Entro nas ruas estreitas de terra batida da Vila São José. As casas são erguidas com tábuas, lâminas de metal, placas e faixas de publicidade que servem de suporte para paredes e telhados. A sensação é sufocante. O barro abundante e a sujeira não incomodam as crianças que brincam ao risco de contaminação. O saneamento básico inexiste.Ali moram 540 famílias, aproximadamente 2.500 pessoas numa área de “ocupação irregular”, que não tem iluminação pública e sem CEP, o que dificulta a chegada dos correios e a obtenção de outros serviços básicos.
Outrora conhecida como lixão, a Vila São José fica ao lado esquerdo da rodovia Fernão Dias, sentido São Paulo/Belo Horizonte, a aproximadamente 60 quilômetros da capital paulista.
Próximo da entrada avista-se a usina de reciclagem, onde catadores trabalham em cooperativa. Atibaia, segundo melhor clima do mundo, segundo a UNESCO, é conhecida pela expressão de “paraíso quase possível na terra”, mas oculta por trás de slogans da prefeitura – “vivendo o melhor clima” – seu quinhão menos badalado.
Quem vive o melhor clima?
No local, segundo dados da prefeitura, 65,8% das instalações de água são regulares, 6,2% são empréstimo e 14,1% de uso coletivo. Dos serviços essenciais, o tratamento de esgoto é o ponto mais crítico com 34% das moradias utilizando fossa, 14% com ligações irregulares, os chamados “gatos”, e 12,7% com córrego a céu aberto.
O cheiro desagradável, a presença de ratos constante e o lixo espalhado confundem a vista. O resultado, considerada a forte enchente que começou em dezembro, é dramático: 900 famílias atingidas num total de sete bairros. Cento e uma ainda sem lar.
Historicamente, as famílias começaram a chegar à região logo após a desativação da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), que depois de extinta, teve os bens e imóveis transferidos para a União.Segundo o Departamento de Habitação da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social do município, há mais de nove anos administrado pelo Partido Verde (PV), em 2001 iniciou-se o levantamento do trecho da ferrovia e, no ano de 2004, foi feito o cadastramento de todas as famílias que ali residiam. Ainda de acordo com o poder público, os dados permitiram a criação de planos “para promover a melhoria nas condições de habitabilidade e a recuperação urbana do local”. No núcleo da Vila São José, a área seria urbanizada e dez prédios seriam erguidos com 240 apartamentos. O projeto, entretanto, ainda não vingou.O motivo alegado pelas administrações para não mexer nas áreas da extinta RFFSA são imbróglios jurídicos e administrativos que impediriam a chegada de benefícios ao bairro.
Vivem em contêineres
Após as enchentes, algumas famílias desabrigadas da Vila São José foram “alojadas” em contêineres. O local escolhido foi o popular “Campo Santa Clara” (na imagem), terreno que também pertencia à ferrovia.
E não só os “módulos metálicos habitacionais” foram instalados. Agora, frágeis e minúsculas estruturas à base de madeira são erguidas para que o povo more por dois anos até que apartamentos sejam entregues. Ou seja, os que vivem em caixas de metal passarão às caixas de madeira. “A prefeitura sempre afirmou que não podia construir nada aqui. Que não podia fazer melhorias porque era área irregular. Depois da enchente estão construindo no campo e prometendo até apartamentos por perto”, aponta José Lopes de Lima, presidente da Associação dos Moradores da Vila São José.
Caminho e lembro de Sandra dos Santos, que conheci em 2008, numa reportagem. De Guarulhos, ela e o marido, Roberto, trabalhavam como catadores de sucata. Os filhos mais velhos ajudavam. Uma delas, com 20 anos, grávida. Entre os menores, a menina Sandrinha, nome da mãe, de 12 anos, tinha o corpo paralisado parcialmente e, mesmo com as dificuldades de locomoção, todos os dias ia à escola caminhando. “Ela volta sempre com os pés inchados e com dores no corpo”, contou a mãe à época.
A água subiu, correria
As expressões sofridas e desconfiadas pedem atenção. Querem falar. Ao menos, como forma de aliviar as aflições. José Carlos da Silva mora há 20 anos no pedaço. Idoso, convive com uma deficiência nas pernas e com a constante ameaça de inundação. “Não foi só neste ano. Quando a água sobe é uma correria. Um pouquinho de chuva basta para ter que colocar os móveis para o alto e sair da casa”, desabafa.
Embora José observe que o problema é recorrente, o potencial destrutivo da última enchente causou danos maiores que os habituais. “Aqui, chuva sempre foi certeza de prejuízo. Não existe estrutura que faça a água correr. O rio transborda e não tem escoamento”, explica Pedro Camargo, outro morador, há dez anos no local.
Pedro e José são solícitos com a reportagem do Nota de Rodapé e decidem mostrar o rio Atibaia, que corta o fim de uma das ruas. A visão é chocante e não precisa ser especialista para perceber que a água pode subir facilmente.
Na outra margem, o imponente Hotel Resort Bourbon (ao fundo, na imagem) nos observa, impoluto. Em dias de chuva, enquanto a água suja e fria desalenta os moradores, os hóspedes podem se deliciar com uma piscina aquecida pela bagatela, “em promoção”, de 1.556 reais por um final de semana.
Penso na estrutura dada ao resort e nas concessões feitas pelo município para a instalação do complexo que abriga convenções de grandes empresas, encontros políticos e concentrações de times de futebol, público que, geralmente, não sai das luxuosas dependências para conhecer a cidade.
Ao que parece, o lado esquecido de Atibaia só desperta a lembrança dos administradores públicos depois da ocorrência de tragédias. Como num passe de mágica, as amarras burocráticas para tomada de providências nas “áreas irregulares” da Vila São José foram desatadas quando a cidade virou notícia nacional por causa das inundações. Aos moradores não resta opção, morar em contêineres ou casas de madeira não é o ideal, mas a migalha provisória que não se pode recusar.
Observo a garoa fina fechando o dia e torço para que não chova mais forte na vila da Sandra, do José e do Pedro, brasileiros à espera do que é básico e constitucional: moradia digna e ambiente saudável.
Moriti Neto é jornalista, paulistano de nascença, atibaiense de coração e colunista do Nota de Rodapé. (Imagens: Moriti Neto/NotadeRodapé)
quarta-feira, 31 de março de 2010
terça-feira, 30 de março de 2010
No Brasil, o diretor de Avatar, James Cameron, é contra a usina de Belo Monte
Nesta terça-feira, 30 de março, recebi por e-mail um release, no mínimo, curioso pela relação que faz o cinema e o que podemos chamar de vida real. É que o diretor do filme Avatar, James Cameron vai falar sobra a Usina Hidroelétrica de Belo Monte em Manaus, no Hotel Tropical, na manhã desta quarta-feira, 31. Segundo a nota da assessoria de imprensa que convoca a coletiva, Cameron é critico à hidroelétrica. Ele teria conversado com lideranças indígenas em Altamira, Pará, numa visita que durou três dias na região de Volta Grande no Rio Xingú, local do projeto da Usina, que será uma das três maiores do mundo em vários aspectos, como, por exemplo, o da produção de energia. Diz trecho da nota: “A usina, se construída, será a terceira maior do mundo. O governo brasileiro aprovou a licença ambiental de Belo Monte no dia 1o de fevereiro apesar de grande oposição pública e sérios questionamentos sobre a viabilidade social, econômica e ambiental da usina. Durante sua visita, o Sr. Cameron foi recebido na terra indígena Arara da Volta Grande e participou de uma reunião com mais de 120 líderes indígenas de vários grupos indígenas ao longo do Rio Xingú. O Sr. Cameron também se encontrou com líderes da sociedade civil brasileira na cidade de Altamira, que terá um terço de sua área inundada com a usina. A visita do Sr. Cameron foi facilitada pela organização internacional Amazon Watch e pelas organizações brasileiras Movimento Xingú Vivo Para Sempre e Instituto Socioambiental", finaliza a nota. Belo Monte, vale dizer, precisa da atenção de todos pois é um projeto complexo e cheio de nuances sociais, ambientais, políticas e, como não podia deixar de ser, econômicas.
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segunda-feira, 29 de março de 2010
PT e PMDB: “Não tem almoço grátis”
Sobre a coligação PT e PMDB para as eleições deste ano, compartilho aqui a reportagem escrita por Anselmo Massad da qual participei com as entrevistas com o ex-porta voz da presidência da República e cientista político André Singer. E com o ex-ministro da Casa Civil, hoje consultor, José Dirceu. A reportagem aborda o fato da opção do PT de priorizar o PMDB na construção de alianças para a sucessão de Lula e avalia seus ônus e bônus. Leia aqui na íntegra na Revista do Brasil.
1989: debate Lula x Collor e a atuação de Armando Nogueira
Armando Nogueira, 83, faleceu nesta segunda-feira, 29 de março, deixando um legado na profissão que o consagrou. Poeta e cronista esportivo dos mais brilhantes, o “mestre”, como era comumente chamado, nasceu na mesma terra de Chico Mendes, o protetor da floresta, em Xapuri no Acre.
Além de sua considerada habilidade para tratar do esporte nacional, suas paixões - o futebol moleque e o Botafogo - se complementavam com sua alma de jornalista. Armando Nogueira também foi pioneiro do telejornalismo, responsável pela implantação do jornalismo na Rede Globo, onde criou o Jornal Nacional. E foi, por consequência, um dos pivôs de um importante momento político nacional com sua posição exemplar em defesa do sobriedade da profissão.
Me refiro ao debate Lula x Collor nas eleições de 1989, editado a favor do candidato marajá. No vídeo, produzido pelos alunos do 2º Semestre de Jornalismo da Unisa, Armando comenta os bastidores do processo da edição descompensada no que seria, em linhas gerais, o melhor de Collor e o pior de Lula. Armando saiu da emissora em seguida, seguindo novos projetos. Essa é a homenagem do Nota de Rodapé.
“Peça antológica de mau jornalismo”
“A minha revelia eles deformaram a edição”
Além de sua considerada habilidade para tratar do esporte nacional, suas paixões - o futebol moleque e o Botafogo - se complementavam com sua alma de jornalista. Armando Nogueira também foi pioneiro do telejornalismo, responsável pela implantação do jornalismo na Rede Globo, onde criou o Jornal Nacional. E foi, por consequência, um dos pivôs de um importante momento político nacional com sua posição exemplar em defesa do sobriedade da profissão.
Me refiro ao debate Lula x Collor nas eleições de 1989, editado a favor do candidato marajá. No vídeo, produzido pelos alunos do 2º Semestre de Jornalismo da Unisa, Armando comenta os bastidores do processo da edição descompensada no que seria, em linhas gerais, o melhor de Collor e o pior de Lula. Armando saiu da emissora em seguida, seguindo novos projetos. Essa é a homenagem do Nota de Rodapé.
“Peça antológica de mau jornalismo”
“A minha revelia eles deformaram a edição”
A verdadeira origem do “Armeration” vem de nome de um peixe caribenho
Longe de ser um craque, o lateral-esquerdo Pablo Armero, de 24 anos, caiu nas graças da torcida do Palmeiras e ficou conhecido pelos amantes do futebol no Brasil por conta da comemoração de um gol (que nem por ele foi marcado) há algumas semanas. A fama repentina do colombiano surgiu na partida entre o Palmeiras e o Santos, jogo cheio de gols (4 a 3 para os palmeirenses) e passos.
Os santistas abriram dois gols de vantagem e comemoram seus feitos com danças coreografadas (e previamente ensaiadas). Irritados, os jogadores do time de Palestra Itália, responderam à brincadeira dos rivais com gols e danças, essas sim espontâneas e sem prévia combinação. E foi numa dessas comemorações que Armero, com seu talento, roubou a cena.
A celebração efusiva do lateral palmeirense tomou conta do noticiário (não só o esportivo) e de pronto surgiram várias teorias sobre a origem da coreografia feita pelo jogador.
A referência à singela canção Rebolation, do candidatíssimo ao Grammy latino Parangolé, foi a mais citada, e os vídeos de Armero bailando ao som de “bote a mão na cabeça que vai começar o Rebolation” se reproduziram como gremlins. Surgia o Armeration.
Os saudosos da legítima música popular brasileira foram buscar no século passado outra referência. A poesia do É o Tchan, com a inesquecível canção Segura o Tchan, foi citada como fonte de inspiração de Armero.
Os antenados na indústria norte-americana de entretenimento pediram espaço e compararam a dança de Armero ao gingado de Beyoncé (que não viu Puerto Candelaria), com a necessária observação de que o colombiano requebra melhor do que a estrela pop.
O que pouca gente sabe é que Pablo Armero recorreu a seus antepassados para encantar a torcida palmeirense. A coreografia do colombiano é inspirada no Mapalé (nome também de um peixe), uma dança criada pelos escravos. A história remete aos negros trazidos à região do Caribe colombiano. No final do dia, homens e mulheres se reuniam na praia para limpar os peixes e dançar ao som de seus tambores para espantar o banzo. A coreografia, repleta de saltos, quedas, rebolados e mexidas de ombros, serve como demonstração de força e virilidade (no caso do homem) e sensualidade/fertilidade para as mulheres.
Armero não é propriamente de San Basílio de Palenque, região onde o Mapalé surgiu, mas é muito provável que um ramo da sua família tem passado por aquelas terras. A região de Pelenque foi a primeira zona de resistência dos africanos contra a escravidão na América do Sul (não apenas na Colômbia). Fugidos de seus senhores, os negros se reuniam em áreas livres, chamada de palenques, e se organizavam em sociedades regidas por regras próprias. Parangolé, É o Tchan e Beyoncé que me desculpem, mas Pablo Armero trazia no sangue, há séculos, a coreografia exibida na Vila Belmiro naquele domingo.
Bônus para quem sobreviveu até aqui: Teria Armero se inspirado em Kiko, do Chaves? Você achou original a comemoração de Armero? Então olha isso:
Ricardo Viel é jornalista e colunista do Nota de Rodapé
Os santistas abriram dois gols de vantagem e comemoram seus feitos com danças coreografadas (e previamente ensaiadas). Irritados, os jogadores do time de Palestra Itália, responderam à brincadeira dos rivais com gols e danças, essas sim espontâneas e sem prévia combinação. E foi numa dessas comemorações que Armero, com seu talento, roubou a cena.
A celebração efusiva do lateral palmeirense tomou conta do noticiário (não só o esportivo) e de pronto surgiram várias teorias sobre a origem da coreografia feita pelo jogador.
A referência à singela canção Rebolation, do candidatíssimo ao Grammy latino Parangolé, foi a mais citada, e os vídeos de Armero bailando ao som de “bote a mão na cabeça que vai começar o Rebolation” se reproduziram como gremlins. Surgia o Armeration.
Os saudosos da legítima música popular brasileira foram buscar no século passado outra referência. A poesia do É o Tchan, com a inesquecível canção Segura o Tchan, foi citada como fonte de inspiração de Armero.
Os antenados na indústria norte-americana de entretenimento pediram espaço e compararam a dança de Armero ao gingado de Beyoncé (que não viu Puerto Candelaria), com a necessária observação de que o colombiano requebra melhor do que a estrela pop.
O que pouca gente sabe é que Pablo Armero recorreu a seus antepassados para encantar a torcida palmeirense. A coreografia do colombiano é inspirada no Mapalé (nome também de um peixe), uma dança criada pelos escravos. A história remete aos negros trazidos à região do Caribe colombiano. No final do dia, homens e mulheres se reuniam na praia para limpar os peixes e dançar ao som de seus tambores para espantar o banzo. A coreografia, repleta de saltos, quedas, rebolados e mexidas de ombros, serve como demonstração de força e virilidade (no caso do homem) e sensualidade/fertilidade para as mulheres.
Armero não é propriamente de San Basílio de Palenque, região onde o Mapalé surgiu, mas é muito provável que um ramo da sua família tem passado por aquelas terras. A região de Pelenque foi a primeira zona de resistência dos africanos contra a escravidão na América do Sul (não apenas na Colômbia). Fugidos de seus senhores, os negros se reuniam em áreas livres, chamada de palenques, e se organizavam em sociedades regidas por regras próprias. Parangolé, É o Tchan e Beyoncé que me desculpem, mas Pablo Armero trazia no sangue, há séculos, a coreografia exibida na Vila Belmiro naquele domingo.
Bônus para quem sobreviveu até aqui: Teria Armero se inspirado em Kiko, do Chaves? Você achou original a comemoração de Armero? Então olha isso:
Ricardo Viel é jornalista e colunista do Nota de Rodapé
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domingo, 28 de março de 2010
ESMA: sobre um passado que espera seu futuro na Argentina
A ditadura argentina causou a morte de 30 mil pessoas, uma das mais sangrentas da América Latina. A Escola da Marinha (ESMA), um dos principais centros de detenção clandestina do país daquele período, aprisionou, torturou e assassinou 5 mil pessoas. Não é pouco.
Por tudo isso, em 2004, o então presidente Nestor Kirchner, tomou uma das decisões mais simbólicas em relação a este assunto: transformar a ESMA em um museu para a memória.
Pode parecer pequeno, mas a decisão trouxe, ainda mais forte, a lembrança na sociedade argentina de que aqueles prédios – em uma movimentada avenida de Buenos Aires - não são simples construções de jardim bem cuidado.
O ato respondeu a uma reivindicação de associações de direitos humanos, movimento com invejável influência na opinião pública hermana. Mesmo ainda não tendo saído do papel de fato, a instalação de um museu por lá agora é um caminho sem volta – é mesmo uma questão de tempo.
E tão simbólica é a ESMA que, mesmo sem museu, serviu de palco para Cristina Kirchner reclamar, no último dia 25 de março, por velocidade da justiça no julgamento dos opressores da época – ato que se por um lado é espetáculo, por outro se faz também necessário.
Documentário
Em 2004 essa história toda me levou a produzir, em parceria, o documentário Do Horror à Memória, que divido no link abaixo, com diferentes depoimentos de pessoas que fazem parte dessa cena por lá. Para uns retrata a cronologia deste lugar. Para mim, enreda um recorte do passado que está sendo mudado – mesmo que lentamente - pela força dos que não esquecem o que aconteceu. Assim como deveria acontecer por aqui.
A ditadura
A ESMA
O museu
As condenações
Prêmios
Melhor Vídeo-Documentário acadêmico do Brasil pela 12ª Expocom (2005); Melhor documentário acadêmico da América do Sul pela Expocom – SUR (2006); Melhor Documentário pelo XIV Festival Cine Vídeo de Gramado (2006); Melhor Vídeo Eleito pelo Júri - XIV Festival Cine Vídeo de Gramado (2006); Selecionado para a Mostra Paulista do Audiovisual (2006)
Diogo Ruic é jornalista pós-graduado em Teoria da Comunicação, com passagem pela revista Caros Amigos e matérias publicadas na Superinteressante, Ocas e Retrato do Brasil. Co-autor do documentário Do Horror à Memória, eleito melhor produção acadêmica da América do Sul pela Expocom – SUR (2006). Atualmente trabalha com comunicação corporativa.
Por tudo isso, em 2004, o então presidente Nestor Kirchner, tomou uma das decisões mais simbólicas em relação a este assunto: transformar a ESMA em um museu para a memória.
Pode parecer pequeno, mas a decisão trouxe, ainda mais forte, a lembrança na sociedade argentina de que aqueles prédios – em uma movimentada avenida de Buenos Aires - não são simples construções de jardim bem cuidado.
O ato respondeu a uma reivindicação de associações de direitos humanos, movimento com invejável influência na opinião pública hermana. Mesmo ainda não tendo saído do papel de fato, a instalação de um museu por lá agora é um caminho sem volta – é mesmo uma questão de tempo.
E tão simbólica é a ESMA que, mesmo sem museu, serviu de palco para Cristina Kirchner reclamar, no último dia 25 de março, por velocidade da justiça no julgamento dos opressores da época – ato que se por um lado é espetáculo, por outro se faz também necessário.
Documentário
Em 2004 essa história toda me levou a produzir, em parceria, o documentário Do Horror à Memória, que divido no link abaixo, com diferentes depoimentos de pessoas que fazem parte dessa cena por lá. Para uns retrata a cronologia deste lugar. Para mim, enreda um recorte do passado que está sendo mudado – mesmo que lentamente - pela força dos que não esquecem o que aconteceu. Assim como deveria acontecer por aqui.
A ditadura
A ESMA
O museu
As condenações
Prêmios
Melhor Vídeo-Documentário acadêmico do Brasil pela 12ª Expocom (2005); Melhor documentário acadêmico da América do Sul pela Expocom – SUR (2006); Melhor Documentário pelo XIV Festival Cine Vídeo de Gramado (2006); Melhor Vídeo Eleito pelo Júri - XIV Festival Cine Vídeo de Gramado (2006); Selecionado para a Mostra Paulista do Audiovisual (2006)
Diogo Ruic é jornalista pós-graduado em Teoria da Comunicação, com passagem pela revista Caros Amigos e matérias publicadas na Superinteressante, Ocas e Retrato do Brasil. Co-autor do documentário Do Horror à Memória, eleito melhor produção acadêmica da América do Sul pela Expocom – SUR (2006). Atualmente trabalha com comunicação corporativa.
sábado, 27 de março de 2010
Clássicos e variados, site permite baixar documentários de graça
Um grupo de norte-americanos fundou um portal que oferece gratuitamente o acesso a vários documentários. São produções realizadas por cineastas independentes do mundo inteiro. Você pode assistir diretamente no site freedocumentaries.org ou baixar para o seu computador. O acervo conta com clássicos como “A Revolução Não Será Televisionada”, de Kim Bartley e Donnacha O’Briain, o ganhador do Oscar de Melhor Documentário “Nascidos em Bordéis”, de Zana Briski, “Sicko”, de Michael Moore; “Jesus Camp”, de Heidi Ewing and Rachel Grady, “Os Estados Unidos Versus John Lennon”, de David Leaf e John Scheinfeld; “Sob Névoa da Guerra” (The Fog War), de Errol Morris, “Super Size Me”, de Morgan Spurlock, “The Corporation”, de Mark Achbar e Jennifer Abbott são alguns dos filmes presentes na lista do portal. Os filmes apresentam legendas em inglês apenas para as produções realizadas em outras línguas.
quinta-feira, 25 de março de 2010
São Paulo é uma cidade com obesidade mórbida, mas e daí, quem liga?
SP está se degenerando a cada chuva, a cada trânsito de centenas de quilômetros, a cada morte sem sentido no farol, a cada árvore que cai ou favela que desaba, a cada recorde de vendas no comércio, a cada shopping a mais, a cada bolo de aniversário. Uma cidade que não se suporta, que virou uma obesa mórbida, com vícios que levam ao “sem sentido” diário. Assim é São Paulo, o meu quintal, o meu jardim de cimento que todos os dias apronta uma molecagem com seus mais de 11 milhões de habitantes.
É a cada porrada dolorida que vamos levando a rotina. E a gente se conforma. Será que no fundo a gente gosta? O trânsito virou o óbvio e a volta para casa uma corrida ao tesouro que para uns pode ser o deitar no sofá, ver a novela, usar a sua droga, brigar ou namorar com a sua vida singular. Trabalhar e ir pra casa. Ir pra casa e trabalhar.
Isso aqui me parece um refúgio de doidos. Todos, do pobre ao rico, em seus carros e motos e nesses prédios todos. Ou o povão suado e esfolado que todos os dias enfrenta filas infindáveis a espera das lotações que são paus de arara em versão moderna. Tem o aquecimento global que ninguém liga; tem os alagados paulistanos do Jardim Pantanal e Romano que servem de “notícia”; tem a miséria na esquina da sua casa ou defronte ao seu prédio de luxo; tem tudo isso aí que estamos cansados de ver, cheirar e mastigar. Ouvir a mediocridade é um prazer cotidiano.
Qual o sentido de habitar, então? De conviver? Me digam, vai, os especialistas...
O tempo, os dois, o do relógio e do clima se estapeiam para ver quem leva a melhor em nos deixar, por nossa culpa, na pior. A gente criou o monstro da convivência desproporcional e, na boa, ninguém sabe resolver. Eu mesmo escrevo esse texto egoisticamente, porque voltei para casa da Vila Madalena até a Lapa de Baixo de moto, cortando trânsito, na busca do meu refúgio, da minha ilha. O lema é economizar o tempo.
Uma amiga me liga à tarde. “Minha rua virou um rio. Estou ilhada, nos vemos outro dia” Dizer o que? Ah, a culpa é dos governantes, a gente paga nossos impostos e esses filhos de uma puta só nos fodem. Mentira! Não é só isso. A tal da mobilização popular virou item em descompasso com a atual realidade. Quem se mobiliza? A minoria. E a minoria, a não ser que tenha o poder da caneta mágica, não consegue transformar.
Essa porra toda é fruto da nossa criação. A cidade só faz crescer em número de carros, prédios, estacionamentos, restaurantes, estradas... Só faz crescer em consumo de energia, de água, de comida. A cidade e quem vive nela só pensa em metas. Cumprir metas de crescimento. “Vai, vai, vai!”. Produção!
Já não vejo árvore na minha rua. Só existem postes e um horizonte interrompido por um prédio. Longe de ser poético, longe de ser mais ácido do que consigo com esse desabafo, pense, reflita aqui vai, só um pouco: o lugar onde você vive melhorou ou piorou nos últimos 10 anos?
Há tempos entrevistei a filósofa Olgária Mattos. O tema era o tempo. Me disse: “Esse sentimento de não ter tempo é a manifestação de algo estrutural na sociedade, que é o trabalho. O trabalho é totalmente esvaziado de sentido, no mundo capitalista, com a automação do movimento do gesto do trabalhador (...) O trabalho continua sendo o trabalho alienado que esmaga fisicamente ou espiritualmente, porque não tem sentido nenhum. Agora, a monotonia contemporânea é o tempo da longa duração, e no capitalismo essa longa duração é insuportável, por isso as pessoas querem matar o tempo, porque não sabem o que fazer com o tempo livre.”
O tempo livre, diria mais, é solapado nessa volta para casa. Mas se só piora é porque, bem lá no fundinho, gostamos assim, de sofrer, de ter motivo.
Não posso pensar ou planejar sem me angustiar. Sair do trabalho e exercer qualquer atividade não laboral se tornou um obstáculo fruto da nossa falta de inteligência social. Simplesmente não comporta mais. Viver o “seu tempo” é uma espécie de “assédio moral”. Viramos uma sociedade desconectada de sentido. O desenvolvimento alucinado serve a quem? A maioria é que não é. Mas e daí, quem liga?
Thiago Domenici, jornalista
É a cada porrada dolorida que vamos levando a rotina. E a gente se conforma. Será que no fundo a gente gosta? O trânsito virou o óbvio e a volta para casa uma corrida ao tesouro que para uns pode ser o deitar no sofá, ver a novela, usar a sua droga, brigar ou namorar com a sua vida singular. Trabalhar e ir pra casa. Ir pra casa e trabalhar.
Isso aqui me parece um refúgio de doidos. Todos, do pobre ao rico, em seus carros e motos e nesses prédios todos. Ou o povão suado e esfolado que todos os dias enfrenta filas infindáveis a espera das lotações que são paus de arara em versão moderna. Tem o aquecimento global que ninguém liga; tem os alagados paulistanos do Jardim Pantanal e Romano que servem de “notícia”; tem a miséria na esquina da sua casa ou defronte ao seu prédio de luxo; tem tudo isso aí que estamos cansados de ver, cheirar e mastigar. Ouvir a mediocridade é um prazer cotidiano.
Qual o sentido de habitar, então? De conviver? Me digam, vai, os especialistas...
O tempo, os dois, o do relógio e do clima se estapeiam para ver quem leva a melhor em nos deixar, por nossa culpa, na pior. A gente criou o monstro da convivência desproporcional e, na boa, ninguém sabe resolver. Eu mesmo escrevo esse texto egoisticamente, porque voltei para casa da Vila Madalena até a Lapa de Baixo de moto, cortando trânsito, na busca do meu refúgio, da minha ilha. O lema é economizar o tempo.
Uma amiga me liga à tarde. “Minha rua virou um rio. Estou ilhada, nos vemos outro dia” Dizer o que? Ah, a culpa é dos governantes, a gente paga nossos impostos e esses filhos de uma puta só nos fodem. Mentira! Não é só isso. A tal da mobilização popular virou item em descompasso com a atual realidade. Quem se mobiliza? A minoria. E a minoria, a não ser que tenha o poder da caneta mágica, não consegue transformar.
Essa porra toda é fruto da nossa criação. A cidade só faz crescer em número de carros, prédios, estacionamentos, restaurantes, estradas... Só faz crescer em consumo de energia, de água, de comida. A cidade e quem vive nela só pensa em metas. Cumprir metas de crescimento. “Vai, vai, vai!”. Produção!
Já não vejo árvore na minha rua. Só existem postes e um horizonte interrompido por um prédio. Longe de ser poético, longe de ser mais ácido do que consigo com esse desabafo, pense, reflita aqui vai, só um pouco: o lugar onde você vive melhorou ou piorou nos últimos 10 anos?
Há tempos entrevistei a filósofa Olgária Mattos. O tema era o tempo. Me disse: “Esse sentimento de não ter tempo é a manifestação de algo estrutural na sociedade, que é o trabalho. O trabalho é totalmente esvaziado de sentido, no mundo capitalista, com a automação do movimento do gesto do trabalhador (...) O trabalho continua sendo o trabalho alienado que esmaga fisicamente ou espiritualmente, porque não tem sentido nenhum. Agora, a monotonia contemporânea é o tempo da longa duração, e no capitalismo essa longa duração é insuportável, por isso as pessoas querem matar o tempo, porque não sabem o que fazer com o tempo livre.”
O tempo livre, diria mais, é solapado nessa volta para casa. Mas se só piora é porque, bem lá no fundinho, gostamos assim, de sofrer, de ter motivo.
Não posso pensar ou planejar sem me angustiar. Sair do trabalho e exercer qualquer atividade não laboral se tornou um obstáculo fruto da nossa falta de inteligência social. Simplesmente não comporta mais. Viver o “seu tempo” é uma espécie de “assédio moral”. Viramos uma sociedade desconectada de sentido. O desenvolvimento alucinado serve a quem? A maioria é que não é. Mas e daí, quem liga?
Thiago Domenici, jornalista
"O Ser e a Náusea" trata o problema do lixo eletrônico com criatividade
"Os Cinestésicos é um coletivo de ação, discussão e experimentação audiovisual, procurando espaço na produção de vídeo independente, nas áreas de educação com projetos de oficinas e exibições e captação de recursos para tais, e também presentes cada vez mais no plano virtual, buscando mais conteúdos e compartilhamento de informação, além de participação nos fóruns. Hoje em dia, não é tão simples fazer cinema, e as novas mídias digitais abrem espaço para quem está em baixo poder expressar sua opinião e ideia. Ideias que se aderidas podem ser propagadas pela rede. Com o lixo eletrônico do MetaProjeto fizemos um boneco de lixo e na sequência, surgiu isso aí, uma experiência, tudo improvisado e rápido, mas foi isso, e espero que curtam. O microcurta foi inscrito no Claro Curtas, e dos quase 2000 que entraram na disputa com o tema "Ser Digital", já estamos entre os 100 classificados, o que para nossa experiência e ideia já é uma conquista." Conheça o blogue do Coletivo Cinestésicos.
Lucas Duarte de Souza, especial para o Nota de Rodapé
Lucas Duarte de Souza, especial para o Nota de Rodapé
O lançamento do livro de Duarte Pereira é neste sábado na Pinacoteca em SP
Como havia informado na postagem da semana passada, neste sábado, 27 de março, das 11h às 14h, na Pinacoteca do Estado, o jornalista e amigo Duarte Pereira, lançara o livro 1924: O diário da revolução – Os 23 dias que abalaram São Paulo, edição conjunta da Imprensa Oficial e da Fundação Saneamento e Energia, com ilustrações e apresentações do professor Hubert Alquéres e do historiador Ricardo Maranhão. Duarte contou ao Nota de Rodapé que os direitos autorais foram cedidos gratuitamente e que sua preocupação “essencial” é “despertar a atenção para a pouco conhecida rebelião democrática 'tenentista' de 1924, sobretudo entre os jovens”. Quem for ao lançamento pode aproveitar para visitar a exposição de Andy Warhol no Espaço Pinacoteca, ao lado da Estação da Luz.
quarta-feira, 24 de março de 2010
Por que temos que vibrar com os gols dos “hermanos”?
Em 2006, uma rádio gaúcha provocou reações diversas nos apaixonados pelo futebol após a primeira partida da final da Copa Libertadores daquele ano, disputada entre o Internacional (RS) e o São Paulo. Poucas horas depois do confronto realizado no estádio do Morumbi, vencido por 2x1 pelos colorados, narrações de gols transmitidas por rádios gaúchas ganharam rapidamente a internet. A mais popular fez uso de termos fortes, como "o Inter rasga a camisa do São Paulo e pisa sobre ela", e "o Inter humilha e destroça o campeão do mundo". O tom de torcedor adotado pelo narrador irritou os sãopaulinos, mas fez a festa de torcedores do Inter e, claro, dos rivais do tricolor paulista. O segundo jogo, em Porto Alegre, terminou 2x2 e o Inter conquistou sua primeira Libertadores da história.
Aquele tipo de narração provocativa é comum no Sul do país e algumas rádios de outras regiões compraram a ideia. Hoje, é comum você ouvir algumas rádios com transmissões tendenciosas, onde a equipe declara seu amor por um clube. Apesar de ainda sofrerem resistências, os narradores-torcedores têm seu mérito. Afinal de contas, nada mais chato do que você ver seu time sofrendo um gol e ter que aguentar o cara se esgoelando para narrar o lance. E o oposto também é verdadeiro, ou seja, presenciar um gol na arquibancada, sentir um estádio inteiro explodindo de alegria e ainda ouvir aquele grito maravilhoso de GOOOOOOOLLLLL!!! é uma emoção incomparável. Talvez a prática não seja bem recebida em jogos regionais, mas quando adversários de estados ou países diferentes se enfrentam, acho que é válido.
Este ano, mais uma vez na Libertadores, tivemos uma narração apaixonada, num duelo entre paraguaios e brasileiros. Na vitória do Corinthians sobre o Cerro Porteño, por 1x0, em Assunção, o gol de Ronaldo provocou “ganas de llorar” no estádio. Eu achei aquele lance muito curioso e voltei a refletir sobre o assunto. A coluna escrita-falada desta semana coloca o tema em discussão. Escute o resto da matéria e deixe sua opinião!
Thiago Barbieri é jornalista; autor do livro sobre o Corinthians "23 anos em 7 segundos", editor do jornal Primeira Hora da Rádio Bandeirandes e colunista do Nota de Rodapé.
Aquele tipo de narração provocativa é comum no Sul do país e algumas rádios de outras regiões compraram a ideia. Hoje, é comum você ouvir algumas rádios com transmissões tendenciosas, onde a equipe declara seu amor por um clube. Apesar de ainda sofrerem resistências, os narradores-torcedores têm seu mérito. Afinal de contas, nada mais chato do que você ver seu time sofrendo um gol e ter que aguentar o cara se esgoelando para narrar o lance. E o oposto também é verdadeiro, ou seja, presenciar um gol na arquibancada, sentir um estádio inteiro explodindo de alegria e ainda ouvir aquele grito maravilhoso de GOOOOOOOLLLLL!!! é uma emoção incomparável. Talvez a prática não seja bem recebida em jogos regionais, mas quando adversários de estados ou países diferentes se enfrentam, acho que é válido.
Este ano, mais uma vez na Libertadores, tivemos uma narração apaixonada, num duelo entre paraguaios e brasileiros. Na vitória do Corinthians sobre o Cerro Porteño, por 1x0, em Assunção, o gol de Ronaldo provocou “ganas de llorar” no estádio. Eu achei aquele lance muito curioso e voltei a refletir sobre o assunto. A coluna escrita-falada desta semana coloca o tema em discussão. Escute o resto da matéria e deixe sua opinião!
Thiago Barbieri é jornalista; autor do livro sobre o Corinthians "23 anos em 7 segundos", editor do jornal Primeira Hora da Rádio Bandeirandes e colunista do Nota de Rodapé.
terça-feira, 23 de março de 2010
Promoção Literária Nota de Rodapé e Carlos Azevedo
Os leitores cadastrados no “Boletim Rodapé” ou os que deixarem nome, cidade e e-mail nos comentários desta postagem concorrem no dia 2 de maio a cinco (5) exemplares autografados do livro Cicatriz de Reportagem - 13 Histórias que fizeram um repórter, de Carlos Azevedo, que mandou aos nossos leitores a seguinte mensagem:
Sobre o Livro
Depois de 47 anos de carreira, o jornalista Carlos Azevedo não apenas reuniu 13 de suas principais reportagens. Fez mais - escreveu para cada uma delas um texto em que revela os bastidores, os personagens, as histórias e as circunstâncias que envolveram cada matéria. 'Cicatriz de reportagem' reproduz na íntegra as 13 reportagens e seus respectivos making offs. Mostra a aventura do jornalismo, sem esconder ou camuflar o engajamento do repórter. Um jornalismo que tem lado, faz opções, questiona, revela contradições, busca soluções. Levanta ideias, opina, dá voz especialmente aos setores menos ouvidos da sociedade. As matérias publicadas em jornais, revistas e uma delas veiculada na televisão, abrangem o período de 1961 a 1998. Carlos Azevedo fez parte do grupo fundador da histórica revista Realidade, e 'Cicatriz de reportagem' reúne cinco textos da primeira fase da revista. O livro traz ainda reportagens publicadas no jornal O Estado de S. Paulo; nas revistas Quatro Rodas, Quatro Rodas Moto, Doçura, Caros Amigos e Manifesto. E a emblemática matéria censurada do semanário Movimento (feita sob a ditadura militar e na clandestinidade), sobre os 200 anos da Declaração de Independência dos Estados Unidos, em julho de 1976, que teve repercussão internacional, com referência na primeira página do New York Times. O livro relembra fatos como o fracasso de um golpe militar contra Goulart antes de março de 1964; a guerra contra os índios, o ritual de preparação de um guerreiro no Xingu e o resgate de uma tribo; o esforço para encontrar petróleo; a vida pobre e com esperança no Piauí; a luta do movimento black power contra o racismo nos EUA; recupera a lenda de um motociclista pobre; revê os passos de um assassino em defesa da honra; a travessia do Mato Grosso do Sul acompanhando uma boiada; revela que as terras do Pontal do Paranapanema são griladas; e viaja ao longo dos 3.140 km da fronteira dos EUA com o México. O livro de 2007 foi publicado pela Editora Papagaio e tem 408 páginas no formato brochura.
Sobre Carlos Azevedo
Jornalista e propagandista político, entre 1960 e 1968 trabalhou em O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e Diário da Noite; nas revistas O Cruzeiro e Quatro Rodas, e foi da equipe fundadora de Realidade, junto com Sérgio de Souza, Roberto Freire e Paulo Patarra. Participou da resistência à ditadura militar e viveu na clandestinidade de 1971 a 1979, época em que dirigiu e colaborou com várias publicações militantes. Em 1984 foi repórter do Globo Rural, da TV Globo. Participou de 12 campanhas eleitorais, entre elas as de Lula à Presidência da República, em 1989 e 1994. Em 2007 lançou o livro Cicatriz de Reportagem, pela Editora Papagaio. Leia o perfil escrito por Ricardo Kotscho para a Revista Brasileiros.
“Escrevi esse livro ao longo de uns dez anos. Publiquei-o depois de estar durante algum tempo fora do jornalismo, fazendo propaganda política. E o publiquei no mesmo momento que voltava, mais uma vez, ao jornalismo, à reportagem, que é meu ofício do coração. Fiz o livro para preservar algumas das minhas reportagens. É que gosto delas, são passagens da minha vida, por isso são cicatrizes que ficaram agarradas em mim. Repito, elas me fizeram, me ajudaram a me construir. Não me conformava com o esquecimento em que elas estavam mergulhadas. Portanto, fiz o livro para mim. Também fiz esse livro como homenagem à filha que a vida me levou, aquela amiga íntima da minha alma, generosa e valente como eu gostaria de ser. Finalmente, fiz o livro para reencontrar-me comigo mesmo, porque eu me encontro comigo sendo jornalista, sendo repórter, apesar dos outros caminhos que também trilhei para satisfazer minha curiosidade por coisas novas. Tudo valeu e vale e valerá.”
Cadastre-se no "Boletim Rodapé" e concorra AQUI.
Sobre o Livro
Depois de 47 anos de carreira, o jornalista Carlos Azevedo não apenas reuniu 13 de suas principais reportagens. Fez mais - escreveu para cada uma delas um texto em que revela os bastidores, os personagens, as histórias e as circunstâncias que envolveram cada matéria. 'Cicatriz de reportagem' reproduz na íntegra as 13 reportagens e seus respectivos making offs. Mostra a aventura do jornalismo, sem esconder ou camuflar o engajamento do repórter. Um jornalismo que tem lado, faz opções, questiona, revela contradições, busca soluções. Levanta ideias, opina, dá voz especialmente aos setores menos ouvidos da sociedade. As matérias publicadas em jornais, revistas e uma delas veiculada na televisão, abrangem o período de 1961 a 1998. Carlos Azevedo fez parte do grupo fundador da histórica revista Realidade, e 'Cicatriz de reportagem' reúne cinco textos da primeira fase da revista. O livro traz ainda reportagens publicadas no jornal O Estado de S. Paulo; nas revistas Quatro Rodas, Quatro Rodas Moto, Doçura, Caros Amigos e Manifesto. E a emblemática matéria censurada do semanário Movimento (feita sob a ditadura militar e na clandestinidade), sobre os 200 anos da Declaração de Independência dos Estados Unidos, em julho de 1976, que teve repercussão internacional, com referência na primeira página do New York Times. O livro relembra fatos como o fracasso de um golpe militar contra Goulart antes de março de 1964; a guerra contra os índios, o ritual de preparação de um guerreiro no Xingu e o resgate de uma tribo; o esforço para encontrar petróleo; a vida pobre e com esperança no Piauí; a luta do movimento black power contra o racismo nos EUA; recupera a lenda de um motociclista pobre; revê os passos de um assassino em defesa da honra; a travessia do Mato Grosso do Sul acompanhando uma boiada; revela que as terras do Pontal do Paranapanema são griladas; e viaja ao longo dos 3.140 km da fronteira dos EUA com o México. O livro de 2007 foi publicado pela Editora Papagaio e tem 408 páginas no formato brochura.
Sobre Carlos Azevedo
Jornalista e propagandista político, entre 1960 e 1968 trabalhou em O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e Diário da Noite; nas revistas O Cruzeiro e Quatro Rodas, e foi da equipe fundadora de Realidade, junto com Sérgio de Souza, Roberto Freire e Paulo Patarra. Participou da resistência à ditadura militar e viveu na clandestinidade de 1971 a 1979, época em que dirigiu e colaborou com várias publicações militantes. Em 1984 foi repórter do Globo Rural, da TV Globo. Participou de 12 campanhas eleitorais, entre elas as de Lula à Presidência da República, em 1989 e 1994. Em 2007 lançou o livro Cicatriz de Reportagem, pela Editora Papagaio. Leia o perfil escrito por Ricardo Kotscho para a Revista Brasileiros.
segunda-feira, 22 de março de 2010
Os gênios do Oscar não conhecem Jorge Drexler, e você?
Em 2005, um doutor em otorrinolaringologia assistiu, sentado numa confortável poltrona e vestido de fraque, à tentativa de homicídio de uma canção sua praticada pelo ator espanhol Antonio Banderas e o guitarrista mexicano Carlos Santana. A vítima foi a música Al Outro lado del Rio, literalmente executada pela dupla durante a cerimônia do Oscar.
Atenção, tirem as crianças da sala.
A canção, tema do filme “Diários de Motocicleta”, concorreu e venceu (seguramente porque a votação já estava encerrada antes do desastroso dueto) na categoria melhor canção original. O médico uruguaio Jorge Drexler não pôde cantar sua música, porque para os organizadores da festa ele era uma figura desconhecida no mundo. (Walter Salles critica decisão)
Ao subir ao palco para receber sua estátua, Jorge Drexler tomou o pulso da vítima e viu que ainda havia sinais vitais. Aproximou-se do microfone e, em vez do tradicional discurso de agradecimento, devolveu a vida à sua criação, ao cantá-la.
(Aqui, em entrevista à Rádio Eldorado, o músico conta como foi o convite para fazer a trilha do filme e fala do discurso musicado).
O episódio do Oscar reflete a dificuldade que este uruguaio de 45 anos encontrou (e ainda encontra) para ser ouvido. Afinal, se a América do Sul é coadjuvante dentro do mercado financeiro da música, o Uruguai praticamente não existe.
Com a paciência e a destreza de um artesão, Drexler foi aos poucos traçando sua carreira, sem se importar muito com cifras e contratos. É músico desde sempre (aos quatro anos começou a tocar piano), mas antes de viver disso foi salva vidas e médico. Também se arriscou na literatura (ganhou um concurso na época de estudante e recebeu o prêmio das mãos de Eduardo Galeano) e no teatro – já como compositor.
Na metade dos anos 90, Drexler, já medianamente conhecido e respeitado no Rio da Prata, costumava abrir shows de gente graúda (entre elas, dois brasileiros: Caetano e João Bosco) quando se apresentavam no Uruguai. Foi graças a um empurrão de uma delas que a carreira do uruguaio decolou. Depois de abrir um show do espanhol Joaquim Sabina em Montevidéu, Drexler recebeu o convite para repetir a dose em Madri. Foi para fazer três shows, mas já está por lá faz 15 anos.
Aqui, No Pienses de Más, do álbum Llueve (de 1998)
Deixou Montevidéu, mas vira e mexe volta (inclusive para gravar seus discos) e aponta a distancia de sua terra como um dos elementos de inspiração.
Un País con el nombre de un Rio
Jorge Drexler pode estar de volta à cerimônia do Oscar em 2011. O uruguaio fez a trilha sonora do filme The City Of Your Final Destination, do norte-americano James Ivory, que deve estrear no circuito comercial nos próximos meses. Até lá serão seis anos desde que o desconhecido médico ganhou o prêmio. Será que os gênios da organização do Oscar já conhecem o otorrinolaringologista?
Novo disco
Na semana passada, Drexler lançou em Madri seu novo disco: Amar la Trama (veja vídeo da canção Me trajo hasta em http://www.jorgedrexler.com/). O novo trabalho foi gravado quase ao vivo. Em um estúdio e com a presença de alguns convidados, todos os instrumentos foram gravados ao mesmo tempo (normalmente se grava voz, guitarra, bateria, sopros, em separado, e depois eles são unidos) e a maquiagem por computador praticamente não existiu. Ouvi pouca coisa, mas parece bem interessante – como praticamente tudo o que o cara faz.
Enquanto não há mais vídeos com os sons do novo álbum, me despeço com Sea, parceria com Mercedes Sosa (só isso). Até a semana que vem
Ricardo Viel é jornalista e mantém a coluna Conexsom Latina neste Nota de Rodapé
Atenção, tirem as crianças da sala.
A canção, tema do filme “Diários de Motocicleta”, concorreu e venceu (seguramente porque a votação já estava encerrada antes do desastroso dueto) na categoria melhor canção original. O médico uruguaio Jorge Drexler não pôde cantar sua música, porque para os organizadores da festa ele era uma figura desconhecida no mundo. (Walter Salles critica decisão)
Ao subir ao palco para receber sua estátua, Jorge Drexler tomou o pulso da vítima e viu que ainda havia sinais vitais. Aproximou-se do microfone e, em vez do tradicional discurso de agradecimento, devolveu a vida à sua criação, ao cantá-la.
(Aqui, em entrevista à Rádio Eldorado, o músico conta como foi o convite para fazer a trilha do filme e fala do discurso musicado).
O episódio do Oscar reflete a dificuldade que este uruguaio de 45 anos encontrou (e ainda encontra) para ser ouvido. Afinal, se a América do Sul é coadjuvante dentro do mercado financeiro da música, o Uruguai praticamente não existe.
Com a paciência e a destreza de um artesão, Drexler foi aos poucos traçando sua carreira, sem se importar muito com cifras e contratos. É músico desde sempre (aos quatro anos começou a tocar piano), mas antes de viver disso foi salva vidas e médico. Também se arriscou na literatura (ganhou um concurso na época de estudante e recebeu o prêmio das mãos de Eduardo Galeano) e no teatro – já como compositor.
Na metade dos anos 90, Drexler, já medianamente conhecido e respeitado no Rio da Prata, costumava abrir shows de gente graúda (entre elas, dois brasileiros: Caetano e João Bosco) quando se apresentavam no Uruguai. Foi graças a um empurrão de uma delas que a carreira do uruguaio decolou. Depois de abrir um show do espanhol Joaquim Sabina em Montevidéu, Drexler recebeu o convite para repetir a dose em Madri. Foi para fazer três shows, mas já está por lá faz 15 anos.
Aqui, No Pienses de Más, do álbum Llueve (de 1998)
Deixou Montevidéu, mas vira e mexe volta (inclusive para gravar seus discos) e aponta a distancia de sua terra como um dos elementos de inspiração.
Un País con el nombre de un Rio
Venho de um trago vazioAo mesmo tempo é cada vez mais cidadão do mundo (“Meu último disco foi apresentado em 16 países. Eu antes tocava em Caracas, Lima, Estocolmo ou Florência. É estranho ir a Berlim e que venham falar com você estudantes de espanhol que conhecem suas músicas. Ou ir ao Brasil e encher um teatro com gente que conhece suas canções” – entrevista ao La Nación.
Um país com o nome de um rio
Um éden esquecido
Um campo ao lado do mar
Poucos caminhos abertos
Todos os olhos no aeroporto
Uns anos dourados
E um povo habituado a sentir saudade
Como me custa querer-te
Me custa perder-te
Me custa esquecer
O cheiro da terra molhada
A brisa do mar
Jorge Drexler pode estar de volta à cerimônia do Oscar em 2011. O uruguaio fez a trilha sonora do filme The City Of Your Final Destination, do norte-americano James Ivory, que deve estrear no circuito comercial nos próximos meses. Até lá serão seis anos desde que o desconhecido médico ganhou o prêmio. Será que os gênios da organização do Oscar já conhecem o otorrinolaringologista?
Novo disco
Na semana passada, Drexler lançou em Madri seu novo disco: Amar la Trama (veja vídeo da canção Me trajo hasta em http://www.jorgedrexler.com/). O novo trabalho foi gravado quase ao vivo. Em um estúdio e com a presença de alguns convidados, todos os instrumentos foram gravados ao mesmo tempo (normalmente se grava voz, guitarra, bateria, sopros, em separado, e depois eles são unidos) e a maquiagem por computador praticamente não existiu. Ouvi pouca coisa, mas parece bem interessante – como praticamente tudo o que o cara faz.
Enquanto não há mais vídeos com os sons do novo álbum, me despeço com Sea, parceria com Mercedes Sosa (só isso). Até a semana que vem
Ricardo Viel é jornalista e mantém a coluna Conexsom Latina neste Nota de Rodapé
domingo, 21 de março de 2010
Vencedores da Promoção Literária Nota de Rodapé e Izaías Almada
Os sorteados e confirmados são:
- Antônio Gilson Brighaghao, Ribeirão Preto, SPOs vencedores têm até terça-feira (23) para enviarem o nome e o endereço completo para promocao@notaderodape.com.br para validar a promoção Nota de Rodapé e Izaías Almada ofereçem 5 exemplares autografados do livro Teatro de Arena - Uma estética da resistência da Boitempo Editorial.
- Ana Beatriz Rodrigues, São Paulo, SP
- Marília Melhado, São Paulo, SP
- Damarci Olivi, Campo Grande, MS
- David José Carneiro de Santana, Vitória de Santo Antão, PE
sábado, 20 de março de 2010
Os últimos dias de Sandoval Herculano nas Terras do Taperebão
Amanhã tem o sorteio do livro do colunista do Nota de Rodapé Izaías Almada. Serão 5 exemplares autografados do autor.
Sandoval era comunista. Ou melhor, carregou o estigma pelo resto da sua vida. Na verdade nunca soube o que era isso. Apenas achava que quem trabalhava a terra de sol a sol, mais dia, menos dia, tinha que possuir um pedacinho de seu para cultivar. Costumava dizer isso ao pai e aos dois irmãos que iam com ele trabalhar lá para os lados do Taperebão. Foi nos anos em que um tal de Jango foi presidente do país, logo depois que sua mãe morreu. “Deus esqueceu o Taperebão”, costumava dizer. O diabo, nem conheceu.
Filho mais velho de Milagres e Tenório Mariano, Sandoval cresceu tangendo e marcando gado numas terras que ninguém sabia muito bem de quem eram, mas que um tal de Zaqueu Totonho cercou e mandou um grupo de vinte homens armados vigiar. Cem hectares ao todo. Outros diziam que as terras eram do governo. Sandoval tinha também uma irmã, a caçula Marieta. Era ela quem tomava conta da casa. Quando a mãe morreu, Marieta tinha onze anos de idade e ficou mulher naquele ano mesmo.
Foi tudo muito rápido.
As ideias foram chegando por entre o mato e foram se ajeitando pelas vendas, nas conversas de beira de estrada e na cabeça do pessoal. A terra tinha que ser dividida. Tal qual no pensamento de Sandoval. Era preciso organizar os homens que trabalhavam a terra. Formar um sindicato. Zaqueu Totonho reuniu seus capangas e seus trabalhadores e disse que quem estava espalhando aquelas ideias era um pessoal chamado de comunista e que tinha ligação com os políticos da capital. Gente aparentada com o demônio. Sandoval ouviu o falatório de Zaqueu Totonho e pensou discutir o assunto em casa na hora do jantar. Não pôde.
Naquela noite não teve jantar. Marieta tremia de febre e tinhas as roupas e as pernas ensangüentadas. Foi gente do Zaqueu, disse a menina. O pai de Sandoval foi chorar escondido junto a cisterna. Os outros dois irmãos deram banho na irmã, trocaram a sua roupa e rezaram para Nossa Senhora do Amparo. Sandoval jurou vingança. Três dias depois apareceu com Marieta no Taperebão, a cavalo. Cheiro de sangue. Sandoval era homem sem medo. Um dos capangas de Zaqueu tentou interferir e foi abatido com uma foiçada na testa. O verdadeiro culpado não teve tempo para correr. Um tiro na nuca e outro no pulmão esquerdo. Zaqueu Totonho soube de tudo e considerou que a honra da menina estava lavada. Deixou que o pai de Sandoval e os irmãos continuassem trabalhando para ele, mas espalhou a notícia de que os comunistas é que tinham criado aquela situação.
Sandoval e Marieta nunca mais foram vistos no Taperebão. Dizem que ela é professora primária no Estado de Tocantins. Sandoval foi ser motorista de taxi em Belo Horizonte e Zaqueu Totonho foi eleito deputado estadual e vice-governador de Minas Gerais.
Izaías Almada é escritor e dramaturgo e o conto acima foi tirado do livro MEMÓRIAS EMOTIVAS, Ed. Mania de Livro.
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quinta-feira, 18 de março de 2010
Guto Lacaz lança o livro omemhobjeto
Guto Lacaz lança o livro omemhobjeto pela Editora Decor Books. Lançamento em 24 de março, às 19h 30, no Museu da Casa Brasileira, Av. Faria Lima 2705. Guto Lacaz, 50, é paulistano e formou-se em arquitetura, em 1974, pela Faculdade de Arquitetura de São José dos Campos. Começou a vida profissional fazendo ilustrações para o Jornal da Tarde paulistano e editoras de livros. Ostenta dois prêmios Abril de Jornalismo em Ilustração. É artista independente e colaborador da Revista Caros Amigos. O site dele é bem bacana.
terça-feira, 16 de março de 2010
A molecagem que faltava nos campos de futebol
Há muito se discute sobre o fim do futebol arte. E sempre que uma equipe pragmática é campeã o futebol competitivo e de resultado é valorizado. Nós mesmos, aqui no Nota de Rodapé, já abordamos esse assunto e criamos teses diferentes sobre isso. A verdade é que todos os amantes do esporte (praticantes ou não) gostam de espetáculo, seja no futebol, no basquete, no vôlei, mas, sobretudo, gostam de vencer.
Quando o espetáculo é coroado com títulos, a felicidade é completa. Mas uma equipe que joga bonito é inversamente criticada quando sai de uma decisão derrotada. A imprevisibilidade do esporte é emocionante e surpreendente. Quantos times e seleções encantaram os olhos dos torcedores, mas ficaram marcadas pela falta de conquistas? E quantos campeões entraram para história por causa da garra e do espírito de luta que os levaram a superar o favoritismo do adversário?
Enfim, retomo o tema após mais uma exibição de gala do jovem time do Santos. Muitos podem desdenhar a goleada de 10 a 0 sobre o modestíssimo Naviraiense, do Mato Grosso do Sul, mas ninguém pode negar a qualidade técnica da equipe capitaneada por Robinho. Jogando com objetividade, SIM, os novos “Meninos da Vila” quebram tabus e provam, mais uma vez, que a arte e a molecagem fazem parte da nossa cultura. Os garotos do Dorival Jr. empolgam e o técnico faz bem em não deixar que eles se empolguem, como aconteceu em alguns momentos do clássico contra o Corinthians, na Vila, quando Neynar chapelou o zagueiro Chicão quando a bola estava parada, ou quando Madson ficou “penteando” a bola só para irritar o marcador.
O treinador, por sinal um dos melhores da nova geração, ao lado de Adilson Batista, do Cruzeiro, e Mano Menezes, do Corinthians, admitiu que houve excesso de preciosismo naquela partida e repreendeu seus atletas. “Se quiser chapelar, chapela, mas faz isso com bola rolando”, disse o treinador após a goleada contra o Naviraiense.
Dorival Júnior foi além e disse que não vai abrir mão do esquema ofensivo, mesmo correndo alguns riscos defensivos. Neymar e Paulo Henrique Ganso têm muita habilidade e visão de jogo, além da fome de gols, o que faltava a Robinho, quando este surgiu para o futebol, em 2002, pedalando contra os zagueiros. Os dois novos notáveis do Peixe já apresentam hoje características que o companheiro demorou a adquirir. Se eles forem bem orientados e não se iludirem com a fama repentina, poderão, em breve, brilhar também com a camisa amarela da seleção. Pena que o Dunga não dá sinais de mudar o grupo que não tem encantado a ninguém, mas conseguiu bons resultados sob seu comando. De qualquer maneira, os nomes de Neymar e Ganso estarão presentes no ciclo da Copa de 2014, aqui no Brasil. Viva a molecagem no futebol, mas se o Santos não for campeão...
Thiago Barbieri é jornalista; autor do livro sobre o Corinthians "23 anos em 7 segundos", editor do jornal Primeira Hora da Rádio Bandeirandes e colunista do Nota de Rodapé.
Quando o espetáculo é coroado com títulos, a felicidade é completa. Mas uma equipe que joga bonito é inversamente criticada quando sai de uma decisão derrotada. A imprevisibilidade do esporte é emocionante e surpreendente. Quantos times e seleções encantaram os olhos dos torcedores, mas ficaram marcadas pela falta de conquistas? E quantos campeões entraram para história por causa da garra e do espírito de luta que os levaram a superar o favoritismo do adversário?
Enfim, retomo o tema após mais uma exibição de gala do jovem time do Santos. Muitos podem desdenhar a goleada de 10 a 0 sobre o modestíssimo Naviraiense, do Mato Grosso do Sul, mas ninguém pode negar a qualidade técnica da equipe capitaneada por Robinho. Jogando com objetividade, SIM, os novos “Meninos da Vila” quebram tabus e provam, mais uma vez, que a arte e a molecagem fazem parte da nossa cultura. Os garotos do Dorival Jr. empolgam e o técnico faz bem em não deixar que eles se empolguem, como aconteceu em alguns momentos do clássico contra o Corinthians, na Vila, quando Neynar chapelou o zagueiro Chicão quando a bola estava parada, ou quando Madson ficou “penteando” a bola só para irritar o marcador.
O treinador, por sinal um dos melhores da nova geração, ao lado de Adilson Batista, do Cruzeiro, e Mano Menezes, do Corinthians, admitiu que houve excesso de preciosismo naquela partida e repreendeu seus atletas. “Se quiser chapelar, chapela, mas faz isso com bola rolando”, disse o treinador após a goleada contra o Naviraiense.
Dorival Júnior foi além e disse que não vai abrir mão do esquema ofensivo, mesmo correndo alguns riscos defensivos. Neymar e Paulo Henrique Ganso têm muita habilidade e visão de jogo, além da fome de gols, o que faltava a Robinho, quando este surgiu para o futebol, em 2002, pedalando contra os zagueiros. Os dois novos notáveis do Peixe já apresentam hoje características que o companheiro demorou a adquirir. Se eles forem bem orientados e não se iludirem com a fama repentina, poderão, em breve, brilhar também com a camisa amarela da seleção. Pena que o Dunga não dá sinais de mudar o grupo que não tem encantado a ninguém, mas conseguiu bons resultados sob seu comando. De qualquer maneira, os nomes de Neymar e Ganso estarão presentes no ciclo da Copa de 2014, aqui no Brasil. Viva a molecagem no futebol, mas se o Santos não for campeão...
Thiago Barbieri é jornalista; autor do livro sobre o Corinthians "23 anos em 7 segundos", editor do jornal Primeira Hora da Rádio Bandeirandes e colunista do Nota de Rodapé.
segunda-feira, 15 de março de 2010
Tacvba, a trilha sonora dos mexicanos, transformando o mundo num enorme salão
Diretamente do México, uma grande figura chamada Luis Miguel ‘Ouicho’ López nos embriagada de Café Tacvba. Só faltou a tequila, aproveitem...
Senti pela primeira vez a estranha sensação de só poder se movimentar para onde a multidão, inspirada e instigada pela música, decide se sacudir.
Foi em junho de 2005, no Zócalo [praça no centro da cidade], no D.F., México, e a vertigem que senti foi causada pelo Café Tacvba. As linhas do metrô próxima ao centro histórico haviam sido fechadas. Ainda que seja batida a analogia, eram rios de gente caminhando, convocados por quatro músicos que pareciam tocar sempre pelo simples prazer de aproveitar. Eu, ela e mais 175 mil pessoas tomamos aquela praça de assalto, e aproveitamos.
Nascem 21 anos atrás, na Cidade Satélite, um bairro mauricinho ao norte do D.F., e seu nome vem de um restaurante do centro da Cidade do México que era frequentado por alguns dos integrantes da banda – um deles, o vocalista, tem o estranho habito de mudar de nome a cada disco: já foi Juan, Pinche Juan, Cosme, Gallo, Gasss, Buendía, Sizu Yantra, entre outros – atualmente é Cone Cahuitl.
A banda não têm postura política, mas sai em defesa dos povos indígenas, dos movimentos para a preservação do ambiente; se apropriam da cidade, resgatam o mais antigo e descobrem o mais moderno dos nossos sons. Cafeta é escutado pelos mauricinhos e os manos. E melhor de tudo: cantam, dançam, choram e desfrutam igual.
Rubén Albarrán (voz), Enrique Rangel (baixo), Emmanuel Del Real (teclado) e Joselo Rangel (guitarra) geraram, nessas mais de duas décadas de vida em conjunto, além da música mais versátil e original das últimas décadas no México, as lembranças mais intensas para toda uma geração que necessitava, urgentemente, musicalizar suas vidas com uma trilha sonora em ‘mexicano’.
Já foram até chamados dos ‘Beatles latinos’. São capazes de fazer uma música das que a milionária indústria fonográfica exige, como ‘Eres’;
Estourar de sucesso com uma popular canção de um dominicano ‘Ojalá que llueva’;
Fazer com que em um show a imbecil máscara de uma galinha se prolifere, e popularizar uma dança estranha (com a canção Los Tres);
Por aqui, são poucos os que, na casa dos 30 anos para baixo, não têm pelo menos uma lembrança de algumas das rolas (canções na gíria do México) do Cafeta. Conto para vocês algumas minhas:
Dancei com Mariana ‘Las Batalhas’ uma incontável quantidade de vezes. Foi o tema musical da mais bonita novela mexicana, escrita pelo único menino-velho do país, José Emilio Pacheco. Resgataram e homenagearam o ‘ch’ [som presente em muitas palavras que se fala no México, muitas delas proveniente de idiomas falados antes da chegada dos espanhóis] de Jaime López - um roqueiro sessentão – e mostraram ao mundo o colorido que há no México até para falar.
Penso em um antigo amor chilango [proveniente da Cidade do México] cada vez que escuto ‘Avientame’ que me traz à memória as imagens de Amores Brutos, de Guillermo Arriaga (roteirista) e Alejando Iñarritu (diretor), revelação narrativa do cinema deste país.
Café Tacvba mostra o agridoce da cultura mexicana – ‘Ingrata, não me diga que você me quer. Ao cantarolar ‘Paparupapa euuuu eoooo fizeram da minha vida e da de milhões de mexicanos, como a própria canção pede, ‘um grande baile’ e transformaram o mundo em um ‘enorme salão’.
**
Gritavam: ‘tem gente machucada’, e a maré de gente abria um espaço. Depois, como açúcar que enche um recipiente, voltavam a ficar totalmente completa de corpos. Eram 175 mil humanos em um espaço de 46 mil metros quadrados. Ela queria chegar até a bandeira. Era impossível. Desistimos e, de repente, no meio de um mar apimentado de pessoas nós nos dedicamos ao proibido prazer de aproveitar, com Café Tacvba ao fundo. Para fechar, uma parceria com Incubus, banda muito boa da Califórnia. Até semana que vem!
Luis Miguel López é jornalista no México e escreve especialmente para a Coluna Conexsom Latina do jornalista Ricardo Viel.
Senti pela primeira vez a estranha sensação de só poder se movimentar para onde a multidão, inspirada e instigada pela música, decide se sacudir.
Foi em junho de 2005, no Zócalo [praça no centro da cidade], no D.F., México, e a vertigem que senti foi causada pelo Café Tacvba. As linhas do metrô próxima ao centro histórico haviam sido fechadas. Ainda que seja batida a analogia, eram rios de gente caminhando, convocados por quatro músicos que pareciam tocar sempre pelo simples prazer de aproveitar. Eu, ela e mais 175 mil pessoas tomamos aquela praça de assalto, e aproveitamos.
Nascem 21 anos atrás, na Cidade Satélite, um bairro mauricinho ao norte do D.F., e seu nome vem de um restaurante do centro da Cidade do México que era frequentado por alguns dos integrantes da banda – um deles, o vocalista, tem o estranho habito de mudar de nome a cada disco: já foi Juan, Pinche Juan, Cosme, Gallo, Gasss, Buendía, Sizu Yantra, entre outros – atualmente é Cone Cahuitl.
A banda não têm postura política, mas sai em defesa dos povos indígenas, dos movimentos para a preservação do ambiente; se apropriam da cidade, resgatam o mais antigo e descobrem o mais moderno dos nossos sons. Cafeta é escutado pelos mauricinhos e os manos. E melhor de tudo: cantam, dançam, choram e desfrutam igual.
Rubén Albarrán (voz), Enrique Rangel (baixo), Emmanuel Del Real (teclado) e Joselo Rangel (guitarra) geraram, nessas mais de duas décadas de vida em conjunto, além da música mais versátil e original das últimas décadas no México, as lembranças mais intensas para toda uma geração que necessitava, urgentemente, musicalizar suas vidas com uma trilha sonora em ‘mexicano’.
Já foram até chamados dos ‘Beatles latinos’. São capazes de fazer uma música das que a milionária indústria fonográfica exige, como ‘Eres’;
Estourar de sucesso com uma popular canção de um dominicano ‘Ojalá que llueva’;
Fazer com que em um show a imbecil máscara de uma galinha se prolifere, e popularizar uma dança estranha (com a canção Los Tres);
Por aqui, são poucos os que, na casa dos 30 anos para baixo, não têm pelo menos uma lembrança de algumas das rolas (canções na gíria do México) do Cafeta. Conto para vocês algumas minhas:
Dancei com Mariana ‘Las Batalhas’ uma incontável quantidade de vezes. Foi o tema musical da mais bonita novela mexicana, escrita pelo único menino-velho do país, José Emilio Pacheco. Resgataram e homenagearam o ‘ch’ [som presente em muitas palavras que se fala no México, muitas delas proveniente de idiomas falados antes da chegada dos espanhóis] de Jaime López - um roqueiro sessentão – e mostraram ao mundo o colorido que há no México até para falar.
Penso em um antigo amor chilango [proveniente da Cidade do México] cada vez que escuto ‘Avientame’ que me traz à memória as imagens de Amores Brutos, de Guillermo Arriaga (roteirista) e Alejando Iñarritu (diretor), revelação narrativa do cinema deste país.
Café Tacvba mostra o agridoce da cultura mexicana – ‘Ingrata, não me diga que você me quer. Ao cantarolar ‘Paparupapa euuuu eoooo fizeram da minha vida e da de milhões de mexicanos, como a própria canção pede, ‘um grande baile’ e transformaram o mundo em um ‘enorme salão’.
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Gritavam: ‘tem gente machucada’, e a maré de gente abria um espaço. Depois, como açúcar que enche um recipiente, voltavam a ficar totalmente completa de corpos. Eram 175 mil humanos em um espaço de 46 mil metros quadrados. Ela queria chegar até a bandeira. Era impossível. Desistimos e, de repente, no meio de um mar apimentado de pessoas nós nos dedicamos ao proibido prazer de aproveitar, com Café Tacvba ao fundo. Para fechar, uma parceria com Incubus, banda muito boa da Califórnia. Até semana que vem!
Luis Miguel López é jornalista no México e escreve especialmente para a Coluna Conexsom Latina do jornalista Ricardo Viel.
sábado, 13 de março de 2010
1924: O diário da revolução – Os 23 dias que abalaram São Paulo
A Imprensa Oficial do Estado de São Paulo vai lançar no próximo dia 27 de março, entre as 12 e as 14 horas, na Pinacoteca do Estado, um pequeno livro sobre a chamada “revolução de 24”, integrante do ciclo das rebeliões “tenentistas”. O livro é de autoria do amigo Duarte Pacheco Pereira que já nos honrou com textos neste Nota de Rodapé. Eis trecho da apresentação do professor Hubert Alquéres, diretor-presidente da Imprensa Oficial: "A maioria dos paulistanos não faz ideia dos combates sangrentos que foram travados nas ruas, praças e prédios de sua cidade em julho de 1924. Inconformados com os desmandos e a corrupção da primeira república brasileira, dominada por oligarquias estaduais, jovens oficiais, comandados pelo general Isidoro Dias Lopes, tentaram tomar a capital paulista para utilizá-la como base para atacar o Rio de Janeiro, destituir o presidente Artur Bernardes e implantar um conjunto de reformas democráticas e moralizadoras (...)" Vale conferir, pela história e pelo texto de Duarte que é muito bom. Sem contar o passeio na Pinacoteca.
Referências:
Livro: 1924: O diário da revolução – Os 23 dias que abalaram São Paulo
Autor: Duarte Pacheco Pereira
Editora: edição conjunta da Imprensa Oficial e da Fundação Saneamento e Energia, com ilustrações e apresentações do professor Hubert Alquéres e do historiador Ricardo Maranhão.
Referências:
Livro: 1924: O diário da revolução – Os 23 dias que abalaram São Paulo
Autor: Duarte Pacheco Pereira
Editora: edição conjunta da Imprensa Oficial e da Fundação Saneamento e Energia, com ilustrações e apresentações do professor Hubert Alquéres e do historiador Ricardo Maranhão.
Le Monde Diplomatique Brasil lança novo site na segunda-feira
Recebi um e-mail informando que dia 15 de março o Le Monde Diplomatique Brasil vai lançar um novo site. Compartilho com vocês a informação e o convite.
AudioPé # 5 de Jeremias Morcegão trata de Lula x Serra
sexta-feira, 12 de março de 2010
CNN teme concorrência das redes sociais
A transição do impresso para o digital e a busca por um modelo perfeito de negócio que atenda a essas mudanças ainda são incógnitas. Não há um modelo fechado e definitivo, e as apostas e especulações vez ou outra vem à tona. Outro ponto ainda indefinido do jonalismo on-line são as redes sociais, que podem ser uma das soluções para maior audiência e lucratividade nos sites de notícias. O que fazer com elas? Como trabalhar com as redes sociais?
De acordo com nota publicada nesta quinta-feira (11) pelo portal português Agência Financeira, "a CNN está mais preocupada com a concorrência das redes sociais, como o Facebook, o Twitter ou o hi5, do que das outras estações de televisão". O presidente da CNN, Jon Klein, durante conferência sobre o futuro dos meios de comunicação social em Nova Iorque, disparou ainda: "a concorrência de que tenho verdadeiramente medo é a das redes sociais".
Recentemente, o The Guardian demonstrou preocupação com a mesma questão. Disse o diretor Alan Rusbridger: "(...) mas também a necessidade do jornalismo contar com o público, de transformar os meios e os jornalistas em redes sociais informativas onde desde a primeira informação até a distribuição, passando pelo marketing, incorporem o comportamento das redes. Se os modelos de negócios responderem a estes desafios, encontrarão mais pistas para decidir quais são os métodos e canais de entradas e rentabilidade mais adequados para cada meio. Em função do seu conteúdo, objetivos, público e organização.
Tanto para a CNN quanto para o The Guardian, o caminho é uma aproximação total com as redes sociais - um "enlace", usando o termo em espanhol. "As pessoas que são vossas amigas no Facebook ou aquelas que vocês seguem no Twitter são fontes de informação de confiança. Clicamos nas ligações que nos enviam e temos confiança nelas", disse Jon Klein. Mas ainda não ficou claro, ao menos para mim, como se dará essa aproximação dos veículos com as redes sociais, necessária, obrigatória e urgente.
Em tempo, segundo um estudo da Semiocast, o português é o idioma mais falado no Twitter, atrás apenas dos idiomas inglês e japonês.
Paulo Rodrigo Ranieri é jornalista e colunista do Nota de Rodapé onde mantém o espaço Do Analógico ao Digital
De acordo com nota publicada nesta quinta-feira (11) pelo portal português Agência Financeira, "a CNN está mais preocupada com a concorrência das redes sociais, como o Facebook, o Twitter ou o hi5, do que das outras estações de televisão". O presidente da CNN, Jon Klein, durante conferência sobre o futuro dos meios de comunicação social em Nova Iorque, disparou ainda: "a concorrência de que tenho verdadeiramente medo é a das redes sociais".
Recentemente, o The Guardian demonstrou preocupação com a mesma questão. Disse o diretor Alan Rusbridger: "(...) mas também a necessidade do jornalismo contar com o público, de transformar os meios e os jornalistas em redes sociais informativas onde desde a primeira informação até a distribuição, passando pelo marketing, incorporem o comportamento das redes. Se os modelos de negócios responderem a estes desafios, encontrarão mais pistas para decidir quais são os métodos e canais de entradas e rentabilidade mais adequados para cada meio. Em função do seu conteúdo, objetivos, público e organização.
Tanto para a CNN quanto para o The Guardian, o caminho é uma aproximação total com as redes sociais - um "enlace", usando o termo em espanhol. "As pessoas que são vossas amigas no Facebook ou aquelas que vocês seguem no Twitter são fontes de informação de confiança. Clicamos nas ligações que nos enviam e temos confiança nelas", disse Jon Klein. Mas ainda não ficou claro, ao menos para mim, como se dará essa aproximação dos veículos com as redes sociais, necessária, obrigatória e urgente.
Em tempo, segundo um estudo da Semiocast, o português é o idioma mais falado no Twitter, atrás apenas dos idiomas inglês e japonês.
Paulo Rodrigo Ranieri é jornalista e colunista do Nota de Rodapé onde mantém o espaço Do Analógico ao Digital
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Filme vencedor transforma os assassinos que dizimam culturas em heróis-santos
Reproduzo critica de Luiz Bolognesi publicada no Estadão durante esta semana "E ganhou a máquina de guerra". Bolognesi fala sobre o Oscar e seus vitoriosos de um ponto de vista muito interessante.
Ao contrário do que parece à primeira vista, a polarização entre Avatar e Guerra ao Terror não traduz uma disputa entre cinema industrial e cinema independente, nem batalha entre homem e mulher. O que estava em jogo e continua é o confronto entre um filme contra a máquina de guerra e a economia que a alimenta e outro absolutamente a favor, com estratégias subliminares a serviço da velha apologia à cavalaria.
Avatar foi acusado nos Estados Unidos de ser propaganda de esquerda. E é. Por isso é interessante. No filme, repleto de clichês, os vilões são o general, o exército americano e as companhias exploradoras de minério do subsolo. Os heróis são o "povo da floresta". A certa altura, eles reúnem todos os ''clãs'' para enfrentar o invasor americano. Clãs? Invasor americano? Que passa? É difícil entender como a indústria de Hollywood conseguiu produzir um filme tão na contramão dos interesses do país e transformá-lo no filme mais visto na história do cinema. Esse fato derruba qualquer teoria conspiratória, derruba décadas de pensamento de esquerda segundo a qual a indústria de Hollywood está sempre a serviço da ideologia do fast-food e da economia que avança com mísseis, aviões e tanques. Como explicar esse fenômeno tão contraditório?
Brechas, lacunas na história. Ou como diria Foucault, a história é feita de acasos e não de uma continuidade lógica cartesiana. A necessidade do grande lucro, da grande bilheteria mundial produziu uma antítese sem precedentes chamada James Cameron. O homem de Titanic tinha carta branca. Pelas regras da cultura do "ao vencedor, as batatas", Cameron podia tudo porque era capaz de fazer explodir as bilheterias mundiais.
Mas calma lá, cara pálida, uma incoerência desse tamanho, você acredita que passaria despercebida? O general americano, vilão? As companhias americanas que extraem minério debaixo das florestas tratadas como o império das sombras? Alto lá. Devagar com o andor, mister Cameron.
Aí, alguém chegou correndo com um DVD na mão. Vocês viram esse filme da ex-mulher do Cameron? Não, ninguém viu? Então vejam. É sensacional. Ao contrário de Avatar, nesse DVD aqui o soldado americano é o herói. Aliás, mais que herói, ele é um santo que arrisca sua própria vida para salvar iraquianos inocentes. Jura? Temos esse filme aí? Sim, o pitbull americano é humanizado e glamourizado, mais que isso, ele é santificado.
Então há tempo.
Guerra ao Terror estreou no Festival de Veneza há dois anos. Por acaso eu estava lá como roteirista de Terra Vermelha, do diretor italiano Marco Bechis, e fui testemunha ocular da história. O filme da diretora Kathryn Bigelow foi absolutamente desprezado pelos jornalistas e pelo público. E seguiu assim. Indo direto ao DVD, em muitos países, sem passar pelas salas de cinema. Até ser resgatado pela indústria americana como um trunfo necessário para contestar Avatar e reverenciar a máquina de guerra e o sacrifício de tantos jovens americanos mortos e decepados em campo de batalha.
Trabalhando num projeto para o mesmo diretor italiano, que pretendia fazer um filme sobre os viciados em guerra no Iraque, eu pesquisei o assunto durante alguns meses. Tudo muito parecido com o filme de Bigelow, exceto por um detalhe. O detalhe é que os soldados americanos que se tornam dependentes da adrenalina da guerra tornam-se assassinos compulsórios e não salvadores de vidas. O sintoma dos viciados em guerra é atirar em qualquer coisa que se mexa, tratar a realidade como videogame e lidar com armas e balas de verdade como um brinquedo erótico. Se Guerra ao Terror representasse nas telas essa dimensão da realidade, seria um filme sensacional, mas não teria levado o Oscar, podem apostar.
Guerra ao Terror venceu o Oscar porque, como nos filmes de forte apache, transforma os assassinos que dizimam outras culturas em heróis santificados. A cena extremamente longa e minimalista em que os jovens soldados americanos em situação desprivilegiada combatem no deserto os iraquianos é o que, se não uma cena clássica de caubóis cercados por apaches? Sem nenhuma surpresa para filmes desse gênero, os garotos americanos vencem, matam os iraquianos sem rosto, como os caubóis faziam com os apaches no velho-oeste. A cena do garoto iraquiano morto, com uma bomba colocada dentro do corpo por impiedosos iraquianos, que literalmente matam criancinhas, tem a sutileza de um elefante numa loja de cristais. Propaganda baratíssima da máquina de guerra.
No filme de Cameron, os na"vi azuis podem ser os apaches que derrotam o general e expulsam a cavalaria americana. Mas isso é apenas uma ficção. Na vida real do Oscar, a cavalaria precisa continuar massacrando os apaches.
Luiz Bolognesi é roteirista de filmes como Bicho de Sete Cabeças e Chega de Saudade
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quinta-feira, 11 de março de 2010
Em 16 de março se comemora o Dia Mundial do Teatro do Oprimido
Desde 2008, no dia 16 de março, centenas de grupos em mais de 70 países dos cinco continentes comemoram o Dia Mundial do Teatro do Oprimido. No Largo da Lapa, Rio de Janeiro, o Centro de Teatro do Oprimido - CTO realiza nesta data, das 10 até às 22h, no casarão verde e amarelo da Av. Mem de Sá 31, que abriga a instituição, uma programação de atividades artísticas: peças teatrais, shows musicais, poesias, performances, exibição de vídeos, a instalação O Ser Humano no Lixo, exposição de pinturas, exposição de parte do acervo do Instituto Augusto Boal, além da homenagem Viva Boal que vai celebrar os 79 anos que neste dia completaria o criador do Teatro do Oprimido. Saiba mais.
SERVIÇO
Evento: Dia Mundial do Teatro do Oprimido
Data: 16 de março
Horário: 10 às 22 horas
Local: Centro de Teatro do Oprimido. Av. Mem de Sá 31, Lapa
Informações: (21) 2232-5826 e 2215-0503
Classificação indicativa: LIVRE
Ingressos: GRÁTIS
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Evento: Dia Mundial do Teatro do Oprimido
Data: 16 de março
Horário: 10 às 22 horas
Local: Centro de Teatro do Oprimido. Av. Mem de Sá 31, Lapa
Informações: (21) 2232-5826 e 2215-0503
Classificação indicativa: LIVRE
Ingressos: GRÁTIS
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quarta-feira, 10 de março de 2010
Assistam ao filme, e se ele não for bom, nunca mais voltem aqui
O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de Sus Ojos, 2009), do diretor Juan José Campanella, é o tipo de filme que mereçe radicalizar a premiação do Oscar. Em vez de levar a estatueta como melhor produção estrangeira, como ocorreu no último domingo, fosse eu capaz de subverter a ordem, daria a estatueta de melhor filme não estrangeiro. Tipo, sai pra lá "Guerra ao Terror" e chega mais a brilhante produção dos hermanos argentinos. O filme me pegou, foi foda.
E tem mais, Ricardo Darín é o cara. E detona, arrepia, faz um golaço ao interpretar Benjamín Espósito, um ex-funcionário público que resolve escrever um livro quando se aposenta. O roteiro da história, a fotografia, os diálogos, as sacadas de humor, a história política do país, o drama, tudo é concatenado e amarrado. Brilhante! O tema que Esposíto escolhe para o seu livro é o caso criminal que mais marcou a sua carreira no Tribunal Penal de Buenos Aires. O caso "Morales" o faz repensar as decisões tomadas no passado (corria 1974), quando o homícidio do qual ele queria se livrar de investigar - numa típica preguica de trabalho do funcionalismo público - se transforma, ao se deparar com a mulher, uma jovem estuprada e assassinada, na motivação e fio condutor das ações de sua vida. Aquela cena o toca. É o play de seu personagem dai em diante. E é nessa busca do criminoso que destroçou por consequência um homem apaixonado (Morales) que os personagens que o rodeiam - Irene Menéndes Hastings (linda e talentosa atriz Soledad Villamil), sua chefe na repartição e o fiel companheiro de trabalho, Pablo Sandoval (Guillermo Francella) -, tomam de assalto as cenas e dividem com igual competência e talento o enredo sequencial da vida de Espósito.
Importante: o crime se passa na época do governo de Isabel Perón e das ações constantes da Aliança Anticomunista Argentina, grupo de repressão do Estado que recrutou os piores seres humanos, de oficiais de polícia exonerados por delitos a civis com fichas criminais e matadores de aluguel. Outra coisa: o filme é Baseado no livro La pregunta de sus ojos (A pergunta dos seus olhos), de Eduardo Sacheri e já é o filme nacional de maior arrecadação na Argentina e o mais visto dos últimos 35 anos naquelas bandas.
Cá entre nós, como estou longe de ser um crítico competente, vou pular as partes mais picantes. Faz assim, corre para o cinema assistir que você não vai se arrepender. Arrisco uma Malufada. "Assistam ao filme, e se ele não for bom, nunca mais voltem aqui".
Thiago Domenici é só jornalista, não é especialista em cinema e não tem mestrado e nem doutorado em algum tema "relevante" pra sociedade
E tem mais, Ricardo Darín é o cara. E detona, arrepia, faz um golaço ao interpretar Benjamín Espósito, um ex-funcionário público que resolve escrever um livro quando se aposenta. O roteiro da história, a fotografia, os diálogos, as sacadas de humor, a história política do país, o drama, tudo é concatenado e amarrado. Brilhante! O tema que Esposíto escolhe para o seu livro é o caso criminal que mais marcou a sua carreira no Tribunal Penal de Buenos Aires. O caso "Morales" o faz repensar as decisões tomadas no passado (corria 1974), quando o homícidio do qual ele queria se livrar de investigar - numa típica preguica de trabalho do funcionalismo público - se transforma, ao se deparar com a mulher, uma jovem estuprada e assassinada, na motivação e fio condutor das ações de sua vida. Aquela cena o toca. É o play de seu personagem dai em diante. E é nessa busca do criminoso que destroçou por consequência um homem apaixonado (Morales) que os personagens que o rodeiam - Irene Menéndes Hastings (linda e talentosa atriz Soledad Villamil), sua chefe na repartição e o fiel companheiro de trabalho, Pablo Sandoval (Guillermo Francella) -, tomam de assalto as cenas e dividem com igual competência e talento o enredo sequencial da vida de Espósito.
Importante: o crime se passa na época do governo de Isabel Perón e das ações constantes da Aliança Anticomunista Argentina, grupo de repressão do Estado que recrutou os piores seres humanos, de oficiais de polícia exonerados por delitos a civis com fichas criminais e matadores de aluguel. Outra coisa: o filme é Baseado no livro La pregunta de sus ojos (A pergunta dos seus olhos), de Eduardo Sacheri e já é o filme nacional de maior arrecadação na Argentina e o mais visto dos últimos 35 anos naquelas bandas.
Cá entre nós, como estou longe de ser um crítico competente, vou pular as partes mais picantes. Faz assim, corre para o cinema assistir que você não vai se arrepender. Arrisco uma Malufada. "Assistam ao filme, e se ele não for bom, nunca mais voltem aqui".
Thiago Domenici é só jornalista, não é especialista em cinema e não tem mestrado e nem doutorado em algum tema "relevante" pra sociedade
Quem nos incutiu a ideia de que trabalhar é bom?
A piada condena o trabalho. Diz que o melhor dia da semana é a segunda-feira, porque é o mais distante da outra segunda. As pessoas queixam-se que se matam de trabalhar. O mês mais esperado do ano é o mês de férias. Os gregos consideravam o trabalho um castigo dos deuses do Olimpo. Afinal, quem nos incutiu a ideia de que trabalhar é bom?
O assunto foi tema de uma interessante reportagem do jornal londrino “The Observer”. A publicação mostrou que foi a Idade Contemporânea que tirou do trabalho o peso de uma maldição e fez acreditar que o emprego era um caminho para a felicidade. A partir do século 18, a Revolução Industrial e os teóricos que ela inspirou transformaram o trabalho em algo indispensável para a satisfação humana.
Com as fábricas funcionando a todo vapor, as pessoas passaram a ser incentivadas a consumir bens que elas não necessitavam, de forma a manter o bom funcionamento do sistema e fazer girar a economia. Surgiu a sociedade do consumo, que possibilitava aos operários comprarem o que fabricavam. Destacavam-se as ideias do economista escocês e pai do liberalismo econômico, Adam Smith, que dizia serem os trabalhadores a riqueza das nações.
Mas, com o passar dos séculos, o sistema financeiro deixou de ser baseado na riqueza física para ser equilibrado em uma corda bamba, ao sabor das especulações nas bolsas de valores. Segundo o “The Observer” agora a riqueza vem de “números que surgem no ar e têm tendência, como demonstram os acontecimentos recentes, a desaparecer de novo”.
Se a riqueza das nações não vem mais dos trabalhadores, este é, então, o fim da era do trabalho. Quem foi demitido já sofre as consequências da mudança de paradigmas. Portanto, pouco mais de 150 anos após o auge da Revolução Industrial, o que sobrou daquele furacão sociológico foi um mundo viciado em consumo e controlado pelas modas, que batalha por um emprego em um mercado escasso.
Disse Karl Marx que o capitalismo é autofágico, ou seja, vai se autodestruir. Se as previsões dele forem corretas, o processo já começou e, infelizmente, a tendência é que as coisas piorem. Se o mundo não inventar um novo sistema, diferente de todos os que já existiram, é possível que em alguns séculos muita gente esteja vivendo como na Idade Média, à base de escambo.
Sergio Denicoli é jornalista e pesquisador de mídias digitais na Universidade do Minho, em Portugal. Mantém a coluna Território Europa neste Nota de Rodapé
O assunto foi tema de uma interessante reportagem do jornal londrino “The Observer”. A publicação mostrou que foi a Idade Contemporânea que tirou do trabalho o peso de uma maldição e fez acreditar que o emprego era um caminho para a felicidade. A partir do século 18, a Revolução Industrial e os teóricos que ela inspirou transformaram o trabalho em algo indispensável para a satisfação humana.
Com as fábricas funcionando a todo vapor, as pessoas passaram a ser incentivadas a consumir bens que elas não necessitavam, de forma a manter o bom funcionamento do sistema e fazer girar a economia. Surgiu a sociedade do consumo, que possibilitava aos operários comprarem o que fabricavam. Destacavam-se as ideias do economista escocês e pai do liberalismo econômico, Adam Smith, que dizia serem os trabalhadores a riqueza das nações.
Mas, com o passar dos séculos, o sistema financeiro deixou de ser baseado na riqueza física para ser equilibrado em uma corda bamba, ao sabor das especulações nas bolsas de valores. Segundo o “The Observer” agora a riqueza vem de “números que surgem no ar e têm tendência, como demonstram os acontecimentos recentes, a desaparecer de novo”.
Se a riqueza das nações não vem mais dos trabalhadores, este é, então, o fim da era do trabalho. Quem foi demitido já sofre as consequências da mudança de paradigmas. Portanto, pouco mais de 150 anos após o auge da Revolução Industrial, o que sobrou daquele furacão sociológico foi um mundo viciado em consumo e controlado pelas modas, que batalha por um emprego em um mercado escasso.
Disse Karl Marx que o capitalismo é autofágico, ou seja, vai se autodestruir. Se as previsões dele forem corretas, o processo já começou e, infelizmente, a tendência é que as coisas piorem. Se o mundo não inventar um novo sistema, diferente de todos os que já existiram, é possível que em alguns séculos muita gente esteja vivendo como na Idade Média, à base de escambo.
Sergio Denicoli é jornalista e pesquisador de mídias digitais na Universidade do Minho, em Portugal. Mantém a coluna Território Europa neste Nota de Rodapé
terça-feira, 9 de março de 2010
Comercial sobre cinto de segurança é exemplo para nossos tupiniquins da criação
Existem formas muito criativas, sensíveis e menos apelativas de causar impacto no telespectador de tevê ou de internet através de comerciais. É o caso, por exemplo, desse vídeo produzido pelo Sussex Sager Roads Website do condado de Sussex, Inglaterra, sobre segurança em rodovias intitulado Embrace Life - Always Wear Your Seat Belt ("Abraçe a vida - use sempre o cinto de segurança" - numa tradução não tão fiel).
Paes de Lira e a pensão alimentícia devida pelo amante
- Você vai pagar muito caro por esta traição! -
Esta frase nunca fez tanto sentido como desde o dia em que o Deputado Federal Paes de Lira (PTC-SP) apresentou o seu polêmico projeto de lei junto à Câmara dos Deputados.
Já chamado nos bastidores da Câmara de “PL dos Cornos”, o projeto obriga terceiros responsáveis pela separação de um casal a pagar pensão alimentícia à parte que necessitar do auxílio. Segundo o próprio texto do projeto, o terceiro pagará pensão ao cônjuge infiel quando este não tiver condições financeiras de se sustentar e, também, tiver aberto mão da pensão do ex-conjuge em virtude de ser o culpado pelo fim do casamento (cônjuge traidor).
Suplente do polêmico e falecido Deputado Clodovil Hernandes (PR – SP), Paes de Lira, que também é coronel da Polícia Militar, afirma que a razão de seu projeto de Lei é a preservação das famílias. Também, segundo o deputado, tal Lei se torna necessária pois, com a descriminalização do adultério, "terceiros aventuram-se despreocupadamente a se imiscuir em comunhões de vidas alheias, concorrendo impunemente para desgraçar lares e desestruturar famílias, sem qualquer obrigação legal.”
Definitivamente revogado pela Lei nº. 11.106/05, o crime de adultério estava em desuso por longos anos no direito penal brasileiro, pois de difícil comprovação, já que se caracterizava pela consumação do ato sexual. Ou seja, somente era possível a punição no caso de adultério se o réu fosse “confesso" ou se fosse possível provar a realização do ato sexual (era necessário o flagrante pela autoridade policial ou uma filmagem).
Ao analisar o projeto de Lei o deputado Paes de Lira, “motivado sabe-se lá por que”, buscou instituir ferramenta de coação à prática do adultério. Só que a forma é inadequada. Explico:
As leis da prestação alimentícia (pensão) surgem de uma relação jurídica reconhecida. Assim, a legislação brasileira entende que os parentes (inclui-se os ex-cônjuges e ex-companheiros) podem exigir uns dos outros os alimentos de que necessitem para subsistir. Basta algum grau de parentesco ou de relação marital para que se estabeleça, entre os envolvidos, a possibilidade de surgimento da relação de devedor/credor de pensão alimentícia entre eles.
Assim, é devida pensão alimentícia quando a parte não tem bens e nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria subsistência, e, mais importante, a obrigação de “prestar alimentos” está ligada ao dever moral de assistência e solidariedade entre pessoas que se originam do mesmo tronco familiar.
No entanto, instituir o dever a alguém fora do tronco familiar a obrigação de pagar pensão ao cônjuge necessitado é, em última instância, extrapolar os limites conceituais do instituto da pensão alimentícia.
Uma vez que no casamento os cônjuges se obrigam à fidelidade recíproca, na hipótese de descumprimento de tal obrigação é ele - o infiel - responsável perante a sociedade conjugal. Assim, se o cônjuge adúltero concorreu para o adultério, não é cabível a transferência da obrigação ao terceiro (amante) se eximindo das consequências.
Quem está na chuva...
O que se busca com a crítica ao projeto de Lei não é a convalidação da prática do adultério. Ao meu ver, esta questão está intimamente ligada à uma discussão ética, a um julgamento moral, que, se for de interesse e consenso da sociedade deve sim ser alvo da proteção jurídica. Ainda mais se o bem jurídico a ser protegido é a instituição familiar, que é de suma importância para a manutenção da ordem social.
Observa-se no Poder Judiciário algumas discussões em que há a busca pela responsabilização do 3º à reparação ao dano moral supostamente causado ao cônjuge traído, mas, para tanto, a ferramenta utilizada é o instituto da Responsabilidade Civil. O Código Civil de 2002 determinou a obrigação à reparação do dano. “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.” (Artigo 927).
Também, o entendimento acerca do instituto jurídico da Responsabilidade Civil (dever de indenizar), vejamos a definição: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” (Artigo 186).
Portanto, se uma ação gera um dano, ainda que exclusivamente moral, o autor desta ação é obrigado a reparar o prejudicado através do pagamento de indenização.
Neste diapasão, o Poder Judiciário aplicou tal instituto (Responsabilidade Civil) à prática do adultério. Em primeira e segunda instância, havia várias decisões favoráveis ao cônjuge traído, no sentido de que o amante teria concorrido para o fim da sociedade matrimonial e que, portanto, seria obrigado a indenizar pelos danos morais causados.
Ocorre que, recentemente, tal entendimento foi modificado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em seu voto, o relator ministro Luís Felipe Salomão, da quarta turma do STJ, entendeu que não há como o Poder Judiciário impor o não fazer ao amante e entendeu que não haveria como indenizar a traição por inexistência de norma legal. Em outras palavras, entendeu o ministro que o adultério não seria um ato ilícito cometido pelo terceiro, o qual em nada concorreria e nenhuma obrigação teria para com a relação matrimonial desfeita. No caso, se houvesse algum culpado, este seria o cônjuge adúltero.
Enfim, resta agora aguardar o projeto ser colocado em votação e, se aprovado, é certo que desta Lei decorrerão inúmeras ações judiciais contestando-a, por ser claramente inadequada ao nosso ordenamento jurídico.
Guilherme Ablas, advogado tributarista, jornalista e sócio do escritório Lins e Silva, Braghette, Bueno & Ablas. Mande suas perguntas e dúvidas para rodapejuridico@notaderodape.com.br
Esta frase nunca fez tanto sentido como desde o dia em que o Deputado Federal Paes de Lira (PTC-SP) apresentou o seu polêmico projeto de lei junto à Câmara dos Deputados.
Já chamado nos bastidores da Câmara de “PL dos Cornos”, o projeto obriga terceiros responsáveis pela separação de um casal a pagar pensão alimentícia à parte que necessitar do auxílio. Segundo o próprio texto do projeto, o terceiro pagará pensão ao cônjuge infiel quando este não tiver condições financeiras de se sustentar e, também, tiver aberto mão da pensão do ex-conjuge em virtude de ser o culpado pelo fim do casamento (cônjuge traidor).
Suplente do polêmico e falecido Deputado Clodovil Hernandes (PR – SP), Paes de Lira, que também é coronel da Polícia Militar, afirma que a razão de seu projeto de Lei é a preservação das famílias. Também, segundo o deputado, tal Lei se torna necessária pois, com a descriminalização do adultério, "terceiros aventuram-se despreocupadamente a se imiscuir em comunhões de vidas alheias, concorrendo impunemente para desgraçar lares e desestruturar famílias, sem qualquer obrigação legal.”
Definitivamente revogado pela Lei nº. 11.106/05, o crime de adultério estava em desuso por longos anos no direito penal brasileiro, pois de difícil comprovação, já que se caracterizava pela consumação do ato sexual. Ou seja, somente era possível a punição no caso de adultério se o réu fosse “confesso" ou se fosse possível provar a realização do ato sexual (era necessário o flagrante pela autoridade policial ou uma filmagem).
Ao analisar o projeto de Lei o deputado Paes de Lira, “motivado sabe-se lá por que”, buscou instituir ferramenta de coação à prática do adultério. Só que a forma é inadequada. Explico:
As leis da prestação alimentícia (pensão) surgem de uma relação jurídica reconhecida. Assim, a legislação brasileira entende que os parentes (inclui-se os ex-cônjuges e ex-companheiros) podem exigir uns dos outros os alimentos de que necessitem para subsistir. Basta algum grau de parentesco ou de relação marital para que se estabeleça, entre os envolvidos, a possibilidade de surgimento da relação de devedor/credor de pensão alimentícia entre eles.
Assim, é devida pensão alimentícia quando a parte não tem bens e nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria subsistência, e, mais importante, a obrigação de “prestar alimentos” está ligada ao dever moral de assistência e solidariedade entre pessoas que se originam do mesmo tronco familiar.
No entanto, instituir o dever a alguém fora do tronco familiar a obrigação de pagar pensão ao cônjuge necessitado é, em última instância, extrapolar os limites conceituais do instituto da pensão alimentícia.
Uma vez que no casamento os cônjuges se obrigam à fidelidade recíproca, na hipótese de descumprimento de tal obrigação é ele - o infiel - responsável perante a sociedade conjugal. Assim, se o cônjuge adúltero concorreu para o adultério, não é cabível a transferência da obrigação ao terceiro (amante) se eximindo das consequências.
Quem está na chuva...
O que se busca com a crítica ao projeto de Lei não é a convalidação da prática do adultério. Ao meu ver, esta questão está intimamente ligada à uma discussão ética, a um julgamento moral, que, se for de interesse e consenso da sociedade deve sim ser alvo da proteção jurídica. Ainda mais se o bem jurídico a ser protegido é a instituição familiar, que é de suma importância para a manutenção da ordem social.
Observa-se no Poder Judiciário algumas discussões em que há a busca pela responsabilização do 3º à reparação ao dano moral supostamente causado ao cônjuge traído, mas, para tanto, a ferramenta utilizada é o instituto da Responsabilidade Civil. O Código Civil de 2002 determinou a obrigação à reparação do dano. “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.” (Artigo 927).
Também, o entendimento acerca do instituto jurídico da Responsabilidade Civil (dever de indenizar), vejamos a definição: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” (Artigo 186).
Portanto, se uma ação gera um dano, ainda que exclusivamente moral, o autor desta ação é obrigado a reparar o prejudicado através do pagamento de indenização.
Neste diapasão, o Poder Judiciário aplicou tal instituto (Responsabilidade Civil) à prática do adultério. Em primeira e segunda instância, havia várias decisões favoráveis ao cônjuge traído, no sentido de que o amante teria concorrido para o fim da sociedade matrimonial e que, portanto, seria obrigado a indenizar pelos danos morais causados.
Ocorre que, recentemente, tal entendimento foi modificado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em seu voto, o relator ministro Luís Felipe Salomão, da quarta turma do STJ, entendeu que não há como o Poder Judiciário impor o não fazer ao amante e entendeu que não haveria como indenizar a traição por inexistência de norma legal. Em outras palavras, entendeu o ministro que o adultério não seria um ato ilícito cometido pelo terceiro, o qual em nada concorreria e nenhuma obrigação teria para com a relação matrimonial desfeita. No caso, se houvesse algum culpado, este seria o cônjuge adúltero.
Enfim, resta agora aguardar o projeto ser colocado em votação e, se aprovado, é certo que desta Lei decorrerão inúmeras ações judiciais contestando-a, por ser claramente inadequada ao nosso ordenamento jurídico.
Guilherme Ablas, advogado tributarista, jornalista e sócio do escritório Lins e Silva, Braghette, Bueno & Ablas. Mande suas perguntas e dúvidas para rodapejuridico@notaderodape.com.br
segunda-feira, 8 de março de 2010
Na Argentina, a música nas arquibancadas é tão importante quanto o futebol
Assistir a um jogo na Bombonera, mítico estádio do Boca Juniors, da Argentina, é uma experiência inesquecível. Se você não liga muito para futebol tudo bem, porque tão espetacular como o jogo em si (na verdade, ultimamente a equipe de Riquelme tem deixado a desejar) é a festa que se faz nas arquibancadas.
No país hermano, a torcida do Boca pode ser a mais conhecida, mas não é a única a dar show nos estádios – e talvez nem seja a mais fanática. As hinchadas (torcidas) são um orgulho à parte no país de Maradona e Gardel. Além de cantarem os noventa minutos de jogo, cada uma delas têm dezenas de músicas (os cantitos), muitas delas feitas especialmente para quando a equipe enfrenta um determinado adversário.
Aqui um vídeo com boa parte das músicas cantadas pela torcida do boquense:
Juan Cruz, jornalista argentino e torcedor fanático do Belgrano (de Córdoba), conta ao Nota de Rodapé sobre essa tradição em seu país.
“As músicas das torcidas são, para os torcedores, tão ou mais importantes do que os resultados dos jogos. No campo se pode perder, mas nas arquibancadas não. E a forma de não perder nas arquibancadas e incentivar seu time o tempo todo. Por isso, é muito comum que o duelo entre torcidas se faça na base do quem canta mais.”
A grande maioria das músicas cantadas pelas torcidas argentinas são adaptações de canções que fazem ou fizeram sucesso no país. Portanto, como explica o colega Juan Cruz, o sonho de qualquer cantor é ter uma música sua adaptada por uma hinchada.
“Na Argentina, grande parte dos cantores e músicos têm uma missão, um objetivo, um desejo confesso e irremediável: que as torcidas de futebol utilizem suas melodias. Isso acontece desde que eu tenho memória, há pelo menos 20 anos.”
Aqui, uma música dos Fabulosos Cadillacs (de Vicentico) e a adaptação feita pela torcida do Boca:
Fabulosos dizem:
O fato de gritar mais alto em um estádio é marcar território, explica Juan. Deixar claro que os adversários são ‘todos putos’ (veados) e que a torcida é fiel com ou sem derrota do time. Juan se despede cantando uma linda canção que os piratas adaptaram de uma música do uruguaio Rúben.
Algumas torcidas, em especial do Sul do país, copiam abertamente o estilo e as músicas das torcidas argentinas. O Grêmio, por exemplo, tem uma torcida que se intitula “alma castelhana”, e que aportuguesa os cantitos. Nem precisa dizer a porcaria que fica. Para terem uma ideia, a canção que diz somos borrachos (bêbados, em espanhol) fica para os gremistas “somos borrachos” (sim, assim mesmo), o que faz tanto sentido como tentar cantar um tango de Gardel em português.
Só uma notinha triste: as torcidas argentinas são, em grande parte, muito violentas. Nisso a semelhança com o Brasil é total. Os ‘Barra bravas’, como são chamados lá, vivem se matando (e muitas vezes matando gente que nada tem a ver com o futebol) pelas cidades argentinas. Só podemos lamentar.
Ricardo Viel é jornalista e mantém a coluna Conexsom Latina neste Nota de Rodapé
No país hermano, a torcida do Boca pode ser a mais conhecida, mas não é a única a dar show nos estádios – e talvez nem seja a mais fanática. As hinchadas (torcidas) são um orgulho à parte no país de Maradona e Gardel. Além de cantarem os noventa minutos de jogo, cada uma delas têm dezenas de músicas (os cantitos), muitas delas feitas especialmente para quando a equipe enfrenta um determinado adversário.
Aqui um vídeo com boa parte das músicas cantadas pela torcida do boquense:
Juan Cruz, jornalista argentino e torcedor fanático do Belgrano (de Córdoba), conta ao Nota de Rodapé sobre essa tradição em seu país.
“As músicas das torcidas são, para os torcedores, tão ou mais importantes do que os resultados dos jogos. No campo se pode perder, mas nas arquibancadas não. E a forma de não perder nas arquibancadas e incentivar seu time o tempo todo. Por isso, é muito comum que o duelo entre torcidas se faça na base do quem canta mais.”
A grande maioria das músicas cantadas pelas torcidas argentinas são adaptações de canções que fazem ou fizeram sucesso no país. Portanto, como explica o colega Juan Cruz, o sonho de qualquer cantor é ter uma música sua adaptada por uma hinchada.
“Na Argentina, grande parte dos cantores e músicos têm uma missão, um objetivo, um desejo confesso e irremediável: que as torcidas de futebol utilizem suas melodias. Isso acontece desde que eu tenho memória, há pelo menos 20 anos.”
Aqui, uma música dos Fabulosos Cadillacs (de Vicentico) e a adaptação feita pela torcida do Boca:
Fabulosos dizem:
Por que será que você fica aí dentro/não fique, porque aqui fora é carnaval/carnaval a vida toda e uma noite com você/ se não há galope nos para o coraçã0A torcida diz:
Por que será que eu te sigo em todos as partes campeão/ por que será que não sei viver sem você/carnaval a vida toda, é xeneize (apelido do time) a paixão/ se não te vejo, se parte meu coraçãoTorcedor do pequeno Belgrano, Juan Cruz tem um orgulho tão grande da sua torcida (apelidada de piratas) do que de seu time. “Meu time tem poucos méritos esportivos e poucas vezes os vi jogando realmente bem. Mas dão o sangue e a torcida os acompanha. A torcida não comemora uma linda jogada, mas sim quando o jogador se joga de cabeça para salvar uma bola.”
O fato de gritar mais alto em um estádio é marcar território, explica Juan. Deixar claro que os adversários são ‘todos putos’ (veados) e que a torcida é fiel com ou sem derrota do time. Juan se despede cantando uma linda canção que os piratas adaptaram de uma música do uruguaio Rúben.
Quando eu morrer quero que meu caixão seja da cor celeste, como meu coraçãoNo Brasil
Os piratas nunca vão te abandonar, seja onde for, sempre vai te empurrar
Pela camiseta, pelo carnaval, vamos Belgrano, você tem que ganhar
Somos cachorros, comemos o Matador (Talleres, maior rival), nem como a Gloria (outro adversário local), que é um ‘puto cagón’ (nem precisa traduzir)
Algumas torcidas, em especial do Sul do país, copiam abertamente o estilo e as músicas das torcidas argentinas. O Grêmio, por exemplo, tem uma torcida que se intitula “alma castelhana”, e que aportuguesa os cantitos. Nem precisa dizer a porcaria que fica. Para terem uma ideia, a canção que diz somos borrachos (bêbados, em espanhol) fica para os gremistas “somos borrachos” (sim, assim mesmo), o que faz tanto sentido como tentar cantar um tango de Gardel em português.
Só uma notinha triste: as torcidas argentinas são, em grande parte, muito violentas. Nisso a semelhança com o Brasil é total. Os ‘Barra bravas’, como são chamados lá, vivem se matando (e muitas vezes matando gente que nada tem a ver com o futebol) pelas cidades argentinas. Só podemos lamentar.
Ricardo Viel é jornalista e mantém a coluna Conexsom Latina neste Nota de Rodapé
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