não havia medo.
Não havia nada, apenas alguns pensamentos incomuns.
Ninguém, absolutamente ninguém, poderia sentir, imaginar, o que era só de Nina.  Ninguém nasce sabendo que o amor é lei da vida.
"Quando ele chega, queima como o sol a bater no rosto", ela pensou.
Era assim, sempre foi assim.
A descoberta poderia ter virado poema, uma canção, uma boa história para contar. Mas para que? Para quem?
Apesar daquele sol que a acolhia, como um colo de mãe, ela não via sentido numa vida sem ele.
Nina foi até o parapeito e repetiu a pergunta: para que? Para quem?
Então se lançou no ar.
(Fernando Evangelista)

3.
Não havia telhado. "Como subir?", pensou.
O sol castigava seu corpo nu, suado, que exalava um cheiro que não parecia seu.
Queria lançar-se, colocar fim a tudo aquilo. Mas como, se o telhado que antes estava ali havia desaparecido?
Curioso não é perguntar-se porque alguém se mata, mas porque alguém decide não se matar.
Quem colocara aquela questão? Não parecia ser um pensamento seu.
Ninguém, absolutamente, poderia sentir, imaginar, o que era só de Nina.
Nada era mais importante do que aqueles pensamentos incomuns.
O telefone tocou. Era ele. Duvidou se atenderia. E viu a lua aparecer, tão improvável...
Existisse telhado e eu não teria visto isso, pensou.
O telefone continuava a gritar...
(Ricardo Viel)

[imagem de artista Kyle T. Webste, do blog The Daily Figure]

2 comentários:

Anônimo disse...

Subiu no telhado pela escada lateral.
Lá estava o pequeno sótão, da mesma forma que o casal deixara na memorável noite em que Nina conheceu o amor. Os copos ainda estavam lá, quaze vazios, as revistas abertas nas mesmas páginas onde a leitura parou, onde o tempo parou.
O coração de Nina acelerou, a respiração descompassada ao relembrar, passo a passo, como as mãos dele deslizaram por seu corpo.
Ninguém nasce sabendo que o amor é uma lei da vida.
"Quando ele chega queima como brasa".
Releu a matéria da revista, bebeu o pouco que restava, adormeceu.
Acordou com o sol aquecendo seu rosto, sorriu.
Desceu do telhado, respiração compassada, pensou: "Benditos pensamentos incomuns!".

Dani Peraze disse...

Bacana isso!

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