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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Avatar e o 3D nosso de cada dia

Junte uma xícara cheia de questões ambientais, mais uma colher de guerra do Iraque com algumas pitadas de Matrix, Alien, O último dos Moicanos, Pocahontas, Guerra nas Estrelas e outros tantos sucessos do cinema e você tem o roteiro do filme Avatar. Bom, como não sou crítico de cinema então não vou me alongar no debate sobre a história do filme e vou me ater ao assunto que realmente entendo.
A grande expectativa com relação a Avatar era para ver os efeitos especiais que James Cameron, o diretor do longa, vinha desenvolvendo há muitos anos. A ideia era integrar atores e animações de uma forma realista para aproveitar as projeções em terceira dimensão (3D).
E parece ter funcionado. Só no primeiro fim de semana o filme faturou mais de US$ 200 milhões nas bilheterias de todo o mundo, o suficiente para praticamente pagar os seus custos de produção. E realmente a integração é sensacional. Mas o efeito mais impressionante para mim foi no fim do filme: tirar os óculos 3D e sentir o efeito de alívio.
Para mim, que nunca usei óculos, foi um esforço muito grande ficar com aquela armação rígida de plástico na cara durante tanto tempo. Foi interessante pela experiência diferente de assistir um filme, mas foi muito incômodo, não quero passar por isso de novo tão cedo.
Mas certamente eu vou estar lá antes do pretendido. As projeções em 3D vieram para ficar. Depois de muitas tentativas a indústria chegou ao ponto em que a 3D não é mais um luxo e sim uma questão de sobrevivência. Com a alta definição e o som de alta qualidade disponível para os consumidores, o cinema perdeu seus diferenciais com relação a tevê. E com o download e o streaming ganhando mais força – de forma legal. Contar com quem gosta da “magia do cinema” rola, mas não é o suficiente para sustentar toda a indústria. E a 3D é fórmula encontrada para manter o fluxo de dinheiro entrando no caixa. Hoje em dia, um filme em 3D fatura uma média de 30% a mais do que uma projeção convencional – os ingressos custam entre R$ 6 e R$ 7 a mais. Por isso, o Brasil deve fechar o ano com mais de 100 salas do tipo. No mundo, elas já chegam a quase 3 mil. O investimento em equipamento para projeção em 3D pode chegar a R$ 600 mil por sala. Para produzir um filme em 3D, o custo pode ser até US$ 15 milhões mais alto, o suficiente para pagar o cachê de uma atriz como a Angelina Jolie.
Foram 15 filmes lançados com a tecnologia este ano. Para 2010 estão programadas tantos outros. Um deles é Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton, com o galã Johnny Depp. Certamente eu, você e muita gente estará lá, sofrendo com os óculos na cara, mas se divertindo com essa nova forma de ver cinema.

Gustavo Brigatto é jornalista e cobre a área de tecnologia há 5 anos. Mantém o blogue http://commandcom.worpress.com e é colunista do Nota de Rodapé


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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Magrão, Argentina e Copa do Mundo 2

Com atraso venho responder ao amigo João Peres, pessoa de caráter que enfrentou comigo o calvário de uma redação onde tal qualidade passava longe. A discussão sobre futebol é apaixonante e nunca tive a pretensão de ser o único entendido do assunto. Também cresci com a geração de garotos que sonhavam em ser o camisa 10, ou 8, no caso do Dr. Sócrates, que reinava, esbanjava talento e não se cansava de fazer passes de calcanhar com a camisa que hoje é associada aos volantes marcadores, aos valorizados “destruidores” de jogo, do jogo que antes encantava e hoje valoriza o resultado (normalmente empate sem gols fora de casa e 1 x 0 em casa são considerados goleadas...). Aliás, só para citar outros dois jogadores diferenciados que honraram a 8 do Doutor, Rincón e Edmundo, encheram os olhos de quem começou a acompanhar o futebol depois do tetra, quando o jogo burocrático só foi vencido pela genialidade de um tal Romário, imortalizado com a 11.
A Democracia Corinthiana foi um movimento muito além da simples rebeldia de jogadores que eram contrários à concentração. O sentimento de brigar pelos próprios direitos tomava conta da nação corinthiana, da palmeirense, da sãopaulina, da santista, da flamenguista, da gremista, da cruzeirense, enfim, da nação brasileira. Sócrates, Wladimir e Casagrande encabeçaram o movimento no Parque São Jorge, mas contaram com o apoio de artistas, músicos, jornalistas, professores, médicos e todos os outros que lutavam contra a repressão. Aquela campanha, coroada dentro de campo com títulos, foi vítima de tentativa de boicote por parte da imprensa ligada aos generais, mas, aos poucos, foi inevitável esconder a verdade: milhões de pessoas que se manifestavam nas ruas queriam as Diretas Já. Boa parte vestia preto e branco, mas aquela festa não era apenas uma comemoração futebolística. Confesso que não me lembro de tal época, porque estava ainda na inocência da minha infância, mas tenho uma boa noção do que se passava e das mudanças que aconteceram a partir daí.
Bom, quem sou eu para discutir com o Sócrates quando ele diz que a Copa é uma feira? Hoje em dia vivemos os anos do futebol profissional, onde até comemoração de gol é patrocinada. As imagens de jogadores são criadas e moldadas para que “Cristianos Ronaldos” sejam comparadas a “Pelés”. Nada contra o português, mas que o cara joga menos do que pensa e muuuiiiiito menos que se vende, isso lá é verdade. Um grande exemplo foi o lançamento de um livro oficial do Real Madrid onde o primeiro volume de grande ídolos do clube é dedicado ao “craque” Ronaldo (como ele se chama agora, talvez para se aproximar um pouco do Fenômeno). Bom, tirando alguns gols e um bom tempo machucado, o gajo não conquistou NADA com a camisa merengue. Outros verdadeiros ídolos foram deixados de lado em prol do “lance comercial”. E a Copa do Mundo, como definiu bem Sócrates, é uma prateleira de exposição de produtos. Claro que a competição mexe com nossas emoções, afinal quando a bola começa a rolar, esquecemos que o Robinho só pensa nos contratos milionários e torcemos para ele pedalar pra cima de qualquer zagueiro.
Vamos ao tema principal da discussão: o futebol arte tem sido desvalorizado ao longo dos tempos, graças a vários insucessos. A seleção brasileira de 82, que encantou o mundo, mas não foi campeã é um exemplo, assim, como o famoso “Carrossel Holandês”, a Argentina de 94, antes do doping, e tantas outras seleções que encantavam, mas paravam em adversários que tinham fortes marcadores e apostavam uma jogada para “golear”, por 1 a 0.
Discordo, porém dos doutores Sócrates e Tostão com relação ao jejum de títulos da Argentina. Nossos hermanos, recordistas de títulos da Libertadores, sabem melhor do que ninguém como entrar numa competição dura. As tradicionais linhas de 4, com um volante que funciona de enganche, ou seja, um homem de criação que pensa o jogo são marcas argentinas. Os inúmeros títulos do Boca Juniors, comandados por Riquelme são os primeiros que me vêm à memória (até por razões afetivas), mas o Estudiantes de Veron, atual campeão da América, não foge à regra. O problema da seleção, acredito, é a cobrança exagerada por se montar uma equipe imbatível. Messi, Tevez, Aguero, Riquelme, Veron, Cambiasso, Mascherano e outros têm talento e têm raça, mas falta conjunto ao time. Para não me estender mais por hoje, a mudança principal deve acontecer no comando – Maradona não é técnico.
Mas para que a discussão continue em 2010, vamos torcer para que os argentinos esperem mais alguns anos na fila...

Thiago Barbieri é jornalista; autor do livro sobre o Corinthians "23 anos em 7 segundos", editor do jornal Primeira Hora da Rádio Bandeirandes e colunista do Nota de Rodapé.

Leia também: - Magrão, Argentina e Copa do Mundo 1

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Sai pra lá Serra

Existe algum lugar do mundo a salvo da publicidade de José Serra? O governador de São Paulo, nos últimos meses, ansioso que está por ser presidente da República, bombardeia propagandas na televisão, internet, jornais, rádio. Não bastasse tudo isso, vê-se publicidade de Serra no metrô e nos ônibus de São Paulo.
Domingo retrasado, eis que estou no cinema quando, em meio aos trailers, surge mais uma das peças publicitárias do governador. A sensação é de que, onde quer que se vá, lá estará José Serra.
Fico imaginando que, se não ocorreu, ainda vai ocorrer: está lá o casal no motel, o clima indo maravilhosamente bem, quando alguém tem a péssima ideia de observar a parceira (ou parceiro, tanto faz), no espelho do teto. E eis que se depara com um enorme adesivo ostentando a cara do governador. O clima, claro, vai por água baixo.

- Amor, vamos lá pra banheira. Aqui, não vai rolar.
Mas, ao chegar ao banheiro, eis que está lá, no fundo do piso, a face de José Serra.
- Meu Deus, não acredito. E agora?
- Olha só: a gente vai lá pro quarto, pede uma bebida, relaxa, liga a tevê num daqueles filmes e faz de ladinho. Assim, ninguém precisa olhar pro teto.
- Boa ideia. Liga a tevê, então.

“O governo de São Paulo está preocupado com sua saúde sexual. Pensando nisso, desenvolvemos programas de combate às doenças venéreas. Com a palavra, o governador José Serra: Você tem usado preservativo em todas suas relações? O Governo do Estado, com apoio da iniciativa privada, distribuiu dois milhões de camisinhas este ano.
É o governo de São Paulo, trabalhando por você.”


Bom, quem sabe no mato ainda dê para se livrar da publicidade de José Serra.

João Peres é jornalista e colunista do Nota de Rodapé

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Copenhague: mais do mesmo

Não quero engrossar o coro dos descontentes, mas, já engrossando, prometo ser breve ao aliviar aqui todo meu imenso descontentamento com a cúpula de Copenhague. E o farei recuperando um texto que escrevi em abril de 2007. Afinal, nada melhor do que criticar uma reunião que não produziu nada de novo com um texto velho: eis a triste atualidade de nossa histórica incompetência.

Duvido
A essa altura não há muito mais o que se falar sobre o que estamos fazendo com a natureza. O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas traçou o mapa da desgraça que o “progresso” humano provocou e ainda vai provocar no planeta. Mesmo se parássemos de queimar combustíveis fósseis neste segundo, a tragédia continuaria, no mínimo, pelos próximos cem anos.
Mas esse é o único planeta que temos. E todos sabemos e não sabemos que destruímos dia após dia o meio ambiente. E sabemos e não sabemos os passos para amenizar a degradação. Por exemplo, praticando a simples e indolor coleta seletiva do lixo. É senso comum também que o consumismo destrói o planeta. Todo mundo e ninguém pára pra pensar no potencial destrutivo de cada aquisição feita no mercado da esquina. O sonho de nove entre dez pessoas é ter um veículo particular. Os governos continuam mirando seu crescimento econômico no modelo que, além de pobreza, causa tempestades, degelo das calotas polares, inundações. Todos queremos viver como nos Estados Unidos ou na Europa, com aquele padrão de vida maravilhoso, ignorando ou esquecendo que não há recursos naturais suficientes para isso.
É ilusão pensar que as pessoas – eu, você, o vizinho – vão deixar de lado as facilidades da vida contemporânea para preservar o próximo século de um planeta que não vão mais habitar. Mesmo com esse alerta estarrecedor do IPCC. Talvez se a ciência descobrisse a fonte da vida eterna, quem sabe o egoísmo falaria – como sempre fala – mais alto. Como não há chances de que isso aconteça a curto, médio ou longo prazo, precisamos de uma mudança radical, principalmente na economia.
Capitalismo rima muito bem com prosperidade, aviões, arranha-céus, indústrias produzindo a todo vapor, mas não com natureza. Preservar o planeta no capitalismo custa muito dinheiro, portanto, reduz o lucro, portanto, está fora de cogitação para os donos da bola. Veja nas prateleiras: produtos ecologicamente corretos são bem mais caros que os convencionais e estão fora do alcance da maioria da população.
Mas dinheiro é bom. Quem tem adora, pode comprar um monte de coisa. Carne, por exemplo. Tudo bem, vai, nem precisamos de tanto dinheiro assim pra comprar carne. E ninguém vai parar de comer, seja filé mignon ou acem. Mas o rebanho bovino – comendo, arrotando e peidando sem parar – está entre os maiores emissores de gases causadores do efeito estufa. Isso sem contabilizar as árvores que caem para que existam pastos. Aquele bifinho vistoso entre o arroz e feijão do almoço esconde uma boa parcela de culpa pela tragédia do planeta. Agora, que atire a primeira pedra quem vai abdicar do churrasco no final de semana, ou do PF disputado que divide um dia cansativo de trabalho.
Depois, sem essa de carro. Vamos todos de busão, de metrô, de bike, mesmo quem pode comprar um BMW. Sim, vamos. Até pegarmos um dia chuva e calor, como os do verão paulistano. O buzum lotado, todas as janelas fechadas, o tráfego parado, a temperatura nas alturas, a galera suando a cântaros.
Como é que você vai se apresentar pro seu chefe desse jeito? E o cliente, o que vai achar das marcas de suor no entorno do seu sovaco? E como levar a mala com as roupas pra academia depois do expediente? Tá, você promete que vai colocar um bom catalisador no escapamento do seu carro. Até chegar a hora de trocá-lo, dali uns cinco anos. Vai pesar no bolso, tem as despesas extras das crianças, aquela comprinha em que você gastou demais, a viagem tão planejada. Como é que fica?
Então. Vamos supor que você vai se esforçar muito e sacrificar suas preferências gastronômicas em nome do bem-estar da natureza. Beleza, você resolve parar de comer carne. E o substituto mais eficiente de proteínas é a soja, claro, a preferida dos naturebas. Então você troca a picanha pela carne de soja, o leite da mimosa pelo leite de soja. Louvável. Mas a soja é a maior responsável pela expansão descontrolada da fronteira agrícola no Mato Grosso e outros estados da Amazônia Legal. Pra plantar, tem que desmatar. E o desmatamento, você sabe muito bem, também está entre os maiores promotores do efeito estufa, é inclusive a maior contribuição que o Brasil dá para o aquecimento global.
O resultado de tudo isso, já sabemos. Algumas empresas vão lançar cada vez mais campanhas publicitárias dizendo que defendem o meio ambiente, que usam papel reciclado e contribuem com o Greenpeace. Talvez até coloquem em seus comerciais de TV algumas imagens dos militantes verdes se lançando contra baleeiros japoneses no Pacífico.
Depois você vai perceber que às vezes as corporações gastam mais na propaganda das bem-feitorias do que nas bem-feitorias propriamente ditas. Ganham, assim, mais clientes, aqueles preocupados com a natureza, enquanto emprestam dinheiro pras indústrias que inevitavelmente vão poluir a atmosfera.
Proteção ambiental vai também virar plataforma de políticos que, nas próximas eleições, não pensarão duas vezes em despolitizar a questão para ganhar votos.
As emissões, claro, serão reduzidas, mas só até onde o sistema aceitar, só até onde nossas mordomias permitirem. É insuficiente, claro. A batata-quente – e cada vez mais quente – está com os incluídos, os que movimentam a máquina, os que gastam, que consomem, que poluem. Eles vão abdicar do carro, do churrasco, do ar-condicionado, da piscina? Eu vou? E você, vai?

Tadeu Breda é jornalista. latitudesul.wordpress.com

A verdade de Copenhague

O encontro de Copenhague para uma tentativa de acordo sobre o meio ambiente, além de emblemático sobre o atual estágio de desenvolvimento da humanidade, esfrega no nariz de todos nós onde está, senão a principal, uma das mais importantes causas do problema. Basta ver o que dizem algumas das inúmeras mensagens daqueles que protestam na capital dinamarquesa e que, sem preconceitos e hipocrisias, enfrentam o touro a unha. Penso que os cartazes, faixas, outdoors, panfletos espalhados ao redor da conferência falam por si:

"SE O CLIMA FOSSE UM BANCO, OS PAÍSES RICOS JÁ TERIAM DISPONIBILIZADO A AJUDA PARA SOCORRÊ-LO"

"O CAPITALISMO MATA"

"CONSUMIR MENOS E DISTRIBUIR MAIS"

"O CAPITALISMO FAZ MAL À SAÚDE"

"OS PAÍSES POBRES NÃO PODEM PAGAR PELA IRRESPONSABILIDADE DOS RICOS"

"O PROGESSO PODE SER INFINITO, MAS O PLANETA É FINITO"

A lista é bem maior, mas fico com esses poucos exemplos. De um lado, a ‘imperiosa’ necessidade de manter o lucro a qualquer custo: o custo do desemprego, o custo da exploração do trabalho infantil, o custo da mortalidade infantil, o custo do analfabetismo, o custo da miséria, dos salários aviltantes, da queda na qualidade do ensino e, sobretudo, o custo de destruir o solo, o subsolo, os rios, as matas, os oceanos.
Não é por acaso que a atual crise econômica e financeira do mundo caminha de mãos dadas com a crise ecológica, onde o neoliberalismo viu cair como peças de dominó as suas verdades absolutas do grande deus mercado. O lucro e os dividendos dos acionistas das grandes corporações necessitam, cada vez mais, de aumentar o nível de exploração da mão de obra e de aquisição da matéria prima.
Outra vez a fábula de La Fontaine cai como uma luva: a razão do mais forte é sempre a melhor. Será? Até quando? O que La Fontaine não poderia prever no século 17 é que se a água pura do riacho secasse ou fosse contaminada por quaisquer materiais tóxicos morreriam o lobo e o cordeiro. A moral da fábula contemporânea encerra muito mais tragédia do que a ingênua advertência filosófica do escritor francês. Até porque o planeta mais parecido com a terra e suas condições climáticas que os cientistas acabam de descobrir fica a 40 anos luz de distância.

Izaías Almada é escritor, dramaturgo e colunista do Nota de Rodapé.

sábado, 19 de dezembro de 2009

COP 15: absolutamente incompreensível

Fuçando sites e afins vejo algumas coisas em meio as discussões sobre o clima do mundo. Algumas manchetes uma embaixo da outra, ou intenção do editor ou mera coincidência: “Copenhague não chega a acordo” e “Recorde de venda de carros no Brasil” ou algo desse tipo. Isso é só o contraditório. Mas me aborrece muito pensar no descaso e futilidade das discussões sobre tema tão importante que é Copenhague. Outro dia publiquei postagem “Copenhague não é brincadeira não, se liga!”.
Daí que nem quem lá estava se ligou, porque foi um bate cabeça e não se chegou a um acordo minimamente respirável. Ficou adiado para o México em 2010, COP 16. Nem foto oficial dos chefes de Estado. Vincular a imagem a uma catastrófe? Nem pensar. A verdade é que enquanto parte do mundo (já que a outra nem sabe o que está acontecendo preocupado que está com o próprio umbigo ou os desinformados em geral) esperava uma mudança positiva em prol do clima com o COP 15 o que se viu, infelizmente, foi um desabar nas negociações que se pautaram pelos interesses econômicos que gritam bem mais alto que a questão ambiental.
No palavreado rasteiro que fiz na mesa do almoço outro dia para o camarada João Peres, desabafei. “O gelo derrete, ilhas vão sumir com o aumento do nível do mar, catástrofes virão cada vez mais e quem vai decidir se a gente deve morrer com 2ºC ou 4ºC de aquecimento do planeta é uma meia dúzia de gente que, tirando os chefes de Estado, nunca vi a cara.” Que porra de democracia, hem?
Fora o discurso do presidente Lula, que achei muito razoável, a única proposta que me agradou foi a de Evo Morales, presidente da Bolívia. Ele propôs que as metas de redução das emissões de gases com efeito estufa sejam decididas através de um referendo mundial a se realizar em abril de 2010, já que os lideres não se entendem. Por que não? Já pensou? Em casos graves que afetam todo o globo não seria uma ideia de toda inviável. Eu gostaria de contribuir. Queria ter voz. “Se não estivermos de acordo ao nível dos presidentes, por que não colocar isso às pessoas?”, desafiou Evo Morales.
É claramente insuficiente as reduções de 50% até 2050 defendidas por países desenvolvidos. Estão empurrando a morte anunciada do planeta com a barriga. Por puro jogo político e de interesses privados. Sugar o planeta dá lucro, né?
É aquela história, quem pode decidir, não faz o que pode ou não quer. Como disse Lula em seu discurso. "Não sei se algum anjo ou algum sábio descerá neste plenário e irá colocar na nossa cabeça a inteligência que nos faltou até a hora de agora. Não sei", criticou. Eu também não sei presidente. Alguém sabe? É absolutamente incompreensível.

Thiago Domenici é jornalista e está indignado com o fracasso irresponsável de Copenhague.

O discurso de Lula em Copenhague.

Feliz Natal 2009 [Glauco Mattoso]

SONETO PARA UM DETALHE NATALINO

A credibilidade do Natal,
àquelle que creança já não é
mas prende-se a fetiches, tem na tal
da meia pendurada a maior fé...

Si desce ou não por uma chaminé,
si chega num trenó, si é gordo e mal
escala esses telhados de chalé,
detalhes são, mas não o principal...

A sua bota preta, sim! Pedia
só isso, eu, de presente e, nesse dia,
não via a hora... E o sino? Não repica?

Agora só desejo mesmo a meia,
que é facil de roubar, emquanto à ceia
vão todos, e ella dando sopa fica...

War on Democracy

"En este documental John Pilger sugiere que, más allá de llevar la democracia a todo el mundo, como siempre proclama el Gobierno de los EUA, en realidad éste está haciendo todo lo posible para obstaculizar su avance. John Pilger realiza entrevistas exclusivas con oficiales estadounidenses del gobierno, incluyendo agentes que revelan por primera vez como la CIA ha desplegado y está desplegando su guerra particular en Latino América. Pilger argumenta que la verdadera democracia popular se encuentra más bien entre los países más pobres de Latino América, cuyos movimientos y avances son ignorados por los medios. Pilger examina el papel de Washington en la manipulación de la política en Latino América durante los últimos 50 años, comportando la lucha de personas ordinarias para liberarse."


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Un niño en la calle

Música para sentir, pensar, chorar, erguer e lutar. Indicação do amigo e jornalista Ricardo Viel. A letra aqui.

Promoção Literária Rodapé e Glauco Mattoso

A primeira promoção literária do Nota de Rodapé fez o sorteio de cinco exemplares autografados do livro do amigo e escritor Ferréz, "Cronista de um Tempo Ruim". Publicação do Selo Povo. Como prometido e espero que venham outras promoções mais, porque a literatura só fortalece e estimula, desta vez o querido amigo Glauco Mattoso ofereceu gentilmente o romance de sua autoria A Planta da Donzela (2005), editora Lamparina, para os amigos e leitores cadastrados no "Boletim Rodapé" ou aos que deixarem seu nome completo, cidade e e-mail nos comentários desta postagem. O exemplar será sorteado no dia 20 de janeiro, dez dias depois do primeiro sorteio da promoção, vamos chamar assim, culinária do Rodapé, que a partir de janeiro e até junho - sempre no dia 10 - vai dar três jantares mensais com acompanhante no restaurante China In Box Jardins, em São Paulo.

A Planta da Donzela
"... minha crítica ao moralismo de José de Alencar sugeria a necessidade duma refutação mais prática e exemplar, que questionasse o argumento ético (de que o fetichismo não passaria de mero capricho ou fogo de palha) e sustentasse o argumento estético (de que tamanho não é documento, se a atração erótica for mais forte que as aparências), mas sobretudo contestasse o argumento machista (de que somente o pé feminino seria digno de atenção) - refutação que ora se materializa sob a forma deste romance intertextual e metalingüístico.
Conclua o leitor se o resultado demonstra o teorema de maneira ao mesmo tempo insofismável e lúdica, sem o que nenhum delírio onanístico redunda em orgasmo intelectual."

- Leia também no Rodapé:
Glauco Mattoso: "Decidi parar"

Magrão, Argentina e Copa do Mundo

O amigo madrugador Thiago Barbieri que me perdoe, mas nesta e na próxima coluna arrisco-me pelas veredas futebolísticas. Não que queira tomar seu lugar neste blogue, longe disso. No fundo, importa mesmo é provocar esse ex-companheiro da mais triste das redações paulistanas e outros tantos amantes da redonda. Além disso, em nenhum dos dois vou sair da área de América Latina, afinal falarei de boleiros brasileiros e argentinos.
Aprendi a ver futebol com aquele São Paulo de Telê. Na verdade, naqueles anos de infância, o São Paulo era de Raí. A molecada não tinha essa cisma de ser zagueiro, lateral, volante. Ou era matador, ou era camisa dez. E o dez do tricolor era inspiração pra toda uma geração.
Naqueles tempos, não sabia bem quem era Sócrates. Rezava o pensamento infantil que, se era corintiano, tanto fazia, boa gente não era. Só muito tempo depois fui ouvir falar em Democracia Corintiana, e para mim aquilo nada significava.
Passou mais um tempo até entender de que se tratava tal democracia, e um outro tanto para saber quem era Sócrates Brasileiro. Até hoje, admito, não sei qual o grau de categoria do Doutor dentro de campo – sei, claro, que era muito, mas o que de verdade me importa é saber sobre as movimentações extracampo daquele Corinthians da década de 80.
Desde que entendi a Democracia Corintiana, a admiração por Magrão só faz crescer, ao mesmo tempo em que aumenta o desprezo por Émerson Leão. Fico até chateado quando perco um Cartão Verde, de quinta-feira, na Cultura – dá-me a sensação de que perdi a chance de ganhar um pouco de genialidade, rara constatação quando estamos em frente à tevê.
Hoje, tenho certeza de que Raí foi um grande jogador da história do São Paulo. Magrão foi um grande militante da sociologia do futebol. E não tenho dúvida de qual dos dois foi mais importante.
Faz umas semanas, encontrei Sócrates e tive a oportunidade de conversar rapidamente com ele. A conversa, em si, nada demais teve, apenas uma troca de impressões sobre o filme Lula, o filho do Brasil, mas o suficiente para entrar na minha lista de coisas que justificam amar o jornalismo.
Bem, tudo isso para dizer que, num desses chuvosos fins de semana, Magrão concedeu prolongada entrevista para a TV Cultura. Uma bela entrevista. Quem quiser ver tudo pode buscar na internet, porque cá eu já falei demais e chega a hora de irmos ao assunto de fato. De tudo o que ele falou, seleciono a parte em que dá uma forte declaração: “A Copa do Mundo é uma grande feira de futebol. Você vai ali, expõe seu produto e o público é quem decide pelo sucesso”.
Seguindo no raciocínio, diz Sócrates que quem ganha o Mundial passa a ser copiado durante o período subseqüente. E eis que a Itália, que sei pela boca dos outros, pois não era mais que um projeto de ser humano, ganhou em 1982, selando o destino do futebol daí por diante: o jogo mais sisudo, de força e de resultado, sobrepôs-se à técnica e à arte mostradas pela Seleção Brasileira.
Some-se a isso uma recente coluna de Tostão, outro mestre das chuteiras, na Folha de S. Paulo. Filosofava o ex-jogador sobre a entrevista dada por Defederico, jogador do Corinthians, ao jornal Olé. Tostão alertou para as críticas de Defederico ao futebol brasileiro: engordou quase cinco quilos desde que chegou, fruto de bombas e vitaminas, e todos ficam bravos quando ele para a bola no meio-campo para pensar o jogo.
Pois bem, os pensamentos de Tostão e Sócrates podem dar uma importante indicação de o porquê de a Argentina estar há mais de quinze anos em jejum de títulos com o time profissional – nem uma mísera Copa América, Copa Ouro, nada. Os argentinos, talvez, não tenham se adaptado tão bem quanto o Brasil ao futebol de resultados, talvez cismem nessa coisa chata de jogar bonito. Continuam sofrendo de um antigo problema sul-americano, que são as zagas ruins, algo que o Brasil superou há mais de uma década com seus zagueirões made for export.
Talvez isso explique também porque a Argentina continua fabricando camisas dez em razoável ritmo. Riquelme é o principal deles, mas há outros. E talvez por isso continuem tendo um toque de bola bonito de ver.
Sócrates, na supracitada entrevista, afirmou que a Argentina de 1994 foi a mais bela Argentina que ele viu jogar – claro, até Maradona ser sacado pelo doping. Se lembrarmos as últimas copas, em quase toda os argentinos chegam com um lindo toque, jogam uma primeira fase magistral, mas caem pelo caminho. Para Magrão, não importa. Dando mais um motivo para que possamos julgá-lo, no mínimo, diferenciado, Sócrates fala que o título não tem qualquer valor, é só mais uma representação de casta da sociedade. Ele pensa: “Quer fazer alguma coisa que de fato ficará para a sociedade, que de fato pode representar algo? Escreva”.
Bem, aqui o faço. Ou tento, pelo menos.

João Peres é jornalista e colunista do Nota de Rodapé

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Democracia em perigo?

O lamentável episódio envolvendo o cidadão e cientista político Cesar Benjamim e o jornal Folha de S. Paulo, além de ter uma repercussão exagerada nos principais blogues jornalísticos brasileiros, revela – quanto a mim - parte dos caminhos tortuosos pelos quais vai avançando a incipiente democracia brasileira.
Analisemos as premissas acima. Por que uma repercussão exagerada? Porque os blogues caíram na armadilha da FSP e acabaram por transformar o artigo de um conhecido oportunista político num documento de contestação ao governo do presidente Lula, privilegiando o acusador sem ouvir o acusado. Oportunista político que se coloca, antes da acusação sem provas, como mártir e herói combatente da ditadura civil e militar que infelicitou o país entre os anos de 1964 e 1984. Ninguém, em princípio, é mártir ou herói por lutar contra um regime de exceção. Trata-se de uma opção política individual que, embasada numa consciência de viés ideológico, transforma-se em luta coletiva para mudar a sociedade, com a perspectiva de melhorá-la, torná-la mais justa, equânime, solidária. Muitos fizeram conscientemente essa opção nos anos 60 e 70 e, no Brasil, centenas de cidadãos morreram por suas ideias. A esses, sim, poderíamos chamar de mártires. Portanto, o passado de lutas contra a ditadura não oferece a ninguém, em princípio, base moral para – nos dias atuais – se arvorar em dono da verdade. Muito menos para acusações que não se podem comprovar.
E por que caminhos tortuosos? Porque passada a tempestade da repressão e da censura, das prisões e das torturas e desaparecimentos, o país imaginou que voltaria ao leito das águas calmas da democracia. Isto é verdade até certo ponto, pois cabe perguntar: como funciona a democracia brasileira? Muitos entendem ser a democracia burguesa o melhor dos regimes políticos. Prova-o a velha e surrada frase de Winston Churchill, usada logo após a Segunda Guerra Mundial, e volta e meia citada: “A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras já experimentadas”. Churchill talvez tenha se esquecido de que a História Política é uma ciência dinâmica e cria mecanismos de transformação conforme a humanidade avança.
Afinal, qual é a compreensão que tem o brasileiro do que seja a democracia? O que se defende por aí no varejo é que a democracia é “o governo do povo, pelo povo e para o povo”, na qual se pratica a “liberdade de imprensa”, “onde é livre a manifestação de opinião e de religião”, “onde o cidadão exerce o seu direito de ir e vir, sem cerceamento, o seu direito de votar”, enfim, esse conjunto de frases que se tornam vazias fora do contexto social em que se inserem e que servem para sustentar a democracia representativa burguesa, mas na verdade podendo se transformar num conjunto de lugares comuns mais condizentes e apropriados com a prática política daquilo que cada um de nós pensa num determinado momento histórico.
Em outras palavras: a democracia representativa brasileira, essa que nos é dada viver nesse início de século 21, é a expressão máxima de representação e dos direitos do poder econômico no país, da liberdade de ir e vir do capital, de alguma cartelização e da livre circulação de mercadorias. E também da regulamentação rígida do trabalho e dos deveres dos trabalhadores.
Fazendeiros, ruralistas, latifundiários, banqueiros, agiotas, doleiros, grandes e médios empresários, comerciantes importadores e exportadores, grandes cadeias de supermercados e lojas de varejo, mineradores, fabricantes de cimento, aço, ferro, papel, donos de grandes jornais, revistas, canais de televisão, rádios, donos de imobiliárias e revendas de automóveis, as grandes lojas de luxo, os cartéis da cerveja e dos refrigerantes, multinacionais do petróleo, as grandes agências de publicidade, vendedores de planos de saúde, os fabricantes de cigarros e os grandes traficantes de drogas, toda essa gente é grande defensora da democracia representativa burguesa, ou seja, seus representantes, através de lobbies e eleições apoiadas em campanhas milionárias, têm parte substancial dos assentos no Congresso Nacional, nas Assembléias Legislativas estaduais e nas câmaras de vereadores por todo o país. São eleitos governadores e prefeitos. Pois é o poder econômico, com minoritárias e muito dignas e honrosas exceções, que os elegem. Enfim, são os que fazem as leis, a Constituição e a própria democracia. A democracia deles.

Enquanto isso...
Do outro lado da balança, o povo, a grande maioria dos cidadãos. Os bancários, os comerciários, profissionais liberais, os metalúrgicos, os têxteis, as empregadas domésticas, os motoristas e cobradores de ônibus, os metroviários, os varredores de ruas, os empregados de bares, os lixeiros, os trabalhadores do campo, com ou sem terras, os taxistas, os motoboys, os garçons, as diaristas, os ambulantes, os artistas, os professores primários e universitários, os trabalhadores em construção, os mecânicos, os pipoqueiros, os frentistas de postos, os carteiros, os boias frias, os catadores de papel, os porteiros de edifícios, os bilheteiros, as manicures, os borracheiros, os enfermeiros, os jornaleiros, os funcionários públicos civis e militares. Enfim, toda essa chusma e mais alguma que cumpre e sofre as leis e as regras da democracia representativa.
Pessoas mais bem preparadas que eu chamam de luta de classes. E onde há desigualdade social e injustiça não floresce a democracia, mesmo que representativa. Onde só um dos lados tem voz, não há justiça e onde não há justiça não existe democracia.
Como também não há democracia quando se quer transformar os direitos que ela contempla em direitos da minoria e os deveres em deveres da maioria, quando se quer manipular e estratificar consciências, induzindo os cidadãos a pensar que só existe um tipo de democracia, aquela em que eu acredito. Aquela em que eu voto, mesmo que esse voto nem sempre seja respeitado.
Muitas dos artigos e das opiniões que li sobre o episódio Cesar Benjamim, deixaram-me com a impressão de que a nossa democracia ainda é frágil e corre perigo. E que a temporada de psicanálise sobre a luta contra a ditadura está aberta. Quem foi mais revolucionário? Quem sofreu mais nas prisões? Quem foi mais torturado? Ter combatido a ditadura capacita-me moralmente a fazer hoje qualquer tipo de crítica aos que, neste momento, governam o país? Em muitos casos sim, quando a crítica tem a preocupação do bem comum, dos benefícios para a maioria, da continuada luta pela correção das mazelas sociais que ainda são significativas no Brasil. Mas não como no caso do cidadão Cesar Benjamim que, covardemente usou as páginas de um jornal para lançar suspeitas sobre o passado de um Presidente da República, numa inegável atitude eleitoreira, para dizer o menos.
Repito: o episódio é emblemático da atual democracia brasileira, democracia que se quer para muitos, a de mão única, sem direito à defesa e ao contraditório, a da dúvida, da suspeita, da retaliação, da prática e do elogio à mentira, a democracia do “você é culpado até prova em contrário”. Sem saber, ou até mesmo sem o querer, podemos estar entrando na ante-sala do fascismo, onde a delação, em si só já condenável, não precisa de provas. Basta que se lancem as dúvidas.

Izaías Almada é autor, entre outros, do livro VENEZUELA POVO E FORÇAS ARMADAS e colunista do Nota de Rodapé.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Agredido com miniatura de catedral

O primeiro-ministro Italiano, Silvio Berlusconi, 73, foi agredido na tarde deste domingo (13) enquanto dava autógrafos a partidários, perto do seu carro. A agressão pelo compatriota de 42 anos, Massimo Tartaglia, aconteceu já final do comício. Segundo os presentes foi arremessada uma réplica metálica em miniatura da catedral medieval de milão (Duomo) no rosto do premiê. Berlusconi foi levado ao hospital San Raffaele e teve o nariz fraturado, dois dentes quebrados, cortes no lábio e hematomas no rosto. O agressor, sem antecedentes criminais, foi preso. Neste 2009, o também magnata das comunicações italianas se envolveu numa série de escândalos sexuais com prostitutas, se separou da segunda esposa e sua suposta ligação com a máfia foi levantada por um mafioso arrependido num julgamento. Veja o vídeo do tumulto que mostra Berlusconi já sangrando e indo ao hospital de carro.

Livre Cantar dos Refugiados no Brasil

Refugiado é o cidadão que está fora de seu país devido a “perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, opinião política ou participação em grupos sociais, e que não possa (ou não queria) voltar para casa”. Assim define a Convenção de 1951 e seu Estatuto dos Refugiados.
Atualmente, segundo a Agencia da ONU para Refugiados (ACNUR), definições mais amplas passaram a considerar também as pessoas obrigadas a deixar seu país devido a conflitos armados, violência generalizada e violação massiva dos direitos humanos.
Nosso país tem cerca de 3.700 (três mil e setecentos) refugiados reconhecidos pelo governo, provenientes de 69 países diferentes.
Dada essa explicação rápida volto o foco para o motivo desta postagem. É que em 2008, em São Paulo, lançou-se uma coletânea de canções compostas e executadas por refugiados e refugiadas que habitam no Brasil.
Livre Cantar é o nome da coletânea composta por cubanos, angolanos, colombianos, congoleses e palestinos. Uma cornucópia de gêneros e estilos dos refugiados que no Brasil tentam continuar a vida. Lançado pela ACNUR no Dia Mundial do Refugiado (20 de junho de 2008) a produção teve apoio do Grupo Mirrage e da ONG CNU-Brasil (Conversando com as Nações Unidas). São 12 canções que você pode baixar em MP3 ou mesmo ouvir online. Acesse AQUI.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Copenhague não é brincadeira, se liga!

As discussões em Copenhague sobre as mudanças climáticas e os acordos políticos sobre o tema tem a ver com cada um de nós. Vai influenciar no nosso dia a dia. Se liga, o mundo está mais quente! O Brasil teve o Furacão Catarina, o primeiro no Atlântico Sul, foram mais de 32 mil casas atingidas, 13 mil desabrigados e 11 mortos. O nível do mar está subindo sim. E pode vir mais por aí. Isso é só um exemplo trágico do que a ação humana vem realizando com seu consumo exagerado e desnecessário. Estamos matando o planeta. Repito, matando o planeta. E lembre-se, estamos nele, ou seja, matar o planeta é matar a nós mesmos. E na tevê vejo - na já entupida cidade de SP - que neste final de semana no autódromo de Interlagos um saldão de novos e semi-novos unindo pela primeira vez todas as concessionárias será realizado. É ou não é contraditório? Mais carros, mais engarrafamento, mais CO2, mais facadas no planeta. Abaixo um documentário fundamental do Greepeace de como o Aquecimento Global já causa impactos no Brasil. Tem 50 minutos, mas na boa, vale a pena assistir. Outros dois mais curtos, um animado, para a criançada entender e outro, de 30 segundos, muito interessante.





sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Brown "o que a gente faz é música negra"

O rapper que não dá entrevista - ou pelo menos não gosta - resolveu falar com a Revista Rolling Stones Brasil. Segundo ele, é uma revista que fala de música e quase ninguém pergunta de música.

Mãe em Surto # 3

Chego para buscar meu filho de 5 anos na escola, e ele tem uma argola toda torta encaixada no lábio.

- O que é isso menino? Tira já isso da boca!

- É um piercing, mãe. Peguei do chão, lavei e coloquei aí. Eu e o Leo.

- Pegou do chão? Tira já, agora, nem mais um minuto!

- Se eu tirar, você me empresta um dos seus?

- Empresto. Mas só para brincar em casa. Onde já se viu criança de cinco anos querendo botar brinco na boca?

- Está na moda, mãe.

- Moleque, se você furar ou pintar alguma parte do seu corpo antes do 18, eu arranco na faca!

Ele olhou meu piercing no nariz, minhas tatuagens por alguns segundos e foi brincar.

E lá no fundo, ouvi a Elis cantando...

Andrea Dip é jornalista, mãe do David e colunista do Nota de Rodapé

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Humor em pílulas # 4


Vai Entender...


Sábado de plantão, 16h, hospital lotado. De repente chega ao meu consultório duas fichas de pacientes, unidas por um clipe, o que significa que são pacientes que vieram e querem ser atendidos juntos, o que é muito comum entre casais, irmãos, amigos e, por que não, amantes. Da porta do consultório, chamo os dois pacientes, juntos:

- Sr. Amâncio e Sra. Rute!

Entra o casal. Amâncio, 55 anos. Rute, 52 anos. Cumprimento os dois, apresento-me e peço-lhes que se sentem. Começo, como de costume, pela mulher:

- E aí dona Rute, o que a senhora sente?

Foi um blá-blá-blá de 5 minutos. E o tal do Amâncio só ouvindo, curiosamente sem fazer nenhum dos comentários típicos de esposo de longa data: “- É Dr., ela também abusa, deita toda noite de cabelo molhado! Só pode é ficar doente!”, ou “- Tá vendo, eu falo, eu falo! Mas só acredita se o médico fala!”. Colhida a história clinica sem interrupções, examino a paciente. Diagnóstico fácil, sinusite aguda. Preencho a ficha, a receita e oriento a paciente. Amâncio mudo. Finalizo:

- Alguma dúvida dona Rute?

- Não Dr., nenhuma. Obrigada.

- Então vamos agora pro Sr. Amâncio. O que o...

Fui interrompido com a paciente se levantando e saindo da sala, sem se despedir de mim e, mais estranhamente, do Amâncio. Este somente observa Rute saindo, calmamente, sem esboçar qualquer reação. Após a paciente fechar a porta, questiono:

- Ué, Sr. Amâncio?! Porque sua esposa não quis esperar que eu terminasse sua consulta? Algo de errado???

- Não Dr. Eu nem sequer conheço essa mulher...

Dr. Rino é médico, e tem a convicção de que, mesmo atendendo centenas de pacientes por mês, e operando outras centenas por ano, jamais entenderá o que se passa na cabeça do ser humano.

Quadrinhos # 5


Na Folha de S. Paulo desta quarta (9).

Música: miscelânia de sites oficiais # 1

Alguns sites oficiais de monstros da música internacional. Bom entrar quando a cabeça tá quente ou fria, quando brigou com a muié ou não. Quando está com ou sem ideias do que fazer com o tempo livre ou só para saber mais e curtir a boa música. 15 indicações, em breve, outras mais. Sugestões são bem-vindas. Deixe nos comentários que publico na próxima leva.

Beatles - http://www.thebeatles.com/

Jerry Lee Lewis - http://www.jerryleelewis.com/

Bob Dylan - http://www.bobdylan.com/

Janis Joplin - http://janisjoplin.com/news/

Buena Vista Social Club - http://www.buenavistasocialclub.com/

Rolling Stones - http://www.rollingstones.com/home.php

Chet Baker - http://www.chetbaker.net/ ou http://chetbakertribute.com/

Queen - http://www.queenonline.com/

Jimi Hendrix - http://www.jimi-hendrix.com/

Mercedes Sosa - http://www.mercedessosa.com.ar/

The Who - http://www.thewho.com/

Metallica - http://www.metallica.com/

Frank Sinatra - http://www.sinatra.com/

Elvis Presley - http://www.elvis.com/

Thelonious Monk - http://www.monkinstitute.org/

Ben Harper - http://www.benharper.com/

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A paixão de Isabel Allende

Nesta palestra, a escritora e ativista Isabel Allende fala sobre mulheres, criatividade, a definição de feminismo e sobre paixão. São 17 minutos de um real chamado a realidade. Mais sobre Isabel Allende. Indicado pela amiga e jornalista Claudia Motta.



Assista com Legenda em Português AQUI.

"Destino" de Salvador Dalí e Walt Disney

A música Destino do compositor mexicano Armando Domínguez recebeu um presentão de Walt Disney que, em 1946, chamou o espanhol Salvador Dalí (falecido em 1989) para a elaboração de um curta metragem de animação surrealista com seis minutos de duração. O projeto deveria integrar um documentário longa-metragem baseado em depoimentos sobre o artista e sua obra, mas foi engavetado e os desenhos e pinturas criados pelo espanhol ficaram guardados até que em 2003 o neto de Walt, Roy Disney e o produtor Baker Bloodworth finalizaram o curta seguindo os esboços originais. O vídeo ganhou os festivais de Melbourne-Austrália e Rhode Island, indicado também ao Oscar da categoria de curta-metragens de animação. Mais sobre essa história. Mais sobre Salvador Dalí.

O curta "Destino"

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Hexa: o título mais desejado no país

Finalmente terminou o Campeonato Brasileiro. Depois de 38 rodadas, onde muitos cobiçaram e jogaram fora o título, o Flamengo, justamente, ficou com a taça. Méritos à enorme torcida e ao grupo rubro-negros, com destaques ao “incompetente” técnico Andrade, ao “ex-jogador em atividade” Petkovic e ao “baladeiro, mas artilheiro” Adriano, segundo análises dos maiores “especialistas” em futebol do país, ainda na metade do campeonato, quando o Palmeiras nadava de braçadas na ponta da tabela e o time carioca sequer sonhava com uma vaga no G-4.
Mas os analistas não contavam com o imprevisível e a emoção, as duas maiores forças que movem a máquina futebol. Enquanto o Palmeiras, o Atlético Mineiro, o São Paulo, o Internacional e o Cruzeiro eram exaltados, o Flamengo era ridicularizado. Foi então que os deuses do futebol fizeram das suas e, em uma reviravolta incrível, o Flamengo cresceu, ao contrário dos adversários, que jogo após jogo, trocavam a certeza no título pela desconfiança.
A reação do Mengão foi épica, assim como a do rival Fluminense na luta contra o fantasma da Segundona (e como as séries B e C assustam os tricolores...). Os dois times do Rio honraram suas tradições e calaram todos, menos suas apaixonadas torcidas. Até o Botafogo, que estava entregue, brilhou em casa contra o São Paulo e o Palmeiras e se livrou de mais uma queda. Parabéns ao futebol carioca, que ainda foi coroado com o retorno do Vasco à elite do esporte nacional. E só para não passar em branco, já que não pretendo dar espaço para criminosos: lamentável as cenas de guerra em Curitiba e no Rio de Janeiro (entre torcedores do time campeão)...
Taça na mão, festas, comemorações, brigas e surge a polêmica: o Flamengo é penta ou hexa? A discussão aí vai longe e todos os argumentos, prós e contras, são válidos. Emblematicamente, o Hexa é um título muito desejado no país, desde a Copa de 2006. Aquela seleção de Kaká, Adriano, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e companhia, tem pesadelos até hoje com o gol de Henry (desta vez sem a ajuda da mão) e com as mãos de Roberto Carlos que teimaram em ficar nas meias do lateral. Passado o trauma na Alemanha, o futebol nacional produziu o primeiro hexa: o São Paulo. A rivalidade entre o tricolor paulista e o Flamengo cresceu, principalmente após a briga pela taça de bolinhas, que até hoje não se sabe quem é o real detentor. Mas isso é tema para outra discussão.
Voltemos à obsessão pelo Hexa. Ano que vem tem Copa de novo e o desejo da torcida é ver o Brasil conquistar a sexta estrela no seu uniforme. Mas o caminho será duro. A parte mais bonita do sorteio da Copa da África do Sul foi a maravilhosa presença de Charlize Theron. Mas a loira só encantou enquanto o assunto futebol não entrou em campo, já que o grupo do Brasil não é lá dos mais tranquilos.
Não sabemos o que esperar da desconhecida Coréia do Norte, mas podemos apostar em um time de muita correria, característica comum nas equipes asiáticas. Tudo pode acontecer, principalmente se o time de Dunga sentir o peso da estreia e não conseguir o que seria a vitória mais fácil do grupo.
Costa do Marfim e Portugal são equipes mais fortes e com certeza vão dar trabalho ao Brasil, que se bobear pode não ficar em primeiro na chave e ter o indigesto confronto com a Espanha logo nas oitavas-de-final.
É claro que o trabalho de Dunga até aqui tem sido muito bom, apesar das críticas. Mas a Copa do Mundo é uma competição diferente. Se os jogadores não estiverem concentrados exclusivamente no trabalho em campo, o sonho do Hexa vai continuar sendo um sonho.

Thiago Barbieri é jornalista; autor do livro sobre o Corinthians "23 anos em 7 segundos", editor do jornal Primeira Hora da Rádio Bandeirandes e colunista do Nota de Rodapé.

Quase todo mundo tem uma Lindu em casa

3 de dezembro de 2009 podia ser uma terça-feira qualquer. São Paulo e seu cenário chuvoso, novamente, travou as vias, alagou regiões, deixou o povo a pé, encharcado e esgotado. Da redação no meio da tarde, no 19º andar, na São Bento, a nuvem cresceu vistosa à minha esquerda como um monstro cinzento. Da fresta da janela, porrada de água em quem estava lá embaixo. Miúdos, carros e pessoas, entupidos a ponto de explodir esperavam o aguaceiro passar.
Horas depois, aceitando convite do dia anterior para ver a exibição do filme que vem causando polêmica, “Lula, o filho do Brasil”, de Fábio Barreto, baseado no livro de Denise Paraná, estava eu na entrada do suntuoso e reformado Cine Marabá – inaugurado em 1945, fechado por quase dois anos -, restaurado pelos arquitetos Ruy Ohtake e Samuel Kruchin.
O Marabá fica na região central, antiga Cinelândia – região dos cinemas das antigas paulistanas, na Av. São João, eterna e melódica na voz de Caetano Veloso.
Numa esquina, o famoso Bar Brahma lotado, onde tem Cauby Peixoto e Demônios da Garoa para quem tem molejo no bolso. Na outra, botecão. Pizza passada na vitrine, coxinha, mormaço e justas latas de cerveja gelada no refrigerador. Aí sim é o que importa, sem couvert para pagar enquanto espero com a amiga e jornalista Claudia Motta para adentrar o ilustre recinto.
Já na porta os convidados vão chegando e se deparam com o tapete vermelho. A sessão marcada às 20h no convite começou às 21h. A exibição é para os companheiros e companheiras ligados aos sindicatos da CUT (Central Única dos Trabalhadores). A maioria se conhece. São distribuídos um vale-pipoca e refrigerante.
A sala principal é enorme e impressiona. Uma estrutura inclinada com centenas de poltronas. O telão é de dar gosto. Agora é sentar e esperar. O movimento prossegue. Uma pipoca e outra e outra... chega o presidente da CUT, Artur Henrique, o ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Feijó (considerado por Lula um dos melhores sindicalistas da história) e muitos outros. O filme “é a história de todos nós”, comenta um. Um coro tímido de “olê, olê, olê, lulaaa, lulaaa” é iniciado. É interrompido. Ali está a turma das antigas, das novas e os curiosos, como eu. O clima é de diversão. Muita diversão. Timidamente, acompanhado da esposa, chega Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT. Não é perturbado. Só observado com curiosidade enquanto toma seu lugar.
A sessão vai começar. Antes, Fábio Barreto, o diretor, Paula Barreto, a produtora e Rui Ricardo Dias, ator que faz o sindicalista Lula adulto são apresentados. Barreto fala algumas palavras.
- “Estão nos acusando de fazer um filme eleitoreiro. Não é nada disso, é um filme de um brasileiro, uma história humana.”
Sob aplausos fala mais.
- “Vamos fazer deste filme o mais visto do Brasil. Contamos com vocês.”
Rui Ricardo é apresentado e uma mulher grita duas vezes: “Lindoooo”.
Discursos rápidos. Volta o clima de cinema já escuro e com um certo silêncio. Observo o ator Rui Ricardo subir apressado até o centro da sala. Senta-se na oitava cadeira da direita para a esquerda, exatas duas fileiras a minha frente. O que estaria pensando? Afinal, a seção tem um peso importante já que parte fundamental do berço do que será exibido na tela está naquela sala, mesmo com as suas mutações, avanços e retrocessos do movimento sindical.
Ao lado de Rui, talvez um sem saber do outro, o grande jornalista Audálio Dantas – que recentemente lançou livro sobre a infância de Lula.
Os patrocínios do filme, que não teve verba estatal, começam a subir. As brincadeiras e gargalhadas surgem. Vaias para umas empresas e risadinhas para outras. Glória Pires, que faz a mãe de Lula, dona Lindu, aparece na tela, é hora do fita rodar.
Em linhas gerais o filme mostra a vida do jovem Luiz Inácio que saiu do interior do Pernambuco, em Caetés e que se tornou o maior sindicalista do país, hoje, dos maiores presidentes que este Brasil já teve. O enredo, que não vou repetir todo aqui, de Lula, a mãe Lindu e a família é trágico com finais de superação. Cheio de nuances que os brasileiros do norte e nordeste, principalmente, estão cansados de viver. É a pobreza gerando a coragem de precisar sobreviver. É o recorte da história de um Brasil ainda castigado pela seca e que faz muitos saírem de suas casas em busca de uma falsa e rara vida digna no sul e sudeste. Lindu, mãezona, lembrou a minha. E, ao seu modo, todo mundo tem a sua Lindu em casa. A minha cortou cana, colheu algodão, foi empregada doméstica e saiu do Paraná, Sertanópolis, aos 17 anos para tentar a sorte em São Paulo. A minha Lindu, Dona Zilda, teimou e conseguiu.
O filme, apesar de uma semelhança cinematográfica peculiar com a história de “Dois filhos de Francisco” é um drama sem grandes pirotecnias de roteiro. É basicão. Estilo novelão.
Durante o filme muita gente chora copiosamente. A história mexe, é fato. E não me venham os machões dizer que não. A qualidade da atuação de Glória é de arrepiar os pêlos do braço. Associar a imagem de mãe analfabeta, pobre e batalhadora que cuida de suas crias independentemente de tudo e todos é um tremendo elemento emocional do filme.
Em alguns momentos observei de soslaio Rui Ricardo Dias se vendo na telona. Levava as mãos juntas ao rosto, em sinal de oração, nas cenas mais tensas. Não pude conter o pensamento moleque. “Cara de sorte.” Contracenou com Gloria Pires e conheceu duas mulheres lindas, Cléo Pires e Juliana Barone.
Brincadeiras à parte, Rui Ricardo teve ótima atuação. Confesso que esperava menos dele, queimei a língua. Ao final da exibição, muitos aplausos. O conselho de Lindu: “Teime, meu filho, teime” vai virar marca registrada. Ou quando diz, mais ou menos assim: “Faça até onde der, quando não der, tenha paciência, espere e tente novamente lá na frente.”
Lula, para mim, é um vencedor. Criticas políticas à parte, o sindicalista venceu com sobras. De goleada. Nunca sozinho, é verdade. Nunca mito, mas homem real, este que vemos todos os dias no noticiário. Lula é um exemplo do que não poderia dar certo e deu! E isso é motivador, mas apavora e dá medo em muita gente. Não em mim.
Na saída tranquila, alguns emocionados, outros atordoados em ver ali um pedaço da história do Brasil – entre tristezas e glórias - que eles ajudaram a construir.
Dou os parabéns a Rui Ricardo no corredor de saída enquanto é cumprimentado por muitos. “Esteve bem, meus parabéns”. “Obrigado”, em tom cansado, foi o que respondeu antes de ir para uma segunda seção de fotos já na porta do Marabá. Garoava nesta hora e um vento gelado dava o clima do final de noite.

Thiago Domenici é jornalista

Promoção Nota de Rodapé


Nota de Rodapé te leva para jantar no China In Box


O Nota de Rodapé agora vai te levar para jantar. Durante seis meses, a partir de janeiro até junho serão três sorteios de jantares mensais (que dão direito a entrada + prato principal) para duas pessoas no restaurante China In Box Jardins, av. Brigadeiro Luiz Antônio, 2986, São Paulo, SP. Telefone: (11)3885-1485 / 3885-9177

Participar é fácil:
Os leitores e amigos do Nota de Rodapé precisam estar cadastrados no “Boletim Rodapé” que é gratuito para concorrer ao sorteio todo dia 10 do mês corrente. O primeiro a se realizar em janeiro de 2010. Vale lembrar que o sorteado ganha uma única vez, ou seja, não valem dois sorteios da mesma pessoa e a promoção por uma questão de locomoção é válida somente para os moradores que puderem estar em São Paulo. (abaixo imagens do restaurante dos Jardins).













Aproveite!

CADASTRE-SE AQUI!

Ganhadores do Livro "Cronista de um Tempo Ruim" de Ferréz

Cada sorteado cadastrado e ativo no "Boletim Rodapé" receberá um exemplar autografado do livro "Cronista de um Tempo Ruim" do escritor Ferréz. O Nota de Rodapé já entrou em contato por e-mail com os vencedores solicitando o nome e endereço completo para envio do exemplar. Lembrando que o livro é o primeiro do Selo Povo, que pretende vender seus livros a 5 reais. Literatura de qualidade a preços populares.

Dúvidas escreva para promocao@notaderodape.com.br.

Sorteados:

Diogo Leite da Silva, São Paulo, SP

Caio Amaral da Costa Carvalho, São Paulo, SP

Anna Mendonça, São Paulo, SP

Daise Ribeiro, Florianópolis, SC

Celso Romeu, São Paulo, SP

sábado, 5 de dezembro de 2009

Macondo parece com cada cidade da América Latina



Por estes dias recebo um email do amigo Felipe Peroni, El Pimpe, 
falando que acabara de ler Cem Anos de Solidão. Discordava daquilo que
eu defendia, de que Macondo parece um pouco com cada cidade da América
 Latina, contemplando que a história tem muito mais a ver com a
 Colômbia.
Depois, ao explicar coisas do Rio de Janeiro para uma estrangeira –
Igreja da Candelária, Ônibus 174, a poluída lagoa, o porquê de não 
poder pisar em certas partes -, Pimpe notou que era verdade, que as 
histórias da América Latina se repetiam. “Histórias de intervenções 
humanas com a força do capital, episódios de violência realmente 
pesados, em que a vida não vale nada, a solidão coletiva...”, encerra
 Pimpe, me dando razão, em termos.
De fato, há muito da história da Colômbia em Cem Anos de 
Solidão e em todas as obras de Gabo, obviamente, algo que podemos tratar em uma próxima ocasião. Por ora, atenho-me, por uma questão de espaço, às
 semelhanças. A espinha dorsal dessas semelhanças é dada por Eduardo 
Galeano em “O século do vento”. 



“Somos argentinos: reis da improvisação, ególatras, ingênuos, trágicos 
como nórdicos, apaixonados e inseguros. Perón não pode haver sido
 argentino, mas também Borges o foi, “argentinados” ambos em sua
 contradição, exilados dentro e fora, com ódios antigos sobre os ombros 
e a fatalidade do destino guiando seus passos. Argentinos como Che e
 como Gardel, como os soldados correntinos das “Fucklands”. (...) 
Argentina doeu e dói, mas também sonha, e é sonhada agora mesmo, nesta
 e em outras casas, ao redor, acima, abaixo, nesta máquina de escrever. 
Argentina se reescreve sozinha, em cada um dos que não querem dar-se 
por vencidos” Trecho da apresentação de LANATA, Jorge. Argentinos – 500 anos entre o céu e o inferno
.

Queria a Argentina fazer sua expansão para o interior. A Marcha para o 
Sul, no entanto, era atrapalhada por um obstáculo que estava no
 caminho. Os índios, insolentes e pouco inteligentes, vagabundos mesmo, 
não queriam deixar passar a marcha do progresso. Coube ao general
 Julio Argentino Roca a tarefa de tirar do caminho esses povos inaptos
 ao trabalho. Em troca do extermínio de quase todos os povos indígenas
 argentinos, Roca ganhou o direito de ser o 14º presidente do país, 
cargo no qual terminou de conduzir sua tarefa missionária.

A idade da banana, iniciada na década de 20 na Colômbia, logo tratou 
de mostrar aos trabalhadores da selva todos os seus problemas.
 Cansados de morte e de maltrato, formaram sindicatos e fizeram greve. 
É quando a United Fruit chama para um jantar o chefe civil e militar
 da região. Já satisfeito, o general Carlos Cortés Vargas promete 
acabar com o movimento de Aracataca. Depois de matar ou mandar matar 
dezenas de trabalhadores, o general é chamado a Bogotá: o presidente 
tem um novo chefe para a Polícia Nacional.
 (Resumo de histórias apresentadas por Eduardo Galeano em Memória do 
Fogo – Volume 3)


Correm os protestos do fim de 2001 na Argentina. A população, cansada
 de enganação, vai às ruas, e logo começa uma forte repressão. O
 presidente Fernando de La Rúa, de dentro da Casa Rosada, confirma sua
 fama de autista e é mantido desinformado de todos os fatos que ocorrem 
ali, em frente à sua residência. Jorge Palacios, El Fino, está de 
folga neste dia, mas é um cumpridor de seus deveres e logo vai à Praça
 de Maio. Mata ao menos cinco pessoas. Isso alguns anos após ter
 encoberto provas do maior atentado da história argentina: o ataque a
 AMIA, um edifício de judeus, deixou mais de oitenta mortos. Oito anos 
depois do ocorrido na Praça de Maio, é chamado por Maurício Macri,
 prefeito de Buenos Aires: vai ganhar o comando da Polícia
 Metropolitana. Por pressão dos grupos de direitos humanos, no entanto,
 El Fino, admirador da ditadura, não consegue tomar posse. Em seu lugar
 entra o sócio Osvaldo Chamorro, que cai meses depois acusado de, com 
ajuda de Palacios, espionar a presidente, o ex-presidente, deputados e
 até o próprio chefe.


Joaquin Calle Ramirez é um menino de 14 anos de Medellín, Colômbia,
 quando ocorre a tragédia que marcaria sua vida. Uma explosão ocorrida 
na favela onde vive com a família, Villatina, faz com que ele perca 
pais, mães e irmãos. Órfão, sem auxílio do Estado, Joaquin começa a
 roubar. Depois de alguns poucos anos, será mais um dos que engrossam 
as fileiras paramilitares colombianas.


Sandro Barbosa do Nascimento é apenas um menino do subúrbio do Rio de
 Janeiro quando vê sua mãe sendo morta. Órfão, sem auxílio do Estado,
 Sandro vai à Candelária, onde começa a fazer pequenos roubos. Alguns 
anos depois, vê a morte de vários amigos na Chacina da Candelária. 
Mais algum tempo e é o protagonista da tragédia do Ônibus 174, que 
virou um bom documentário e um péssimo filme romantizado.


No início de século 20, e já avançado o mesmo, é considerado 
comunista, safado e subversivo todo presidente latino-americano que
 queira cobrar impostos das empresas dos Estados Unidos. Seleciono aqui
 um caso citado por Galeano que, por uma e outra coincidência, parece
 interessante citar. José Santos Zelaya, presidente da Nicarágua, 
decide em 1909 cobrar impostos da Rosario and Light Mines, expropria
 as terras da Igreja e decreta a Lei do Divórcio. Os marines logo fazem
 uma de suas intervenções no país que rapidamente viria a ser 
“protetorado dos Estados Unidos”. Zelaya não é mais presidente. Em seu 
lugar vem o contador da empresa Rosario and Light Mines.

Um século depois, Manuel Zelaya, presidente de Honduras, eleva 
fortemente o salário mínimo, o que impacta as contas da United Fruit 
Company, que neste ano perderá 0,000000000001% de seus lucros graças à medida do governo. Zelaya, por haver notado que o modelo neoliberal
 estava matando o país, segundo mais pobre do hemisfério, e por
 aproximar-se dos bolivarianos, é tido como subversivo. O final, todo
 mundo sabe.


Patrício Guzmán (documentário A Batalha do Chile) conseguiu, quase espontaneamente, uma das mais perfeitas cenas da história do cinema mundial. Às vésperas da derrubada de Salvador Allende, uma chilena indignada afirma que o presidente trata de transformar o país em um ninho comunista. Suas
 expressões são fortes e sua fala sintetiza como nunca o pensamento da
 elite do país: não querem igualdade entre pobres e ricos.


Um outro documentário, porcamente concluído e jamais exibido, também 
teve em suas captações uma representante-sintetizadora da elite. 
Durante alguns segundos, uma mulher branca e rica de Santa Cruz de la
 Sierra, Bolívia, vocifera que Evo Morales é retrógrado e quer 
transformar a todos em iguais. Quando as câmeras já estão desligadas, 
puxa uma atendente de uma lanchonete em frente ao lugar onde estava o
 presidente e grita: “olhem, essa é uma índia de merda, mas está
 conosco”.


O México de Lázaro Cárdenas, um dos presidentes americanos que
 passaram à história como populistas, sofre o boicote internacional 
devido à ousadia de cobrar impostos das Sete Irmãs, as empresas
 petrolíferas que ditaram os rumos mundiais em boa parte do século 20.
 Em meio à falta de peças de reposição, os trabalhadores mexicanos 
criam peças, reaproveitam materiais, extraem novas ideias. A 
necessidade é o motor da história.


Em Roboré funciona a oficina de reparos daquele que outrora foi
 conhecido como Trem da Morte. Menos de uma dezena de trabalhadores
 cuidam da saúde das antigas locomotivas que percorrem em mais de 20 
horas o trajeto de 400 quilômetros entre a fronteira do Brasil e Santa
 Cruz de la Sierra, Bolívia. Na oficina, não hesitam em reaproveitarem
 peças, criarem novas a partir de pedaços de metal, extraírem novas 
ideias. A necessidade é o motor da história desta empresa, privatizada 
há pouco mais de uma década e hoje dona de vagões furados que derramam carga pelo caminho e de locomotivas que mais param do que andam. Dos trabalhadores da oficina, hoje ficam apenas os que concordaram com ganhar menos e não fazer greve.

João Peres é jornalista e colunista do Nota de Rodapé

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Binária # 1


Para que uma rede estatal?


Dizem que o presidente Lula não chegou nem a olhar a proposta de Plano Nacional da Banda Larga elaborado pelo Ministério das Comunicações. Não que o documento trouxesse grandes novidades, na verdade os números apresentados são praticamente os mesmos que a Anatel (Agência Nacional das Telecomunicações) já havia mostrado em outubro de 2008 quando publicou o Plano Geral de Atualização da Regulamentação das Telecomunicações no Brasil (PGR). Na época não se falava em plano nenhum de banda larga, só no aperfeiçoamento do marco regulatório e na evolução natural do mercado.
O fato é que o governo já está decidido de que o caminho para conseguir aumentar a penetração da banda larga no Brasil é por meio de uma nova empresa estatal que forneça serviços às operadoras e complemente a infraestrutura que elas têm.
A ideia é simples. Falta banda larga porque o sinal não chega. E o sinal não chega porque as empresas não querem investir em regiões em que não há "viabilidade econômica", ou seja, onde não dá para obter lucro. Caberia ao estado, assim, a missão salvadora de dar solução ao problema criando uma estatal que vai oferecer a rede nas áreas menos interessantes para as operadoras. Será mesmo a solução?
Posso imaginar uma cena. O sujeito da cidade que até então só tinha a banda estreita (ou banda nenhuma) e que passou a fazer parte do mundo digital, agora consegue acompanhar o último hit viral no YouTube. Ele está lá feliz navegando pela internet quando a conexão cai. Ele liga para a operadora (considerando que o telefone ainda funciona) e ouve: "Estamos enfrentando problemas em nossa estrutura de acesso e estamos trabalhando para resolver o problema o mais rápido possível, senhor". Sem muito a fazer, se senta à frente da TV e no noticiário vê que o problema de acesso foi na rede do governo. Alguma coisa como o novo apagão que atingiu o país em novembro. E agora? A quem reclamar? Como saber se o problema foi mesmo da rede do governo ou se foi desculpa da operadora?
Se o problema é mesmo da rede do governo, o que acontece? A operadora dá desconto para o cliente pelo tempo parado e manda a fatura para o governo? Como o governo vai pagar? Aumento da carga tributária? Criação de um novo imposto para financiar a estrutura de banda larga pública? E a Anatel? Vai ter poder (político, sobretudo) para fiscalizar a atuação da estatal?
O problema é complexo mas o “remédio estatal” pode ter efeitos colaterais graves. As leis que regulam o setor estão aí, elas só precisam ser cumpridas. Se estão erradas ou não funcionam direito, o legislativo existe para isso, certo? Não é uma nova empresa estatal que vai fazer o desenvolvimento acontecer, ela só vai ser uma nova moeda de troca política, mais um foco de corrupção. Ninguém precisa reinventar a roda, só calibrar o pneu.
Tem-se questionado muito sobre o que fazer com os milhares de quilômetros de fibra óptica construídos pelo governo que estão sem uso por todo o país. A pergunta correta é por que mesmo essa estrutura, que foi montada com dinheiro público, esta parada há tantos anos? A estatal responsável, Eletronet, está em processo de falência. São mais de R$ 400 milhões em dívidas com fornecedores. Se o negócio já não funcionou uma vez, por que insistir de novo nessa questão? Essa não parece ser uma estratégia muito interessante para se pensar o futuro da inclusão digital do país.
Não seria melhor fortalecer o poder de fiscalização da Anatel, que tem funcionários com excelente conhecimento e capacidade técnica, mas que só consegue fazer uma coisa por vez? E também reforçar o orçamento do órgão regulador que ano após ano é contingenciado para gerar superávit primário? É muito difícil pensar na criação de uma infraestrutura estatal. Que tal objetivar conectar todos os órgãos públicos dentro de um projeto de modernização e desburocratização do atendimento à população e que ao mesmo tempo ajudasse a alimentar a indústria de tecnologia e telecomunicações no Brasil com projetos inovadores? Esse sim é o papel do estado para desenvolver o país no longo prazo.

Gustavo Brigatto é jornalista e cobre a área de tecnologia há 5 anos. Mantém o blogue http://commandcom.worpress.com e é colunista do Nota de Rodapé

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O artista x sensatez

A ideia da coluna demorou, mas surgiu “aquela” vontade de escrever antes de mais um pensamento morrer na praia. Teorizando, o “Artista”, definido pelo dicionário quer dizer:

“adj m+f (arte+ista) 1 Aplicador da arte. 2 Engenhoso. 3 Astucioso, manhoso. s m+f 1 Indivíduo que se dedica às belas-artes. 2 Aquele que faz da arte meio de vida. 3 O que revela sentimento artístico. 4 Artesão, artífice. 5 Dir trab Em face da lei, é o bailarino, músico, artista de teatro, circo e variedades e, mesmo, o atleta profissional, como o jogador de futebol. A. dramático: ator que representa em dramas. Col: elenco, grupo.”

Por volta de 11h da manhã voltando para casa, minha mãe e eu fomos abordadas por uma senhora que, sentada na esquina de uma rua, nos pediu ajuda. Algo nos fez parar e ouvir o que ela tinha a nos dizer. Com os olhos cheios d’água nos relatou que estava sem gás de cozinha e que estava tentando juntar um valor para que pudesse voltar para casa e dar de comer aos seus quatro filhos.
Com ela estava um dos filhos com sinais de problemas mentais. Segundo ela, com febre. Havia medido a temperatura numa farmácia, mas não tinha como levá-lo ao médico.
Coloquei a mão no bolso e lhe dei as moedas que tinham e minha mãe uma nota de cinco reais. Quem estendeu a mão para nos agradecer foi a criança. Num gesto de carinho, aquele garoto de roupas gastadas pelo tempo, chorando, teve a humildade de estender a mão para nos agradecer.
A mãe também nos agradeceu e disse que naquela manhã muitas pessoas passaram por ela com olhar de julgamento. Disse também que outro indivíduo passou e ao entregar a doação lhe disse: “Espero que seja para o gás mesmo.”
Aquela mulher precisava desabafar. Chorava copiosamente. Sinceramente, eu e minha mãe não sabíamos o que dizer. Ouvimos. Nos contou que pouco tempo antes de a gente passar por lá, uma senhora passou e disse: “você há de ficar pedindo e ninguém vai te ajudar.”

E o que isso tem a ver com o mundo do show business?
Fico pensando como um artista, ou seja, alguém que lida com algo tão engenhoso, com o sentimento de levar arte para as pessoas pode esquecer que do lado de fora de uma casa de shows existe um mundo que traz tanta injustiça e pobreza para grande parte da população?
Digo isso porque tantas vezes vi listas de abastecimentos de camarins enormes. Itens caros, lanches de diversos tipos, bebidas das mais caras, frutas, chocolates e o que mais você pensar. Essas mesmas listas não eram e ainda não são consumidas nem a metade. Boa parte do que sobra vai para o lixo. Nas outras vezes colocam dentro de suas bolsas de grife e levam para suas geladeiras caseiras já cheias.
Poucas vezes vi artista e suas equipes terem a atitude de ter um camarim enxuto, funcional e que tivessem a consciência de que esse alimento que é jogado fora poderia ter outro rumo mais solidário.
Uma única vez vi músicos e equipes técnicas recolhendo o que sobrou do camarim e dando para os funcionários da casa de shows para que pudessem levar para suas casas. Atitude louvável.
Já vi produtores que praticamente pediram cancelamento de um show porque não havia banheira no quarto da artista. Ela sequer iria dormir na cidade. Por sinal, a cidade tinha recebido um congresso e naquele final de semana toda a rede hoteleira estava ocupada, portanto, não haveria como conseguir uma banheira por apenas algumas horas de hospedagem.
A artista (ou seria a produção?) não aceitou e preferiu hospedar a cantora em outra cidade, longe do evento, longe de onde sua equipe estava hospedada, apenas para que ela pudesse desfrutar de sua banheira. Não há negociação? Onde está a humildade do artista? Onde está a humanidade do artista?

“É por que ele é artista.”
Cunhando esta expressão as coisas costumam se “explicar” no show business. Certa vez um contratante desabafou comigo: “Puxa Fabiana, tenho que bancar 100% da lista de camarim. Se desperdiça muito e não posso nem aproveitar para dar para outras pessoas?”
O que faz um artista pensar que ele está num nível tão acima de outros humanos? Desejo que esse mundo tão cheio de status e de credenciais penduradas no pescoço possa se tornar um pouco mais humano, afinal, esse tipo de atitude nada tem a ver com a arte, com o sentimento de emocionar o público.
Pisar no chão, tirar os óculos de grife e olhar o mundo a sua volta e usar da sua figura pública para melhorar - ao menos - a comunidade onde se vive é também a tarefa do artista.

Fabiana Cardoso é jornalista, produtora e colunista do Nota de Rodapé

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

“Se estava na rua era bandido”. Era gari

Os documentos estavam no bolso, inclusive um holerite marcado com sangue. “Se estava na rua era bandido”, disseram os policiais que assassinaram o gari Edson Rogério, 29 anos, filho de Débora Maria da Silva que coordena o grupo Mães de Maio, que reúne mulheres que perderam os filhos na chacina de maio de 2006, chamado de “ataque do PCC (Primeiro Comando da Capital)” e que ganhou as telas recentemente com o filme "Salve Geral", indicação brasileira para tentar concorrer ao Oscar 2010. Foram quatro tiros em Edson, nove policiais envolvidos e o processo arquivado. A história do Gari é uma entre centenas que acontecerem entre 12 e 20 de maio de 2006, quando 564 pessoas foram assassinadas, quase 90% civis. Desse total, apenas 6% com antecedentes criminais. A maioria deles, jovens de baixa escolaridade. Essas mulheres e mães alegam que tiveram seus filhos assassinados por esquadrões da morte e pela polícia paulista. Considerando os números, mais gente morreu no período do que em toda a ditadura militar: 564 contra 424 nos anos de chumbo. Atualmente, 60% dos processos estão arquivados e as “Mães de Maio” exigem o desarquivamento dos crimes praticados. A repórter e colunista deste Nota de Rodapé, Andrea Dip, foi ouvir a história do maior trauma que uma mãe pode sofrer, a perda brutal de um filho. Edson não era bandido, era Gari e foi assassinado na mesma calçada que havia varrido pela manhã.

Como começou tudo?
O pai do meu menino morreu da mesma forma. Nós nunca descobrimos quem matou. O Rogério, meu filho, já trabalhava há sete anos em uma firma de limpeza urbana. Para tudo me pedia opinião. Era meu bebê. Nós compramos uma casinha no morro para ele morar e ele pegou um empréstimo no banco para comprar o piso e reformar. Um dia ele estava deitado no sofá e perguntei: “Você está feliz, filho?” E ele respondeu “Muito, mãe. Muito feliz”. Depois da casa ele comprou uma moto. Aí uns dias antes do que aconteceu ele teve de fazer uma cirurgia na boca, veio aqui e pediu “mãe faz um cozido pra mim, eu vou bater no liquidificador” por causa do dente. Ele operou no dia 10 de maio de 2006. Aí passou o dia das mães aqui comigo, fizeram um bolinho para mim porque tinha sido meu aniversario. Ele comeu um pedaço de carne, bateu no dente e começou a sangrar, acabou o dia para ele. Aí se deitou, tomou um remédio. Às seis da tarde as meninas o chamaram para cantar os parabéns para a mãe. E já estava na televisão aquela matança, a gente chorou também. Ele pegou um pouquinho de comida que a gente tinha dividido do churrasco. Tinha que trabalhar no dia seguinte porque não entregou o atestado com medo de ser mandado embora. Me pediu um beijo e foi embora. Foi o último dia que passei com o meu filho.

Ele foi assassinado no dia das mães?
No dia seguinte recebi um aviso de um policial amigo da família dizendo que era para as pessoas “de bem” não saírem na rua porque quem tivesse na rua era inimigo da polícia. Eu ligava para o celular do meu filho e não conseguia falar. E aquela dor no meu coração. Quando deu uma hora da tarde deu pane nos telefones, até hoje a gente não sabe o que aconteceu. A Telefônica nunca disse. Fui para o meio da rua, achava que estava ficando louca. Sentia um cheiro de carne com sangue no meu nariz me sufocando. Queria saber notícias do Rogério e não conseguia sair do lugar. Aquela agonia. Ele apareceu aqui atrás de um remédio, com muita dor de dente. “Filho, o que você está fazendo na rua, fica aqui, não sai”. Ele me pediu 10 reais para colocar gasolina na moto, pegou o remédio e foi embora.

Ele foi pego nesse momento...
No meio do caminho, segundo os frentistas do posto. Ele ia subir o morro e acabou a gasolina, ele até caiu da moto. Foi empurrando a moto até o posto. Os frentistas não quiseram vender a gasolina porque o posto estava fechado e estava cheio de câmera, aí ele pediu ajuda pra um amigo do morro e quando o amigo chegou no posto, chegaram três viaturas e uma Blazer. Não consegui dormir a noite toda. De manhã liguei o rádio e ouvi: “houve uma matança aqui na nossa região e 16 corpos estão no IML. Eu vou dar primeiro os nomes da nossa região”. Deu o primeiro, o segundo, o terceiro era o nome do meu filho. Comecei a gritar “mataram meu filho, mataram meu filho”. Liguei para o mercado perto da casa dele para saber se ele tinha ido comprar pão, ninguém sabia, ninguém falava nada. Minha filha tinha acabado de ganhar gêmeos, o peito dela até secou. Minha outra filha foi lá reconhecer, mas não deixaram ela entrar no IML porque eram muitos corpos, inclusive de uma moça grávida de nove meses que tinham matado também. As testemunhas contaram que o Rogério dizia para os policiais “mas eu sou trabalhador” e eles respondiam “Se morreu era bandido”.

Andrea Dip é jornalista e colunista do Nota de Rodapé.
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