Faz quase um ano (completaria em março) que faço o mesmo trajeto da estação de trem da Lapa de baixo até o metrô São Bento, no centro de São Paulo, até a redação da Revista do Brasil. Neste tempo todo sigo o mesmo ritual, fones e música no ouvido e jornal para leitura. São 30 minutos em média. Pego o trem até a Barra Funda e de lá até a Sé, baldeação sentido Tucuruvi e pulo na São Bento.
A estação da Lapa é uma das mais movimentadas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), já que o bairro é um lugar de passagem e aglutina e dá saída há várias linhas e tipos de transporte, sem contar o seu comércio popular, muito efervescente.
No dia 29, última sexta-feira e último dia de rotina até a São Bento já que voltarei a frequentar as bandas da Vila Madalena na Revista Retrato do Brasil, um encontro inesperado. Devo dizer que, neste dia, era inevitável, ao menos para mim, não ficar chateado com a despedida de amigos que fiz na Revista do Brasil. Bom, esperava o trem já meio tristão quando se achegou um senhor e sentou-se ao meu lado. Nos entreolhamos e ele, com uma expressão de desgosto com a vida me disse “é foda”. Mas o que é “foda”, perguntei.
José, 48 anos, estava desde às 3 horas da manhã de pé, vindo de Mogi das Cruzes, atrás de emprego. Faz um ano que está batalhando um lugar ao sol e sobrevivendo de bicos que não rendem o suficiente para cuidar da mulher e dos três filhos. “É duro ver a cara deles e saber que estou sem forças, mas tenho fé em Deus.”
O José, 1.70 m, calça social marrom, camisa quadriculada lisa, sapatos pretos batidos, barba feita no rosto bolachudo e bigode discreto me lembrou o filme Segunda-Feira ao Sol (Las Lunes al Sol), do diretor Fernando Leon de Aranoa e que tem Javier Bardem no elenco. Numa pequena cidade industrial ao norte da Espanha, um grupo de amigos se reúne no bar de Rico, conversando nas horas vagas, onde compartilham suas frustrações e esperanças sem emprego, rodeados pelo alcoolismo e crises familiares.
Entre eles está Lino (Jose Angel Egido), o único do grupo que tenta novo emprego, em nítida desvantagem com as novas gerações a ponto de tingir o cabelo para parecer mais jovem. Um homem doce, pacato e lutador que não pode deixar a família na mão. Que não pode, como os outros, se render ao tempo e a idade. Que precisa, como José, lutar e buscar uma solução.
O trem chega, embarcamos
José conta sua história, fala dos filhos, da esposa, pergunta de mim, o que faço, quem sou eu. Tem fé e parece ser bem religioso com Deus sempre presente em suas frases. “Tinha um emprego garantido de porteiro de prédio, mas perdi porque não consegui 60 reais para o curso obrigatório”, reclama. "Seria a sorte grande, um salário bom", emenda. “Me dá seu telefone que se eu souber de algo te aviso, José”. “O telefone foi cortado”, explica constrangido. Dou o meu e peço que ligue tão logo tenha um contato de vizinho ou amigo. Agradece. Já na Barra Funda o convido para um café e um salgado. Estava a base de água fazia horas. Agradece e me abraça. Fico sem jeito, mas retribuo.
Falamos pouco. Ele engole o pão de queijo e diz que precisa continuar a caminhada. Nos despedimos. Observo ao longe ele tomar seu rumo. O único sentido de tudo aquilo era o destino Júlio Prestes. Estava num dia fragilizado emocionalmente, sem dúvida, fruto também de um janeiro trágico com tantas desgraças que vêm acontecendo no Haiti e no Brasil. Mas quantos Josés ainda estão por aí e sem rumo? Quanto ainda está por ser feito? Um mundão, outro possível, já não se sei acredito tanto. Me senti um merda por um momento. Mas não era isso o melhor a se pensar. “Foda” é a desigualdade. Essa sim, José, encarnada em você cruzou meu caminho mais uma vez e falou comigo. Não me pediu não mais que um pouco de atenção para desabafar. Espero que você me ligue.
Thiago Domenici é jornalista; um dos autores do livro-reportagem Brasil Direitos Humanos 2008, lançado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH).
domingo, 31 de janeiro de 2010
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Catanduva e Massachusetts
A pedido da tia de William, que me procurou com a mensagem: "Meu sobrinho está preso por um crime que não cometeu. Eu pedi e peço a sua ajuda para a divulgação da matéria assinada por Richard Pedicini que fala do caso de Catanduva", este Nota de Rodapé publica o texto a seguir.
Catanduva e Massachusetts
Por Richard Pedicini
Semana passada em Massachusetts, uma ex-promotora perdeu uma eleição especial para o Senado americano, em parte devido ao seu papel no notório caso de Fells Acres, o pior desvio de Justiça naquele estado desde os processos dos bruxos de Salem, três seculos antes.
Mas o que interessa aqui não são os efeitos da eleição em Washington. É que a sentença da meritíssima juíza Sueli Juarez Alonso, na “rede de pedofilia” de Catanduva, assusta na sua semelhança com o condenação de Fells Acres. E com as condenações das bruxas de Salem.
Alegações impossíveis, falta total de evidências físicas, interrogatórios por psicólogos já convencidos que houve crime, foram parte da onda de supostos casos de abuso que varreu os Estados Unidos nos anos 80-90. Este eleição provocou retrospectivas destes casos, notavelmente de Dorothy Rabinowitz no Wall Street Jornal e no Psychology Today, este último disponível traduzindo aqui.
SEM EVIDÊNCIA OBJETIVA
Tanto em Catanduva quanto em Massachusetts, não há nenhuma evidência médica ou objetiva de que qualquer abuso aconteceu. Em suas quatorze páginas, a sentença da Dra. Sueli não cita nenhum laudo médico, nenhuma prova física, nenhuma evidência objetiva que estes crimes acontecerem.
O que ela cita é a testemunha e os reconhecimentos de crianças. Houve somente isso em Fells Acres, e em Salem.
Uma criança no caso Fells Acres contou que foi sodomizada com uma faca de açougueiro de 30 cm, que não deixou nenhuma machucada. Que nem a menina de Jardim Alpino que contou que foi cortado nos braços com um facão, estuprada, e mutilada na genitália, cujo laudo médico atesta que ela está sem cicatrizes, e como todas as outras supostas vítimas, virgem.
Olharemos primeiro porque a Justiça dos EUA parou de fazer condenações somente na base que a Dra. Sueli usou para condenar Zé da Pipa e seu sobrinho Willian (que ela chama de “William”) a mais de uma década de prisão.
O leitor de Catanduva deve lembrar os detalhes do caso da “rede de pedofilia”. Trataremos aqui de quatro momentos específicos: a caminhonete preta; a apreensão de março; o reconhecimento em Rio Preto em junho; e o micro do médico.
MÚLTIPLAS VÍTIMAS/MÚLTIPLAS OFENSORAS
A dra. Sueli diz que a psicologia é uma ciência. Bem, a matéria da maior revista do ramo, Psychology Today, fala das mudanças na maneira de interrogar crianças depois do caso Michaels em Nova Jersey. O autor, que é advogado e psicólogo, destaca que desde então psicólogos e investigadores policiais mudaram seus métodos de interrogar crianças pequenas, e mais nenhum caso MVMO [Múltiplas Vítimas/Múltiplas Ofensores] têm aparecido nos EUA
É exatamente este tipo de caso de que se trata na caça de bruxas de Catanduva.
Na sentença, a dra. Sueli nota que o psicólogo Paulo, que encontrou sinais de abuso sexual em quase todas as 61 crianças de Jardim Alpino que examinou, tem mestrado e está fazendo doutorado. Ela deixa de notar que estes estudos avançados são em educação especial. (http://lattes.cnpq.br/6015371368541783). Ela dedica quatro páginas da sentença à ciência de psicologia, citando “Psicologia: Uma introdução ao estudo de psicologia”, “Vocabulário de Psicanálise”, “Dicionário Técnico de Psicologia”, e três livros editados mais de um século atrás.
Com todo respeito aos conhecimentos de direito da juíza, que podem ser profundos, suas citações de psicologia sugerem um conhecimento superficial da psicologia. E de psicologia Paulo tem graduação, e só. Se psicologia é mesmo uma ciência, nem a Juíza de Direto nem o psicólogo do Fórum são cientistas.
As entrevistas das crianças de Jardim Alpino seguiu os padrões modernos de interrogação? Para responder precisaremos comparar as entrevistas conduzidas pelo psicologo Paulo com as diretrizes estabelecidas no caso Michaels. Lamentavelmente, enquanto a sentença é pública como em qualquer processo, as entrevistas estão sob sigilo, e talvez nem foram documentadas conforme prática moderna. Pode ser que o caso não foi conduzido seguindo a ciência mais diretamente relevante, mais profunda, e mais moderna, do que a das obras gerais e antigas citadas na sentença.
A CAMINHONETE PRETA
Uma camionete preta supostamente levou as crianças para as orgias. Foi comprovado que um empresário estacionava a caminhonete na escola para conduzir um caso extra-conjugal: funcionários da escola sempre avistaram a caminhonete, até durante as férias escolares, mas nunca notaram nenhuma criança entrar. E o empresário não foi reconhecido pelas crianças.
Mas, é notório que as crianças falaram que foram levados numa caminhonete preta. Como que a meritíssima juíza resolve a contradição?
Da mesma maneira que ela resolve que a menina com os cortes profundos sarou sozinha, sem deixar cicatrizes. Ela pula completamente. A caminhonete não aparece na sentença.
Ela decidiu também que Willian cometeu os crimes que lhe foram atribuídos durante as duas horas que seu serviço dava para o almoço, e que levou uma das crianças no moto, para encontros com homens que não foram identificados, num lugar que não foi identificado.
Semana passada em Massachusetts, uma ex-promotora perdeu uma eleição especial para o Senado americano, em parte devido ao seu papel no notório caso de Fells Acres, o pior desvio de Justiça naquele estado desde os processos dos bruxos de Salem, três seculos antes.
Mas o que interessa aqui não são os efeitos da eleição em Washington. É que a sentença da meritíssima juíza Sueli Juarez Alonso, na “rede de pedofilia” de Catanduva, assusta na sua semelhança com o condenação de Fells Acres. E com as condenações das bruxas de Salem.
Alegações impossíveis, falta total de evidências físicas, interrogatórios por psicólogos já convencidos que houve crime, foram parte da onda de supostos casos de abuso que varreu os Estados Unidos nos anos 80-90. Este eleição provocou retrospectivas destes casos, notavelmente de Dorothy Rabinowitz no Wall Street Jornal e no Psychology Today, este último disponível traduzindo aqui.
SEM EVIDÊNCIA OBJETIVA
Tanto em Catanduva quanto em Massachusetts, não há nenhuma evidência médica ou objetiva de que qualquer abuso aconteceu. Em suas quatorze páginas, a sentença da Dra. Sueli não cita nenhum laudo médico, nenhuma prova física, nenhuma evidência objetiva que estes crimes acontecerem.
O que ela cita é a testemunha e os reconhecimentos de crianças. Houve somente isso em Fells Acres, e em Salem.
Uma criança no caso Fells Acres contou que foi sodomizada com uma faca de açougueiro de 30 cm, que não deixou nenhuma machucada. Que nem a menina de Jardim Alpino que contou que foi cortado nos braços com um facão, estuprada, e mutilada na genitália, cujo laudo médico atesta que ela está sem cicatrizes, e como todas as outras supostas vítimas, virgem.
Olharemos primeiro porque a Justiça dos EUA parou de fazer condenações somente na base que a Dra. Sueli usou para condenar Zé da Pipa e seu sobrinho Willian (que ela chama de “William”) a mais de uma década de prisão.
O leitor de Catanduva deve lembrar os detalhes do caso da “rede de pedofilia”. Trataremos aqui de quatro momentos específicos: a caminhonete preta; a apreensão de março; o reconhecimento em Rio Preto em junho; e o micro do médico.
MÚLTIPLAS VÍTIMAS/MÚLTIPLAS OFENSORAS
A dra. Sueli diz que a psicologia é uma ciência. Bem, a matéria da maior revista do ramo, Psychology Today, fala das mudanças na maneira de interrogar crianças depois do caso Michaels em Nova Jersey. O autor, que é advogado e psicólogo, destaca que desde então psicólogos e investigadores policiais mudaram seus métodos de interrogar crianças pequenas, e mais nenhum caso MVMO [Múltiplas Vítimas/Múltiplas Ofensores] têm aparecido nos EUA
É exatamente este tipo de caso de que se trata na caça de bruxas de Catanduva.
Na sentença, a dra. Sueli nota que o psicólogo Paulo, que encontrou sinais de abuso sexual em quase todas as 61 crianças de Jardim Alpino que examinou, tem mestrado e está fazendo doutorado. Ela deixa de notar que estes estudos avançados são em educação especial. (http://lattes.cnpq.br/6015371368541783). Ela dedica quatro páginas da sentença à ciência de psicologia, citando “Psicologia: Uma introdução ao estudo de psicologia”, “Vocabulário de Psicanálise”, “Dicionário Técnico de Psicologia”, e três livros editados mais de um século atrás.
Com todo respeito aos conhecimentos de direito da juíza, que podem ser profundos, suas citações de psicologia sugerem um conhecimento superficial da psicologia. E de psicologia Paulo tem graduação, e só. Se psicologia é mesmo uma ciência, nem a Juíza de Direto nem o psicólogo do Fórum são cientistas.
As entrevistas das crianças de Jardim Alpino seguiu os padrões modernos de interrogação? Para responder precisaremos comparar as entrevistas conduzidas pelo psicologo Paulo com as diretrizes estabelecidas no caso Michaels. Lamentavelmente, enquanto a sentença é pública como em qualquer processo, as entrevistas estão sob sigilo, e talvez nem foram documentadas conforme prática moderna. Pode ser que o caso não foi conduzido seguindo a ciência mais diretamente relevante, mais profunda, e mais moderna, do que a das obras gerais e antigas citadas na sentença.
A CAMINHONETE PRETA
Uma camionete preta supostamente levou as crianças para as orgias. Foi comprovado que um empresário estacionava a caminhonete na escola para conduzir um caso extra-conjugal: funcionários da escola sempre avistaram a caminhonete, até durante as férias escolares, mas nunca notaram nenhuma criança entrar. E o empresário não foi reconhecido pelas crianças.
Mas, é notório que as crianças falaram que foram levados numa caminhonete preta. Como que a meritíssima juíza resolve a contradição?
Da mesma maneira que ela resolve que a menina com os cortes profundos sarou sozinha, sem deixar cicatrizes. Ela pula completamente. A caminhonete não aparece na sentença.
Ela decidiu também que Willian cometeu os crimes que lhe foram atribuídos durante as duas horas que seu serviço dava para o almoço, e que levou uma das crianças no moto, para encontros com homens que não foram identificados, num lugar que não foi identificado.
Numa cidade pequena, como não se poderia identificar este lugar e estes homens, onde até 61 crianças foram supostamente levadas, durante meses, a luz do meio-dia? Como que é que ninguém presenciou nenhuma destas viagens?
Em Salem, pelo menos, diziam que as vôos de vassoura aconteciam a noite.
AS APREENSÕES DE MARÇO
Antes da visita da CPI em março, mandados de busca e apreensão assinadas pela dra. Sueli foram cumpridos por 40 policiais e 20 promotores, sob o olhar da mídia nacional, já posicionada para veicular o espetáculo.
Serviu muito bem para espalhar as acusações, e destacar Catanduva no olhar da nação, no mal sentido. Mas serviu em nada para colher evidências, pela sua ausência conspícua nesta sentença. Nem os micros, nem os cruzamento dos telefones cujo sigilo foi quebrado pela CPI, nenhum dado colhido por sessenta homens da lei e três Senadores da República tinha peso o suficiente para ser citado no julgamento da figura central da “rede”.
O RECONHECIMENTO DE JUNHO
O peso foi dado pela mídia, e pela juíza, aos reconhecimentos. Acompanhei do lado de fora o reconhecimento em São José do Rio Pardo em junho, e do que ouvi, quem mais foi reconhecido lá foi Zé da Pipa.
Neste momento, uns dos leitores deve estar prestes a abandonar este texto. Afinal, se Zé foi reconhecido, o resto é detalhe.
Antes, mais um detalhe: Zé não estava em Rio Preto naquele dia. Quem o "reconheceu" estava errado, e consequentemente desconfio dos outros supostos reconhecimentos, dois ou três, naquele ocasião e nos outros.
O MICRO DO MÉDICO
A delegada Rosana da Silva Vanni foi duramente criticada por ter telefonado para o advogado do médico, em março, para dizer que ia executar uma busca na casa dele. Chegado vinte minutos depois, ela foi informada que o micro estava na oficina.
No CPI, este incidente foi agarrado como sendo "as provas sumiram", e que “os culpados escapariam” por isso.
Mas vamos com calma. As supostas fotos não foram encontradas em nenhuma das dúzias de computadores apreendidos no caso. Os abusos supostamente acontecerem durante meses, com o suposto intuito de distribuir fotos pelo internet. E elas não foram encontradas na internet.
Não foram encontradas no computador de Zé da Pipa, porque o borracheiro não tinha computador: sua câmera falava diretamente com a impressora que usava para imprimir as caras das crianças nas pipas. E nenhuma foto física ilegal foi encontrada.
A suposição de que existia uma rede de distribuir pornografia, mas que não distribuiu fotos, mas mantinha uma única copia, e apesar do barulho dos caçadores se aproximando durante semanas, deixou para sumir com as evidências vinte minutos antes da chegada da polícia, é absurda!
Acredito mais nos vôos de vassoura.
MAIS A SER DITO
Há mais a ser dito sobre esta investigação e esta sentença, e creio que será dito, que o caso de Catanduva será estudado no Brasil da mesma maneira de que o caso de Fells Acres é estudado nos Estados Unidos: um modelo de como não se faz a investigação deste tipo de acusação.
PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA
Qualquer acusado, não importando a natureza da suposto crime, é presumido inocente. Sua culpa tem que ser provada.
Muitas das acusações e detalhes mais espetaculares que Brasil inteiro ouviu, foram cabalmente desmentidos. Muitas das acusações feitas pelas crianças foram falsas: francamente absurdas ou desmentidas pelos laudos médicos. A sentença não explica nada disso, aparentemente ecoando a onda americana destes casos, quando a regra foi que tudo que criança falava que não era comprovadamente falso era verdade pura, e onde a atitude para com inconsistências foi, “Dane-se e condena-se!”
A falta total de evidência física na sentença, especialmente aquela que deveria existir, assusta, especialmente à luz dos casos americanos. Que toda a prova é fruto de entrevistas feitas por um especialista em educação especial, cuja taxa de diagnosticar abuso é “quase 100%”, perturba. Que a condenação está apoiada tal-somente nos conhecimentos de uma psicologia sem formação avançada na disciplina, e os conhecimentos da área mais superficiais ainda da juíza, causa desconfiança.
SOLTEM OS PRESOS
Há quatro presos na suposta rede de pedofilia de Catanduva. Há os dois menores (“recolhidos à Fundação Casa”, mas dá no mesmo), e Willian. É absolutamente comprovado que estes três foram vítimas de crimes. Willian foi sequestrado e só escapou da morte devida a ação rápida da PM, que tinha os telefones da PCC grampeados. Os dois menores tiverem seus nomes veiculados na imprensa como acusados, em violação da ECA, e um deles foi fisicamente atacado em frente ao Fórum, em frente a imprensa.
O caso de José Barra Nova de Mello, o "Zé da Pipa", é um pouco mais complicado. Ele confessou delitos. A juíza deu pouco peso a isso, condenando pelo que ele confessou e o que não confessou.
Ouvi falar desta confissão de Zé quando visitei Catanduva em junho, e voltei para casa convencido que realmente Zé tinha feito alguma coisa, mas que tudo apontava que ele agiu sozinho.
Chegando em São Paulo, fui ler sobre os processos das bruxas de Salem, e fiquei abismado ao ler os conselhos de uns sábios de 300 anos atrás, de que nestes casos não se deve acreditar nem em confissões. Pois umas das bruxas de Salem confessou também.
A juíza diz que “a prova é robusta”, de que “não há dúvidas quanto a veracidade”. Falaram assim em Salem, faz 300 anos, e no caso Fells Acres, também.
Os quatro devem ser soltos já, enquanto o Tribunal de Justiça julga as apelações, presumivelmente na luz da lei e não da psicologia.
Richard Pedicini é formado em filosofia pela universidade Yale e escreve sobre aviação e crimes de imprensa. Foi envolvido, preso e posteriormente libertado e inocentado no caso da Escola Base, em 1994
Em Salem, pelo menos, diziam que as vôos de vassoura aconteciam a noite.
AS APREENSÕES DE MARÇO
Antes da visita da CPI em março, mandados de busca e apreensão assinadas pela dra. Sueli foram cumpridos por 40 policiais e 20 promotores, sob o olhar da mídia nacional, já posicionada para veicular o espetáculo.
Serviu muito bem para espalhar as acusações, e destacar Catanduva no olhar da nação, no mal sentido. Mas serviu em nada para colher evidências, pela sua ausência conspícua nesta sentença. Nem os micros, nem os cruzamento dos telefones cujo sigilo foi quebrado pela CPI, nenhum dado colhido por sessenta homens da lei e três Senadores da República tinha peso o suficiente para ser citado no julgamento da figura central da “rede”.
O RECONHECIMENTO DE JUNHO
O peso foi dado pela mídia, e pela juíza, aos reconhecimentos. Acompanhei do lado de fora o reconhecimento em São José do Rio Pardo em junho, e do que ouvi, quem mais foi reconhecido lá foi Zé da Pipa.
Neste momento, uns dos leitores deve estar prestes a abandonar este texto. Afinal, se Zé foi reconhecido, o resto é detalhe.
Antes, mais um detalhe: Zé não estava em Rio Preto naquele dia. Quem o "reconheceu" estava errado, e consequentemente desconfio dos outros supostos reconhecimentos, dois ou três, naquele ocasião e nos outros.
O MICRO DO MÉDICO
A delegada Rosana da Silva Vanni foi duramente criticada por ter telefonado para o advogado do médico, em março, para dizer que ia executar uma busca na casa dele. Chegado vinte minutos depois, ela foi informada que o micro estava na oficina.
No CPI, este incidente foi agarrado como sendo "as provas sumiram", e que “os culpados escapariam” por isso.
Mas vamos com calma. As supostas fotos não foram encontradas em nenhuma das dúzias de computadores apreendidos no caso. Os abusos supostamente acontecerem durante meses, com o suposto intuito de distribuir fotos pelo internet. E elas não foram encontradas na internet.
Não foram encontradas no computador de Zé da Pipa, porque o borracheiro não tinha computador: sua câmera falava diretamente com a impressora que usava para imprimir as caras das crianças nas pipas. E nenhuma foto física ilegal foi encontrada.
A suposição de que existia uma rede de distribuir pornografia, mas que não distribuiu fotos, mas mantinha uma única copia, e apesar do barulho dos caçadores se aproximando durante semanas, deixou para sumir com as evidências vinte minutos antes da chegada da polícia, é absurda!
Acredito mais nos vôos de vassoura.
MAIS A SER DITO
Há mais a ser dito sobre esta investigação e esta sentença, e creio que será dito, que o caso de Catanduva será estudado no Brasil da mesma maneira de que o caso de Fells Acres é estudado nos Estados Unidos: um modelo de como não se faz a investigação deste tipo de acusação.
PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA
Qualquer acusado, não importando a natureza da suposto crime, é presumido inocente. Sua culpa tem que ser provada.
Muitas das acusações e detalhes mais espetaculares que Brasil inteiro ouviu, foram cabalmente desmentidos. Muitas das acusações feitas pelas crianças foram falsas: francamente absurdas ou desmentidas pelos laudos médicos. A sentença não explica nada disso, aparentemente ecoando a onda americana destes casos, quando a regra foi que tudo que criança falava que não era comprovadamente falso era verdade pura, e onde a atitude para com inconsistências foi, “Dane-se e condena-se!”
A falta total de evidência física na sentença, especialmente aquela que deveria existir, assusta, especialmente à luz dos casos americanos. Que toda a prova é fruto de entrevistas feitas por um especialista em educação especial, cuja taxa de diagnosticar abuso é “quase 100%”, perturba. Que a condenação está apoiada tal-somente nos conhecimentos de uma psicologia sem formação avançada na disciplina, e os conhecimentos da área mais superficiais ainda da juíza, causa desconfiança.
SOLTEM OS PRESOS
Há quatro presos na suposta rede de pedofilia de Catanduva. Há os dois menores (“recolhidos à Fundação Casa”, mas dá no mesmo), e Willian. É absolutamente comprovado que estes três foram vítimas de crimes. Willian foi sequestrado e só escapou da morte devida a ação rápida da PM, que tinha os telefones da PCC grampeados. Os dois menores tiverem seus nomes veiculados na imprensa como acusados, em violação da ECA, e um deles foi fisicamente atacado em frente ao Fórum, em frente a imprensa.
O caso de José Barra Nova de Mello, o "Zé da Pipa", é um pouco mais complicado. Ele confessou delitos. A juíza deu pouco peso a isso, condenando pelo que ele confessou e o que não confessou.
Ouvi falar desta confissão de Zé quando visitei Catanduva em junho, e voltei para casa convencido que realmente Zé tinha feito alguma coisa, mas que tudo apontava que ele agiu sozinho.
Chegando em São Paulo, fui ler sobre os processos das bruxas de Salem, e fiquei abismado ao ler os conselhos de uns sábios de 300 anos atrás, de que nestes casos não se deve acreditar nem em confissões. Pois umas das bruxas de Salem confessou também.
A juíza diz que “a prova é robusta”, de que “não há dúvidas quanto a veracidade”. Falaram assim em Salem, faz 300 anos, e no caso Fells Acres, também.
Os quatro devem ser soltos já, enquanto o Tribunal de Justiça julga as apelações, presumivelmente na luz da lei e não da psicologia.
Richard Pedicini é formado em filosofia pela universidade Yale e escreve sobre aviação e crimes de imprensa. Foi envolvido, preso e posteriormente libertado e inocentado no caso da Escola Base, em 1994
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Longe de casa eu choro
Música de Eduardo Gudin e Paulo Vanzolini, das que eu mais gosto da coletânea - inspiradora do documentário um Homem de Moral - Acerto de Contas. Atenção a letra, sensacional!
Longe de casa eu choro
e não quero nada.
(Que fora do chão ninguém quer
e não pode nada).
Sinto falta de São Paulo,
de escutar, na madrugada,
uns bordões de violões
e uma flauta chorar prata...
Dor de amor não me magoa.
A saudade da garoa é que me mata.
E eu saio pra rua,
Assobiando comprido
um samba comovido
que Silvio Caldas cantasse
(e me iludo que a garoa
vem molhar a minha face....
Mas é pranto.
E eu choro tanto...)
Quem me dera que hoje mesmo
eu voltasse pro chão que eu adoro.
Pois longe de casa eu choro
e não quero nada.
Longe de casa eu choro
e não quero nada.
(Que fora do chão ninguém quer
e não pode nada).
Sinto falta de São Paulo,
de escutar, na madrugada,
uns bordões de violões
e uma flauta chorar prata...
Dor de amor não me magoa.
A saudade da garoa é que me mata.
E eu saio pra rua,
Assobiando comprido
um samba comovido
que Silvio Caldas cantasse
(e me iludo que a garoa
vem molhar a minha face....
Mas é pranto.
E eu choro tanto...)
Quem me dera que hoje mesmo
eu voltasse pro chão que eu adoro.
Pois longe de casa eu choro
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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
FSM: me dá um pouco do seu bem viver?
O camarada de redação e colunista deste Nota de Rodapé, João Peres, está em Porto Alegre fazendo a cobertura diária do Fórum Social Mundial para a Rede Brasil Atual e Revista do Brasil. Com fome, provavelmente, depois de algumas maratonas, mandou este texto publicado no blogue NaRede, também da RBA.
Seriam os atrasos uma forma de a esquerda nacional se diferenciar da neurose direitista por horários e protocolos?
Direto de Porto Alegre - Os atrasos são parte do protocolo do Fórum Social Mundial. Começar fora do horário, muito fora do horário, estranhamente sempre foi um orgulho para a esquerda brasileira.
É possível que alguém saiba a origem disso. Talvez, em algum momento, tenha sido uma maneira de se diferenciar da direita, neurótica com horários e protocolos, algo assim.
O fato é que aqui, em Porto Alegre, os eventos vão entrar em competição para ver quem começa com o maior atraso. Parece aquela rodada final do Brasileirão em que uma partida depende da outra e acha que leva vantagem quem retardar um pouquinho mais o pontapé inicial.
O atraso mínimo é de 45 minutos e a média é de uma hora, podendo facilmente atingir o pico de uma hora e meia. Curiosamente, discute-se outro mundo possível por aqui.
Talvez se imagine que, nesse outro mundo, todos terão mais tempo disponível para uma boa prosa e, por isso, não é preciso ter pressa.
Mas, enquanto isso não se concretiza, quem pena são los de abajo. Por exemplo, o evento desta quarta-feira (27) na Assembleia Legislativa gaúcha discutia o bem-viver, ou seja, um modo de que todos vivam com qualidade de vida. Começou às 9h50. Dentro do horário previsto, portanto, nove da matina.
Bobo é o jornalista que ainda chega no horário, penso eu. Quando finalmente começam os debates, e lá se vai uma hora sentado na cadeira, ninguém fala dentro dos minutos protocolares, claro, e estender-se pelo dobro do previsto também é regra.
Resulta que acaba sempre depois de uma da tarde a discussão que deveria ter se encerrado, no máximo, ao meio-dia.Os painelistas têm pela frente uma tarde livre para irem aos outros debates. Quem acompanha o Fórum de perto ganha duas horas para comer e ir à programação da tarde, considerando que haverá mais uma hora de lambuja de atraso.
O jornalista, no entanto, precisa escrever sobre os debates da parte da manhã, engolir alguma coisa e novamente imaginar, erroneamente, que pela tarde um outro mundo será possível e tudo vai começar no horário. Ele avança pelas ruas, pega o primeiro pastel que aparece pela frente e chega ao outro evento. Por lá, desolado, dá-se conta de que vai esperar mais uma hora.
E que o evento da tarde, portanto, vai acabar quando a noite gaúcha estiver caindo. Ele ainda precisará escrever o que o cérebro permitir e, claro, comer aquilo que não comeu no almoço.
Na próxima edição, bem que os organizadores do Fórum poderiam pensar no bem-viver dos repórteres. Ou distribuir porções em pacotinho.
-Me dá um pouco de bem-viver?
-Claro. Vai querer de 300 ou de 500?
-Não, hoje vou me acabar. Quero um litro. E pode mandar direto na veia!
Enquanto isso não acontece, alguém tem um pouco de bem-viver para me dar?
João Peres é jornalista e colunista do Nota de Rodapé
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Humor em pílulas # 5
Um olhar diferente. Foi assim que pensei em abrir minha coluna em 2010. Quem sabe, o olhar do paciente?! Será que nós, médicos e profissionais da saúde, também não damos umas “bolas fora” de vez em quando? Minha resposta é não, pois é de vez em sempre.
Tal Mãe, Tal Filha
Terça-Feira, 10 da manhã, rotina de sempre: consultas de pacientes agendados e, quando o tempo permitia, atendia alguns pacientes de encaixe, que não haviam marcado hora e procuravam o hospital em caráter de urgência. E foi entre as dezenas de consultas que chamo Sílvia. “Ah, Sílvia... se eu soubesse, teria ido tomar um café em vez de te atender.”
- Olá, bom dia Sílvia, em que posso ajudá-la?
[Sílvia, 19 anos, entrou acompanhada por senhora lá com seus 42 anos, sua mãe... obviamente]
- Bom dia Dr.! Vim aqui porque estou com tosse, um pouco de peito cheio e sensação de falta de ar, não sei bem...
- E há quantos dias está assim? Teve febre?
- Não Dr., febre não. Mas tô assim faz uns três dias, começou tipo uma gripe.
Nesse momento, dirigi-me à mãe de Sílvia:
- Sra., me diga uma coisa: sua filha, na infância, teve muitos problemas pulmonares, como crises de asma ou...
Antes que eu pudesse concluir, Sílvia rispidamente me interrompeu, para dizer a última frase que pensaria em ouvir naquela situação:
- Dr., ela não é minha mãe... É minha esposa.
É no sentido figurado, pô!
Pronto-Socorro Municipal, sala de emergência. A materialização do caos, muito distante do que Dr. John Carter e sua equipe no seriado E.R nos dão a impressão de ser. Macas, soros e sangue entrecortados por jalecos brancos que vão e vem tentando fazer o possível. Logo entra novamente a equipe de resgate do SAMU, com mais um paciente grave para ser internado. Feito o atendimento inicial, a conduta foi dada à enfermagem:
- Meninas, por favor, paciente hemodinamicamente instável! Rápido: quero um acesso venoso e um sorão de 1000 no pau!!! Agora!!!
Feito o pedido, viro-me para assinar a papelada do SAMU e, em um minuto, volto ao paciente, para prosseguir com o atendimento. E a cena que se segue é quase indescritível: o paciente está sim, com o acesso venoso solicitado, em braço direito. E está sim, com o soro de 1000ml. Porém, o soro não está na veia, mas sim, no pênis! A auxiliar de enfermagem, inexperiente (e, digamos, maliciosa) entendeu que o “sorão de 1000 no pau” era no “pau” mesmo, e não “rapidamente”, como eu quis dizer. É no sentido figurado, pô!
Dr. Rino é médico e, há meses, considera toda senhora que acompanha uma moça em consulta uma Cássia Eller em potencial e, sem dúvida, tem evitado o uso de gírias desnecessárias no ambiente de trabalho.
Tal Mãe, Tal Filha
Terça-Feira, 10 da manhã, rotina de sempre: consultas de pacientes agendados e, quando o tempo permitia, atendia alguns pacientes de encaixe, que não haviam marcado hora e procuravam o hospital em caráter de urgência. E foi entre as dezenas de consultas que chamo Sílvia. “Ah, Sílvia... se eu soubesse, teria ido tomar um café em vez de te atender.”
- Olá, bom dia Sílvia, em que posso ajudá-la?
[Sílvia, 19 anos, entrou acompanhada por senhora lá com seus 42 anos, sua mãe... obviamente]
- Bom dia Dr.! Vim aqui porque estou com tosse, um pouco de peito cheio e sensação de falta de ar, não sei bem...
- E há quantos dias está assim? Teve febre?
- Não Dr., febre não. Mas tô assim faz uns três dias, começou tipo uma gripe.
Nesse momento, dirigi-me à mãe de Sílvia:
- Sra., me diga uma coisa: sua filha, na infância, teve muitos problemas pulmonares, como crises de asma ou...
Antes que eu pudesse concluir, Sílvia rispidamente me interrompeu, para dizer a última frase que pensaria em ouvir naquela situação:
- Dr., ela não é minha mãe... É minha esposa.
É no sentido figurado, pô!
Pronto-Socorro Municipal, sala de emergência. A materialização do caos, muito distante do que Dr. John Carter e sua equipe no seriado E.R nos dão a impressão de ser. Macas, soros e sangue entrecortados por jalecos brancos que vão e vem tentando fazer o possível. Logo entra novamente a equipe de resgate do SAMU, com mais um paciente grave para ser internado. Feito o atendimento inicial, a conduta foi dada à enfermagem:
- Meninas, por favor, paciente hemodinamicamente instável! Rápido: quero um acesso venoso e um sorão de 1000 no pau!!! Agora!!!
Feito o pedido, viro-me para assinar a papelada do SAMU e, em um minuto, volto ao paciente, para prosseguir com o atendimento. E a cena que se segue é quase indescritível: o paciente está sim, com o acesso venoso solicitado, em braço direito. E está sim, com o soro de 1000ml. Porém, o soro não está na veia, mas sim, no pênis! A auxiliar de enfermagem, inexperiente (e, digamos, maliciosa) entendeu que o “sorão de 1000 no pau” era no “pau” mesmo, e não “rapidamente”, como eu quis dizer. É no sentido figurado, pô!
Dr. Rino é médico e, há meses, considera toda senhora que acompanha uma moça em consulta uma Cássia Eller em potencial e, sem dúvida, tem evitado o uso de gírias desnecessárias no ambiente de trabalho.
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Parceria Blog do Renatão e Nota de Rodapé
"A partir de agora, o Blog do Renatão começa uma parceria com o Nota de Rodapé, um blog colaborativo do jornalista Thiago Domenici. Os leitores serão beneficiados por um dinamismo maior na edição e na aferição do espaço. A ideia é continuar a noticiar os assuntos que a grande mídia não pauta e publicar meus escritos, de resenhas a análises e histórias que vivi na imprensa brasileira." - Renato Pompeu
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Reportagem 360º e as diferentes caras de um assunto
Felipe Lloreda é um jovem jornalista colombiano. Atendeu gentilmente o pedido de entrevista do Nota de Rodapé com a mensagem “Con mucho gusto”. Diretor de Novos Meios do El País da Colômbia, neste bate-papo exclusivo o assunto é reportagem 360º. “Reportagem o que?” você se pergunta. Uma explicação: “É a reportagem onde graficamente podem-se visualizar as diferentes caras de um assunto”, diz ele. Criado em 2009, o projeto completa neste janeiro seu primeiro ano de vida. As três reportagens disponíveis, a primeira sobre Cali, a ciudad que no duerme, a segunda sobre La hoja sagrada e a terceira sobre Cali una industria salsera são de arrepiar. Difícil explicar o que será o futuro do jornalismo com tanta inovação. Essa, no entanto, é merecedora do destaque tamanha a qualidade do que fazem usando áudio, vídeo, texto e muita criatividade e bom gosto. É a tecnologia a favor do bom jornalismo. Sem mais, é preciso ver, brincar e descobrir o que aqui no Brasil ainda não existe ou não se descobriu. O Nota de Rodapé apresenta, em certa medida e sem pretensões, esta novidade dos vizinhos periodistas da Colômbia. Por Ricardo Viel, Rodrigo Menitto e Thiago Domenici
NR - conceitualmente e praticamente o que é e como surgiu no cotidiano de vocês a reportagem 360º? Em que categoria de informação poderíamos enquadrar o que vocês fazem? Jornalismo interativo? Multimídia? Ou reportagem 360º é uma nova categoria?
É uma nova forma de informar, a partir de todos os ângulos. Surge da necessidade de provocar impacto e de nos ajustar aos usuários de hoje, àqueles que estão navegando em sites onde se obtêm uma experiência virtual. É jornalismo interativo. É multimídia. É um pouco de tudo. É também uma aposta para conseguir mais visitas ao jornal diário tradicional online. A categoria: inovação jornalística, aproveitando todas as ferramentas que existem na web, por isso chama-se 360. Porque graficamente podem-se visualizar as diferentes caras de um assunto.
NR - O conceito de reportagem jornalística tradicional pressupõe volume de informações, profundidade do tema, apuração, de preferência, no local, muitas entrevistas, em alguns casos vivência da pauta e fotografias relevantes e bem feitas. Como diretor de Novos Meios, como você define o tipo de reportagem proposto por vocês? No que ela se diferencia da reportagem jornalística tradicional além da utilização e interação de outras mídias?
O tipo de reportagem é documental aproveitando as ferramentas da web possíveis, onde a forma se converte em protagonista e o fundo é secundário. Por isso, quando pensamos na produção de um conteúdo, planejamos primeiro desde o ponto de vista visual, não necessariamente jornalístico. Devem-se imaginar tudo. É fazer documentários com interação e participação.
NR - Desde quando existe a reportagem 360º? Como começou, se basearam em algum projeto? Existem outros projetos como o de vocês no mundo que conheçam? Onde se inspiraram?
Nasceu como projeto em janeiro de 2009, pela necessidade de inovar e tem como modelo a Repórter Indigo, um web site, de estilo revista-virtual espetacular do México, que foca na investigação ou denúncias temáticas conjunturais primordialmente e apresentando-as em formatos digitais inovadores. No mundo existem os especiais que desenvolvem o (jornal) Clarín da Argentina, HBO, Olé, Mediastorm e New York Times.
NR - A qualidade estética é especialmente chamativa no trabalho. Usam muitos efeitos sonoros, muitos vídeos, áudios, fotografias. O texto, no trabalho da reportagem 360º, não me parece ser o eixo principal, mas parte do conjunto da obra. É isso mesmo? É o jornalismo que vocês acreditam para o futuro?
Para nós é uma forma de fazer jornalismo interativo e moderno. Não sei se é o futuro, mas está prendendo a atenção dos usuários, inovando, impactando e gerando muitas opiniões positivas.
NR - Pensando no longo prazo, onde vocês querem chegar com este trabalho? Torná-lo cotidiano e popular depende, sobretudo, de uma maior acessibilidade a internet nos termos da inclusão digital. O que pensam a respeito?
Queremos chegar a fazer uma reportagem quinzenal, porque transformar em algo cotidiano perde sua especialidade. Além disso, os navegantes demoram em consumir e apreciar a reportagem. Eles consomem por espaços, dias, semanas... No caso da Colômbia a acessibilidade da web já chegou a metade da população e cresce em grandes medidas. Então, cada dia que passa mais gente vai poder ver nosso especial.
NR - Acho que o equipamento que vocês usam não é algo muito caro que impeça que a grande maioria dos jornais da América do Sul também os tenha. Porque então não existem mais projetos como estes? Existem resistências dos jornalistas para fazer este tipo de reportagem? O público também apresentou resistência a esta linguagem?
Os jornalistas, engenheiros e designer deste projeto são independentes do impresso. É um time separado, mas que gradualmente tomaram empatia pelo 360º. O tradicionalismo foi um obstáculo que enfrentamos em algum momento (“estávamos loucos!”). No entanto tudo é um processo. Já a redação do jornal está muito mais envolvida em nosso projeto e temos um plano de integração com eles para fazer trabalhos em conjunto e aproveitar sinergias.
NR - Qual foi a resposta que vocês receberam do público, de outros jornalistas e dos anunciantes a respeito das reportagens? Financeiramente para vocês já é rentável? Tem um custo alto fazer este tipo de trabalho?
O público adora isso! Incremento de visitas, usuários e felicitações dos jornalistas da web, de outras mídias. Financeiramente ainda não é rentável. Só começaremos a fazer orçamentos de publicidade em 2010. Embora nunca tenha nascido para ser um produto comercial.
NR - Quanto tempo leva fazer uma reportagem assim, desde a ideia até sua publicação? Quantas pessoas estão envolvidas (trabalham unicamente na reportagem 360 ou também no jornal impresso ou online)?
Demoramos um mês para fazer tudo. A pré-produção, produção, edição e teste. No entanto, temos um plano de conteúdos criativos que não são conjunturais, que vamos trabalhando cada um independentemente. Contamos com um grupo de um engenheiro, três designers web, três jornalistas, um fotógrafo, um editor de multimídia e eu, o diretor da área. Este grupo trabalha exclusivamente no 360º. Mas em 2010 teremos um grupo inteiro de novas mídias no El País S.A. gerando reportagens. Somos 19 no total.
NR - O que é preciso para fazer estas reportagens? É preciso que os repórteres sofram uma grande mudança para comunicar-se através desta linguagem? O que é preciso para um repórter trabalhar neste formato?
São repórteres web que pensam diferente, ou seja, em outro formato. Não levam gravadores e sim câmaras digitais e vídeo câmara. E são todos guiados pelo editor multimídia, quem conceitualiza quase todo o site com seus designers. Os jornalistas tradicionais normalmente não trabalham neste tipo de produto jornalístico. No entanto, no processo de integração estamos treinando vários. Hoje temos dois jornalistas que saíram do impresso.
NR - Os computadores com capacidade de processar vídeos estão cada vez mais acessíveis. Este tipo de linguagem se tornará mais comum?
A maioria é (o programa) Flash. É muito acessível.
NR - Que número de visitas vocês tem e como navega o público pelo site?
O público experimenta o site navegando. Não existe uma ordem, é de acordo com cada navegante e sua forma de pensar. As visitas variam entre 250 mil usuários até 500 mil, dependendo da temática.
NR - Já cogitaram fazer versões traduzidas ou legendadas do trabalho de vocês para ganhar novos públicos? Inglês? Português etc? Ou mesmo espalhar o conceito para outros países?
Não. Mas você acabou de me dar uma excelente ideia. Muito obrigado!
NR - conceitualmente e praticamente o que é e como surgiu no cotidiano de vocês a reportagem 360º? Em que categoria de informação poderíamos enquadrar o que vocês fazem? Jornalismo interativo? Multimídia? Ou reportagem 360º é uma nova categoria?
É uma nova forma de informar, a partir de todos os ângulos. Surge da necessidade de provocar impacto e de nos ajustar aos usuários de hoje, àqueles que estão navegando em sites onde se obtêm uma experiência virtual. É jornalismo interativo. É multimídia. É um pouco de tudo. É também uma aposta para conseguir mais visitas ao jornal diário tradicional online. A categoria: inovação jornalística, aproveitando todas as ferramentas que existem na web, por isso chama-se 360. Porque graficamente podem-se visualizar as diferentes caras de um assunto.
NR - O conceito de reportagem jornalística tradicional pressupõe volume de informações, profundidade do tema, apuração, de preferência, no local, muitas entrevistas, em alguns casos vivência da pauta e fotografias relevantes e bem feitas. Como diretor de Novos Meios, como você define o tipo de reportagem proposto por vocês? No que ela se diferencia da reportagem jornalística tradicional além da utilização e interação de outras mídias?
O tipo de reportagem é documental aproveitando as ferramentas da web possíveis, onde a forma se converte em protagonista e o fundo é secundário. Por isso, quando pensamos na produção de um conteúdo, planejamos primeiro desde o ponto de vista visual, não necessariamente jornalístico. Devem-se imaginar tudo. É fazer documentários com interação e participação.
NR - Desde quando existe a reportagem 360º? Como começou, se basearam em algum projeto? Existem outros projetos como o de vocês no mundo que conheçam? Onde se inspiraram?
Nasceu como projeto em janeiro de 2009, pela necessidade de inovar e tem como modelo a Repórter Indigo, um web site, de estilo revista-virtual espetacular do México, que foca na investigação ou denúncias temáticas conjunturais primordialmente e apresentando-as em formatos digitais inovadores. No mundo existem os especiais que desenvolvem o (jornal) Clarín da Argentina, HBO, Olé, Mediastorm e New York Times.
NR - A qualidade estética é especialmente chamativa no trabalho. Usam muitos efeitos sonoros, muitos vídeos, áudios, fotografias. O texto, no trabalho da reportagem 360º, não me parece ser o eixo principal, mas parte do conjunto da obra. É isso mesmo? É o jornalismo que vocês acreditam para o futuro?
Para nós é uma forma de fazer jornalismo interativo e moderno. Não sei se é o futuro, mas está prendendo a atenção dos usuários, inovando, impactando e gerando muitas opiniões positivas.
NR - Pensando no longo prazo, onde vocês querem chegar com este trabalho? Torná-lo cotidiano e popular depende, sobretudo, de uma maior acessibilidade a internet nos termos da inclusão digital. O que pensam a respeito?
Queremos chegar a fazer uma reportagem quinzenal, porque transformar em algo cotidiano perde sua especialidade. Além disso, os navegantes demoram em consumir e apreciar a reportagem. Eles consomem por espaços, dias, semanas... No caso da Colômbia a acessibilidade da web já chegou a metade da população e cresce em grandes medidas. Então, cada dia que passa mais gente vai poder ver nosso especial.
NR - Acho que o equipamento que vocês usam não é algo muito caro que impeça que a grande maioria dos jornais da América do Sul também os tenha. Porque então não existem mais projetos como estes? Existem resistências dos jornalistas para fazer este tipo de reportagem? O público também apresentou resistência a esta linguagem?
Os jornalistas, engenheiros e designer deste projeto são independentes do impresso. É um time separado, mas que gradualmente tomaram empatia pelo 360º. O tradicionalismo foi um obstáculo que enfrentamos em algum momento (“estávamos loucos!”). No entanto tudo é um processo. Já a redação do jornal está muito mais envolvida em nosso projeto e temos um plano de integração com eles para fazer trabalhos em conjunto e aproveitar sinergias.
NR - Qual foi a resposta que vocês receberam do público, de outros jornalistas e dos anunciantes a respeito das reportagens? Financeiramente para vocês já é rentável? Tem um custo alto fazer este tipo de trabalho?
O público adora isso! Incremento de visitas, usuários e felicitações dos jornalistas da web, de outras mídias. Financeiramente ainda não é rentável. Só começaremos a fazer orçamentos de publicidade em 2010. Embora nunca tenha nascido para ser um produto comercial.
NR - Quanto tempo leva fazer uma reportagem assim, desde a ideia até sua publicação? Quantas pessoas estão envolvidas (trabalham unicamente na reportagem 360 ou também no jornal impresso ou online)?
Demoramos um mês para fazer tudo. A pré-produção, produção, edição e teste. No entanto, temos um plano de conteúdos criativos que não são conjunturais, que vamos trabalhando cada um independentemente. Contamos com um grupo de um engenheiro, três designers web, três jornalistas, um fotógrafo, um editor de multimídia e eu, o diretor da área. Este grupo trabalha exclusivamente no 360º. Mas em 2010 teremos um grupo inteiro de novas mídias no El País S.A. gerando reportagens. Somos 19 no total.
NR - O que é preciso para fazer estas reportagens? É preciso que os repórteres sofram uma grande mudança para comunicar-se através desta linguagem? O que é preciso para um repórter trabalhar neste formato?
São repórteres web que pensam diferente, ou seja, em outro formato. Não levam gravadores e sim câmaras digitais e vídeo câmara. E são todos guiados pelo editor multimídia, quem conceitualiza quase todo o site com seus designers. Os jornalistas tradicionais normalmente não trabalham neste tipo de produto jornalístico. No entanto, no processo de integração estamos treinando vários. Hoje temos dois jornalistas que saíram do impresso.
NR - Os computadores com capacidade de processar vídeos estão cada vez mais acessíveis. Este tipo de linguagem se tornará mais comum?
A maioria é (o programa) Flash. É muito acessível.
NR - Que número de visitas vocês tem e como navega o público pelo site?
O público experimenta o site navegando. Não existe uma ordem, é de acordo com cada navegante e sua forma de pensar. As visitas variam entre 250 mil usuários até 500 mil, dependendo da temática.
NR - Já cogitaram fazer versões traduzidas ou legendadas do trabalho de vocês para ganhar novos públicos? Inglês? Português etc? Ou mesmo espalhar o conceito para outros países?
Não. Mas você acabou de me dar uma excelente ideia. Muito obrigado!
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thiago domenici
A grande ilusão do mundo contemporâneo
Uma sociedade doente. Só não vê quem não quer. E pensar que ainda temos muita gente no Brasil que vê nos EUA o paraíso na terra. A entrevista do escritor norte americano Chris Hedges ao programa Milenio é uma aula de História e de autocrítica de uma grande ilusão do mundo contemporâneo. Ele coloca em xeque a democracia estadunidense. Entrevista rara nos canais dos Marinho concedida a Jorge Pontual.
Izaías Almada é escritor e colaborador do Nota de Rodapé
Izaías Almada é escritor e colaborador do Nota de Rodapé
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Calle 13 pôs Porto Rico no mapa do continente, e saiu para conhecê-lo
Quatro jovens, vestidos com roupas esportivas e bonés na cabeça, sentados em um microônibus velho e lotado de indígenas sobem pelos Andes peruanos rumo à mina mais alta do mundo. Poderiam ser alguns dos tantos europeus, norte-americanos e latinos que desbravam o continente com mochilas nas costas para conhecer um pouco de uma realidade distante e atraente. A diferença desses garotos de Porto Rico em relação aos turistas convencionais é de que eles são integrantes (e amigos) do Calle 13, um grupo de reggaetón que tomou de assalto os principais prêmios e grande parte dos tocadores de mp3 existentes na América Latina.
Criado em 2005 e chefiados por René Pérez, o Residente, o grupo explodiu já com o primeiro disco (Calle 13, de 2006), uma boa mistura de rap com outros ritmos dançantes recheada de letras escrachadas e politicamente incorretas. O sucesso absurdo e impensável para um grupo vindo de uma ilhota caribenha, quase um borrão no mapa mundi, veio com o segundo álbum (Residente o Visitante, de 2007) e chegou ao ápice com o terceiro trabalho (Los de atrás vienen conmigo, de 2008), que rendeu à banda três Grammy Latinos.
O sucesso pegou de surpresa também os integrantes da Calle 13 e seu entorno (família e amigos), vindos da periferia pobre e violenta de Trujillo Alto, um município do Norte de Porto Rico
“Em menos de um ano, Calle 13 se converteu na fucking moda”, diz Residente no documentário Sin Mapa, do ano passado. “De comer arroz com salsicha todos os dias ao tapete vermelho em menos de um ano. Não está tão mal”, brinca.
A fama repentina fez o grupo se questionar sobre o sucesso, o futuro e a mensagem que queriam passar. A visita à mina do Peru (registrada no Sin Mapa) é parte de uma viagem de três meses feita por Residente e amigos por vários países do continente (Peru, Venezuela, Nicarágua, Colômbia, México).
René explica no documentário a motivação da viagem. “Se eu sentia a necessidade de falar de coisas que fossem além de mexer a bunda, eu tinha que conhecer lugares, de conhecer sobre o que estava falando.”
No documentário há pouco de música e muito da América Latina. Visitam índios que sofrem com a destruição de rios e florestas, mineiros em condições sub-humanas, a populações negras com história de luta e libertação, e conversam e aprendem com as pessoas. Bonito registro de uma faceta até então desconhecida de Residente e companhia.
A preocupação deles de conhecer melhor o continente faz todo sentido. Com sua música, Calle 13 colocou Porto Rico no mapa. Com o sucesso, sentiu necessidade de conhecer quem os escuta; aprender, conversar e ouvir os sons dessa gente. O resultado dessa preocupação é perceptível na evolução da música que fazem. Música que depois da viagem (em 2007) passa a sofrer mais influência, ser mais diversificada, rica, mas mantendo os traços que fizeram o grupo tão popular: a ironia e a espontaneidade.
Três vídeos para experimentarem Calle 13:
La Perla - Com Rúben Blades (mestre da salsa latina)
Pa´l Norte (com Orishas, de Cuba)
E o terceiro chamando Atrevete te te.
Há algumas semanas, um vídeo do Calle 13 com Mercedes Sosa foi postado no Nota de Rodapé. Vale a pena rever. Há muito sobre Calle 13 que ficou de fora. Polêmicas com os Estados Unidos, com o presidente da Colômbia (e um desconvite para tocar no país), ações de guerrilha urbana não-violenta. Vamos seguir com o assunto outra hora.
Para finalizar este Conexsom Latina segue o link da primeira das 15 partes do documentário disponibilizado no Youtube.
Ricardo Viel é jornalista e colaborador do Nota de Rodapé
Criado em 2005 e chefiados por René Pérez, o Residente, o grupo explodiu já com o primeiro disco (Calle 13, de 2006), uma boa mistura de rap com outros ritmos dançantes recheada de letras escrachadas e politicamente incorretas. O sucesso absurdo e impensável para um grupo vindo de uma ilhota caribenha, quase um borrão no mapa mundi, veio com o segundo álbum (Residente o Visitante, de 2007) e chegou ao ápice com o terceiro trabalho (Los de atrás vienen conmigo, de 2008), que rendeu à banda três Grammy Latinos.
O sucesso pegou de surpresa também os integrantes da Calle 13 e seu entorno (família e amigos), vindos da periferia pobre e violenta de Trujillo Alto, um município do Norte de Porto Rico
“Em menos de um ano, Calle 13 se converteu na fucking moda”, diz Residente no documentário Sin Mapa, do ano passado. “De comer arroz com salsicha todos os dias ao tapete vermelho em menos de um ano. Não está tão mal”, brinca.
A fama repentina fez o grupo se questionar sobre o sucesso, o futuro e a mensagem que queriam passar. A visita à mina do Peru (registrada no Sin Mapa) é parte de uma viagem de três meses feita por Residente e amigos por vários países do continente (Peru, Venezuela, Nicarágua, Colômbia, México).
René explica no documentário a motivação da viagem. “Se eu sentia a necessidade de falar de coisas que fossem além de mexer a bunda, eu tinha que conhecer lugares, de conhecer sobre o que estava falando.”
No documentário há pouco de música e muito da América Latina. Visitam índios que sofrem com a destruição de rios e florestas, mineiros em condições sub-humanas, a populações negras com história de luta e libertação, e conversam e aprendem com as pessoas. Bonito registro de uma faceta até então desconhecida de Residente e companhia.
A preocupação deles de conhecer melhor o continente faz todo sentido. Com sua música, Calle 13 colocou Porto Rico no mapa. Com o sucesso, sentiu necessidade de conhecer quem os escuta; aprender, conversar e ouvir os sons dessa gente. O resultado dessa preocupação é perceptível na evolução da música que fazem. Música que depois da viagem (em 2007) passa a sofrer mais influência, ser mais diversificada, rica, mas mantendo os traços que fizeram o grupo tão popular: a ironia e a espontaneidade.
Três vídeos para experimentarem Calle 13:
La Perla - Com Rúben Blades (mestre da salsa latina)
Pa´l Norte (com Orishas, de Cuba)
E o terceiro chamando Atrevete te te.
Há algumas semanas, um vídeo do Calle 13 com Mercedes Sosa foi postado no Nota de Rodapé. Vale a pena rever. Há muito sobre Calle 13 que ficou de fora. Polêmicas com os Estados Unidos, com o presidente da Colômbia (e um desconvite para tocar no país), ações de guerrilha urbana não-violenta. Vamos seguir com o assunto outra hora.
Para finalizar este Conexsom Latina segue o link da primeira das 15 partes do documentário disponibilizado no Youtube.
Ricardo Viel é jornalista e colaborador do Nota de Rodapé
sábado, 23 de janeiro de 2010
Jornal Movimento procura ex-colaboradores do semanário
O “Projeto Jornal Movimento – Uma reportagem”, está convidando antigos colaboradores do semanário Movimento, que circulou de 1975 a 1981, a contar sua história. Ex-vendedores, leitores, assinantes, correspondentes podem contactar a equipe do livro através do email livro.movimento@gmail.com ou pelo site criado especialmente para o projeto. Acesse AQUI.
O site já no ar será lançado oficialmente nesta terça-feira, 26 de janeiro, com imagens de capas e informações sobre o jornal que foi um dos propulsores da campanha pela redemocratização do país. Ao longo do ano, os depoimentos de colaboradores também vão entrar no site.
Sua sede em São Paulo e as sucursais nos estados converteram-se em pontos de encontro de oposicionistas, em escolas de formação de novas lideranças, que se tornaram líderes políticos de projeção. Entre seus fundadores estão Raimundo Rodrigues Pereira, Tonico Ferreira, Marcos Gomes, Bernardo Kucinski, Maurício Azedo, Jean Claude Bernardet, Elifas Andreato, Fernando Peixoto, Chico de Oliveira, Teodomiro Braga, Aguinaldo Silva e Chico Pinto.
Do projeto
“Jornal Movimento, uma reportagem” é um projeto da Editora Manifesto S/A, com incentivo fiscal autorizado pelo Ministério da Cultura e patrocinado pela Petrobrás.
O objetivo é narrar a história de Movimento sob uma perspectiva jornalística, a partir da análise de documentos da época e entrevistas com aqueles que colaboraram e participaram no jornal.
O livro, a ser lançado no segundo semestre deste ano, será acompanhado de um DVD contendo a coleção completa do jornal digitalizada e indexada, o que vai garantir a preservação dos originais e permitir ao leitor um mergulho nessa que foi uma das principais publicações da imprensa popular e que fez parte da frente democrática de oposição à ditadura militar.
O levantamento da documentação e a organização e restauração da coleção estão a cargo das historiadoras Juliana Sartori e Letícia Nunes de Morais. As jornalistas Marina Amaral e Natalia Viana, o estagiário Caio da Costa Carvalho e o editor de arte Chico Max compõem a redação, chefiada por Carlos Azevedo.
O site já no ar será lançado oficialmente nesta terça-feira, 26 de janeiro, com imagens de capas e informações sobre o jornal que foi um dos propulsores da campanha pela redemocratização do país. Ao longo do ano, os depoimentos de colaboradores também vão entrar no site.
Do jornal
Movimento foi um jornal revolucionário, de propriedade coletiva, voltado para a oposição à ditadura militar e a luta pelas liberdades democráticas. Mesmo mutilado pela censura durante a maior parte de sua existência, praticou o jornalismo por meio da reportagem e da apuração rigorosa dos fatos. Ao longo de seis anos, inspirou e divulgou campanhas que se tornaram vitoriosas, como a da defesa da anistia e a da assembléia nacional constituinte.Sua sede em São Paulo e as sucursais nos estados converteram-se em pontos de encontro de oposicionistas, em escolas de formação de novas lideranças, que se tornaram líderes políticos de projeção. Entre seus fundadores estão Raimundo Rodrigues Pereira, Tonico Ferreira, Marcos Gomes, Bernardo Kucinski, Maurício Azedo, Jean Claude Bernardet, Elifas Andreato, Fernando Peixoto, Chico de Oliveira, Teodomiro Braga, Aguinaldo Silva e Chico Pinto.
Do projeto
“Jornal Movimento, uma reportagem” é um projeto da Editora Manifesto S/A, com incentivo fiscal autorizado pelo Ministério da Cultura e patrocinado pela Petrobrás.
O objetivo é narrar a história de Movimento sob uma perspectiva jornalística, a partir da análise de documentos da época e entrevistas com aqueles que colaboraram e participaram no jornal.
O livro, a ser lançado no segundo semestre deste ano, será acompanhado de um DVD contendo a coleção completa do jornal digitalizada e indexada, o que vai garantir a preservação dos originais e permitir ao leitor um mergulho nessa que foi uma das principais publicações da imprensa popular e que fez parte da frente democrática de oposição à ditadura militar.
O levantamento da documentação e a organização e restauração da coleção estão a cargo das historiadoras Juliana Sartori e Letícia Nunes de Morais. As jornalistas Marina Amaral e Natalia Viana, o estagiário Caio da Costa Carvalho e o editor de arte Chico Max compõem a redação, chefiada por Carlos Azevedo.
Trecho de depoimento obtido com Sueli Freitas, que foi vendedora de Movimento em São Paulo, no Recife e em Rio Branco.“Foi com o jornal Movimento debaixo do braço que eu saí da casa dos meus pais e de São Paulo. Conhecer o jornal foi um salto de consciência do que estava acontecendo no país e no mundo. Virei vendedora porque sentia que estava fazendo algo importante, eu era parte da resistência à ditadura. Uma bela noite cheguei em casa, estavam no quintal queimando uma pilha de exemplares… Estavam minha mãe, meu pai, minhas irmãs, queimando tudo. Meu pai disse: prefiro ver você morta a comunista…”.
Serviço:
“Projeto Jornal Movimento, uma Reportagem”
http://jornalmovimento.wordpress.com
Editora Manifesto S.A/Rua Fidalga, 146, SP
Contato: livro.movimento@gmail.com (A/C Natalia Viana)
Corpo de Bollywood, o povo quer cinema
"Corpo de Bollywood mostra como Cinema na Índia é a principal forma de entretenimento, Bollywood é o centro dessa cultura cinematográfica e desse empreendimento, é também um dos canais mais importantes de comunicação, mas sobretudo o elo comum de um povo bastante diversificado. Cinema, casa dos prazeres máxima da cultura indiana, mostra seu corpo, sua estrutura quando objeto do documentário. Entrevistas com: distribuidor Balkrishna Shroff, exibidor Umesh Mehra, produtor Mahesh Bhatt, diretor Indranil Chakravarty, empresário Devendra Joshi e jornalista Kunal Mishra, dentre vários espectadores." Documentário | De Raquel Valadares | 2008 | 28 min | RJ
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Meneghetti: no Dops, salva pelo U do nome?
Zilda Meneguetti, nome de solteira, é minha mãe. Na década de 60 e perto dos 20 anos a então empregada doméstica com sotaque do norte do Paraná, Sertanópolis, vivia suas histórias. Cresci cercado por elas, sempre marcadas por uma narração precisa, com detalhes e ambiente. Um desses causos da minha infância é sobre Gino Meneghetti (1878-1976), o ladrão italiano que marcou época em São Paulo por seu estilo particular de assaltar, ganhando fama por seus roubos e fugas espetaculares.
Apelidado de “o bom ladrão” e tendo o mesmo sobrenome de minha mãe, nunca tivemos certeza se era ou não nosso parente. Dona Zilda soube de sua existência no lugar mais inóspito possível, o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Ao chegar com uma amiga para tirar a identidade o enquadro: “A senhorita conhece ou é parente do Gino Meneguetti?”, perguntou o Feijoada, nome do fulano responsável pela emissão do documento. “Quem?”, respondeu.
Detida por 6 horas para averiguação, o tal do Feijoada, um “negro miúdo”, achou que ela podia estar acobertando o bandido histórico, que havia fugido mais uma vez da cadeia. Após interrogatório no qual só não perguntaram para qual time de futebol torcia a liberaram com o argumento. “É, você não tem cara de malandra e sua certidão é MenegUetti e não MenegHetti. Essa H salvou você”.
De fato, o U e o H são letras distintas no sobrenome de ambos. A argumentação do Feijoada é que me intrigou. Bem sabemos que erros são comuns em registros de nomes. A dúvida do parentesco permanece. Sorte da minha mãe que se livrou do infeliz e nada sofreu, uma raridade naqueles tempos. Afinal, ser ainda uma menina numa época de repressão braba pode tê-la ajudado. “Lembro que o Feijoada queria colocar, depois de tudo, azul como cor dos meus olhos. São verdes. Quer dizer, fico detida e ele ainda quer mudar a cor dos meu olhos no documento?”, lembrou minha mãe. A identidade ela tem guardada até hoje. Precisou, depois de mais de 40 anos, tirar uma nova para poder receber sua aposentadoria.
Apelidado de “o bom ladrão” e tendo o mesmo sobrenome de minha mãe, nunca tivemos certeza se era ou não nosso parente. Dona Zilda soube de sua existência no lugar mais inóspito possível, o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Ao chegar com uma amiga para tirar a identidade o enquadro: “A senhorita conhece ou é parente do Gino Meneguetti?”, perguntou o Feijoada, nome do fulano responsável pela emissão do documento. “Quem?”, respondeu.
Detida por 6 horas para averiguação, o tal do Feijoada, um “negro miúdo”, achou que ela podia estar acobertando o bandido histórico, que havia fugido mais uma vez da cadeia. Após interrogatório no qual só não perguntaram para qual time de futebol torcia a liberaram com o argumento. “É, você não tem cara de malandra e sua certidão é MenegUetti e não MenegHetti. Essa H salvou você”.
De fato, o U e o H são letras distintas no sobrenome de ambos. A argumentação do Feijoada é que me intrigou. Bem sabemos que erros são comuns em registros de nomes. A dúvida do parentesco permanece. Sorte da minha mãe que se livrou do infeliz e nada sofreu, uma raridade naqueles tempos. Afinal, ser ainda uma menina numa época de repressão braba pode tê-la ajudado. “Lembro que o Feijoada queria colocar, depois de tudo, azul como cor dos meus olhos. São verdes. Quer dizer, fico detida e ele ainda quer mudar a cor dos meu olhos no documento?”, lembrou minha mãe. A identidade ela tem guardada até hoje. Precisou, depois de mais de 40 anos, tirar uma nova para poder receber sua aposentadoria.
“Meneghetti, honestamente ladrão”
Essa história trago para refrescar as memórias da infância e indicar que Mouzar Benedito lança, nesta quinta-feira, 28 de janeiro, na livraria da Vila, a partir das 19h, o livro de sua autoria com pesquisa de Antonio Biondi e Marcel Gomes, intitulado “Meneghetti, honestamente ladrão”. Lançado pela Boitempo Editorial, o livro traz ainda uma história em quadrinhos de Luiz Gê - que inspirou o curta-metragem de Beto Brant - publicada no jornal Versus em 1976. O livro (136 páginas) faz parte da coleção Pauliceia, coordenada por Emir Sader. A Livraria da Vila fica na rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena, São Paulo, SP. O telefone é: (11) 3814-5811.Documentário: Dov´è Meneghetti?
Beto Brant (1989/12 minutos)
"Minha primeira visão do mundo foi a cidade de Pisa, com sua torre inclinada. Tal como a torre, também o meu destino estaria sempre inclinado, cai-não-cai
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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
O Haiti é aqui
Doralice olhou pela janela com toda a desesperança do mundo. Chovia. Uma chuva miudinha, intermitente. Doralice até que gosta de chuva, mas a desesperança havia começado no dia anterior, devagarzinho, insinuando-se como uma serpente por entre as pedras da sua memória, quando se lembrou da infância vivida na periferia de Belo Horizonte. Lembrou do pai e da mãe. Lembrou também dos cinco irmãos homens, todos mais velhos que ela. Toda a família tinha planos de melhorar de vida e essa corrente de otimismo começava pela mãe, dona Martha, costureira de mão cheia, como se costumava dizer.
O curso primário todos fizeram, o colegial apenas três dos manos, cabendo a ela – Doralice – o privilégio de ter um curso superior, formando-se em odontologia na Universidade Federal de Minas Gerais. Era uma mulher bonita, atraente. Seu feminismo ficara para trás junto com a pobreza da infância e da adolescência. Após o casamento, a mudança para São Paulo, os filhos e a desesperança a insistir, agora com o abandono da profissão para cuidar da família. O marido, homem de negócios e forjado na têmpera do conservadorismo machista, delimitou-lhe o espaço em que poderia se mover entre o lar e as obrigações sociais. Pensara em se matar, mas até nisso a desesperança era mais forte que ela.
Lá fora, a chuva continuava. Fininha. A vida mudara muito para Doralice, mas talvez ainda fosse ou continuasse bem pior para outras pessoas. O noticiário da televisão mostrava o terremoto que acabara de destruir grandes áreas de Porto Príncipe no Haiti. Sofrimento, dor, abandono, mortes. Gente negra esbranquiçada pelo pó da destruição, que colava na pele de um povo, emblematicamente, a cor dos que há mais de duzentos anos exploraram essa ilha caribenha, berço da dignidade negra na América.
A catarse, usada pelos gregos em suas tragédias clássicas, para se purgarem através da piedade e do terror, convidava o mundo e Doralice ao inevitável olhar da compaixão. Deus continuava brasileiro, apesar de algumas enchentes na periferia de São Paulo. Não temos vendavais, terremotos, tsunamis. Toda a desgraça lá, ao longe. A cabeça de Doralice dava voltas. Finalmente, a novela das oito. Hora de esquecer a desesperança e mergulhar nos conflitos e nos dramas, agora brasileiros. Viver a vida, mas com otimismo.
A publicidade que antecedeu a apresentação da novela mostrava um anúncio da Revista Caras, onde uma descendente da família real brasileira emprestava seu nome a uma promoção de copos e cristais similares aos da realeza tupiniquim. Mais brega, impossível. O cinismo é o apanágio dos hipócritas. O Haiti é aqui.
Izaías Almada é escritor, dramaturgo e colaborador do Rodapé.
O curso primário todos fizeram, o colegial apenas três dos manos, cabendo a ela – Doralice – o privilégio de ter um curso superior, formando-se em odontologia na Universidade Federal de Minas Gerais. Era uma mulher bonita, atraente. Seu feminismo ficara para trás junto com a pobreza da infância e da adolescência. Após o casamento, a mudança para São Paulo, os filhos e a desesperança a insistir, agora com o abandono da profissão para cuidar da família. O marido, homem de negócios e forjado na têmpera do conservadorismo machista, delimitou-lhe o espaço em que poderia se mover entre o lar e as obrigações sociais. Pensara em se matar, mas até nisso a desesperança era mais forte que ela.
Lá fora, a chuva continuava. Fininha. A vida mudara muito para Doralice, mas talvez ainda fosse ou continuasse bem pior para outras pessoas. O noticiário da televisão mostrava o terremoto que acabara de destruir grandes áreas de Porto Príncipe no Haiti. Sofrimento, dor, abandono, mortes. Gente negra esbranquiçada pelo pó da destruição, que colava na pele de um povo, emblematicamente, a cor dos que há mais de duzentos anos exploraram essa ilha caribenha, berço da dignidade negra na América.
A catarse, usada pelos gregos em suas tragédias clássicas, para se purgarem através da piedade e do terror, convidava o mundo e Doralice ao inevitável olhar da compaixão. Deus continuava brasileiro, apesar de algumas enchentes na periferia de São Paulo. Não temos vendavais, terremotos, tsunamis. Toda a desgraça lá, ao longe. A cabeça de Doralice dava voltas. Finalmente, a novela das oito. Hora de esquecer a desesperança e mergulhar nos conflitos e nos dramas, agora brasileiros. Viver a vida, mas com otimismo.
A publicidade que antecedeu a apresentação da novela mostrava um anúncio da Revista Caras, onde uma descendente da família real brasileira emprestava seu nome a uma promoção de copos e cristais similares aos da realeza tupiniquim. Mais brega, impossível. O cinismo é o apanágio dos hipócritas. O Haiti é aqui.
Izaías Almada é escritor, dramaturgo e colaborador do Rodapé.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Crônica anunciada da nova ocupação do Haiti pelos EUA
Está-se consumando a crônica anunciada e previsível da nova ocupação do Haiti pelos Estados Unidos, desta vez aproveitando o terremoto que devastou o país e sua capital. Os Estados Unidos já desembarcaram 11 mil militares no país. Ontem, com tropas armadas e uniformizadas para combate, transportadas em helicópteros de guerra, ocuparam o palácio presidencial em Porto Príncipe. O aeroporto, não esqueçamos, continua sendo controlado e operado pelos Estados Unidos, que hastearam sua bandeira no local e decidem que aviões podem pousar. Nos últimos dias, deram prioridade a suas aeronaves, principalmente militares, prejudicando o desembarque da ajuda enviada por outros países e por organizações não-governamentais. A prioridade foi a segurança, não a vida da população haitiana, principalmente pobre. O ministro francês da Cooperação, Alain Joyandet, chegou a protestar: “Precisamos ajudar o Haiti, não ocupá-lo.” É verdade que, tendo cumprido o cronograma inicial de desembarque de suas tropas, os Estados Unidos poderão autorizar, nos próximos dias, o pouso de um número maior de aviões de outros países, com técnicos e equipamentos para remoção de destroços, médicos e remédios para atendimento dos feridos, água e alimentos para a população desabrigada e desempregada. A essa altura, porém, a possibilidade de encontrar pessoas soterradas com vida será mínima e excepcional.
Sem que a mídia dê atenção a este aspecto, os Estados Unidos estão aumentando também o controle do porto que dá acesso à capital e de toda a área litorânea do Haiti, com um porta-aviões, um navio equipado com um hospital de campanha e vários navios da Guarda Costeira, visando a socorrer feridos, mas também a selecionar e controlar a aproximação de navios de ajuda de outros países, como o enviado pela Venezuela com combustível, e a impedir a emigração desesperada de haitianos para a costa estadunidense em pequenas embarcações..
Não podendo justificar suas ações arrogantes e unilaterais com ordens das Nações Unidas, o governo de Washington tem argumentado que atua a pedido do governo haitiano. Mas que soberania pode ter um governo, como o do presidente René Préval, que não dispõe sequer de forças policiais e de equipamentos de comunicação e transporte para manter a ordem pública e organizar o salvamento de seus cidadãos? É significativo também que o plano de salvamento e reconstrução do Haiti pelos Estados Unidos tenha sido anunciado, em conjunto, pelo presidente Barack Obama e pelos ex-presidentes Clinton e Bush – o mesmo Bush que demorou tanto a agir quando o furacão Katrina destruiu uma grande área dos Estados Unidos. Quando os interesses estratégicos da superpotência estadunidense e de suas empresas transnacionais estão em jogo, prevalece como sempre o consenso bipartidário entre “democratas” e “republicanos” – aliás, uma confluência bipartidária semelhante se ensaia agora no Brasil com o PSDB e o PT, apesar das acirradas disputas nas fases de eleição.
O jornalista Roberto Godoy, especializado em assuntos militares, escreve no “Estadão” de hoje: “Os Estados Unidos estão fazendo no Haiti o que sabem fazer melhor: ocupar, assumir, controlar. Decidida em Washington, a operação de suporte às vítimas da devastação, em quatro horas, tinha 2 mil militares mobilizados – e metade deles já seguia para Porto Príncipe – enquanto o resto do mundo apenas tomava conhecimento da tragédia. (...) É a Doutrina Powell, criada no fim dos anos 80 pelo então chefe do Estado-Maior Conjunto general Colin Powell, aplicada em tempo de paz. Ela prevê que os Estados Unidos não devem entrar em ação a não ser com superioridade arrasadora. (...) No sábado, oficiais americanos [seria mais correto escrever estadunidenses, porque americanos somos todos nós] estavam no comando do tráfego aéreo. Os paraquedistas da 82ª Divisão e os fuzileiros navais (...) são treinados para o combate e também para missões de resgate. Movimentam-se em helicópteros e veículos convertidos em ambulâncias leves. A retaguarda é poderosa. Um porta-aviões virou central logística e um navio-hospital de mil leitos chegou no domingo. Ontem, aviões dos Estados Unidos ocupavam 7 das 11 posições de parada remanescentes no aeroporto.”
A mídia do grande capital, exagerando os saques e os conflitos, cumpriu seu papel de preparar a opinião pública para aceitar a operação político-militar dos Estados Unidos como necessária e benevolente. Na realidade, os Estados Unidos têm contribuído para acirrar os conflitos ao atrasar a ajuda humanitária de outros países e utilizar aviões e helicópteros para despejar suprimentos aleatoriamente sobre uma população sedenta, faminta e desorganizada. Até mesmo o general brasileiro Floriano Peixoto, comandante da Minustah (Missão de Estabilização das Nações Unidas), ponderou em videoconferência que os casos mais graves de violência não são generalizados e disse que as ruas de Porto Príncipe estão desobstruídas, o que facilita a ação das forças de segurança. Na avaliação do general, a situação se mostra menos grave do que a versão difundida pela imprensa. Além disso, quem tem experiência política e já participou da resistência a regimes entreguistas e autoritários não pode deixar de receber com ceticismo a qualificação fácil e indiferenciada, difundida pela mídia, de que todos os presos que escaparam dos presídios destruídos pelo terremoto são criminosos comuns e integrantes de “gangues de bandidos”. Muitos oficiais e soldados do antigo Exército haitiano formaram milícias, que declararam seu apoio ao último presidente livremente eleito Jean-Bertrand Aristide, depois que ele foi deposto em 2004. Seqüestrado por tropas estadunidenses e levado à força para a África do Sul, bem longe do Haiti, o ex-presidente Aristide continua impedido de voltar ao país e seu partido foi proibido de participar das últimas eleições realizadas sob o controle da Minustah.
Com as diferenças secundárias de motivação e de situação interna, o roteiro seguido pelos Estados Unidos no Haiti é, portanto, essencialmente, o mesmo adotado no Iraque ou no Afeganistão: primeiro, destroem-se os Estados nacionais que esbocem qualquer rebeldia, instalando a devastação econômica e social e o caos político; depois, utilizam-se essas circunstâncias deterioradas para justificar a construção de Estados satélites; por último, esses Estados satélites e corruptos se revelam incapazes de garantir a paz, resgatar a dignidade nacional e melhorar o padrão de vida da população (com as exceções de praxe das elites colaboracionistas), justificando que a ocupação estadunidense se prolongue indefinidamente. A crise aprofundada pela intervenção externa cria, enquanto isso, oportunidades de novos negócios lucrativos para os fabricantes de armas, as empresas de segurança e as grandes construtoras dos Estados Unidos e de seus aliados.
Para dissipar dúvidas sobre as reais intenções da intervenção “emergencial” e “humanitária” dos Estados Unidos no Haiti, o diplomata Greg Adams, enviado ao país caribenho como porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, declarou ao “Estadão” em Porto Príncipe: “É muito cedo para estabelecer prazos [para a retirada das tropas estadunidenses] e ficaremos aqui o tempo que for necessário [lembremo-nos de declarações semelhantes tornadas públicas no início da ocupação do Iraque]. Havia tropas estrangeiras no Haiti antes do terremoto [ah, é?]. Com a tragédia, além de todos os outros problemas, não vejo uma data-limite no futuro próximo para falarmos aos haitianos ‘ok, agora é com vocês’. Ficaremos aqui por um bom tempo e acho que o Brasil também.”
A referência à ação coadjuvante e subordinada do Brasil foi bem esperta. Que autoridade moral pode ter o governo brasileiro de protestar contra a ação estadunidense se tem participado da intervenção política e militar nos assuntos internos do Haiti, ainda que com a chancela formal das Nações Unidas, chancela já utilizada ao longo da historia da entidade para encobrir tantas outras intervenções? Participando das operações de segurança – ou seja, em bom português, de repressão – com o beneplácito e em benefício dos Estados Unidos, o Brasil espera ganhar o prêmio de consolação de tomar parte nos negócios de reconstrução do país. Aliás, grandes construtoras brasileiras, como a OAS e a Odebrecht, já enviaram equipes técnicas e equipamentos pesados para o Haiti, posicionando-se para a disputa que virá.
Quem afirma que não existe mais imperialismo no século XXI ou põe em dúvida o conceito de subimperialismo, utilizado para caracterizar a política externa atual do Brasil, principalmente na América Latina e no Caribe, tem assim a oportunidade de aprender, em cores e on line, o conteúdo concreto desses conceitos e dessas práticas. Abrindo bem os olhos, os patriotas e democratas brasileiros têm o dever de exigir que o Brasil renuncie ao comando militar da Minustah, retire progressivamente suas tropas do Haiti e se limite às ações de cunho efetivamente humanitário. O Haiti não precisa só de ajuda, precisa de soberania. Que os Estados Unidos realizem seu plano de intervenção e de construção de um Estado satélite no Haiti com seus próprios recursos humanos e materiais e sob sua exclusiva responsabilidade. Assim, pelo menos, a situação ficará mais clara e se tornará mais fácil mobilizar as forças antiimperialistas e democráticas no Haiti e nos demais países da América Latina e do Caribe. Não percamos de vista que um império em declínio, na desesperada tentativa de reverter o curso histórico que o debilita, pode tornar-se mais perigoso e aventureiro do que um império em ascensão e paciente.
Estou fechando este parêntese sobre a tragédia haitiana, porque já está claro que não se trata apenas de uma tragédia natural e humanitária, mas sobretudo política e militar. Recentemente, um terremoto devastou uma grande região da China, deixando 87 mil mortos, segundo as estimativas oficiais. Porque havia e há na China, apesar de sua pobreza ainda grande, um Estado soberano e ativo, foi possível lidar com as conseqüências da tragédia sem permitir a intervenção estrangeira no comando das operações de socorro e reconstrução ou o desembarque de tropas de outros países. A grande tragédia do Haiti foi a destruição progressiva de seu Estado nas últimas décadas, com a dissolução de suas forças armadas e policiais, a precarização de seus serviços públicos e a desorganização e divisão de sua população.
Duarte Pacheco Pereira é jornalista, foi vice-presidente da UNE em 1964 e dirigente nacional da Ação Popular (AP) de 1965 a 1973, obrigado a viver e atuar clandestinamente durante 11 anos.
Sorteados Promoção Nota de Rodapé
Resultado da Promoção Literária Nota de Rodapé e Glauco Mattoso teve o seguinte e-mail sorteado:
- entersandman.time@gmail.com
Confirmado: Katia de Almada Matos, São Paulo, SP
Confirmado: Katia de Almada Matos, São Paulo, SP
A promoção Binária do colunista Gustavo Brigatto teve o seguinte e-mail sorteado:
- pguimaraes76@yahoo.com.br
Confirmado: Pablo Guimarães de Araújo, Belo Horizonte, MG
O leitores (as) do Nota de Rodapé sorteados tem cinco dias a partir de amanhã (até 26) para retornar com o endereço de postagem, nome completo e cidade no e-mail promocao@notaderodape.com.br
Após esse período, caso não informem os dados, novo sorteio será realizado.
- Promoção Literária Glauco Mattoso (saiba mais)
- Promoção Binária (saiba mais)
Obrigado e parabéns aos vencedores!
Nota de Rodapé
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Sud Mennucci e a banda larga
Em vez de colocar a íntegra de uma entrevista, reportagem e artigo que fiz para a Revista do Brasil de janeiro sobre o tema internet e banda larga, explicarei do que se tratam as pautas aqui e depois darei os links de acesso direto, pois acho que a leitura fluirá melhor tomando pé das informações preliminares. A primeira parte é uma reportagem sobre a cidade digital (com tecnologia de acesso a rede avançada em relação as demais) chamada Sud Mennucci, no interior de São Paulo, aproximadamente 600 km desde a rodoviária da Barra Funda. O povo hospitaleiro e atencioso tem de graça internet banda larga de até 128 kbps com sinal via rádio. As antenas proliferam nos telhados, mais de 70% das casas têm cadastro na prefeitura para usar o serviço. É possível acessar seu laptop do banco da praça, por exemplo, como eu fiz. A conexão emperra um pouco, mas funciona. A reportagem aponta também o que mudou economicamente, socialmente e culturalmente. Desde a maior demanda dos correios devidos as compras via net até a melhoria do ensino nas três escolas da cidade. Conto a história de Dona Francisca, da zona rural, que faz sabão e cuida de suas vaquinhas e aprendeu por iniciativa e vontade própria a usar o computador para falar com o filho via msn no Japão. Isso mesmo, tecla de Sud ao Japão a senhora de 80 anos. A internet por lá fez a revolução e trouxe a prosperidade. Foi o que vi em um único dia, é verdade, mas que não precisou de mais do que isso para se constatar.
O segundo tema, na coluna Em Transe, é o direito à banda larga. Muitos países e também o Brasil estão em vias de conectar todos os seus habitantes nos próximos 15 anos com internet de alta velocidade – mirando ali no exemplo de Sud. Países como a Finlândia aprovaram lei afirmando que a informação e o acesso são um direito fundamental tal qual a saúde e a educação, ou seja, um direito humano. É um grande avanço dos governos agir desta maneira. Chegar lá, sabemos, é que são elas. As iniciativas pipocam, seria essencial tê-las funcionando de verdade. A linha do texto, que aponta inclusive as discussões em voga no planalto central sobre o tema da universalização relata as iniciativas da Itália, Austrália, EUA etc. Antes de terminar seu mandado, só para se ter ideia da importância do tema na agenda política atual, o presidente Lula disse querer deixar o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) em andamento. Seria, sem dúvida, mais uma tacada certeira do ex-metalúrgico. Resta que ele decida se teremos uma estatal gerenciando o processo ou se iremos ceder aos lobbies das empresas de Telecomunicações como Oi e Telefônica, para citar duas, que desejam controlar o processo.
Já a entrevista com o especialista Marcos Dantas, da UFRJ, fala sobre a necessidade de socializar o acesso de alta velocidade. A entrevista aprofunda as questões políticas envolvidas nos dois temas falados acima – da pratica em Sud ao PNBL – e conta os detalhes das propostas da Casa Civil, Comunicações e Planejamento. Falamos, novamente, da ação das Teles, sempre muito nebulosas e contestadas. Há, inclusive, uma critica direta ao ministro das Comunicações Hélio Costa e a Anatel que, segundo Dantas, não cumpre seu papel de fiscalizadora das telecomunicações do país. Sobre Costa, diz: “Não acredito que um governo que tenha o ministro das Comunicações que tem possa esperar por uma estatal (de serviço de banda larga) melhor”, afirmou o entrevistado para quem a privatizada Telebrás fez a única revolução das comunicações no país. Afirmação forte e polêmica, eu diria. Para fechar, registro que a imagem é de Wilson Martins Ferreira, o "Pingo", fotógrafo da cidade de Pereira Barreto, vizinha de Sud Mennucci e que me acompanhou na reportagem realizada no fim de novembro de 2009. É isso, linha na pipa.
A tabela retirada do documento do Ministério das Comunicações ao lado aponta as metas de alguns países em relação a universalização do acesso, incluindo os prazos. Abaixo, os links de acesso:
- Reportagem: Sud Mennucci não é normal
- Em transe - O direito à Banda Larga
- Entrevista Marcos Dantas: acesso de alta velocidade tem de ser socializado
O segundo tema, na coluna Em Transe, é o direito à banda larga. Muitos países e também o Brasil estão em vias de conectar todos os seus habitantes nos próximos 15 anos com internet de alta velocidade – mirando ali no exemplo de Sud. Países como a Finlândia aprovaram lei afirmando que a informação e o acesso são um direito fundamental tal qual a saúde e a educação, ou seja, um direito humano. É um grande avanço dos governos agir desta maneira. Chegar lá, sabemos, é que são elas. As iniciativas pipocam, seria essencial tê-las funcionando de verdade. A linha do texto, que aponta inclusive as discussões em voga no planalto central sobre o tema da universalização relata as iniciativas da Itália, Austrália, EUA etc. Antes de terminar seu mandado, só para se ter ideia da importância do tema na agenda política atual, o presidente Lula disse querer deixar o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) em andamento. Seria, sem dúvida, mais uma tacada certeira do ex-metalúrgico. Resta que ele decida se teremos uma estatal gerenciando o processo ou se iremos ceder aos lobbies das empresas de Telecomunicações como Oi e Telefônica, para citar duas, que desejam controlar o processo.
Já a entrevista com o especialista Marcos Dantas, da UFRJ, fala sobre a necessidade de socializar o acesso de alta velocidade. A entrevista aprofunda as questões políticas envolvidas nos dois temas falados acima – da pratica em Sud ao PNBL – e conta os detalhes das propostas da Casa Civil, Comunicações e Planejamento. Falamos, novamente, da ação das Teles, sempre muito nebulosas e contestadas. Há, inclusive, uma critica direta ao ministro das Comunicações Hélio Costa e a Anatel que, segundo Dantas, não cumpre seu papel de fiscalizadora das telecomunicações do país. Sobre Costa, diz: “Não acredito que um governo que tenha o ministro das Comunicações que tem possa esperar por uma estatal (de serviço de banda larga) melhor”, afirmou o entrevistado para quem a privatizada Telebrás fez a única revolução das comunicações no país. Afirmação forte e polêmica, eu diria. Para fechar, registro que a imagem é de Wilson Martins Ferreira, o "Pingo", fotógrafo da cidade de Pereira Barreto, vizinha de Sud Mennucci e que me acompanhou na reportagem realizada no fim de novembro de 2009. É isso, linha na pipa.
A tabela retirada do documento do Ministério das Comunicações ao lado aponta as metas de alguns países em relação a universalização do acesso, incluindo os prazos. Abaixo, os links de acesso:
- Reportagem: Sud Mennucci não é normal
- Em transe - O direito à Banda Larga
- Entrevista Marcos Dantas: acesso de alta velocidade tem de ser socializado
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Na terra da baleia, o peixe morre pela boca
O dito popular “o peixe morre pela boca” pode ser entendido de duas formas: literalmente e metaforicamente. De maneira literal, o peixe morre porque cai na armadilha e abocanha a isca que está no anzol; metaforicamente, palavras mal colocadas podem provocar algum desconforto tanto ao emissor quanto ao receptor da mensagem, dependendo da situação. Na imprensa, chamamos de "barriga" (notícia falsa ou errônea lançada por um jornal, tevê etc).
Durante a semana que passou, uma repórter da rádio Jovem Pan, em São Paulo, reproduziu o que foi escrito em um falso perfil criado no twitter (cujo símbolo é uma baleia) em nome da apresentadora do SBT, Hebe Camargo, fato que levantou uma série de discussões sobre o uso do microblog como fonte de informação. Na reportagem, a jornalista contou, entre outras coisas, que Hebe se divertia correndo pelo hospital de cadeira de rodas.
Estava trabalhando na redação do Portal Terra no momento em que a informação foi veiculada pela rádio Jovem Pan o que casou entreolhares silenciosos. Imediatamente a jornalista do Terra que cobria o ‘caso Hebe’ quebrou o silêncio e disparou: “isso não pode ser real, eu não vou dar”. E ela estava certa.
É preciso lembrar que os ‘erros da imprensa’ já existiam antes da Internet, como o caso Escola Base, em 1994, por exemplo. O twitter continuará sendo importante fonte de informação para todos os comunicadores. Foi assim com o blecaute em grande parte do País em novembro de 2009 e assim é em relação ao recente terremoto no Haiti. Além do jornalismo, empresas têm feito uso do microblog para se relacionar com clientes e obter algum tipo de feedback.
Já em 2003, segundo pesquisa do Guia do Webjornalista, realizada com seus utilizadores, cerca de 41% dos participantes apontaram que a instantaneidade é o que mais caracteriza o webjornalismo. A interatividade apareceu em segundo lugar, com 28,11%. Assim é o twitter, instantâneo e interativo. Em 2006, a pesquisadora Lúcia Lemos lembrou a todos que os usuários do twitter ‘furaram’ veículos como a “BBC” e o “The New York Times”, quando o terremoto da China ainda estava acontecendo. Quem seguia estes utilizadores ficou sabendo em tempo (mais do que real).
O jornalista pode e deve ter algum tipo de contato com o twitter e manter com uma relação amigável. Uma pesquisa realizada pela S2 Comunicação Integrada, entre julho e setembro de 2009, apontou que 48,77% dos jornalistas usam o Twitter como rede social preferida. No entanto, checagem, apuração e investigação não devem ser palavras de ordem, mas pratica diária da imprensa. Na terra da baleia, o peixe também morre pela boca.
Paulo Rodrigo Ranieri é mestre em jornalismo, pesquisador da comunicação no contexto digital, membro do grupo Atopos - ligado a USP - e colunista do Nota de Rodapé; mantém também o espaço Do Analógico ao Digital.
Durante a semana que passou, uma repórter da rádio Jovem Pan, em São Paulo, reproduziu o que foi escrito em um falso perfil criado no twitter (cujo símbolo é uma baleia) em nome da apresentadora do SBT, Hebe Camargo, fato que levantou uma série de discussões sobre o uso do microblog como fonte de informação. Na reportagem, a jornalista contou, entre outras coisas, que Hebe se divertia correndo pelo hospital de cadeira de rodas.
Estava trabalhando na redação do Portal Terra no momento em que a informação foi veiculada pela rádio Jovem Pan o que casou entreolhares silenciosos. Imediatamente a jornalista do Terra que cobria o ‘caso Hebe’ quebrou o silêncio e disparou: “isso não pode ser real, eu não vou dar”. E ela estava certa.
É preciso lembrar que os ‘erros da imprensa’ já existiam antes da Internet, como o caso Escola Base, em 1994, por exemplo. O twitter continuará sendo importante fonte de informação para todos os comunicadores. Foi assim com o blecaute em grande parte do País em novembro de 2009 e assim é em relação ao recente terremoto no Haiti. Além do jornalismo, empresas têm feito uso do microblog para se relacionar com clientes e obter algum tipo de feedback.
Já em 2003, segundo pesquisa do Guia do Webjornalista, realizada com seus utilizadores, cerca de 41% dos participantes apontaram que a instantaneidade é o que mais caracteriza o webjornalismo. A interatividade apareceu em segundo lugar, com 28,11%. Assim é o twitter, instantâneo e interativo. Em 2006, a pesquisadora Lúcia Lemos lembrou a todos que os usuários do twitter ‘furaram’ veículos como a “BBC” e o “The New York Times”, quando o terremoto da China ainda estava acontecendo. Quem seguia estes utilizadores ficou sabendo em tempo (mais do que real).
O jornalista pode e deve ter algum tipo de contato com o twitter e manter com uma relação amigável. Uma pesquisa realizada pela S2 Comunicação Integrada, entre julho e setembro de 2009, apontou que 48,77% dos jornalistas usam o Twitter como rede social preferida. No entanto, checagem, apuração e investigação não devem ser palavras de ordem, mas pratica diária da imprensa. Na terra da baleia, o peixe também morre pela boca.
Paulo Rodrigo Ranieri é mestre em jornalismo, pesquisador da comunicação no contexto digital, membro do grupo Atopos - ligado a USP - e colunista do Nota de Rodapé; mantém também o espaço Do Analógico ao Digital.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Fito, e a canção que ele não queria ter feito
"Há canções que às vezes era preferível não fazê-las. Esta sempre foi uma canção incômoda para mim”, diz Fito Paez antes de começar a tocar, no Salão Branco da Casa Rosada, “La Casa Desaparecida”. Em seguida, durante mais de dez minutos e em 854 palavras, Fito traça um retrato cru e visceral da Argentina; do passado próximo e do presente sem esperança dessa gente distante e distinta, nossos vizinhos da rua de baixo.
A música é de 1999. O concerto na Casa Rosada, de 2006. Mas tudo é extremamente atual e explica muito sobre a “argentinidade”.
Fito é um dos músicos latino-americanos mais conhecidos no Brasil, em parte por suas parcerias com alguns brasileiros (Paralamas, Milton Nascimento e Caetano são alguns deles). Na Argentina é quase o Maradona do rock. Amado, admirado e – às vezes ao mesmo tempo - odiado.
Fato é que Rodolfo Páez Avalos, esse argentino quase cinquentão nascido em Rosário, é um dos músicos mais importantes da América Latina. Em 1992, com o álbum El amor despúes del amor, vendeu 750 mil cópias (maior tiragem de um disco de rock no país). Além de extensa e diversa, sua produção de mais de três décadas é quase um guia da música do continente – é mais fácil citar com qual músico contemporâneo de peso Fito não fez parceria.
Com versos de amor (“Há lembranças que não vou apagar, pessoas que não vou esquecer, aromas que quero levar, silêncios que prefiro calar”), de dor (“Bom dia Lexotan, bom dia senhora, bom dia doutor, maldito seja teu amor [...] não me verão de joelhos, dizem que eu não sou eu, que estou mais louco que ontem e matam a pobres corações”), de esperança (“Quem disse que tudo está perdido? Eu venho a oferecer meu coração”) e de ternura (“Santo Deus, que belo abril. Santo Deus, que belo abril sos vós; acontecem tantas coisas na vida, que se aparece o sol há que deixá-lo passar”), Fito foi companheiro de gerações latinas nas angústias, nos fracassos, nas alegrias, nos amores, nas festas, na solidão... Quantos namoros, amizades, encontros e desencontros não nasceram tendo como trilha sonora Fito Paez? E quantos ainda não estão por acontecer?
Pra quem não conhece esse argentino, vale a pena descobri-lo. Pra quem já sabe quem é, vale aprofundar-se. Pra quem já tem Fito na discoteca sentimental, bom momento para recordar.
Deixo com vocês três vídeos de três Fitos distintos:
La casa desaparecida
Al lado del camino (ao vivo, em Madri)
Bello Abril
Mais um, para quem ainda estiver por aí (Pétalo de Sal, com a bela e grande cantora e atriz Leonor Watling). Nos vemos em ConexSom Latina.
Ricardo Viel é jornalista e colunista do Nota de Rodapé
A música é de 1999. O concerto na Casa Rosada, de 2006. Mas tudo é extremamente atual e explica muito sobre a “argentinidade”.
Mãe, coloque as medalhas na minha jaquetaSão trechos da canção que, quando lançada, gerou polêmica na Argentina. “Qual o direito de expor assim a este país?”, bradavam os nacionalistas. A resposta de Fito foi: “Eu queria ter dito algo diferente, mas esta é a época que me calhou viver e tenho que dizer. Tomara que em 300 milhões de gerações alguém escreva uma canção diferente sobre este país. Eu ficaria encantado”.
Os sapatos eu já não posso colocar
Minhas duas pernas ficaram nas Malvinas
E o mal vinho não me deixa levantar
Argentinos, argentinos
Que destino meu amigo, argentinos
Ninguém sabe responder
Argentina, Argentina
O que aconteceu na Argentina
Na casa desaparecida
Argentina, Argentina
Bem-vindos à casa argentina,
À desaparecida
E é possível que os filhos possam mudar o que fizemos
e a casa nunca mais desapareça
Fito é um dos músicos latino-americanos mais conhecidos no Brasil, em parte por suas parcerias com alguns brasileiros (Paralamas, Milton Nascimento e Caetano são alguns deles). Na Argentina é quase o Maradona do rock. Amado, admirado e – às vezes ao mesmo tempo - odiado.
Fato é que Rodolfo Páez Avalos, esse argentino quase cinquentão nascido em Rosário, é um dos músicos mais importantes da América Latina. Em 1992, com o álbum El amor despúes del amor, vendeu 750 mil cópias (maior tiragem de um disco de rock no país). Além de extensa e diversa, sua produção de mais de três décadas é quase um guia da música do continente – é mais fácil citar com qual músico contemporâneo de peso Fito não fez parceria.
Com versos de amor (“Há lembranças que não vou apagar, pessoas que não vou esquecer, aromas que quero levar, silêncios que prefiro calar”), de dor (“Bom dia Lexotan, bom dia senhora, bom dia doutor, maldito seja teu amor [...] não me verão de joelhos, dizem que eu não sou eu, que estou mais louco que ontem e matam a pobres corações”), de esperança (“Quem disse que tudo está perdido? Eu venho a oferecer meu coração”) e de ternura (“Santo Deus, que belo abril. Santo Deus, que belo abril sos vós; acontecem tantas coisas na vida, que se aparece o sol há que deixá-lo passar”), Fito foi companheiro de gerações latinas nas angústias, nos fracassos, nas alegrias, nos amores, nas festas, na solidão... Quantos namoros, amizades, encontros e desencontros não nasceram tendo como trilha sonora Fito Paez? E quantos ainda não estão por acontecer?
Pra quem não conhece esse argentino, vale a pena descobri-lo. Pra quem já sabe quem é, vale aprofundar-se. Pra quem já tem Fito na discoteca sentimental, bom momento para recordar.
Deixo com vocês três vídeos de três Fitos distintos:
La casa desaparecida
Al lado del camino (ao vivo, em Madri)
Bello Abril
Mais um, para quem ainda estiver por aí (Pétalo de Sal, com a bela e grande cantora e atriz Leonor Watling). Nos vemos em ConexSom Latina.
Ricardo Viel é jornalista e colunista do Nota de Rodapé
domingo, 17 de janeiro de 2010
Haiti: não finja que não viu
É o seguinte: você que vai jogar na mega-sena, comprar um livro ou um maço de cigarros, você que gasta sua grana com cinema, teatro, no shopping, no fastfood. Você que toma sua cervejinha, come seu petisco, joga seu baralho, vai ver seu time no estádio. Você, dona de casa ou maridão que estão planejando ir a pizzaria ou viajar, faço a seguinte e respeitosa proposta. Que tal uma ajuda mínima ao Haiti? Aos outros “vocês” – milhares - tumultua sua empresa, casa, arrecada uma grana e vamos depositar para quem realmente precisa. Pensa só no Brasil. Se cada um doasse 1 real seriam 190 milhões, aproximadamente, em teoria. E aí, 10, 20, 30 reais? Que tal? E que tal o Criança Esperança fazer uma edição especial Haiti? Hem, Globo?
O sentido da solidariedade deve ser exercido sempre. Mas existem momentos em que ele grita mais alto como agora. Na crise econômica bilhões foram levantados em dias. Numa catástrofe como a do Haiti a coisa vai a conta gotas. É a realidade, infelizmente. A economia fala mais alto que a necessidade humana. Mas deixa pra lá. Cada um tem uma forma de pensar, eu sei, mas é cruel assistir um povo nocauteado, prostrado, morrendo e a gente, deste lado, agir no dia a dia como se nada acontecesse. Não finja que não viu. Lá no Haiti tudo falta - água, alimentos, assistência médica. É um país destruido e que perdeu sua memória. E o povo sofre demais há muitos anos. Agora, sofre novamente a perda dos amigos, parentes, filhos... E o sofrimento é uma merda, você sabe. Não dá para não ajudar com o mínimo possível!
Aos estudantes de todo o Brasil aproveitem o início das aulas e os famosos trotes solidários, aqueles que não usam de violência, obviamente, como o pedágio onde o estudante fica no farol pedindo um troco pra encher a cara depois. Em vez disso, porque não mandar para o Haiti? Fica a sugestão. Em vez de lamentações e discursos, vamos a uma ação mais prática. Se souberem de outras formas de doações deixem nos comentários da postagem. Divulgem, se assim quiserem e puderem.
Como doar
Comida
A doação de alimentos e água engarrafada vai ser coordenada pela Defesa Civil. De acordo com o governo, alimentos prontos para o consumo são prioridade. Todas as unidades da defesa civil, inclusive as estaduais e municipais, estão preparadas para receber as doações. O site para informações é www.defesacivil.gov.br
Remédios
No caso da doação de medicamentos e oferta de serviços médicos, a coordenação está com Ministério da Saúde. O telefone de contato é 192 e o e-mail é missaodeajudasamu192@saude.gov.br
Serviços
O GSI (Gabinete de Segurança Institucional) vai coordenar a oferta de outros serviços. Os contatos com o GSI podem ser feitos pelo telefone (61) 3411-1297 e pelo e-mail saei@planalto.gov.br
Dinheiro
O Banco do Brasil abriu conta corrente administrada pela Embaixada do Haiti no Brasil. De onde estiver – norte, sul, leste, oeste, no exterior – faça sua doação.
O sentido da solidariedade deve ser exercido sempre. Mas existem momentos em que ele grita mais alto como agora. Na crise econômica bilhões foram levantados em dias. Numa catástrofe como a do Haiti a coisa vai a conta gotas. É a realidade, infelizmente. A economia fala mais alto que a necessidade humana. Mas deixa pra lá. Cada um tem uma forma de pensar, eu sei, mas é cruel assistir um povo nocauteado, prostrado, morrendo e a gente, deste lado, agir no dia a dia como se nada acontecesse. Não finja que não viu. Lá no Haiti tudo falta - água, alimentos, assistência médica. É um país destruido e que perdeu sua memória. E o povo sofre demais há muitos anos. Agora, sofre novamente a perda dos amigos, parentes, filhos... E o sofrimento é uma merda, você sabe. Não dá para não ajudar com o mínimo possível!
Aos estudantes de todo o Brasil aproveitem o início das aulas e os famosos trotes solidários, aqueles que não usam de violência, obviamente, como o pedágio onde o estudante fica no farol pedindo um troco pra encher a cara depois. Em vez disso, porque não mandar para o Haiti? Fica a sugestão. Em vez de lamentações e discursos, vamos a uma ação mais prática. Se souberem de outras formas de doações deixem nos comentários da postagem. Divulgem, se assim quiserem e puderem.
Como doar
Comida
A doação de alimentos e água engarrafada vai ser coordenada pela Defesa Civil. De acordo com o governo, alimentos prontos para o consumo são prioridade. Todas as unidades da defesa civil, inclusive as estaduais e municipais, estão preparadas para receber as doações. O site para informações é www.defesacivil.gov.br
Remédios
No caso da doação de medicamentos e oferta de serviços médicos, a coordenação está com Ministério da Saúde. O telefone de contato é 192 e o e-mail é missaodeajudasamu192@saude.gov.br
Serviços
O GSI (Gabinete de Segurança Institucional) vai coordenar a oferta de outros serviços. Os contatos com o GSI podem ser feitos pelo telefone (61) 3411-1297 e pelo e-mail saei@planalto.gov.br
Dinheiro
O Banco do Brasil abriu conta corrente administrada pela Embaixada do Haiti no Brasil. De onde estiver – norte, sul, leste, oeste, no exterior – faça sua doação.
- SOS Haiti / Agência: 1606-3 / Banco: Banco do Brasil / Conta corrente: 91.000-7
- ONG Viva Rio: Rua do Russel, 76, Glória, Rio de Janeiro. A ONG está aberta todos os dias, das 9h às 18h. Para doações em dinheiro, anote: Viva Rio Doações / Agência: 1769-8 / Conta: 5113-6 / Banco: Banco do Brasil / CNPJ: 00343941/0001-28.
- Também é possível fazer doações às vítimas pela internet no site da organização ActionAid. Por telefone, o contato deve ser feito no 0330-100-0300.
- Comitê Internacional da Cruz Vermelha: Banco: HSBC. Agência: 1276 Conta Corrente: 14526-84 CNPJ: 04359688/0001-51
- Cáritas e CNBB: Banco do Brasil, agência 3475-4, conta corrente 23969-0; na Caixa Econômica Federal, agência 0647, Operação 003, conta corrente 600-1, e no Bradesco agência 1041, conta corrente 1132-1.
"Baseado" e reflexões em Blackout
Um assessor de um corrupto deputado e um suplente entram numa sala em reforma no último andar da Assembléia Legislativa para fumar um "baseado" no fim de uma sexta-feira. Ao reclamar de que tudo tem dado errado naquele dia, principalmente por ter que cuidar de um suposto caso amoroso envolvendo seu chefe, o assessor do deputado e seu amigo suplente se deparam com situações que provam que tudo na vida podem piorar.
(Gênero Ficção - Diretor Daniel Rezende - Elenco Augusto Madeira, César Charlone, Deo Teixeira, Wagner Moura - Ano 2008 - Duração 10 min)
(Gênero Ficção - Diretor Daniel Rezende - Elenco Augusto Madeira, César Charlone, Deo Teixeira, Wagner Moura - Ano 2008 - Duração 10 min)
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Marighella, homenagem no RJ
Nesta sexta, 15, na Caixa Cultura do Rio, programação em homenagem aos "Combatentes tombados durante a ditadura iniciada com o golpe militar de 1964".
Programação:
18:00 Exibição do filme 'Marighella o Retrato Falado do Guerrilheiro´;
18:50 Debate da platéia com militantes da resistência e o diretor do filme Silvio Tendler;
20:15 Homenagem aos Heróis da Resistência através de seus familiares;
20:45 Explanação da Secretaria Especial dos Direitos Humanos sobre a 'Comissão da Verdade';
21:15 Visitação à exposição MARIGHELLA na Caixa Cultural do Rio de Janeiro - Av. Almirante Barroso, 25 - Centro.
Mais informações: http://www.torturanuncamais-rj.org.br/
Madalena, teatro das oprimidas
O Laboratório Madalena, experiência cênica com foco em mulheres desejosas de investigar as particularidades das opressões enfrentadas pelo gênero feminino acontece no Ceará e Rio de Janeiro, além de Guiné-Bissau e Moçambique até maio deste ano. Mais informações no Centro do Teatro do Oprimido, criação do inesquecível Augusto Boal.
Como participar
As mulheres interessadas em participar do laboratório devem acessar o site www.cto.org.br, baixar a ficha de inscrição e enviá-la para o e-mail do Centro de Teatro do Oprimido contato@ctorio.org.br; A participação é gratuita, mas é necessário inscrever-se com antecedência. Vagas limitadas.
Haiti tem necessidades infinitas
A república negra mais antiga do mundo vive nova tragédia. Só que em vez das armas - que não fazem a cidadania - a natureza mostrou sua força descomunal com um terremoto de magnitude 7. Destruição geral e mortes. Milhares, apontam os noticiários.
Cada progresso e esperança nascidos por lá quando não são solapados por golpes de Estado ou políticas populistas que depressa aproximam comportamentos ditatoriais, são pegos pela natureza.
O termo pobre ou miséria extrema encontra respaldo prático naquele país: o mais pobre do hemisfério ocidental e, segundo alguns indicadores, um dos cinco mais pobres do mundo. 85% da sua população vive com menos de um dólar por dia; 70% da população ativa está desempregada, enquanto 1% dos seus habitantes controla metade da riqueza nacional. O Haiti é o país mais atingido pela Aids nas Américas e é rota do tráfico de droga sul-norte mais lucrativa do planeta. Ou seja, o povo, que já vive amedrontado por milícias, dominado pela chamada burguesia local e objeto de tantas intervenções estrangeiras, como bem disse nesta quarta-feira (13) o embaixador do Haiti no Brasil, Idalbert Pierre-Jean, tem necessidades infinitas. O país precisa de pessoal e equipamentos pesados para tirar corpos dos escombros, além de alimentos, remédios e vacinas. Precisa, sabemos, de muito mais.
Doações
Uma conta bancária aberta pela ONG carioca Viva Rio, que realiza projetos sociais no Haiti:(Banco do Brasil/ Agência 1769-8/ Conta: 5113-6). Ou Oxfam America, Yele Haiti Fund, a Cruz Vermelha e as Nações Unidas, organizações internacionais que permitem doações pela internet.
Thiago Domenici é jornalista
Cada progresso e esperança nascidos por lá quando não são solapados por golpes de Estado ou políticas populistas que depressa aproximam comportamentos ditatoriais, são pegos pela natureza.
O termo pobre ou miséria extrema encontra respaldo prático naquele país: o mais pobre do hemisfério ocidental e, segundo alguns indicadores, um dos cinco mais pobres do mundo. 85% da sua população vive com menos de um dólar por dia; 70% da população ativa está desempregada, enquanto 1% dos seus habitantes controla metade da riqueza nacional. O Haiti é o país mais atingido pela Aids nas Américas e é rota do tráfico de droga sul-norte mais lucrativa do planeta. Ou seja, o povo, que já vive amedrontado por milícias, dominado pela chamada burguesia local e objeto de tantas intervenções estrangeiras, como bem disse nesta quarta-feira (13) o embaixador do Haiti no Brasil, Idalbert Pierre-Jean, tem necessidades infinitas. O país precisa de pessoal e equipamentos pesados para tirar corpos dos escombros, além de alimentos, remédios e vacinas. Precisa, sabemos, de muito mais.
Na imagem, Anthony Guarino, um analista sísmico do Laboratório Sismológico Caltech, em Pasadena, Califórnia, mostra o pico de 7,0 do terremoto que atingiu o Haiti (AP Photo / Damian Dovarganes).
Doações
Uma conta bancária aberta pela ONG carioca Viva Rio, que realiza projetos sociais no Haiti:(Banco do Brasil/ Agência 1769-8/ Conta: 5113-6). Ou Oxfam America, Yele Haiti Fund, a Cruz Vermelha e as Nações Unidas, organizações internacionais que permitem doações pela internet.
Thiago Domenici é jornalista
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