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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Saravá 2011

O Nota de Rodapé trouxe neste ano a coluna (quase) diária Liquidificador da Informação, feita por este que vos escreve. Meu objetivo era trazer diariamente um recorte em tom menos formal sobre os acontecimentos do dia anterior publicados na internet e jornais clássicos da mídia impressa. Faltou braço, confesso. O trabalho “ganha pão” na Retrato do Brasil versus a profissão blogueiro nas horas vagas empacou e impossibilitou um ritmo de publicação mais fiel. No ano que vem, a partir de algum momento de janeiro, pretendo retomar o Liquidificador nos mesmos moldes – sem publicá-lo aos finais de semana. Espero contar com colaboração dos colunistas para não deixar a peteca cair. Se um dia eu não puder fazer, quem sabe outro faz? Esse era um ponto. O outro, que me vem a fuça agora é a criação de uma outra coluna (não diária) para tratar de assuntos que julgo interessantes. Seria o que chamo de “catadão”: indicação de artigos, sites, lançamentos gerais, livros, palestras, filmes – o que for interessante do meu e do seu ponto de vista. Sim, do seu ponto de vista. Para isso, novamente, preciso de colaboração. A ideia é fazer algo semanal. Se vocês quiserem me ajudar, o e-mail para envio de sugestões, contato@notaderodape.com.br continua a seu dispor. E o crédito, como sempre, é dado com o maior prazer e satisfação.
O Nota de Rodapé a poucos dias do fim de 2010 fecha com saldo mais do que positivo. Dentro das nossas possibilidades, levantamos questões e dabates importantes ao longo do ano, tanto com artigos de opinião (principalmente os relacionados às eleições) além de nossas – poucas, infelizmente por falta de verba - reportagens. Foram mais de 60 mil visitas únicas com uma taxa de novos leitores que passa dos 50%. O que é ótimo. Me deixou bem contente. Novos colunistas entraram e outros sairam; alguns prometem aparecer com seus escritos por aqui em breve. Lembro que, não fosse a dedicação de cada um dos colaboradores, dificilmente eu conseguiria manter este espaço funcionando. O mérito é de todos nós, vinte rodapedianos no momento. Obrigado a todos os leitores e colaboradores. A partir de hoje o NR sai em férias até janeiro. É o descanso merecido. 2011 promete muito mais. Obrigado. Em frente!

Thiago Domenici

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Vencedores promoção livro Ruth Rachou

Os 5 ganhadores que levaram um exemplar autografado do livro Ruth Rachou de Izaías Almada e Bernadete Figueiredo são:

Via Twitter:
1. @tatiapdo
2. @merirrilda
3. @loslemes

Via Blog:
4. rogenesce@yahoo.com.br
5. daniellenaka@yahoo.com.br

Por favor, enviem o quanto antes seus endereços completos para contato@notaderodape.com.br O prazo para envio dos endereços é dia 10 de janeiro, por conta do final de ano. Passado esse período, novo sorteio será realizado. Obrigado e parabéns aos vencedores.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

"Missão cumprida"

É o melhor programa jornalístico da Rede Globo na minha opinião. Muito por conta da condução e competência do Caco Barcellos. Daí que ontem assisti - estupefato - o Profissão Repórter que mostra a rotina do Bope, a tropa de elite do Rio de Janeiro, venerada por muitos no filme Tropa de Elite. Ao término da reportagem, que acompanhou as rondas no Complexo do Alemão, a relação com a comunidade e as mortes nas operações, escrevi no twitter: "O Profissão Repórter sobre o Bope deu uma dimensão assustadora do que são". Sinceramente, vale a pena ver. Abaixo, em duas partes.

PARTE 1


PARTE 2

Aeroportos: frases que vamos ouvir nos próximos dias

Galeão Cumbica:
"No aaaaaaaaaaar!"
"Atenção passageiros
com destino a
....
Portadores de ficha da cor
..,
especifiqueeeeeeee!!!
Prepara-se para quinta-feira (23), no mais tardar sexta (24), uma “crise” nos aeroportos brasileiros. A notícia de que haverá greve dos aeroviários coloca setores da grande imprensa de cabelo em pé. Pouco atentos ao caos do metrô de São Paulo ou aos ônibus mais escassos e mais lotados que nos brinda a administração paulistana, os colegas jornalistas insistem em se fazer porta-vozes da classe média – para se aprofundar nesse tema, sugiro leitura de texto escrito no meio deste ano.
O fato é que o noticiário dos próximos dias, a se confirmarem os atrasos nos voos, estará recheado de frases deliciosas sobre impostos e direito de ir e vir. Decidi não ficar de fora do movimento: pedi dispensa do trabalho e, na quinta-feira, darei minha contribuição ao Jornal Nacional. Vou vestir uma camisa pólo simuladamente comprada nas últimas férias em Miami, pedirei ao camelô que me venda a melhor imitação de óculos de sol marca “Classe Alta”, e irei para Congonhas – porque Cumbica é muito longe, um horror, tem de atravessar a zona leste toda, Congonhas é muito mais chique.
Ainda preciso ver se algum parente permite que leve uma criança para tornar a situação mais real. Acompanhado de uma mulher maquiada como se fosse ao baile de gala, com vestido longo e tudo o mais a que se tem direito, entrarei na frente da câmera da Globo disposto a ganhar destaque nas manchetes do JN. Imaginem a escalada da noite de quinta-feira:

William Bonner: Caos nos aeroportos
Fátima Bernardes: Atrasos e cancelamentos transformam em um inferno a vida dos brasileiros

Entra minha fala – sempre entremeando momentos de fúria e de total descontrole, aos prantos. “Eu só quero viajar. Quero o direito de minha família de viajar” - essa é a parte da fúria. “Meu Deus, eu paguei impostos o ano inteiro, trabalhei, e agora não tenho o direito de levar minha família para descansar na Europa?” - essa é a parte do choro, à qual se segue uma cena tatu-bola, que é aquela em que um adulto rola no saguão do aeroporto feito criancinha, chorando muito e clamando por uma solução. Enfim, terei dado minha contribuição ao noticiário da classe média e, de quebra, serei famoso. Um dia incrível.

PS: para boa parte dos que estarão nos aeroportos, será um dia de muita alegria, com o primeiro voo de suas vidas. A eles, a todos, uma boa viagem.

João Peres é jornalista e colunista do Nota de Rodapé

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Treinando para ser Chuck Norris

Voltei para casa cansado e vencido. Procurei, em vão, qualquer coisa para comer e fui obrigado a sair novamente em busca de alimento. No caminho até a padaria pensei que merecia uma cerveja pela dedicação, mas fui violentamente chacoalhado pela realidade. Bem diante dos meus olhos, uma manada de pessoas saudáveis e lépidas, vestidas de quimono, corriam em busca de algo. Estavam felizes. Era um sinal. Eu precisava ser como eles - pensei no ato. Joguei fora o cigarro que queimava entre meus dedos e entrei no sobrado branco onde eles haviam se metido.Uma secretária séria, mas atenciosa, me explicou que ali era uma academia de Krav Maga e que o cooper fazia parte do aquecimento.

- Gravi maga?
- É uma técnica de defesa pessoal desenvolvida em Israel e que foi adaptada para nos proteger da violência urbana.
- Hum... E você faz? – perguntei para tentar manter a conversa.
- Faço há seis meses.
- E aí?
- Olha, não precisei usar ainda, mas me sinto muito mais segura hoje em dia, para tudo.

Ela, que parecia uma pessoa equilibrada e confiante, me convidou para fazer uma aula experimental. Voltei para casa animado. Eles me prometiam condicionamento físico, bem-estar psicológico e segurança por apenas 150 reais mensais. Era dizer adeus a minha vida medíocre e me tornar um vencedor!
No dia seguinte, vesti minha calça de moleton cheirando guardado e rumei para minha primeira aula de Krav Maga. Éramos uns 40, todos tão (ou quase) inexperientes quanto eu na arte de espantar bandidos. Fomos recebidos pelo instrutor, um israelita de uns 40 anos, que nos mandou correr pelo tatame para aquecer. Crianças, executivos fora de forma, mulheres que pareciam não terem participado das aulas de educação física no colégio e eu. Todos em busca do mesmo ideal.
Abdominais, alongamentos, agachamentos, flexões. Aos poucos o cansaço ia tomando conta do ambiente. Meu colega de lado começou a ficar vermelho e parecia enfartar. Um pouco à frente, uma moça tentava, sem sucesso, tocar o dedo do pé com a mão.
Sentados no tatame, pai e filho se olhavam na busca de dar e receber apoio, até que o patriarca soltou todo o peso do corpo contra o solo e cochichou para a pequena criatura: “Morri”.
Após o duro aquecimento, o professor passou a nos explicar que nós não tínhamos apenas o direito, mas o dever de nos defender de um ataque. A fala dele tinha um tom de autoajuda e um ar de sabedoria. As frases eram de efeito:

- Aqui, nós aprenderemos a superar obstáculos físicos e mentais
- Nós estamos expostos à violência diariamente no trabalho, na escola, na rua, e precisamos aprender a nos defender.

O tema da aula naquele dia era como resistir a um ataque de um marginal (desarmado). Esquiva e uma sessão de golpes, de baixo para cima, no queixo. Repetimos os movimentos, que deveriam ser executados de forma rápida e precisa, em 20 repetições. Meu colega do lado, com quem pratiquei os golpes (apenas uma simulação, que fique claro), tentava me motivar. Dizia que no começo era complicado, mas que aos poucos aprenderíamos.
Eu tentava me imaginar golpeando os inimigos, mas não me convencia de que eles chegariam tão perto e seriam tão benevolentes quantos meus colegas de prática. A aula prosseguiu nesse ritmo – de semitortura, diria - até quase seu término. Foi quando aquele pai, recuperado da experiência de quase morte, questionou o instrutor.

- Os praticantes do Krav Maga podem utilizar armas, como paus e pedras, para se defender?

Nosso guia foi pego desprevenido, mas o silêncio foi apenas para organizar as ideias da melhor forma. Em seguida, com sua voz segura e pausada, discursou:

- Veja. Tudo é válido para você defender a sua vida. Você só tem que ter segurança e estar preparado para reagir àquele ataque e usar as melhores ferramentas. Um exemplo, você está no restaurante com sua namorada. Colocou uma roupa bonita, está bem vestido, em clima de amor, quando de repente começa uma briga. Se você não quer amassar a camisa, pode pegar o garfo e....

Um movimento rápido e o braço do nosso mestre cortou o ar. Impressionante! Ele atingiu, impiedosamente, a mão do virtual agressor com um garfo imaginário. Silêncio na sala.

- Tudo é válido para você proteger a sua vida. Até um garfo pode ser usado dependendo da circunstância.

Não. A garfada não me acertou. Eu, que já me questionava sobre a utilidade de tudo, comecei a me sentir um idiota no meio de pessoas treinando para ser Chuck Norris. Pensei que se eu fosse um bandido seria tão fácil dar um tiro no professor como numa senhora de 70 anos. Mas meus colegas de sofrimento pareciam, de fato, interessados em ser super-heróis. Um deles perguntou para o professor quanto tempo levaria para aprender a se defender de um ataque com armas.
A resposta inicial não foi nada animadora. Nosso mentor disse que, em média, era preciso de uns três anos de aulas para estar apto a se esquivar de tacos de baseball e tiros de revólver – ou seja, só quando pudéssemos correr ao redor do quarteirão de quimono. Veio então a solução milagrosa, que fez brilhar os olhos dos aprendizes. O que vocês podem fazer é participar das oficinas. No mês passado mesmo fizemos uma. Sábado e domingo, o dia todo, e você sai de lá com toda a técnica. Vêm instrutores de Israel e qualquer um pode participar.
Não tive curiosidade de saber o valor do curso. Seguramente seria mais caro do que ser assaltado por um trombadinha. Deixei a sala em silêncio, assim que acabou a aula, e nunca mais voltei. Mas uma dúvida ainda ronda minha cabeça: como o professor se safaria daquele ataque se o restaurante fosse japonês?

Henrique de Melo Sabines, mineiro, 30 anos, trabalha na ECT e se dedica à astronomia nos fins de semana. Fã de Drummond, começou a escrever por recomendações médicas. É um dos autores do espaço Cronetas no NR.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

E a Cultura?

Durante a última campanha para as eleições presidenciais, os candidatos defenderam, em sua maioria, a necessidade de priorizar os temas da educação, da saúde e da segurança, considerados ainda insatisfatórios e como sendo alguns dos principais óbices ao desenvolvimento do Brasil como nação. Embora prementes, não são os únicos problemas a atacar, mas como se tratava de uma campanha eleitoral, muito justo que os candidatos elegessem as suas prioridades e nelas focassem o seu programa de governo.
A candidata Dilma Roussef não fugiu ao desenho que se esboçou durante a campanha, deixando bem claro o seu programa de governo e, nele, a sua preocupação em eliminar a miséria no Brasil, destacando a saúde e a educação como elementos fundamentais para esse objetivo. E com muita razão.
Completados os primeiros 45 dias após o resultado das eleições e chegando o ano de 2010 ao seu final, a presidente eleita – com aparente calma e determinação – vai montando a sua equipe de governo num quadro, se é possível assim dizer, bem mais tranquilo do que aquele que caracterizou a primeira eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
As pressões para a indicação de ministros, internas e externas, essas normalmente apresentadas como balões de ensaio pela velha mídia, são inúmeras. Não deve ser fácil à presidente eleita equilibrar na balança do poder os seus objetivos estratégicos de governo com os compromissos assumidos com partidos aliados e até com o seu próprio partido.

Em segundo plano
Bem posta a questão e consideradas as dificuldades naturais para a composição de um novo governo, a sucessora do presidente Lula comete, involuntariamente quero acreditar, o mesmo erro da maioria de seus antecessores, incluindo o próprio Lula. Os ministérios prioritários da Saúde e da Educação, até a altura em que escrevo esse artigo (14/12), ainda não tiveram seus ministros definidos. Além desses dois, outro ministério importantíssimo, o da Cultura, como sempre acontece, é um dos últimos a ter o seu titular definido. Uma vez mais a Cultura fica relegada a um segundo plano dentro das prioridades governamentais, o que – aliás – ocorre há anos. E não somente em nível federal, mas também em níveis estaduais e municipais.
Não quero fazer disso uma crítica a um governo que nem ainda tomou posse. Reconheço que seria uma irresponsabilidade, mas o fato em si é um acontecimento que se repete invariavelmente, pois o Brasil ainda não aprendeu a reconhecer o valor da Cultura (com C maiúsculo mesmo) como elemento mobilizador de enriquecimento e transformação de seus cidadãos. Fala-se muito a respeito, mas faz-se pouco, essa é a verdade que não quer calar. Basta ver no orçamento da União o valor da verba destinada à Cultura.
Caríssima presidente: a senhora ainda deve se lembrar com entusiasmo do revigoramento da sua campanha por ocasião dos encontros com artistas e intelectuais no Teatro Casagrande no Rio de Janeiro e no TUCA em São Paulo. Não se trata aqui de estabelecer qualquer tipo de privilégio, mas o seu governo poderá resgatar uma dívida do estado brasileiro para com muitos daqueles que têm dedicado boa parte de suas vidas a tentar fazer da cultura brasileira um símbolo de humanismo e solidariedade, uma luta de resistência contra a mercantilização de alguns valores tão caros a uma cidadania que teima, por exemplos de governos ainda recentes, em escoar pelo ralo da mediocridade e da arrogância, quando não da venda pura e simples da nossa alma ao diabo.
Eliminar a pobreza, mas não só a material. Essa, com certeza, é urgente. Contudo, a pobreza espiritual também merece cuidados. Não é por acaso e chega a ser patético que uma ex-miss Brasil, transformada em atriz de telenovelas e que agora se diz também escritora proclame no lançamento do seu primeiro de dez livros escritos em apenas um ano: “Detesto escrever para pobres”. Ainda temos que ouvir essas barbaridades.

Izaías Almada é escritor e dramaturgo e colunista do Nota de Rodapé

Livro “Realidade Re-vista”, lançamento nesta segunda-feira

O livro da Editora Realejo foi escrito por dois mestres, José Hamilton Ribeiro e José Carlos Marão. O livro conta o período mais brilhante do jornalismo em revista brasileiro, entre as décadas de 1960 e 1970. A obra, de 436 páginas, desvenda a fórmula revolucionária utilizada pela equipe de redação da revista “Realidade” (1966-1976), que levou a publicação a ser considerada uma das mais importantes já lançadas no Brasil. O livro faz uma análise dos métodos adotados pela redação da revista, traz histórias de bastidores de algumas de suas principais matérias e revela casos em off de muitas reportagens.


Saiba mais:
Por que falar de Realidade? - José Carlos Marão
Os 20 meses que revolucionaram a imprensa - Ricardo Kotscho
Realidade, a utopia do jornalismo - Celso de Campos Jr.



Serviço:  Editora: Realejo; Título: Realidade Re-Vista; Autores: José Hamilton Ribeiro e José Carlos Marão
Número de Páginas: 436; Preço: R$ 70,00. Lançamento e sessão de autógrafos: Data: 20 de dezembro de 2010 -2ª feira; Horário: 19h00; Local: Posto 6; Endereço: Rua Aspicuelta, 646 – Vila Madalena – São Paulo/SP

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Truculência policial em desocupação no Rio de Janeiro

A Oficina Autonoma de Produção de Informação, por meio do amigo Lucas Duarte de Souza, do Coletivo Cinestésicos, enviou a nota, imagens e vídeo da desocupação de um prédio no Rio de Janeiro no qual moravam 25 famílias. Pelo vídeo e relatos, novamente, a truculência policial predominou no despejo. Mais uma situação em que o direito à moradia digna foi solapado.

o prédio que foi desocupado no RJ
(Foto: Lucas Duarte de Souza)
"Na manhã de terça-feira, 13, um ato pacífico a favor da moradia foi realizado na Rua Mem de Sá, centro do Rio de Janeiro. Concomitante à manifestação, 25 famílias ocuparam um prédio local inutilizado e, poucas horas depois, foram despejadas violentamente pela polícia. Os manifestantes que prestavam apoio aos moradores da ocupação também sofreram com a ação truculenta dos policiais, que atiraram balas de borracha, spray de pimenta e gás lacrimogêneo. Um estudante que estava numa lanchonete ao lado foi ferido no pescoço e teve que ser socorrido no INCA e outras sete pessoas foram presas.
O edifício ocupado pertence ao INSS e há mais de 20 anos está inutilizado, o que contraria leis como do Estatuto da Cidade. A Constituição Federal prevê o direito à moradia e define que todo imóvel deve cumprir sua função social, o que torna ilegal mantê-lo desocupado para especulação imobiliária. No entanto, o que deveria garantir moradia digna à população não é cumprido, e as estatísticas demonstram que no Brasil o número de imóveis inutilizados ultrapassa o de pessoas sem boas condições de moradia. Segundo dados do IBGE, há mais de 6 milhões de imóveis abandonados, mais que os 5,8 milhões necessários para atender a demanda da população por lares adequados. Assim sendo, ocupar prédios que não cumprem sua função social é garantir que um direito seja atendido, ou seja, não é ilegal.
Policial joga spray de pimenta
(Foto: Thais Morelli)
A ação vergonhosa da Polícia Militar, que expulsou os ocupantes e reprimiu a manifestação sem considerar a presença de crianças e grávidas no local, não é inédita no Rio de Janeiro, e demonstra que a opressão tem respaldo do Estado. Os planos de revitalização da cidade levam à exclusão social em grande escala, e beneficiam poucos em detrimento dos que constituem a parcela mais pobre da população. Manifestações contrárias aos métodos adotados são sistematicamente reprimidas e silenciadas devido ao apoio da grande mídia ao governo. Mesmo quando o enfrentamento dos participantes de movimentos sociais com a polícia é mostrado, os motivos que geraram as manifestações são negligenciados e não entram em discussão. A consequencia é uma absorção incompleta dos fatos pela população, ausente de análise e, por causa disso, muitas vezes indiferente aos fatos.

[o vídeo de seis minutos mostra a cena da violência policial]




Este acontecimento remete a outro dia 13 de dezembro. Em 1968 foi instituido o AI-5, decreto emitido durante a ditadura militar brasileira que suspendia diversas garantias constitucionais e funcionava como lei do silêncio. Resta então uma pergunta: apesar de legítima a atuação dos manifestantes,houve repressão policial. Mas a maior violência está no ataque direto aos participantes do ato ou no silenciamento de seus propósitos?" Mais imagens AQUI.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Debate sobre o Wikileaks nesta quarta-feira em SP

Nesta quarta-feira o Coletivo Brasil de Comunicação Social - Intervozes - vai promover o debate “WikiLeaks – O que está em jogo?”, no auditório do Sindicato dos Engenheiros. O evento terá a presença da Natalia Viana, representante do WikiLeaks no Brasil e que mantém o blog a respeito em parceria com a Carta Capital.

Ato-debate “Wikileaks: o que está em jogo?”
Quarta, 15/12, às 19h
com a participação de Natália Viana, jornalista parceira do Wikileaks no Brasil
Auditório Sindicato dos Engenheiros
Rua Genebra, 25 – São Paulo
(próximo à Câmara Municipal)

Mais informações: 11 3877-0824

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Veruscka Girio é publicitária, designer, diretora de arte, produtora multimídia, videocenarista, vj e curiosa no processo do uso do computador como ferramenta de criação e produção artística para elaboração de novos mundos. Mantém a coluna de arte multimídia e interativa Astronauta Mecanico neste Nota de Rodapé.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Quando brigam os ricos, morrem os pobres

As eleições no Brasil e os preconceitos que saíram do armário; a pré-eleição argentina e a xenofobia que coloca pobres contra pobres

“Cuando los ricos se pelean mueren los pobres”. Em tempos de Twitter, de comunicação grunhideira, uma jovem de Buenos Aires precisou em apenas oito palavras o momento vivido pela cidade – e, mesmo sem saber, definiu parte do que se passa no Brasil. Lá, como cá, declarações infelizes da seara política transferiram-se ao campo social, literalmente transformado em campo de batalhas verbais e, algumas vezes, físicas.
A atual onda de violência em Villa Soldati, bairro pobre de Buenos Aires, tem como nascedouro as falas de Maurício Macri, prefeito de Buenos Aires e candidato à presidência pelo PRO no ano que se aproxima. Macri é um tipo político que dá às pencas no Brasil: sob o invólucro da liberalidade, tenta apresentar como normais as ideias mais fascistas que se possa imaginar. Ao anunciar recentemente que faria uma distribuição de títulos de propriedade aos moradores de favelas, provocou um efeito colateral que mostra como o prefeito não sabe do que trata – a proposta, que pode ser vista como eleitoreira, ou pode ser vista como responsável socialmente, é na verdade uma reafirmação da crença de que o deus-mercado resolve todos os problemas: Macri acredita que, distribuindo os títulos, imobiliárias e construtoras poderão comprar as propriedades e, ali, estabelecerem seus predinhos bonitos que, revendidos, resolverão o enorme déficit habitacional.
Até aí, o candidato havia simplesmente cometido um erro de avaliação baseado em seu equivocado ideário neoliberal. Ocorre que centenas de famílias carentes correram para ocupar terrenos nas áreas que seriam supostamente beneficiadas, algumas delas dentro do Parque Indoamericano. Os pobres destes bairros, irritados com essa chegada repentina de...pobres, deflagraram uma onda de intolerância difícil de se classificar, já que não se trata de intolerância de classes. Macri, ainda não saciado de erros, apressou-se em falar que tudo isso é culpa “do avanço da imigração ilegal, onde se oculta o narcotráfico e a delinquência” - não por acaso, lembra alguém que conhecemos bastante. O resultado foi que os vizinhos, aos gritos de “bolivianos, vão embora”, uniram-se numa batalha física que já fez quatro mortos – dois bolivianos, um paraguaio e um argentino.
Macri continuará tranquilamente sua carreira política, recheada de erros colossais e visões racistas de mundo. À noite, jantará em algum restaurante classe A+ de Buenos Aires, dormirá em um apartamento gigantesco de um bairro a salvo de incômodos – leia-se, pobres – e poderá contar todas as mentiras que quiser durante a campanha do próximo ano.
No Brasil, poderíamos citar alguns casos bastante parecidos de políticos que, a esta altura, dormem tranquilamente em seus apartamentos, digamos, por exemplo, na zona oeste de São Paulo, viajam vez em quando para a Europa, e só passarão pelo incômodo de verem pobres pela frente daqui a dois ou quatro anos.
Enquanto isso, crescem as manifestações de intolerância social e, como diz a jovem argentina, quando brigam os ricos, morrem os pobres. As manifestações preconceituosas das últimas semanas, que resultaram em diversas agressões físicas, não são outra coisa se não o fruto de ideias que deixaram fascistas à vontade para sair do armário. As eleições deste ano, pobres no debate, foram ricas em falsificações da realidade que levaram a crer que o Brasil deve ser um Fla-Flu eterno, dividido entre Sul-Maravilha e Nordeste-Barriga-de-fome, apenas para citar um dos recortes, simplificações absurdas que persistem devido a décadas de desinformação por parte, fundamentalmente, de setores da imprensa.
Evidentemente, as intolerâncias estavam aí, não haviam deixado de existir. Mas a difusão irresponsável dos pensamentos segregacionistas, fundamentalistas e, obviamente, intolerantes, levou a uma fratura social de difícil remédio. Aqueles que poderiam apaziguar os ânimos, ao que parece, estão mais preocupados em debater seus egorrumos e não terão a coragem de assumir os erros. Ao contrário, preferirão, como faz Macri, jogar na conta dos outros.

João Peres
é jornalista, repórter da Rede Brasil Atual e colunista do Rodapé

domingo, 12 de dezembro de 2010

Promoção NR: 5 exemplares autografados do livro Ruth Rachou

O livro Ruth Rachou – Biografia, de Bernadette Figueiredo e Izaías Almada faz parte de um projeto em homenagem aos 80 anos da bailarina e traz imagens de espetáculos antológicos e histórias curiosas sobre sua carreira.

 Livro Ruth Rachou, Editora Caros Amigos
Pioneira do pensamento moderno da dança no Brasil, ela fez muito e em segmentos distintos. Bailarina, atriz, coreógrafa, diretora e professora, Ruth Rachou formou toda uma geração de artistas sem seguir as modas que o mercado ia inventando. Esteve sempre comprometida com a divulgação da técnica de Martha Graham, e, mais recentemente, com a de Joseph Pilates. Para ela, a dança nunca foi uma coleção de passos. O que distinguiu tudo o que fez foi sempre ter acreditado que um bailarino se forma ensaiando em sala de aula e também fora dela, aprendendo a pensar e a pesquisar. Tornou pública a mistura de leitura com as aulas habituais de uma escola de dança já nos anos 80, quando o nosso país vivia o efeito Dancing Days. Sua contribuição tem sido a da resistência, provando que tudo aquilo ao qual dedicou a sua vida, contribuiu para abrir caminho para muito do que hoje se vê nos nossos palcos. Aos 80 anos, pode ter orgulho do percurso que continua a desenvolver. (Helena Katz).

Pelo Twitter
É só seguir o @notaderodape e retuitar a seguinte mensagem:


#Promoção livro Ruth Rachou: Siga @notaderodape dê RT e concorra ao livro autografado: http://kingo.to/o4N

Serão sorteados TRÊS LIVROS no dia 27 de DEZEMBRO.

Pelo Blog

Participam os leitores cadastrados no “Boletim Rodapé” ou os que deixarem nome, cidade e e-mail nos comentários desta postagem. Serão sorteados DOIS LIVROS no dia 27 de DEZEMBRO.
Qualquer dúvida escreva para promocao@notaderodape.com.br

Promoção Retrato do Brasil, ganhadores de dezembro

 Os 10 ganhadores que levaram um exemplar da Revista Retrato do Brasil de dezembro. Saiba mais da promoção AQUI que ocontecerá todos os meses. Por favor, enviem o quanto antes seus endereços completos para contato@notaderodape.com.br

1. @implaca
2. @SraAliceJones
3. @lucosmos
4. @prisanjos
5. @ticianemonteiro
6. @Mar_Som
7. @Lenijulia
8. @EliSimasPromos
9. @PatryckOficial
10. @Fenandpaiva

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Um giro pela história de Cali

O Reportagem 360º tem nova edição no ar. Desta vez, um giro pela história de Cali, Colômbia. Como sempre, o design e informação de um modo muito bem arranjado. Há meses fizemos uma entrevista aqui no NR sobre o projeto. Relembre AQUI. E abaixo, um vídeo com edição interessante do Google que trata de uma retrospectiva 2010 com os assuntos que eles julgaram mais importantes. O vídeo tem pouco mais de dois minutos e seu título é Zeitgeist 2010: Year in Review.

Há 62 anos nascia uma declaração ainda pouco respeitada

No dia 10 de dezembro de 1948, representantes da comunidade internacional se reuniram na sede da ONU para promulgar a Declaração Universal dos Direitos Humanos. O objetivo daquela iniciativa era evitar que as barbaridades praticadas durante duas Guerras Mundiais voltassem a se repetir. Passados 62 anos, os direitos assegurados na declaração ainda estão longe de serem plenamente respeitados.
1947: primeira reunião em NY para elaborar a declaração
O primeiro e mais elementar direito garantido no documento é a igualdade entre todos, independente de cor, raça, credo e opção sexual. No entanto, ainda hoje, pensar de outro modo, ter uma determinada opção sexual ou uma fé pode ser perigoso.
Recentemente, pessoas foram agredidas na principal avenida da cidade de São Paulo pelo simples fato de serem homossexuais. No final de semana passada, um jovem foi espancado até a morte por usar uma camisa azul de uma equipe de futebol em Minas Gerais.
Essas agressões são um pequeno exemplo do caminho que ainda nos espera até a plena aplicação dos direitos básicos. Demonstram, também, que a Declaração Universal dos Direitos Humanos não é uma garantia para tempos de guerra ou para países em que não há democracia. Os direitos fundamentais, vitais para a vida em sociedade, continuam sendo violados diariamente em todo o mundo.
Hoje, a grande maioria dos países têm incorporados a seus ordenamentos jurídicos os direitos humanos. No entanto, a simples presença desses princípios em Constituições e Códigos não garante sua vigência. O desconhecimento dos direitos faz com que a sociedade deixe de exigi-los e permite que eles continuem sendo desrespeitados.

Saiba mais:
- Os 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos
- Faça o download do livro Brasil Direitos Humanos 2008: a realidade do país aos 60 anos da Declaração Universal, da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República

Ignorância e senso comum
Tão prejudicial quanto o desconhecimento dos direitos básicos é a distorção quanto a sua aplicação. Os direitos humanos não existem para “defender bandido”, como, ainda hoje, se ouve. Eles existem para garantir a todos uma existência digna, inclusive aos bandidos. Quando os Estados Unidos se lançaram em uma “cruzada contra o mal” e passaram a prender, torturar e isolar prisioneiros sob a justificativa de proteger o mundo do terrorismo, o que se viu foi um Estado praticando a barbárie. Evitar abusos, mesmo em tempos difíceis, é necessário para que a sociedade não retroceda.
“Nunca tive ânsia de ver torturados os torturadores que conheci. Não por virtude ou compaixão. Mas para não me ver rebaixado à inumanidade deles.” O testemunho é de Frei Betto, que foi torturado e passou quatro anos de sua vida preso por praticar o “crime”de pensar. O dominicano sobreviveu (sorte que muitos não tiveram) e continuou sua luta. Manteve seus ideais e crença na humanidade. Assim, derrotou seus torturadores. Por ter seus direitos mais fundamentais violados, Frei Betto sabe o quanto eles são valiosos. A resposta ao terrorismo (inclusive o de Estado) é a aplicação dos direitos humanos e não a sua violação.

Ricardo Viel é repórter, formado em direito, e foi voluntário da Anistia Internacional durante 7 anos

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Em vídeo, Lula fala do Wikileaks e liberdade de expressão

"O rapaz foi preso e não estou vendo nenhum protesto contra a liberdade de expressão. É engraçado. Não tem nada contra a liberdade de expressão de um rapaz que estava colocando a nu de um trabalho menor que alguns embaixadores fizeram. Eu não vejo meus embaixadores passarem esses telegramas." Fonte: Blog do Planalto

WikiLeaks, com ou sem Assange

Natalia Viana | http://cartacapitalwikileaks.wordpress.com/

Julian Assange é um homem impressionante. Fiel ao que acredita até o fim, ele lutou e luta diariamente pelo princípio que norteia o WikiLeaks – em resumo, que a internet possibilita lutar contra injustiça de uma maneira sem precedentes. “Injustiça em qualquer lugar é injustiça em todo lugar”, diz ele.
Seus amigos e colegas mais próximos estão desolados. O pensamento de que ele vai ficar sozinho numa cela por uma semana, sem companhia, sem acesso à internet, pelo simples fato de que não possui um endereço fixo no Reino Unido – foi esse o argumento usado pela justiça britânica para mantê-lo encarcerado – tem causado enorme revolta.
Só que, diferente do que muitos pensam, a prisão de Assange não vai parar o WikiLeaks. Tanto aqueles que fazem parte da organização como aqueles que têm sido parceiros no lançamento do Cablegate, como eu, vão continuar o trabalho.
Isso porque o WikiLeaks não é Assange. Aqueles que o perseguem não perceberam que, numa era digital, a colaboração é o que torna realidade empreitadas como essa, inovadoras, questionadoras, verdadeiras. Isso, a organização percebeu e desde sempre adotou.
O WikiLeaks tem muitos outros membros, engajados no momeno em acompanhar a a batalha na justiça com relação às acusações da Suécia, buscar meios de contornar o empecilho causado pelo congelamento dos fundos. Outros estão se dedicando ao duro trabalho de coordenar com todos os jornais parceiros a publicação dos documentos a cada dia.
É que, ao contrário do que muitos pensam, cada um dos documentos publicados pelo site do WikiLeaks tem que ser, por uma regra interna, cuidadosamente revisados para verificar se há nomes de pessoas que correriam riscos se fossem publicados.Todos esses nomes são retirados. Este é um dos motivos também dos documentos estarem sendo publicados em partes e em parceria com os jornais – eles se comprometeram a verificar a segurança de cada um dos documentos.
Além disso tem um grupo grande de colaboradores escrevendo e editando material para o site de diversas partes do mundo. Voluntariamente. Essas pessoas têm feito reuniões de pauta, discutido melhores ângulos para as matérias e estão em constante contato por meio de comunicação segura.
Cada um está em um país, o que significa que os horários são um tanto diferentes. Mas tem muita gente virando noite para conseguir todos os dias levar ao ar novos documentos e escrever matérias originais. Mais uma vez, a nossa ideia é trazer o que a grande mídia não vai dar. A partir de hoje haverá, por exemplo, matérias sobre América Latina.
O que os governos que investigam Assange ainda não perceberam é que a ideia de WikiLeaks vai além dele e além desse lançamento. O WikiLeaks é um novo conceito, uma nova ideia que não vai morrer.
Mesmo se aqueles que perseguem a organziação conseguirem bloquear todos os meios, inviabilizar este grupo de pessoas de fazer o seu trabalho, alguém tem dúvida de que vão surgir outros WikiLeaks, milhares de WikiLeaks devotados a publicar documentos que merecem vir a público?

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Gim Argello e as histórias de faroeste em Brasília


O orçamento em ótimas mãos
Gim Argello do PDT-DF
Ganhou as manchetes dos jornais nos últimos dias o caso que envolve o senador Gim Argello, relator da comissão mista do orçamento para 2011. A acusação, feita depois de investigação do repórter do jornal O Estado de São Paulo, pelo excelente jornalista (com J maiúsculo) Leandro Colón, que foi meu veterano na faculdade, é de que Gim e mais uma meia dúzia de parlamentares do Centro-Oeste faziam emendas ao orçamento destinando verbas a eventos culturais, e depois mandavam ver no lobby com ministros para que entidades fantasmas deles próprios, registradas em nome de laranjas, recebessem a verba para organizar os supostos eventos. Até aqui, nada de novo do que já foi relatado pela imprensa toda. Então por que esse texto? Bem, em Brasília, há particularidades que são difíceis de entender para quem não convive, pelo menos um pouco, com essa realidade maluca daqui.

A questão da terra
Terra é poder. No Brasil, a história da disputa do poder é a história da disputa pela terra. Em Brasília, essa máxima chega a níveis exorbitantes, simplesmente porque terra, aqui, vale ouro, e o melhor negócio do mundo é ter uma construtora ou uma imobiliária em Brasília. Para se ter uma ideia, Águas Claras, uma cidade que há dez anos não existia, hoje já é enorme e continua em construção, sendo considerada o maior canteiro de obras da América Latina.

Carreira meteórica
Em 1998, Gim Argello era um talentosíssimo corretor de imóveis. Dizem que tinha um tino incrível para o ramo. Nesse ano, Gim se elegeu deputado distrital, e chegou a presidir a Assembleia Legislativa local. Foi então que ele, espertamente, aliou seu enorme talento ao poder que passou a ter.

Lotes
Já tratei nessa coluna, outras vezes, da questão do lote. Aqui, um pedaço de terra é praticamente uma medida corrente, como sal na Roma antiga ou arroz no Japão medieval. Pois bem, Gim se especializou no seguinte esquema: um laranja seu comprava um lote que era destinado para, digamos, construir uma creche. Como a cidade é planejada, cheia de regras, e tem toda essa coisa do lote e da terra, ali seria, de fato, construída uma creche. Mas ele, na Câmara, conseguia aprovar uma medida que transformava aquele lote, que ele comprou por R$ 200 mil, digamos, em um lote destinado à construção de um posto de gasolina.

Valorização
É claro que posto de gasolina é negócio muito mais lucrativo que creche. Então, aquele lote, comprado por R$ 200 mil, passava a valer R$ 2 milhões. Simples não? E posto de gasolina não foi exemplo. Seu laranja que comprava os lotes era ligado a uma grande empresa petrolífera – e hoje é dono de um dos jornais da cidade.

E ninguém via?
Via sim. Só que uma série de outros deputados também tinha interesse em mudar a destinação de um monte de lotes. Então eles se juntaram e começaram a mudar a destinação das terras para o que bem lhes conviesse. Gim ficou mais com essa parte dos postos de gasolina, que lhe rendeu uma boa grana, enquanto outros destinavam lotes para outras áreas. Até que, em uma legislação posterior, os deputados mudaram essa regra. Agora, só o poder executivo pode mudar a destinação de um lote.

Desproporcional
Uma das coisas que chamou a atenção da Justiça foi o fato de Gim Argello ter, hoje, patrimônio absolutamente incompatível com as funções e negócios que já teve. Não se deve pegar apenas o salário de deputado, porque no Brasil, em geral, deputado mantém uma série de outros negócios, e em geral legisla para garantir os melhores resultados do seu negócio, e tudo o mais. Mas mesmo assim. Sem nenhum alarde nem cobertura da imprensa que cobre o jet set local, diz-se que, recentemente, Gim Argello comemorou o fato de seu patrimônio pessoal ter chegado aos R$ 2 bilhões.

Deserto
Gim é só mais um personagem dessa terra que parece produzir, todos os dias, histórias de faroeste – não, não sou fã de Legião Urbana, apesar que, aqui, todo mundo gosta deles. É uma cidade cheia de caciques, de “otoridades”, de manda-chuvas com aura de mafiosos, que parecem achar que moram em Beverly Hills ou em Mônaco enquanto, ao mesmo tempo, podem usufruir de toda a permissividade da cultura do homem cordial.

Rodrigo Mendes de Almeida é jornalista, editor do Jornal da Comunidade em Brasília e colunista do NR.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Google: 3 milhões de livros de graça

Site do Google Books permite baixar aproximadamente 3 milhões de livros. De clássicos a títulos de jardinagem, matemática e afins. É possível baixar no seu computador (e em dispositivos móveis tipo Ipad e afins) ou ler no próprio sistema google, como num “pdf” mais ágil. Além do grátis, a intenção do Google é concorrer com a Amazon, por isso, verderá livros online também. As vendas, por hora, só para os EUA. O link para acesso AQUI.

Luiz Eduardo Soares no Roda Viva

O sociólogo Luiz Eduardo Soares foi secretário de segurança pública nacional e do Rio de Janeiro. Além disso, é co-autor do livro Elite da Tropa que inspirou o filme Tropa de elite. No Roda Viva há duas semanas, os ataques no Rio de Janeiro e a Segurança Pública foram o tema da entrevista.

Bloco 1


Bloco 2


Bloco 3


Último bloco

domingo, 5 de dezembro de 2010

Vai dar fogo

Fernando Carvall, ilustrador e caricaturista para o Nota de Rodapé. Conheça também seu blog: ONG PI.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Brasil rejeitou prisioneiros de Guantánamo

Natalia Viana, 3 de dezembro de 2010

Como muitos países, o Brasil também foi procurado pelos EUA para receber prisioneiros de Guantánamo, mas recusou a oferta. É o que mostra um documento enviado a Washington em 17 de outubro de 2005 pelo então embaixador em Brasília, John Danilovitch (CLIQUE AQUI).
Segundo o documento confidencial, os EUA “discutiram o reassentamento de prisioneiros de Guantánamo em diversas ocasiões e em diferentes níveis, incluindo (o subsecretário americano para Assuntos Políticos) Marc Grossman, desde 2003”.
O telegrama descreve a tentativa frustrada de conseguir que o Brasil aceitasse como refugiados prisioneiros uigures, de origem chinesa.
Desde 2002, foram presos em Guantánamo 22 uigures - minoria muçulmana de língua turca do noroeste da China. Eles não podiam repressar à China por receio de que viessem a ser mortos ou torturados.
Em Brasília, a embaixada falou com Márcia Ramos, do departamento de direitos humanos do Ministério de Relações Exteriores (MRE).
“Ramos disse ao nosso assessor político que o governo brasileiro não pode aceitar imigrantes de Guantánamo porque é ilegal designar como refugiado alguém que não está em solo brasileiro. De acordo com o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), o status de refugiado no Brasil para quem pede do exterior geralmente não é atendido até que ele receba status de refugiado no país onde está (no caso, os EUA)”, explica o documento.
O Itamaraty argumentou que os uigures não se encaixam nessa categoria porque o governo americano não os reconhecia formalmente como refugiados.
Danilovitch termina o telegrama dizendo que “não parece que o governo brasileiro vai aceitar os prisioneiros uigures se eles não receberem status de refugiados dos EUA. E mesmo se receberem, esperamos que os brasileiros argumentem que eles deveriam então ser reassentados nos EUA”.
Os EUA procuraram diversos países para pedir que recebessem prisioneiros de Guantánamo, incluindo Bélgica, Kwait, Eslovênia e Iêmen, conforme mostram diversos documentos publicados pelo WikiLeaks nos últimos dias.

Refugiados cubanos

Outros dois telegramas obtidos pelo WikiLeaks mostram que o Itamaraty manteve o mesmo discurso quando procurado para receber cubanos que fugiram do regime de Fidel Castro.
Em maio de 2005, o Brasil recusou dar status de refugiados para cubanos e haitianos que fugiram para a Baía de Guantánamo, controlada pelos EUA.
Na ocasião, a embaixada procurou os departamentos de organizações internacionais e o de direitos humanos do MRE. Também falou com o representante da agência da ONU para refugiados, Luis Varese.
Os Estados Unidos até se ofereceram para custear a visita de oficiais brasileiros a Guantánamo para verificar de perto a situação. Mas ouviu que a proximidade com o regime cubano seria um grande empecilho.
“A diretora do departamento de direitos humanos Márcia Ramos disse que a relação próxima do governo brasileiro com o cubano faria com que fosse impossível aceitar os refugiados”, diz o relato (CLIQUE AQUI).
Perguntada se o Brasil aceitaria imigrantes do Haiti, ela respondeu que não poderiam aceitar nenhum imigrante de Guantánamo.
Já Varese explicou que a posição do CONARE era a mesma – o Brasil só aceitaria refugiados que já tivessem este status no país onde estão vivendo – e não mudaria no futuro.
Em 2009, já sob o governo de Barack Obama, a embaixada voltou à carga. Contactou Gilda Mattos Santos Neves, chefe do departamento da ONU do MRE, que deu a mesma explicação das tentativas anteriores.
“Neves não levantou nenhuma questão política ou diplomática sobre o reassentamento de cubanos no Brasil”, relatou a Ministra Conselheira da embaixada Lisa Kubiske em um telegrama não classificado em 30 de outubro de 2009 (CLIQUE AQUI).
Os documentos fazem parte de mais 2855 telegramas enviados pela representação americana no Brasil para o Departamento de Estado americano entre 1989 e 2010 que vão ser publicados pelo WikiLeaks nas próximas semanas.


Veruscka Girio é publicitária, designer, diretora de arte, produtora multimídia, videocenarista, vj e curiosa no processo do uso do computador como ferramenta de criação e produção artística para elaboração de novos mundos. Mantém a coluna de arte multimídia e interativa Astronauta Mecanico neste Nota de Rodapé.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Retrato do Brasil de dezembro + Promoção do NR

A revista mensal Retrato do Brasil traz, neste mês de dezembro, reportagens sobre justiça, política nacional e internacional, economia e cultura. O Ponto de Vista trata do petróleo brasileiro. Tema da capa da edição, a matéria fala da transferência do petróleo para mãos privadas – algo que começou na era FHC e continuou na era Lula. Na campanha eleitoral, por exemplo, Dilma acusou o governo de Fernando Henrique – e Serra, o governo Lula – de privatizar o petróleo. A questão não foi aprofundada, como tantos outros temas relevantes não foram. E no fundo, ambos têm razão em relação ao petróleo.
Na segunda reportagem sobre o Sistema Único de Saúde, um retrato do precário mas indispensável SUS – do qual 80% dos brasileiros são dependentes. Rafael Hernandes reporta sobre os fluxos migratórios no país. Que têm diminuído. Segundo os pesquisadores, graças ao crescimento da economia.
Capa da edição de Dezembro
O repórter Tadeu Breda escreve sobre o cerrado, usado pelo agronegócio que lucra como nunca, mas que está devastado. Para quem não sabe, este bioma representa 20% do território nacional e já perdeu metade de sua composição original.
João Peres faz reportagem sobre o projeto federal Pai Presente que quer acabar com a falta de reconhecimento da paternidade, que prejudica milhões de pessoas.
De política internacional o texto de Flávio Dieguez explica os meandros e desdobramentos das últimas eleições parlamentares nos EUA. "À espera do terceiro turno", Obama terá dificuldades para se reeleger em 2012 após as recentes e nem tão favoráveis – a ele – eleições. De Portugal, Simone Cunha e Vitor Sorano explicam a crise interna do país por conta das regras da União Europeia para ajustar suas contas externas.
Em cultura, dois textos. O primeiro faz uma importante análise histórica dos dramaturgos comunistas brasileiros, rememorados com o lançamento da obra completa em DVD de um deles, Leon Hirszman. Fechando a edição, a resenha de Julia Andrade e Maurício Cardoso sobre o livro do antilhano Aimé Césaire que analisa as relações entre o Ocidente europeu e as regiões colonizadas do planeta.

Promoção Retrato do Brasil e Nota de Rodapé
A partir desta edição de dezembro, todos os meses, via Twitter, iremos sortear 10 exemplares da revista. Basta retuitar:

#Promoção. Siga @notaderodape dê RT e concorra a exemplares da revista Retrato do Brasil: http://kingo.to/nh9

O primeiro sorteio será dia 12 dezembro, um domingo.
Boa sorte e boa leitura!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Frank Jacobs faz mapas (nada convencionais)

Frank Jacobs faz mapas. Mapas que até a editora Penguin já publicou em uma antologia. Nada convencionais, variando do real ao fictício, os mapas de Jacobs podem ser vistos no blog que ele mantém desde 2006, Strange Maps.

São mais de 500 mapas disponíveis – e são bons! Selecionei um, muito interessante, que publico abaixo.

Nele, Jacobs faz “reflexões sobre a América do Sul”. Só que do ponto de vista dos EUA. Ele diz. “Segundo a maioria dos meios de comunicação dos EUA, o Brasil é um traidor porque Lula se atreveu a apertar a mão de Ahmadinejad, Evo Morales é um idiota comunista, a Argentina joga difícil e Chávez ... ele é Belzebu com uma máscara de ritual indígena.”


Aos blogueiros, o novo que a velha (mídia) não gostou

Se dúvida houvesse quanto ao fato de se afirmar que existe uma velha e uma nova mídia no Brasil, sendo esta pautada pela procura da responsabilidade na informação e aquela cada vez mais afundada em compromissos corporativistas, distante, pois, dessa responsabilidade, a entrevista concedida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a blogueiros teve – entre outros méritos – o de provar a verdade desse contraste.
Lula e os blogueiros na entrevista em novembro de 2010
Destituída de maiores formalidades, bem organizada, democrática quanto a participação de cada um dos entrevistadores, solta, sem jogos de vaidade por parte dos jornalistas presentes, a entrevista mostrou um presidente bem humorado, falando abertamente aquilo que era possível falar, conforme suas próprias palavras, e sem fugir a alguns questionamentos mais delicados, mas feitos num ambiente de respeito por alguém que, injustamente, sofreu um verdadeiro linchamento da velha mídia por oito anos seguidos.
Ao contrário de analistas e jornalistas da velha mídia (que vai se mostrando cada vez mais velha, diga-se), os blogueiros presentes, onze representantes - e são muitos mais em toda blogosfera brasileira - de um estilo de jornalismo abandonado por seus pares de jornalões, revistões e televisões, tiveram a sensibilidade de entender aquele momento que viviam e construíam.

Diplomacia e bom humor

Momento histórico, já disseram muitos, porque em duas horas de transmissão, cada pergunta e cada resposta percorriam o simples caminho do diálogo entre pessoas que sabem ouvir, mesmo quanto a resposta do entrevistado era passível de uma réplica ou de contestação.
Toda a entrevista falou de um Brasil novo, que quer mudar, apesar dos enormes entraves ainda existentes. Com diplomacia e bom humor, o presidente Lula botava o dedo na ferida de várias mazelas ainda a serem enfrentadas não só pelo poder executivo, mas principalmente nos gargalos conservadores do legislativo e do judiciário. Sempre com o cuidado de dizer que determinadas mudanças só acontecerão quando a sociedade se conscientizar de que esta ou aquela mudança será necessária, como a Reforma Política, por exemplo. Disse mesmo que começaria a lutar por ela já no dia 02 de janeiro próximo dentro do seu próprio partido.
Uma entrevista que, mesmo discutindo problemas do presente e de nosso passado recente, projetava uma nação para o futuro, numa dialética que só é possível quando se faz entre pessoas cujo interesse é buscar soluções para um determinado número de problemas, de soluções para o país. E não só acuar, difamar, procurar os problemas sem indicar soluções que sejam compatíveis com a realidade que se vive no Brasil e no mundo.
Porque é assim que trabalha a velha mídia: desconstrói e achincalha, sem direito a defesa, sem o contraditório, desde que o governo ou a autoridade achincalhada e difamada em âmbito municipal, estadual e federal não dance conforme a música de seus interesses corporativos, conservadores e antinacionais.
Não é difícil mostrar a diferença de prática jornalística a partir da entrevista do presidente aos blogueiros. Vou usar aqui um exemplo que aprendi com o dramaturgo e professor de dramaturgia, meu velho amigo Chico de Assis, um dos formadores do histórico CPC da UNE nos anos 60. Em suas aulas, para tornar claro algum exemplo do tema que abordava, costumava usar uma técnica que era a de “raciocinar pelo absurdo”, isto é, você exagera uma determinada situação até o imponderável ou absurdo e, pela oposição a ela, você é capaz de compreender melhor o tema (no caso uma ação dramática) estudado.

A diferença

Vamos usar a técnica aqui e, raciocinando pelo absurdo, imaginemos que naquela mesma situação e naquele mesmo cenário o presidente Lula contasse com a presença de jornalistas como Myriam Leitão, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Eliana Catanhêde, Diogo Mainardi, Arnaldo Jabor, Clóvis Rossi, Merval Pereira, Lucia Hippolito e outros menos votados...
Começaram a perceber a diferença? Para além da empáfia e do preconceito disfarçado por teorias acadêmicas mal assimiladas, aquele ar de quem sabe tudo sobre todas as coisas, do torresmo aos Diálogos de Platão, do álbum de figurinhas às teorias de Stephen Hawking. A vaidade e o autoelogio se digladiando contra a ignorância do presidente semianalfabeto, a Casa Grande contra a senzala, o passado contra o presente (e o futuro), tal grupo de jornalistas aproveitaria a oportunidade para expor a verdade incontestável de seus argumentos, irretorquíveis, próximos à infalibilidade papal.

- Íntegra da entrevista de Lula aos blogueiros

O ranço e o verniz de uma autointitulada elite, digamos intelectual, em confronto com a linguagem mais popular do presidente, mais acessível ao cidadão comum, tão bem entendida por este, que foi capaz de lhe dar mais de 80% de popularidade em final de mandato e fazer de Dilma Roussef a nova presidente do Brasil.
O exemplo é até mais do que absurdo, mas escancara para quem acompanha o que se passa no país nesse momento a inequívoca diferença entre um jornalismo envolto em teias de aranha e naftalina e o nascimento de uma alternativa mais democrática, que respeita a inteligência do cidadão brasileiro, tendo na internet um novo e vigoroso meio de informação com responsabilidade. De tal maneira isso é verdade, que a velha mídia tentou ridicularizar o acontecimento, numa demonstração infantil de que não tem argumentos convincentes para se opor ao novo.
Nesse aspecto, as perspectivas para 2011 são promissoras. A herança bendita que o presidente Lula deixa à sua sucessora traz para ela, entre outras, a responsabilidade de efetivar, na prática, a democratização da informação no Brasil. Por aí se amplia o espaço de discussão de temas relevantes no aprofundamento e na garantia de conquistas e avanços que vão ajudar na superação de mazelas há quase cinco séculos introjetadas pela sociedade brasileira. A primeira delas é a de que um povo que estuda, tem emprego e comida na mesa, capaz de pensar melhor e combater a elite do atraso.

Izaías Almada é escritor e dramaturgo, colunista do Nota de Rodapé e do Escrevinhador.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Wikileaks em “primeira mão” ao público brasileiro

O site Wikileaks, que escarafuncha os segredos militares dos EUA, agora tem uma versão para o público brasileiro que já está no ar. Entre as informações recentes, assinadas no texto da repórter Natalia Viana, o relato de um telegrama do ex-embaixador americano no Brasil, Clifford Sobel, que acusa a Polícia Federal (PF) brasileira de encobrir investigações sobre a atuação de terroristas no país. Outros documentos dizem que o governo brasileiro está preocupado com o avanço de organizações terroristas, principalmente com a aproximação dos Jogos Olímpicos, em 2016.
Julian Assange, fundador do Wikileaks
Segundo o site, "Ontem, dia 28 de novembro de 2010, o WikiLeaks começou a publicar o maior vazamento de documentos confidenciais da história. São telegramas enviados pelos diplomatas de diversas embaixadas pelo mundo para Washington ou do Departamento de Estado para as representações americanas. Eles mostram ordens expedidas aos consulados e embaixadas, a inteligência pedida pelo Departamento de Estado e o que os diplomatas descobrem a respeito de cada lugar, além de relatos detalhados de encontros com membros dos governos - e a verdadeira opinião dos americanos a respeito de cada um deles. São 261.276.536 palavras que cobrem um grande período da história moderna – de 28 de dezembro de 1966 a 28 de fevereiro de 2010.", explica o texto (na íntegra). No caso brasileiro, são 2.855 documentos no total, sendo 1.947 da embaixada em Brasília, 12 do Consulado em Recife, 119 no Rio de Janeiro e 777 em São Paulo.

- Por dentro do Wikileaks: a democracia passa pela transparência radical (Natalia Viana, no Opera Mundi)

Segundo Natalia Viana explicou ao Nota de Rodapé, o Wikileaks convidou alguns jornalistas investigativos independentes para colaborar com eles escrevendo reportagens a respeito de seus países e regiões. “Eu estou fazendo a parte do Brasil. Tem sido muito intenso e incrível”, conta Natalia. “A preocupação do site é poder trazer em primeira mão para o público brasileiro, em uma comunicação direta, o que os documentos contêm”, afirmou. Nessa primeira semana todo dia pela manhã novas matérias sobre o Brasil em português. Os textos podem ser acessados AQUI.

Thiago Domenici, jornalista

Rima Pobre, Fernando Carvall

Fernando Carvall, ilustrador e caricaturista para o Nota de Rodapé. Conheça também seu blog: ONG PI.

domingo, 28 de novembro de 2010

Promoção Solo Lounge Beatles e Chico, os vencedores

Ganhadores dos Cd Solo Lounge do Chico Buarque e Beatles da @gravadoramcd.

Aos que concorreram pelo twitter, Parabéns para:

@carminha_2012 Ganhou do Chico Buarque CONFIRMADO

@evellincaa Ganhou dos Beatles CONFIRMADO

Nos cadastrados no boletim e aos que deixaram comentários na postagem da promoção e-mails vencedores são:


eric.s.oliveira@hotmail.com Ganhou do Chico Buarque CONFIRMADO

renato.zanarolli@ig.com.br Ganhou dos Beatles NÃO CONFIRMOU.


Novo sorteado no lugar:


Andrea Magri

Os vencedores tem até terça-feira para escrever para contato@notaderodape.com.br com endereço e nome completo. Obrigado a todos pela participação em mais uma promoção! Em breve, tem mais!

Thiago Domenici, coordenador e editor do NR

Igreja da Penha no RJ

Caco Bressane,  arquiteto e ilustrador paulistano, na ilustração da semana para o Nota de Rodapé: "Igreja da Penha". A Igreja da Penha, 1728, sempre foi um marco na paisagem carioca e estava, pelo ótimo ponto de observação e controle que é, tomada pelo tráfico.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O Rio de Janeiro menos lindo

A enxurrada de informações sobre a crise da Segurança Pública no Rio de Janeiro confunde a cabeça de qualquer um. Fiz aqui uma linkagem de alguns textos que julgo importantes para a leitura e melhor compreensão dos acontecimentos - são reflexivos, de entrevistas a artigos. Um compêndio que pode - ou não - ajudar a formar opinião. Se tiverem sugestões, me escrevam: contato@notaderodape.com.br

- O desespero de Marcinho VP é revelado em grampo telefônico

- Freixo: segurança pública reforça criminalização da pobreza

- Troca de elite, mas os inimigos ainda são os mesmos!

- O risco dos tanques

- A crise no Rio e o pastiche midiático

- UPPs bloqueiam cadeia do tráfico, afirma sociólogo

- Após ocupação da Vila Cruzeiro, Paulo Lins prevê chacina no Complexo do Alemão no RJ

- Desde domingo, ao menos 38 morreram e quase 200 foram presos no Rio

- A suposta carta de união entre os traficantes da ADA e Comando Vermelho

- Líder comunitária teme 'efeito colateral' da repressão no Rio

- Rio de Janeiro. Primeira onda de ataques do crime organizado já atingiu finalidade. Tendência é submergir para voltar a surpreender

- Tem um artigo interessante no Estadão (só para assinantes) da Edna Del Pomo intitulado: "A sociedade deu carta branca para a polícia?". E sobre as Milícias, matéria publicada na Retrato do Brasil, publicada aqui na íntegra.

Íntegra da entrevista de Lula aos blogueiros

A primeira entrevista concedida por um presidente da república, numa espécie de coletiva de imprensa, nesta semana. Entre tantos assuntos abordados, falou da regulamentação da mídia, do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos, da abertura dos arquivos da ditadura, entre outros assuntos. Ao final da entrevista Lula declarou que pretende tirar a limpo a mal contada história do mensalão, assim que deixar a Presidência da República, além de ser blogueiro e tuiteiro.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Retrospectivas: escolha o texto piegas que será dispensado aos mineiros chilenos

Dezembro trará consigo as retrospectivas na televisão. Via de regra, textos dinâmicos recheados de lugares-comuns farão conexões improváveis entre os fatos, numa torrente de informações que destina 15 segundos a cada tema.
Os assuntos considerados importantes ganham 30 segundos. Como me cabe no Nota de Rodapé falar também de América Latina, seguramente o resgate dos mineiros chilenos figurará entre estes temas. Vale se antecipar, ludicamente, sobre qual a característica coletiva que será mais exaltada no texto piegas destinado a este reality show mais reality do que se poderia desejar. Quem quiser arriscar um palpite, que fique à vontade:

1. Solidariedade (“A solidariedade foi a chave para que os mineiros chilenos sobrevivessem às dificuldades 600 metros abaixo do solo”);
2. Coragem (“Os mineiros chilenos foram uma prova de que a coragem vence as barreiras mais difíceis, como a vida durante mais de um mês em um buraco 600 metros abaixo do solo”);
3. Superação (“A superação dos mineiros chilenos foi uma inspiração para o mundo todo, que acompanhou atônito, em silêncio, a um resgate dramático");
4. Persistência (“Durante mais de 30 dias, os mineiros chilenos deram uma aula de persistência, sobrevivendo com pouca água e pouca comida às terríveis dificuldades).

Por último, alguém se lembrará que, antes de heróis, os mineiros chilenos são vítimas de uma legislação trabalhista flexibilizada pelo ideário neoliberal? Terá, alguma das retrospectivas, a preocupação em mostrar o estado atual dos mineiros, alguns com problemas psicológicos decorrentes da vida no buraco e da superexposição a que foram submetidos após a saída?

João Peres é jornalista, colunista do NR e repórter da Rede Brasil Atual

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A mídia independente depois das eleições

Foi bastante compreensiva, para não dizer providencial, a postura combativa dos meios de comunicação alternativos durante o segundo turno das eleições presidenciais brasileiras. Muitas revistas e jornais de pequena circulação, blogues e iniciativas digitais, como o 48hdemocracia, simplesmente não titubearam em vestir a camisa de Dilma Rousseff. O objetivo era claro: defender a candidata do PT contra as investidas da campanha de José Serra e as manipulações da chamada grande imprensa – para muitos, favorável ao tucano.
Pudera. Menos de um mês depois da apuração, virou clichê dizer que o processo eleitoral de 2010 ficará marcado como um dos mais pobres em discussões e ideias desde a redemocratização. A disputa pela sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva talvez tenha sido o ponto álgido do marketing político e do oportunismo eleitoreiro. Nunca se viu marqueteiros tão poderosos a ponto de dobrar convicções ideológicas e apequená-las diante da sanha pelo poder e da caça indiscriminada de votos. Até quem nunca tinha ido à igreja ajoelhou-se e rezou para os padroeiros da opinião pública.
Na tevê, no rádio e sobretudo na internet, a campanha demo-tucana e seus apoiadores (voluntários ou não) preferiram apelar para os mais profundos preconceitos da sociedade brasileira como estratégia para angariar, através do medo, um apoio popular que nunca tiveram e reverter, pela pobreza do discurso moralista, o resultado das pesquisas, que vinham anunciando mais uma vitória do petismo.
A tática foi bastante parecida com a estratégia derrotada de 2002. Faltou apenas colocar uma estrela de novela confessando seu temor eleitoral diante das câmeras. Desta vez, porém, o PSDB resolveu ir mais fundo em seu conservadorismo e pedir socorro aos representantes de Jesus Cristo na Terra.
Todos nos lembraremos – e não devemos nos esquecer jamais – que José Serra convocou para a batalha das urnas o apoio dos setores mais retrógrados do país e pactuou com as alas extremistas tanto da igreja católica como das evangélicas. Apesar de autoelogiar seu desempenho como ministro da Saúde, o candidato aliou-se com gente que desconsidera a epidemia de aids que paira pelo mundo, a importância social do planejamento familiar e que, ainda hoje, se presta a fazer campanha contra o uso de preservativos.
José Serra praticou deliberadamente o obscurantismo em torno de temas tão polêmicos quanto importantes para o bem-estar da população, como é o caso do aborto e da união civil de homossexuais, aferrando-se ao medievalismo cristão para angariar votos entre os poucos fiéis que ainda fazem o que o padre diz. Também manipulou o papel histórico desempenhado pela resistência armada durante a ditadura militar. Sua guerrilha digital vestiu Dilma Rousseff de verde oliva e impôs-lhe um charutão a la Fidel Castro entre os dentes.
No auge da empulhação, o tucano simulou uma agressão física que nunca existiu. Tanto que sua calva seguiu lustrosa e radiante durante toda a passeata que realizou no Rio de Janeiro. A bolinha de papel pode ter doído no brio, mas não lhe feriu a cabeça.
Por fim, é digno de nota – e despreço – o renascimento da xenofobia no Brasil. Desta vez o bairrismo paulista e o ódio contra nordestinos transcendeu os ambientes privados e escapou pelo twitter. É certo que a onda de manifestações preconceituosas foi desencadeada pelas declarações de José Serra e seus asseclas, que endossaram a tese de que as eleições dividiram o país entre indivíduos pobres e incapacitados, que moram no Nordeste e votam em Dilma, versus cidadãos conscientes, que habitam as regiões mais prósperas e apertaram 45 para presidente.

Lá como cá
Muitas análises compararam a postura anti-argumentativa e preconceituosa da Coligação Brasil Pode Mais (PSDB, DEM, PPS) ao discurso revisionista do Tea Party, a grande sensação política do momento nos Estados Unidos. Nitidamente, a principal semelhança entre um e outro é a opção por fugir do debate sério e aprofundado, livre de lugares-comuns, sobre as questões mais prementes para o futuro do país.
O movimento Tea Party surgiu na esteira da vitória de Barack Hussein Obama, em 2008. A musa do movimento, Sarah Palin, foi então candidata a vice na chapa derrotada, encabeçada por John McCain. Ambos pertencem ao Partido Republicano, e foi exatamente entre seus membros que se acomodou o Tea Party. No seio conservador da América, não precisou de muito esforço para crescer. Afinal, um objetivo comum unificou os interesses da direita ianque: derrocar o primeiro negro a assumir a Casa Branca, que, não bastasse a cor da pele, ainda tem sobrenome árabe.
Na mesma semana em que o Brasil escolhia seu próximo chefe-de-estado, os estadunidenses eram chamados a definir a composição da Câmara e do Senado para os próximos quatro anos. E as eleições legislativas impuseram uma profunda derrota ao governo democrata. Mais que um mero fracasso político de Barack Obama, o evento significou o maior fiasco de um presidente em influenciar a composição do parlamento desde 1938. Os democratas perderam a maioria entre os deputados, que haviam conseguido durante a administração George W. Bush, e viram sua vantagem minguar a um empate técnico entre os senadores.
A estratégia dos republicanos, capitaneados pelo Tea Party, foi bastante clara. Acusaram o presidente de ser um marxista empedernido, de praticar secretamente o Islã, de querer aumentar o poder e a influência do estado na vida dos cidadãos e de internalizar valores tribais herdados de seus antepassados quenianos. Para a direita, Barack Obama não está imbuído dos princípios americanos.
O Tea Party abominou a reforma democrata no sistema de saúde e rechaçou o pacote econômico lançado pela Casa Branca para aliviar os efeitos da crise no país. Aliás, num enorme esforço de desinformação, a ala mais conservadora dos conservadores estadunidenses atribuiu ao presidente toda a responsabilidade pela recessão – senão pelas suas causas, pelo fracasso em paliar suas consequências.
Na terra do Tio Sam, portanto, o Tea Party já conseguiu colher expressivos resultados eleitorais e ninguém duvida que sua retórica tresloucada imporá novas derrotas políticas ao governo democrata. Com a guinada republicana e a ascensão dos radicais de direita, Barack Obama ficou engessado na presidência.
A reforma no sistema de saúde corre o risco de morrer de inanição pelo boicote anunciado à assignação de recursos. E a política externa obamista, que tem buscado mais diálogo do que Washington estava acostumado e que rendeu ao presidente um prematuro prêmio Nobel da Paz, pode voltar a adotar o bordão “nós ganhamos, eles perdem”.
O esperançoso bordão Yes We Can, que uniu forças progressistas em torno da figura de Obama e de suas promessas de mudança, fatalmente se transformará num lema inócuo quando encontrar a barreira montada pela oposição no Congresso.

Risco de retrocesso
O caso dos Estados Unidos demonstra que as táticas de manipulação e preconceito político sim podem influenciar no resultado das eleições e destruir, do dia para a noite, projetos nacionais que levaram décadas para serem postos em prática.
No Brasil ainda não existe um movimento conservador com tanto apelo popular, mas o PSDB se aproximou perigosamente da baixaria do Tea Party neste segundo turno. Basta lembrar que José Serra saiu por aí frequentando missas, beijando santos, lendo a Bíblia e distribuindo panfletos com os dizeres “Jesus é a verdade e a justiça”. Enquanto encarnava o papel de missionário, dava sermões sobre seu papel de redentor das liberdades civis no país, sobretudo da liberdade de imprensa, que estaria em risco no caso de mais uma vitória do PT.
Entre seus cabos eleitorais, estava o bispo de Guarulhos, dom Luiz Bergonzini. Por intermédio de um militante da causa monarquista, o religioso mandou imprimir folhetos com o logo da CNBB condenando o aborto e sugerindo o voto no tucano. O papa Bento 16, às vésperas do pleito e com ampla cobertura dos meios de comunicação, também deu um empurrãozinho na candidatura do PSDB. No flanco evangélico, o apóstolo Renê Terra Nova não poupou esforços para viajar o Brasil com seu jatinho semeando a palavra de deus travestida de propaganda serrista.
O segundo turno forjou um cenário eleitoral em que os avanços sociais e democráticos alcançados durante o governo Lula foram repentinamente laçados à berlinda das urnas. Dois caminhos estavam à disposição dos brasileiros. Com Dilma, poderíamos seguir uma rota semelhante à trilhada nos últimos 8 anos e, por ventura, aprofundar as mudanças. Com Serra, o retrocesso batia à porta, exposto pelas alianças costuradas pelo PSDB na tentativa de vencer a qualquer custo.
Foi então que a imprensa alternativa reagiu prontamente. Cada ataque da campanha de José Serra ou do noticiário tucanófilo era acompanhado de uma enxurrada de contrapontos, argumentos, fatos e imagens, veiculados pela internet, por jornais ou revistas de esquerda. Talvez o maior exemplo da capacidade de resposta dos meios alternativos tenha sido a determinação dos blogues em destruir a farsa montada pela Rede Globo ao redor da bolinha de papel.
Houve vítimas pelo caminho, claro. A psicoanalista Maria Rita Kehl, que até o segundo turno escreveu para o jornal O Estado de S. Paulo, foi demitida após defender o Bolsa-Família e criticar as correntes anti-nordestinas que pipocavam nas caixas de e-mail pelo Brasil afora. O semanário CartaCapital foi chamado a explicar perante a Justiça os contratos de publicidade que mantém com o governo federal. A Revista do Brasil foi censurada pelo TSE após estampar o rosto de Dilma Rousseff na capa de sua edição de outubro, publicada uma semana depois do primeiro turno.
A polarização era tanta que teve jornalista demitido até no Ceará. Seu pecado foi publicar um caderno especial sobre o intelectual franco-brasileiro Michael Löwy e dois livros de sua autoria: Revoluções e Aviso de Incêndio. Também houve repórteres hostilizados durante o exercício da profissão. Foi com um raivoso “pelego filho da puta” que Aloysio Nunes Ferreira, senador eleito por São Paulo, recebeu um trabalhador da imprensa alternativa por demais insolente ao ponto de querer entrevistá-lo.

Depois da militância
A mídia alternativa desempenhou um duplo papel durante as eleições: não só cumpriu com suas obrigações jornalísticas ao desfazer manipulações, combater preconceitos e oferecer diferentes pontos de vista sobre os fatos, como também atuou política e partidariamente com o objetivo de garantir a vitória de uma candidatura que, a seu juízo – e o segundo turno deixou poucas dúvidas disso –, representava a melhor opção para governar o país. Na maioria das vezes, foi feliz e matou estes dois coelhos com uma cajadada só.
Contudo, passado o susto de uma ressaca conservadora que não aconteceu, talvez seja o momento de jornalistas independentes e meios de comunicação alternativos reavaliarem seu posicionamento no teatro do bem e do mal da política brasileira. Afinal, qual é a linha que separa o chapa-branquismo da defesa do interesse público?
No segundo turno de polarizações eleitorais, criticar as vicissitudes do governo Lula ou as deficiências de Dilma Rousseff era dar munição à violenta campanha montada pela oposição. Por isso, às vésperas do pleito, a corrida presidencial ganhou ares de jogo de futebol. Se os brasileiros deixamos de ser cidadãos e fomos transformados em torcida organizada, o jornalismo seguiu o mesmo rumo: era PT ou PSDB, Gaviões da Fiel ou Mancha Verde, sem meio termo.
Qualquer desconfiança quanto à própria escolha significava ceder à “superioridade” do adversário. A política deu lugar à paixão. E, entre apaixonados, no esporte ou nas eleições, não há diálogo nem entendimento. Tampouco autocrítica: afinal, não se critica o próprio time na final de um campeonato. O atacante pode estar fora de forma e o técnico, ser um energúmeno. O que importa é ganhar.
Dilma ganhou e, felizmente, a peleja chegou ao fim. Como sempre, depois de um processo eleitoral, agora há um país a construir e que tem que dar certo para a maioria. Em tempos de paz, talvez não seja papel do jornalismo – nem do tradicional nem do alternativo – vestir a camisa deste ou daquele partido. Isso não quer dizer que temos de ressuscitar os mitos enterrados da imparcialidade. Tomar partido em épocas de polarização, como vimos, é saudável. Porém, submeter-se aos ditames de um grupo político a tempo completo pode ser danoso.
Em última análise, não há qualquer mal intrínseco em transformar-se no porta-voz de um projeto de poder. Nas democracias mais maduras, as forças partidárias estão bem representadas na imprensa. Na Espanha, o El País mantém relações com o PSOE. Nos Estados Unidos, os democratas estão mais presentes no New York Times. O Il Manifesto, da Itália, não esconde sua preferência comunista. Esta é uma opção legítima para externar à sociedade como uma agremiação política vê o mundo e interpreta a realidade. Da mesma maneira que, no Brasil, os grandes meios de comunicação se identificam com as pautas liberais e com as candidaturas mais conservadoras, como as do PSDB, é saudável que o PT e todos os demais partidos, à medida que ganhem força, também tenham aliados na trincheira midiática.
Entretanto, já passou da hora de jornalistas e meios de comunicação independentes (ou pelo menos os que desejem denominar-se como tais) assumirem papel protagônico no cenário informativo brasileiro. Entre blogueiros e profissionais que ganham a vida fora do eixo tradicional, há capacidade de sobra em braços e cabeças para elaborar uma cobertura livre das amarras mercadológicas e da estreiteza temática da opinião pública.
A internet oferece milhões de possibilidades para a criação de novos paradigmas informativos em áudio, texto, vídeo e imagens, ou na fusão simultânea de todas as mídias, tudo a baixo custo. E há pautas suficientes para preencher um novo noticiário permanente que consiga abarcar, com qualidade técnica e estética, os temas de maior interesse à sociedade nacional e internacional – sobretudo os que não estão ou não encontram na imprensa de massa o espaço que merecem.
Não há razões, portanto, para que os jornalistas independentes se restrinjam ao papel subalterno de combater as infinitas distorções da grande mídia. Estar atento para o que acontece no main stream sempre foi e continuará sendo importante. Afinal, é através do Jornal Nacional, da Veja e dos jornalões que se constrói o senso comum no país. E, ao desconstruir a visão de mundo que diariamente penetra nos lares brasileiros, o jornalismo alternativo oferece novas maneiras de enxergar os fatos, as fotos e as declarações.
Continuar nesta trilha, porém, é ficar à reboque da pauta tradicional – ainda que seja um reboque às avessas. Assim, os veículos da imprensa alternativa correm o risco de se transformar em observatórios de mídia: darão um passo para fora do jornalismo e assumirão funções de críticos, o que já é feito há muito tempo por alguns acadêmicos e, claro, pelo Observatório da Imprensa.

O salto da reportagem
Chegamos ao limite da crítica. O jornalismo alternativo precisa mudar de patamar se quiser continuar existindo de maneira independente e cercar-se de legitimidade social. Porque o melhor combate à grande imprensa se dá oferecendo ao público um conteúdo melhor, que traz em cada manchete o ideal que se revela nas entrelinhas da crítica: opiniões menos superficiais, matérias mais completas, pautas que problematizem a realidade ao invés de simplesmente reproduzi-la ou contrapô-la pelo automatismo cotidiano.
O grande filão do jornalismo independente é a reportagem, que hoje em dia foi colocada em segundo plano pela imensa maioria dos meios de comunicação tradicionais. E por um motivo bastante simples: realizar investigações jornalísticas é muito caro e traz pouco resultado comercial. Aliás, uma boa reportagem muitas vezes atenta contra o mercado publicitário, pois tem a nobre vocação de chafurdar fundo nas mazelas sociais que via de regra põem em xeque o interesse de empresas, instituições ou governos — enfim, os anunciantes em potencial. A reportagem precisa de dinheiro tanto quanto tem o potencial de repeli-lo. Eis a grande sinuca de bico do jornalismo independente hoje.
Assumir uma postura governista durante a gestão do PT pode dar sobrevida econômica aos meios de comunicação alternativos. Não foi à toa que, durante o governo Lula, o Brasil assistiu à diversificação política da imprensa. Antes dominado por conglomerados empresariais, hoje o noticiário brasileiro é mais plural. Os últimos 8 anos ampliaram a liberdade de comunicação e expressão no país, o que é motivo de comemoração, mas ainda estamos longe do ideal.
Nenhum cidadão ficará satisfeito com a divisão da comunicação social entre veículos pró-PT, pró-PSDB ou pró-qualquer-coisa. O jornalismo independente é um serviço público e deve advogar em causa própria. E a causa da imprensa livre foi e sempre será o interesse da maioria da população — ou da fatia social que ela se diz representar. Direitos humanos, justiça social, preservação do meio-ambiente, bem-estar coletivo e liberdades civis são alguns dos valores que podem nortear o ofício de informar.
É a partir deles – e, eventualmente, de sua ampliação e radicalização – que o jornalismo pode escolher criticar ou elogiar governos e desgovernos pelo mundo afora. Elogiar, porém, me parece bastante complicado, já que sempre é possível para a administração pública fazer mais e melhor. Talvez seja a sina do jornalista independente estar permanentemente na oposição, não porque desprecie tudo o que existe ou não seja capaz de reconhecer avanços, mas porque não deve descansar enquanto houver qualquer rastro de injustiça e desigualdade no planeta. É longo o trabalho que tem pela frente: revelar o que está escondido, trazer à tona o que foi submerso pela indiferença cotidiana, discutir o que normalmente não se discute.
Felizmente, a internet está aí para servir-nos. O grande desafio, quem sabe, seja saber como podemos remunerar e possibilitar vida digna aos jornalistas capazes e dispostos a serem independentes. Afinal, por mais autônomo que consiga ser, ninguém escapa da ditadura das contas.

Tadeu Breda é jornalista, colunista do NR. Mantém o blog Latitude Sul.
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