.

.
30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Pequenos do mundo, boicotem



por Thiago Domenici   ilustração Ligia Morresi*

Hoje eu quero falar de utopias. Quero falar da força dos pequenos. Uma força que nós, os pequenos, não temos a dimensão. Nós, os pequenos, a maioria nesse mundão. Nós, os pequenos, explorados pelos grandes.

Conclamo a um ato de rebeldia extrema. Evoco, aqui, agora, o princípio de Gulliver, cunhado pelo filósofo francês Michel Onfray, que sugere que somando forças os pequenos podem multiplicar-se e fazer grande estrago.

O camarada filósofo disse mais: “A razão é sempre minoritária, pois a inteligência é mais rara do que a obediência”. E mais: “As pessoas preferem uma ficção que lhes dê segurança em vez de verdades que inquietam ou certezas que angustiam”. Touché!

Já que o sistema está aí para nos azucrinar, azucrinemos com ele de vez em quando. Boicotem o que desejarem! Esse blog, se julgarem inoportuno esse texto. Que seja só por hoje, mas boicotem!

Escolham um alvo bem sacana no mundo do capital nosso de cada dia. Aquele que te põe numa encruzilhada. Esses, bem espertos, que te pegam e amarram psicologicamente e economicamente. Adicione uma dose cavalar de saco cheio, rejeições, indignações e vá em frente. Tente!

Imagine que por menor que seja o efeito colateral, no prazer – repito, no prazer! – de saber que você, o pequeno, não se dobrou ao grande: “Era pra fazer e não fiz!” Tudo o que é vendido nas propagandas dos meios de comunicação é passível de boicote. Inclusive, os próprios meios de comunicação.

Você pode se indagar: mas se todo mundo deixar de consumir algo comum, seja um produto, ideia, atividade etc. o estrago será grande? Será um estrago, acredite, a proporção vai depender da massa que se uniu ao boicote. O fato é que sem audiência, um seriado de televisão, por exemplo, por melhor que seja, acaba. A lógica é a mesma para quase tudo: grana, bufunfa, capital, ri-que-za!

Sem a audiência dos pequenos as coisas não tem sentido de existir. O seu boicote pode vir em forma de denúncia ou propaganda negativa. A sua opinião, sobretudo no mundo virtual onde tudo fica mais exposto, pode, sim, mudar as coisas.

Exemplo: o recente site BoicotaSP, que diz não ser o "Procon e nem o Reclame Aqui", ideia de um publicitário, sugere ao internauta que liste os lugares que exploram demais em São Paulo. O espaço pretende ser um "guia de boicote aos estabelecimentos, eventos e qualquer coisa que saia do razoável." Com pouco mais de uma semana na rede a audiência é altíssima e já conta com mais de 20 mil fãs no Facebook.

Inspiremo-nos em Rosa Parks, a brava negra que não cedeu seu lugar no ônibus para um homem branco em 1955 na localidade de Montgomery, EUA. Dar lugar aos brancos era lei (segregacionista, é claro). Presa por seu ato, Rosa angariou uma avalanche de apoio que detonou o boicote maciço aos ônibus levando, posteriormente, a Suprema Corte a abolir a lei. Rosa Parks, meio por acaso, ajudou na luta anti-segregacionista dos EUA.

Vamos, nobres leitores, vamos mudar o mundo sem tomar o poder (por enquanto!). Só por hoje, por uma utopia desse escriba, vamos cutucar o comando central e dizer: “tamo de olho e querendo te derrubar”.


*Thiago Domenici, jornalista, editor e coordenador do NR. Ilustração especial para o texto de Ligia Morresi, designer e ilustradora, que estreia hoje no blog

4 comentários:

Anônimo disse...

Puta merda! Texto bom pra cacete! Demais. Demais. Tô nessa.
Fredo Sidarta.

Fernando Evangelista disse...

Texto maravilhoso! Parabéns pelo gol de letra.

Ana Luísa Kelm disse...

Haha. Boicotemos!!! Cansemos de ser boicotados. Vinguemos nossas mentes, corpos e ações oprimidos. Sejamos psicológica e socialmente maiores que nosso físico! Meus parabéns, texto digno de movimento.

Anônimo disse...

Obrigado, Fernando. Ana Luísa, que bom que gostou, obrigadíssimo pela leitura. Volte mais vezes. :) Abs, Thiago

Postar um comentário

Ofensas e a falta de identificação do leitor serão excluídos.

Web Analytics